ANTÓNIO REIS PEREIRA
20/09/2013 - 16:20
Dada a importância económica, social e ambiental do sobreiro, porque é
que não um centro de investigação que analise porque se assiste ao
declínio dos montados.
Comecemos pela importância do sobreiro no nosso país, social,
económica e ambiental. Esta árvore, espalhada pela bacia
mediterrânica, tem o seu maior enfoque (34%) em Portugal,
aproximadamente 715.000 hectares, 23% do total da nossa área
florestal, empregando cerca de 10.000 pessoas, muitas delas em zonas
carenciadas, sendo o seu produto – a cortiça - responsável em 2011 por
um valor superior a €800 milhões de exportações portuguesas (INE),
correspondente a 2,1 do total das nossas exportações, com uma quota de
mercado mundial de 62% (ITC). Ambientalmente, é um pilar do
ecossistema, essencial no que diz respeito ao combate à desertificação
e à protecção dos solos, é fundamental na fixação do dióxido de
carbono (também com consequências económicas) e liberta oxigénio,
sendo ainda base importante na indústria do lazer.
Sendo uma matéria-prima, Portugal não se limita à sua extracção e
simples exportação, muito antes pelo contrário, Portugal também
importa 10% da cortiça mundial (ITC) que transforma através de
modernas fábricas, produzindo como produto acabado rolhas para os mais
famosos vinhos e espumantes mundiais, assim como materiais de
construção para os países frios.
Por tudo isto, a fileira da cortiça é um dos sectores de inegável
importância no contexto da nossa economia, inserindo-se numa mais
vasta fileira florestal por onde vai certamente passar o nosso futuro
colectivo, fileira de onde provém, para além das rolhas e dos
revestimentos de cortiça, produtos com a unicidade e a eminência do
papel de escritório e do mobiliário.
Infelizmente, como é do conhecimento geral, a nossa floresta tem
sofrido uma série de revezes que têm de alguma forma impedido uma
evolução ainda melhor, onde se destacam naturalmente os incêndios e as
suas múltiplas causas (desordenamento florestal, ausência de
emparcelamento e de associativismo, política florestal, criminalidade,
secas, etc.), mas também outras de interpretação mais difícil, onde se
destaca a degradação, não exclusiva em Portugal, do montado de sobro.
E porque razão está então o montado de sobro em declínio? Se tem uma
tão grande importância no país, como é possível não termos ainda
tomado as medidas certas para evitar o actual cenário de sobreiros
mortos a que se assiste? E já agora, quais são as causas?
A verdade é que ninguém sabe em rigor porquê, apontam-se vários
factores em conjunto como prováveis, como a poluição (influência de
Sines), técnicas culturais incorrectas (exemplo: lavouras fundas),
factores climáticos, exploração sobre intensiva, doenças, pragas, mas
a grande verdade é que ainda não foi estabelecida uma relação
causa-efeito directa, mau grado o meritório trabalho que alguns, com
poucos recursos, sempre desenvolvem.
Ora não seria natural que já existisse há anos, localizado no nosso
país, um centro de investigação e desenvolvimento do sobreiro e da
cortiça de excelência mundial, consentâneo com a importância que este
sector tem no nosso país, centro de investigação que pesquisasse desde
a genética do sobreiro (a começar pela sequenciação do genoma) até à
cortiça e suas aplicações, que congregasse os meritórios projectos em
curso e que envolvesse os nossos melhores investigadores, abarcando
áreas tão distintas como a genética, a agronomia e a silvicultura, a
biologia, a física e a climatologia, entre outras?
Como é possível que um país com laboratórios de investigação de renome
mundial como o IGC, o Champalimaud, o ITQB, o IBET, o IPATIMUP e o
IBMC, só para citar alguns, todos eles com provas dadas em termos
internacionais, que investigam os mais variados temas obtendo
repetidos prémios de enorme relevância, não se consiga organizar no
sentido de pôr os seus melhores também a investigar e a desenvolver de
uma forma eficiente e organizada os sectores que maior relevância têm
para a sua Economia, como é o caso da cortiça? Isto entende-se, faz
sentido?
A falta de recursos é uma óptima justificação, mas o que aqui se passa
tem muito mais que ver com a organização que não temos, com a
dispersão de atenções que nos caracteriza, com a falta de enfoque no
que é realmente importante para o nosso futuro colectivo, com a
incapacidade de associação em torno de um objectivo comum, com a
inaptidão em juntar entidades públicas e privadas com um propósito que
visa o melhor para todos.
Pois temos tudo para que este centro de excelência exista, locais não
faltam, quer ao nível da produção quer da indústria existem interesses
económicos relevantes que viriam a ser grandemente beneficiados com o
fortalecimento do sector da cortiça, pelo que o financiamento teria de
aparecer, entidades a trabalhar sectorialmente na área já existem,
donde até existiriam economias de escala se trabalhassem mais juntas,
o factor humano existente é indiscutível, basta integrar isto tudo,
basta de uma vez por todas o país dar este passo em frente num dos
seus melhores sectores. Somos capazes?
Engenheiro Agrónomo, Gestor de Empresas
http://www.publico.pt/ecosfera/noticia/porque-morrem-os-sobreiros-1606523
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