O parlamento debate na quarta-feira um projeto de lei do Bloco de
Esquerda (BE) que visa a legalização do cultivo de canábis para uso
pessoal e a criação de clubes próprios para consumo.
O projeto tem por objetivo "legalizar o cultivo para consumo pessoal,
contempla os limites desse auto cultivo [até 10 pés de canábis no
máximo] e cria enquadramento legal para clubes sociais de canábis,
onde pode haver cultivo coletivo e onde os associados podem consumir",
explicou à Lusa a deputada do BE Helena Pinto.
No entanto, este projeto não contempla o consumo de canábis por
doentes para uso terapêutico, uma prática que em Portugal continua a
ser ilegal.
Para a deputada, uma das grandes vantagens deste diploma é a criação
dos clubes sociais, espaços "devidamente legalizados e enquadrados,
com regulamento próprio", com um funcionamento perfeitamente
enquadrado e balizado.
Helena Pinto refere algumas das restrições previstas no enquadramento
legal desses clubes sociais, como a proibição de acesso a menores de
18 anos, de venda de bebidas alcoólicas, de acesso a máquinas de
jogos, ou o impedimento de existirem espaços desses a menos de 300
metros de estabelecimentos de ensino.
Segundo o BE, os clubes sociais de canábis existentes noutros países,
como Espanha, são casos de "sucesso", porque passou a haver "pontos de
referência, locais fiscalizados, que para abrir têm que obedecer a
normas".
"Nos clubes sociais de canábis, o ambiente é controlado e sabe-se o
que lá se passa. Esta medida irá trazer duas coisas: informação,
porque no clube social vai haver informação, e controlo, que
atualmente não existe, quer em termos de quantidade como de
qualidade", esclareceu Helena Pinto.
O projeto de lei sublinha a diferença entre os clubes sociais e o
modelo holandês dos coffee-shops, uma vez que, ao contrário destas
últimas, permite certificar a origem da canábis produzida e garantir
que não é importada pelas redes de narcotráfico.
Por outro lado, retira a componente comercial e a procura de lucro
associadas às coffee-shops, uma vez que nos clubes sociais os
consumidores têm obrigatoriamente que ser associados dos clubes,
mediante pagamento de uma quota, e comprometer-se com o consumo
responsável.
Quanto à legalização do cultivo de canábis para uso próprio, a
deputada considera a medida necessária até pela conformidade com a lei
da despenalização do consumo atualmente em vigor.
"A descriminalização por si só não responde ao problema principal, uma
vez que não deixa nenhuma alternativa ao consumidor que não seja a
aquisição da canábis no mercado ilegal", lê-se no diploma.
O documento acrescenta que existe uma "contradição evidente entre a
proteção do consumidor e a proibição do chamado autocultivo, que não
prejudica terceiros e até contribui para o combate ao tráfico ilegal".
Este é, aliás, outro dos argumentos de defesa deste projeto de lei,
apontados pelo BE, que considera tratar-se de um modelo que combate o
tráfico e que dá mais "um passo no caminho do progresso".
O Bloco reconhece que a canábis não é uma substância inócua, mas
lembra que o seu consumo "não está diretamente associado a efeitos
despersonalizantes e acarreta iguais ou menores riscos para a saúde
pública do que outras substâncias legais, como o álcool ou o tabaco".
No entanto, este projeto só contempla o consumo de canábis para uso
recreativo, deixando de fora as questões relacionadas com o uso
terapêutico.
Helena Pinto explicou que essa é uma questão que o BE entendeu não
colocar neste projeto, mas salvaguardou que ao permitir-se o cultivo,
dá-se aos doentes a oportunidade de cultivarem a sua própria canábis,
sem terem que recorrer ao mercado ilegal.
*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico
http://www.ionline.pt/artigos/portugal/legalizacao-cultivo-canabis-clubes-consumo-debate-na-ar
1 comentário:
continuamos à procura do absurdo... em toda a Europa (CE) é uma cultura em expansão exponencial, em Portugal continuamos a brincar apesar dos apoios para a produção agricola da cannabis sativa.
a produção e o consumo são coisas diferentes e não podem nem devem ser legisladas como um pacote. As farmacêuticas precisam da produção e nós continuamos a não produzir. João Santos
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