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João Dinis
Temos todos que reconhecer – a começar pelas entidades públicas,
oficiais – que os Incêndios Florestais, na sua extensão e violência,
têm causas profundas e determinantes que também são já consequências.
A saber:
-- A primeira dessas causas é a ruína da Agricultura Familiar e o
êxodo das Populações Rurais em consequência das más políticas da PAC e
das más políticas agro-florestais de matriz mais nacional. Deste
ponto de vista, são políticas "incendiárias"…
-- A falta de um correcto Ordenamento Florestal e o domínio da
Floresta Industrial de espécies altamente combustíveis (pinheiro =
resina; eucalipto = óleo), domínio que se processa mediante o
interesse de três ou quatro grandes grupos empresariais das celuloses
e dos aglomerados. Podemos dizer que a falta de um correto Ordenamento
deu lugar à "lei da selva" na Floresta Nacional!
-- A falta de aplicação de medidas de prevenção sistemáticas e
convenientemente apoiadas por recursos técnicos e financeiros
públicos. A prevenção institucional dos incêndios tem diminuído nos
últimos 10 anos.
-- A existência de Interesses económicos ilícitos quer de madeireiros
quer da construção civil e outros, juntos naquilo que pode ser chamado
por "indústria do fogo".
-- O desmantelamento dos Serviços Florestais (públicos).
-- Os grandes cortes orçamentais aplicados por sucessivos governos. Só
no actual PRODER, em 2 anos, foram já cortados mais de 150 milhões de
euros no financiamento das medidas florestais incluindo em alguma
prevenção. Esta verba cortada ao PRODER dava para executar a chamada
"Rede Primária" de limpeza de caminhos florestais…
-- As políticas – concertadas – com imposição de preços muito baixos à
Produção de Madeira, anos e anos seguidos. Os grandes grupos
empresariais que dominam a fileira concertam-se e impõem preços "de
miséria" aos Produtores Florestais para o que também têm contado com
a cumplicidade da CAP e suas estruturas específicas.
O Preço da Madeira à Produção é um factor estruturante por natureza.
Não há "gestão activa" da Floresta, em Portugal ou em qualquer outra
parte do Mundo, se os Preços à Produção de Madeira(s) se mantiverem
tão baixos e durante tantos anos. Agora, na mata, os preços andam por
25 / 30 euros a tonelada e à porta da fábrica andam 10 / 15 euros
mais altos. Depois destes Incêndios a tendência é para baixar ainda
mais…
Sobretudo no minifúndio, o desinteresse económico pela Produção
Florestal é, pois, uma causa também ela determinante para a extensão e
violência dos Incêndios Florestais.
MAIS ACHAS PARA A FOGUEIRA…
No campo das más políticas - das tais "políticas incendiárias" -
continuam a deitar mais achas para a fogueira:
-- Com as novas imposições fiscais que, a consumarem-se, vão provocar
ainda mais ruína na Agricultura Familiar, logo mais risco de Incêndios
Florestais (extensos e violentos).
-- Com a reforma da PAC, em que, pela primeira vez, se propõe o
subsídio público para o plantio de árvores de crescimento rápido (em
Portugal, leia-se eucalipto…).
-- Com a política do actual governo toda virada para a eucaliptização
- indiscriminada - do País inteiro.
MANIPULAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA DESRESPONSABILIZAÇÃO DO(S) GOVERNO(S)
As Populações desesperam. É o drama ! Os Bombeiros andam exaustos,
intoxicados pelo fumo e morrem. É a tragédia ! As televisões dão o
"espetáculo" vezes sem conta, a puxar pelos sentimentos do Povo e
pelos pirómanos também…
Neste "caldo de cultura", a Opinião Pública é manipulada. As
intervenções das Entidades Oficiais centram-se no alegado "fogo
posto"; no fogo de origem "criminosa"; nas detenções de presumíveis
"incendiários" e nas penas criminais a aplicar-lhes. Claro que, assim,
os sentimentos são manipulados e as Populações são levadas a
sentenciar, em sumário, à "morte na fogueira" os presumíveis
"incendiários"...
Ora, sabe-se que há pirómanos, que há vinganças, que há descuidos e
negligência. Mas a violência e a extensão dos Incêndios Florestais NÃO
são determinadas pela origem do fogo mas, sim, pelo mau estado geral
da Floresta, mau estado esse potenciado, claro está, por condições
climatéricas propícias (altas temperaturas e ventos).
O exacerbar do tema "fogo posto"; da detenção de presumíveis
incendiários; o mostrar e remostrar o drama e a tragédia; servem para
desviar as atenções do essencial, servem para desresponsabilizar as
más políticas agroflorestais aplicadas por sucessivos governos e,
agora, pelo atual governo. Más políticas agroflorestais, essas sim,
verdadeiramente "incendiárias".
