CARLOS DIAS 07/02/2014 - 07:40
Criadores de suínos do Alentejo e Algarve reclamam do Governo a publicação de normativo para travar a permissividade que prevalece na rotulagem dos produtos colocados no mercado.
As duas associações de criadores de suínos que representam centenas de produtores no Alentejo e Algarve, reclamam do Governo a publicação de um normativo que estabeleça os critérios da rotulagem dos produtos derivados do porco preto alentejano. Luís Bulhão Martins, presidente da Associação Nacional dos Criadores do Porco Alentejano (ANCPA) considera ser esta a única forma de colocar termo a uma "concorrência desleal e enganosa que afecta sobretudo o consumidor". É por isso que as duas associações de criadores de suínos que representam centenas de produtores no Alentejo e Algarve reclamam do Governo a publicação de um normativo que estabeleça os critérios da rotulagem dos produtos derivados do porco preto alentejano.
Nuno Faustino, presidente da Associação de Criadores de Porco Alentejano (ACPA) faz alerta idêntico. Na situação actual "ninguém pode garantir" que a carne vendida ao consumidor "seja de porco preto alentejano" observa.
Com efeito, "não existe nada que regulamente" a actividade na fileira, condicionada por um crescendo de situações anómalas. O facto é que a carne de porco preto alentejano está praticamente arredada do mercado nacional devido à imbatível concorrência espanhola. A alternativa está na produção do porco alentejano puro que vai em grande parte para o fabrico de presuntos em Espanha. Nuno Faustino adianta que "a sua qualidade é de tal forma elevada que os espanhóis compram mais de 90 por cento da produção feita pelos associados da ACPA".
"Com tanto produto de porco preto que há por aí" à venda, e numa altura em que se assiste a uma redução significativa de explorações em Portugal e até em Espanha, "nunca se sentiu a falta de carne" no consumidor e a preços acessíveis, o que suscita suspeitas. Acresce ainda o facto de poder ser vendida sem qualquer controle, porque "não há legislação para a actividade, nem fiscalização" afiança Nuno Faustino.
O suíno tipicamente alentejano "está a ser substituído por um produto barato, de qualidade inferior, que dizem ser porco preto, mas nada tem a ver, e não dá hipóteses à produção alentejana de chegar ao mercado", sobretudo a restaurantes e grandes superfícies comerciais, sustenta o presidente da ACPA.
Assim se explica que, de 2011 até ao presente, já só existam metade das cerca de 300 explorações de suínos que antes existiam em todo o Alentejo.
Ou seja, no sul do país criavam-se porcos pretos cruzados com pelo menos 50 por cento de genética do porco alentejano puro e o restante com o porco Duroc de origem americana. Mas, além dos custos de produção serem mais elevados que em Espanha, subsiste ainda outra questão de fundo: Criar um porco preto alentejano com a matriz geneológica que o caracteriza (50% porco Alentejo puro e 50% Duroc) demora no mínimo um ano. Os espanhóis "fabricam-no em 7/8 meses.
Na melhor das hipóteses, as carcaças dos suínos colocados em Portugal "nem 25 por cento de porco ibérico terão". O suíno que é designado em Espanha de porco ibérico é "baptizado" em Portugal de porco preto alentejano quando na realidade não obedece aos mesmos critérios a que os criadores nacionais são obrigados.
Só a regulamentação da actividade e um relacionamento comercial com os produtores espanhóis baseada em regras previamente estabelecidas, pode "travar a actividade de pessoas que adulteram" as condições de produção tornando-as mais baratas, para "ganhar uma margem de rentabilidade que não lhe é devida" realça por seu turno Bulhão Martins, defensor de uma norma que "proteja o consumidor de ser enganado com a história do porco preto".
Já existe um projecto de portaria que neste momento estará para consulta em Bruxelas, que vai definir as regras de produção e comercialização do porco preto. A sua publicação pode vir a ter lugar "dentro de dois meses" confia o presidente da ACPA.
Do que já está acordado entre o secretário de Estado da Alimentação e da Indústria Agroalimentar, Nuno Vieira e Brito, as duas associações de criadores e a indústria transformadora, o porco preto pode ser criado em regime intensivo e em espaço fechado, mas também em extensivo, no campo. O rótulo que acompanhará os produtos clarificará a diferença para o consumidor.
A classificação de porco preto será atribuída aos suínos que resultarem de cruzamento. Na sua caracterização genética terá de haver, no mínimo, 50 por cento de porco alentejano. Na aceitação destes parâmetros por parte dos criadores, fez-se sentir "a pressão das indústrias de transformação" ao exigirem a produção em intensivo, em meio fechado, com o argumento de que o campo "não teria condições" para produzir todos os porcos pretos necessários para alimentar as indústrias de salsicharia e enchidos.
As associações de criadores acederam, mas exigiram a produção do porco preto em regime extensivo, no campo, entre porco alentejano fêmea e Duroc macho.
Nuno Faustino realça as enormes potencialidades oferecidas por cerca de 160 mil hectares de montado que existem no Alentejo, elemento determinante na criação do porco alentejano puro fundamental para a produção de presunto, assim como para o porco preto alentejano que fornece as indústrias de carne fresca e de enchidos.
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