01.06.2012
Ricardo Garcia
O Governo francês anunciou que vai proibir a utilização do pesticida
Cruiser, comercializado pelo grupo suíço Syngenta, na sequência de
estudos a sugerirem uma influência na mortalidade de abelhas.
A decisão, anunciada nesta sexta-feira, surge no mesmo dia em que as
agências europeia e francesa para a segurança alimentar divulgaram
pareceres sobre o assunto, defendendo a necessidade de mais estudos e
regulamentação.
O Cruiser é um insecticida aplicado sobre as sementes, para evitar que
a planta seja infestada por pragas nos primeiros dias de germinação.
Dois estudos publicados na revista Science, a 30 de Março, procuraram
avaliar o efeito de doses não-letais dos princípios activos contidos
no pesticida sobre as abelhas. Um deles detectou que muitas não
regressavam às colmeias, a níveis que poderiam pôr em risco a
sobrevivência das colónias. O outro falava em problemas no ritmo de
crescimento das abelhas e na produção das rainhas.
A Syngenta contestou o estudo, dizendo, num comunicado, que o Cruiser
já foi utilizado em três milhões de hectares de cultura de colza (uma
oleaginosa) na Europa "sem nenhum incidente" e que os estudos se
basearam em doses de exposição irreais das abelhas ao pesticida.
Tanto a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar, quanto o
organismo francês homólogo (a Agência Nacional para a Segurança
Sanitária, Alimentar, Ambiental e do Trabalho), afirmam também que as
doses utilizadas experimentalmente são, para algumas abelhas, maiores
do que aquelas a que os insectos estão sujeitos em termos reais.
No parecer divulgado nesta sexta-feira, a agência francesa nota, no
entanto, que uma exposição natural mais elevada "não pode ser
totalmente excluída" e que um dos estudos evidencia o efeito nefasto
"sobre o retorno das abelhas às colmeias". A agência sugere, por isso,
que se faça mais investigação sobre este efeito e que seja feita uma
"reavaliação, a nível europeu, das substâncias activas" contidas
naquele pesticida.
A Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar sugeriu, por sua vez,
repetir as experiências com outros níveis de exposição das abelhas.
Face a estes pareceres, o Governo francês decidiu iniciar um processo
de proibição do pesticida no país. "Já notifiquei o grupo que
comercializa o Cruiser de que pretendo retirar a aprovação para a sua
colocação no mercado", disse o ministro francês da Agricultura,
Stéphane Le Foll, citado pelo jornal Le Monde.
"O parecer da Anses [sigla francesa para a agência nacional para a
segurança alimentar] traz elementos novos e mostram claramente um
efeito nefasto deste produto sobre a mortalidade das abelhas e vou
levar em conta o que ali é dito", acrescentou o ministro.
O grupo Syngenta terá agora 15 dias para se pronunciar.
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