Saúde
Económico com Lusa
28/03/12 08:00
O Governo garantiu hoje que a Agência do Ambiente está a acompanhar a
evolução do nível de poeiras no ar, que esta semana aumentou em
Portugal, e admitiu que poderá ser lançado um alerta caso a situação
se agrave.
"Estando a Agência Portuguesa do Ambiente a acompanhar diariamente a
evolução deste episódio de intrusão de poeiras do norte de África,
poderá, em caso de observância de agravamento da situação de forma
generalizada no território nacional e persistente no tempo, [lançar]
uma ação adicional, concertada com [o Ministério da] Saúde, para a
emissão de uma nota informativa à população, tal como em situações
anteriores", disse à Lusa fonte oficial do ministério da Agricultura e
Ambiente.
A mesma fonte referiu que a Agência Portuguesa do Ambiente divulga
diariamente o Índice de Qualidade do Ar, que integra "as previsões de
poeiras vindas do Saara".
Este mecanismo de informação, adiantou, "passa pela divulgação à
população em geral, aos media, aos organismos de saúde e organizações
de defesa do ambiente e outras do índice previsto e do poluente
responsável pelo mesmo" e é "acompanhado de conselhos de saúde".
Admitindo que "as partículas em suspensão PM10 [partículas inaláveis
com diâmetro inferior a 10 milésimos de milímetro] têm efeitos na
saúde e têm um valor limite diário", a fonte do ministério adiantou
não existir um limiar de alerta para as partículas, quer na legislação
nacional quer na comunitária.
"Os limiares de alerta existem para o ozono, dióxido de azoto e
dióxido de enxofre, cujos efeitos agudos se fazem sentir a exposições
de curta duração (1h a 3h), e para os quais existem mecanismos de
alerta", referiu.
O coordenador da área do ar do departamento de Ciências e Engenharia
do Ambiente da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova
de Lisboa (FCT/UNL), Francisco Ferreira, disse hoje à Lusa que o nível
de poeira na atmosfera em Portugal ultrapassa, desde sábado passado, o
limite aconselhável para a saúde.
Segundo o responsável, o nível de partículas de poeira no ar aumentou
desde sexta-feira/sábado passados, devido a um fenómeno climático que
leva o vento a arrastar as tempestades de areia do Norte de África.
"As estações de monitorização da qualidade do ar de todo o país
revelam valores que estão a exceder os limites fixados pela
legislação, não devido apenas à poluição relacionada com as atividades
humanas, mas, sem dúvida, resultado deste fenómeno, que já dura há uns
dias", afirmou.
O fenómeno deverá manter-se até ao próximo sábado e, no entender de
Francisco Ferreira, já deveria ter motivado um aviso para que a
população mais sensível tomasse precauções.
"As concentrações em jogo são bastante elevadas e, desde sexta-feira
ou sábado, as populações mais sensíveis já deveriam estar a tomar
algumas precauções", defendeu, acrescentando que "as pessoas mais
idosas, as crianças e as pessoas com problemas respiratórios" devem
evitar "esforços que exijam uma elevada taxa respiratória". O
problema, sublinhou, é o número de dias de exposição ao pó.
"Estamos a falar já de uma sequência de uma semana em que as pessoas
estão expostas a elevados níveis de partículas que não deixam de
trazer problemas para a saúde", lembrou.
Segundo Francisco Ferreira, "vários artigos científicos mostram que
[este nível de poeira no ar] pode causar agravamento do risco de
doenças cardiovasculares, problemas associados ao agravamento de
alergias e problemas respiratórios".
Por isso, e como é habitual, o departamento de Ambiente da
Universidade Nova de Lisboa avisou o Ministério do Ambiente.
"Nós fazemos um aviso, depois as entidades podem ou não resolver
passá-lo à população", mas, "que eu saiba, não houve nenhum aviso" do
Governo, concluiu Francisco Ferreira do departamento de Ciências e
Engenharia do Ambiente da FCT/UNL.
http://economico.sapo.pt/noticias/governo-admite-lancar-alerta-caso-o-nivel-de-poeira-no-ar-se-agrave_141313.html
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