06 Maio 2013
Miguel Mota
A revista americana TIME publicou, no seu número de 11-3-2013 um
extenso artigo dedicado à agricultura da Holanda e particularmente à
sua produção de tomate, ao longo de todo o ano, em estufas,
naturalmente, com a mais avançada tecnologia, tomate que exporta para
diversos países. Em subtítulo tem uma frase lapidar:
"Se a Grécia, onde o sol abunda, fosse capaz de produzir e exportar
tomate tão eficientemente como a Holanda, talvez não estivesse em tão
má situação e podia ajudar a salvar a Europa".
Esta frase também assenta como uma luva em relação a Portugal. Tenho
dito o mesmo variadas vezes. E note-se que o tomate ainda é das
culturas em que o país está menos atrasado e consegue exportar uma
razoável quantidade.
Não me admira nada o relato da TIME. Há muitos anos aponto a
excelência da agricultura da Holanda, fruto principalmente duma
investigação agronómica de alto nível, tanto nas universidades como no
Ministério da Agricultura. É uma lição que os nossos ministros da
Agricultura, infelizmente, não têm sido capazes de aprender. Vale a
pena referir uma história elucidativa.
Em 1993, num programa de televisão, Terça à noite, em que se tratou
da Agricultura, um antigo ministro dessa pasta declarou, enfática e
perentoriamente, que as nossas condições naturais não nos permitem
competir e deu como "prova" o facto da Holanda produzir 8 toneladas de
trigo por hectare e Portugal apenas 2 toneladas.
Como nenhum dos presentes soube corrigir esse antigo ministro,
publiquei no Expresso de 17 de Julho de 1993 um artigo em que chamei a
atenção para alguns pontos que alteravam completamente a declaração.
Lembrei que a Holanda produzia 8 T de trigo por hectare nessa altura.
Se recuasse uns 20 ou 30 anos só produzia 5 T e anos mais atrás apenas
3 T, SEMPRE COM AS MESMAS CONDIÇÕES NATURAIS. O que fez a diferença
foi a sua excelente investigação agronómica, a causa da constante
inovação e dessa espectacular subida da produtividade.
Portugal, nas últimas décadas, tem andado criminosamente a destruir a
sua agricultura, começando exactamente por destruir a sua investigação
agronómica. No citado artigo no Expresso lembrei uma frase do ilustre
Professor de Agronomia Engenheiro Agrónomo D. Luís de Castro, no
Prefácio do livro "A cultura do trigo", editado em 1908:
"....poderia transformar a cultura cerealífera em Portugal pela
Ciência. É extraordinário, é fantástico, o susto, o pavor ou a piedade
que inspira entre nós, esta palavra aplicada à Agricultura!"
Ao longo de mais de um século, o único Ministro da Agricultura que
compreendeu a importância da ciência na agricultura e fez a única boa
reforma que deu um enorme avanço a este sector foi o Dr. Rafael Duque,
com a sua excelente legislação de 1936, que incluiu a criação da
Estação Agronómica Nacional. Essa reforma e o ter conseguido encontrar
pessoas com capacidade para a executar foi um enorme passo em frente,
não só para a agricultura e para a investigação agronómica, mas para a
ciência portuguesa. O modelo criado permitiu que outros sectores,
utilizando-o, pudessem conseguir excelentes progressos, o primeiro dos
quais foi a criação do prestigiado Laboratório Nacional de Engenharia
Civil, que também tanto deu ao país e que hoje é uma fracção do que já
foi.
De então para cá apenas pequenos remendos mal deitados e, depois do 25
de Abril, muitas acções de destruição. Começou com a famigerada
Reforma Agrária do PREC, que bastante destruiu. Depois disso a
destruição foi de outro tipo, talvez mais sofisticada e perniciosa,
atacando e demolindo os serviços do Ministério da Agricultura a quem
cabe a tarefa de promover a subida de nível da agricultura portuguesa.
Exactamente o contrário do que fizeram, ao longo dos anos, os
Ministros da Agricultura da Holanda. É imenso o que Portugal perdeu,
em economia e finanças, como resultado dessa destruição, encargo que
não cai apenas sobre os agricultores mas sim, pelos seus efeitos,
sobre todos os portugueses, talvez com excepção dos importadores de
produtos agrícolas, que devem ter feito fabulosas fortunas à custa da
economia de todos nós. O máximo de destruição ocorreu durante o
governo PS de Sócrates, que chegou ao cúmulo de devolver a Bruxelas
centenas de milhões de euros destinados à agricultura. A actual
ministra conseguiu travar essa destruição e teve algumas acções
meritórias que já se fizeram notar. Mas, na minha modesta opinião,
quase nada se fez na direcção que julgo necessária e que teria sido
possível iniciar logo no verão de 2011, há quase dois anos e de que já
se poderiam estar a colher alguns resultados. Tenho pena.
http://clubedospensadores.blogspot.pt/2013/05/agricultura-portugal-e-holanda.html
1 comentário:
Min. A. Cristas!!! Oica o Dr. Miguel Mota!!! Tem muito que aprender com este Senhor!!!
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