ALEXANDRA PRADO COELHO
05/05/2013 - 20:21
Tornar produtos tradicionais mais saudáveis, realizar testes
alimentares mais fiáveis, definir que informação deve vir nos rótulos
– a Comissão Europeia quer os cientistas a inovar o sector alimentar
na Europa, diz Antonio Di Giulio, responsável pela política de
investigação do organismo europeu, em entrevista ao PÚBLICO.
O número de testes à carne na Europa aumentou NUNO FERREIRA SANTOS
A quantidade de testes feitos à carne na Europa aumentou depois da
descoberta de que carne de cavalo estava a ser vendida como sendo de
vaca – um escândalo que veio provar que "a legislação e os testes que
temos funcionam", afirma António Di Giulio, director-geral para a
Investigação e Inovação – Biotecnologias, Agricultura e Alimentação da
Comissão Europeia.
"As pessoas no exterior [da União] sabem agora que temos um sistema
que funciona, caso contrário não teríamos descoberto" a fraude, disse,
numa conversa com o PÚBLICO. "Mas claro que há sempre espaço para
melhorar, e é aí que a ciência entra em cena, para aumentar a
qualidade dos testes, a velocidade, e fiabilidade".
Di Giulio esteve em Lisboa para participar na conferência de
encerramento do ciclo dedicado ao Futuro da Alimentação, organizado
pela Fundação Calouste Gulbenkian e pelo jornal PÚBLICO – conferência
que coincidiu também com o lançamento do livro O Futuro da
Alimentação: Ambiente, Saúde, Economia, organizado por José Lima
Santos, Isabel do Carmo, Pedro Graça e Isabel Ribeiro.
O responsável europeu veio explicar qual o papel da sua
direcção-geral, e de que forma a União Europeia está a apostar na
inovação ligada à Alimentação, Agricultura e Pescas, apoiando
projectos de investigação nestas áreas. "Hoje, graças a técnicas
científicas, o custo dos testes reduziu-se muito. Isto é também um
elemento importante. Há dez ou quinze anos o preço era menos eficaz.
Além disso, temos trabalhado muito na questão da amostragem. Qual a
forma mais eficaz de retirar amostras de um produto? Temos promovido
vários projectos ligados a este tema", explica Di Giulio.
A importância da rotulagem
Outra área, que se cruza também com a segurança alimentar, e na qual
têm trabalhado é a da rotulagem. "Os rótulos são muito importantes,
mas a pesquisa diz que há um limite de informação que conseguimos
reter, e que é de três, quatro, cinco elementos no máximo. Isto faz
parte do debate: até onde devemos ir na rotulagem? O que as pessoas
lêem é a data de validade ou o 'consumir antes de…', ou, se tiverem
algum problema de saúde, tentam perceber se há algum elemento que lhes
faça mal. Há um debate aberto, e é aqui que a indústria e os
accionistas entram, com diferentes pontos de vista, e a ciência tem
que ajudar a garantir que no final o que for feito é para ajudar os
consumidores."
Reduzir a informação nos rótulos por incapacidade das pessoas a
entenderem toda não pode ser uma desculpa, usada pela indústria, para
não a dar? Di Giulio garante que não. "O que queremos é que as pessoas
possam fazer uma escolha informada. Não é escolher, sublinho, é fazer
uma escolha informada."
A Comissão Europeia lançou em Julho do ano passado o segundo convite à
apresentação de propostas (o prazo terminou em Fevereiro) para
financiamentos nestas áreas no âmbito do Horizonte 2020 da EU. Já
foram seleccionados os projectos a apoiar, mas os resultados ainda não
foram anunciados publicamente.
Um exemplo: como tornar os produtos tradicionais melhores para a saúde
sem que percam as qualidades? "Como é que se pode reduzir a quantidade
de sal que geralmente se coloca nestes produtos? Ou reduzir a gordura
sem prejudicar o gosto? Lançámos há três ou quatro anos um projecto
chamado True Food quer serviu, por exemplo, para perceber como é que
se pode curar presunto de forma tradicional sempre tentando atingir
patamares mais saudáveis". No mais recente convite à apresentação de
propostas, foi lançado outro tema: como é que se garante a
transferência dos saberes tradicionais? "Quando uma pessoa que sabe
fazer uma coisa se reforma, o novo será tão eficaz como ele? Esta é
uma questão que deve ser debatida pelos cientistas".
http://www.publico.pt/mundo/noticia/o-caso-da-carne-de-cavalo-e-uma-prova-de-que-o-sistema-funciona-1593424
Sem comentários:
Enviar um comentário