Entretanto, por onde andaram o MAMAOT e Ministério do Ambiente? No dia
23 de Agosto, por exemplo, a meio de uma semana terrível, reuniu uma
espécie de "gabinete governamental de crise" para Incêndios Florestais
com a participação dos mais altos responsáveis do Ministério da
Administrações Interna, do Ministério da Justiça, da Proteção Civil,
da GNR, da PSP. Pois NÃO estiveram lá, nessa reunião, altos (ou
baixos) responsáveis do MAMAOT e do Ministério do Ambiente ?! Mas
então, será que estes (de novo) dois ministérios não têm nada a ver
com a Floresta e com Incêndios Florestais?
Só dias mais tarde, no "rescaldo" da situação, é que o Secretário de
Estado da Floresta e Desenvolvimento Rural veio a público quebrar o
seu silêncio "ruidoso" e dar uns palpites pouco esclarecidos e ainda
menos esclarecedores mas com intenção de "sacudir o fogo do capote"…
SEGUNDO O EXPEDIENTE OFICIAL ATÉ PARECE QUE HÁ UMA ESPÉCIE DE
"ORGANIZAÇÃO DE DELINQUENTES INCENDIÁRIOS DE TODAS AS IDADES".
E tantas e tão frequentes têm sido as notícias sobre detenções de
presumíveis incendiários, tanto tem sido o bater desta tecla,
nomeadamente por parte de entidades oficiais (governamentais)
ampliadas pelas televisões, rádios e imprensa em geral, que até parece
que Portugal está a ser atacado por uma espécie de "Organização de
Delinquentes Incendiários de Todas as Idades" !...
Mas se a "coisa" estivesse a correr bem, se não houvesse tanto
Incêndio Florestal e tanto problema grave, aí teríamos o próprio
"vice" Paulo Portas, "himself", a propagandear o mérito do "seu"
Ministério da Agricultura na prevenção de Incêndios Florestais…
Haja tino! Não nos atirem fumo para os olhos!
GOVERNO(S) / ESTADO SÃO RESPONSÁVEIS ! DEVEM INDEMNIZAR AS POPULAÇÕES
VÍTIMAS DOS FOGOS FLORESTAIS !
Ainda não referenciámos, neste artigo, os meios de combate aos
Incêndios Florestais mas sabe-se que os meios terrestres, as
Corporações de Bombeiros, atravessam grandes dificuldades e, também
por isso, têm acontecido tragédias com os Bombeiros.
Pois se as más políticas agro-florestais e os governantes que as
aplicam (ou que nada aplicam…) são grandes responsáveis pelo flagelo
dos Incêndios Florestais, os Governos e o Estado devem ser
responsabilizados e devem indemnizar os Agricultores. Devem também
indemnizar as famílias das vítimas, dos Bombeiros mortos e dos feridos
graves.
Devem ser uma prioridade o rápido e criterioso levantamento dos
prejuízos e a atribuição, pelo governo, das respectivas indemnizações.
O Ministério da Agricultura e o governo devem agora passar das
palavras aos actos !
Setembro de 2013
João Dinis
Publicado em 20/09/2013
http://www.agroportal.pt/a/2013/jdinis6.htm
1 comentário:
O mal não não está só no que refere, talvez e fundamentalmente estará ou está nos grandes interesses que estão por detrás desta tragédia.
Os incêndios propagam-se na mesma, esteja as matas limpas ou não.
Quando o vento sopra forte não há nada que detenha a propagação dos fogos. Para isto só havia um remédio: Prender os incendiários e fazê-los
confessar quem lhe pagou ou mandou pagar para o fazer. "Uma pide e um salazar" e a coisa parava.
Sempre houve verões quentes muito quentes como agora e que me lembre nunca nada disto aconteceu noutros tempos. Coisas dos tempos é o que se passa agora. "Salve-se quem poder". E os criminosos, gulosos, sem escrúpulos, seguem numa boa...
e o mais grave é que muito boa gente sabe que é assim mas, uns, assobiam para o lado, outros, os que podem fazer algo, também tem o rabo trilhado e telhados de vidro e... deixa para lá que me posso chamuscar...
Esta é uma das realidades snr João Dinis. Não é só Governo que tem de... que o Governo deve fazer isto e aquilo... etc. etc.
Depois diz: Os governos tem de ser responsabilizados.... blá, blá, blá, isto é ser mais demagogo que os demagogos: Quem é que responsabiliza os governantes? Os tribunais, os "governantes?", o zé?
Vá lá menos, blá, blá.
"Está-se farto de comentários de fachada e emissão de opiniões".
O que era preciso era: para grande males grandes remédios, doesse a quem doesse. Por uns tempos ponha-se a democracia e direitos "humanos" na prateleira.
E onde estão os direitos humanos, dos expoliados dos seus bens?
A Democrácia é só para alguns e todo o mundo sabe disso.
O resto é uma coisa feia que não digo a começar por M.
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