3 de Abril, 2014por Sónia Balasteiro
Os produtores portugueses estão a voltar a investir na resina. O interesse nesta matéria-prima - da qual Portugal foi já o segundo maior exportador do mundo e o maior da Europa, sendo actualmente o segundo maior importador - é tal que, em Janeiro, foi apresentada a primeira associação que reúne resineiros e industriais.
A ResiPinus - Associação de Destiladores e Exploradores de Resina surge numa altura em que a China, um dos grandes produtores mundiais de resina, começa a deixar de ter capacidade de resposta para as necessidades do mercado interno, explicou ao SOL Pedro Cortes, um dos promotores do regresso da actividade a Portugal.
Este membro do grupo de trabalho que desenvolveu o projecto transfronteiriço Sust-Forest - que pretende explorar a conservação e o emprego rural no Sul da Europa através das multifuncionalidades da resina - explica que, em muitos casos, esta matéria-prima pode substituir o petróleo, “de forma mais sustentável e ecológica”.
“A China tinha resina dos seus pinheiros autóctones, mas começou a esgotar os seus recursos. O Brasil também tem uma produção intensiva que começa a estar em causa”, refere o especialista, justificando o aumento de 60% do preço da resina nos mercados internacionais com esta quebra na produção. “Portugal já foi um grande exportador, nas décadas de 60 e 70, o maior da Europa, com uma produção de mais de 100 mil toneladas. Hoje temos cerca de dez mil. Existe um grande potencial de crescimento do sector”.
Portugal deixou de ter capacidade para competir quando se deu o boom da produção de resina na China, que conseguia preços mais baixos. “Além disso, tivemos o boom da construção civil e houve um abandono da actividade”, explica Pedro Cortes. Mas agora, acrescenta, “o mercado está a mexer”.
Daí o surgimento da primeira organização do sector, para “defender os interesses conjuntos dos resineiros e dos industriais”, referiu ao SOL Joaquim Pinheiro, da ResiPinus, lembrando que este sector tem estado “um pouco abandonado”, já que “as leis referentes à resina são dos anos 50”.
Apoios para vigiar floresta
A ResiPinus está, neste momento, a ultimar um documento para entregar à tutela, a Secretaria de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, reivindicando o apoio do Estado aos serviços prestados pela actividade da resinagem. Um dos argumentos de peso é a permanência constante de resineiros na floresta durante os meses mais quentes, ou seja, na época de incêndios, permitindo a abertura de caminhos e a limpeza da floresta. “Ninguém vai à floresta com a recorrência de um resineiro. Tem de ser feita uma incisão em cada pinheiro, de duas em duas semanas”, concretiza Pedro Cortes, do grupo de trabalho da resina. O documento deverá ser entregue à tutela já na próxima semana.
O interesse no sector justifica-se ainda pela “garantia de escoamento do produto” e pela garantia de empregos em zonas rurais onde eles menos existem, uma vez que “a resina requer bastante mão-de-obra”.
“A resinagem é muito provavelmente a actividade com maior intensificação de ocupação de mão-de-obra por área, pois em condições com potencial pode ocupar um operador durante seis a nove meses por cada 20 a 30 hectares de floresta”, garantem os responsáveis da ResiPinus.
Mas, para haver um regresso à actividade, “é necessário haver pinho”, nota Adelino Ferrador, também membro da ResiPinus e industrial que processa cerca de mil toneladas de resina por ano. “Só vejo investimento e apoio às plantações de eucaliptos. Os produtores cortam os pinheiros e metem eucaliptos”, lamenta, lembrando que um pinheiro demora cerca de 30 a 40 anos a dar resina.
Jorge Lameira, que trabalha “há quase 50 anos” na resinagem, explica também que o principal problema é o grande proprietário dos pinhais, o Estado. “Fazem-se concursos públicos, mas o Estado nunca publica os resultados a tempo. Depois se nos atrasarmos a tirar a resina, somos multados”, queixa-se, especificando que está neste momento à espera do resultado de um concurso para começar a resinagem de uma mata que deveria ter sido iniciada em Março, decorrendo a campanha até Novembro.
Quanto aos rendimentos, o resineiro é peremptório: “Não é fácil. Cada pinheiro dá, em média, cerca de 2,5 kg de resina por época, quatro se for muito bom”.
Em Portugal, que importa 90% da resina que utiliza, existem cerca de 500 resineiros e dez industriais que fazem a primeira transformação.
A ResiPinus pretende organizar e defender os interesses de todo o sector. Outro objectivo é ser “um parceiro activo das instituições que gerem o ordenamento do território e o desenvolvimento rural”, como explica Joaquim Pinheiro.
As reivindicações do sector foram também apresentadas na Comissão Europeia em Julho.
Onde é usada a resina
Alimentação: Pastilhas, gomas e equipamentos para agricultura
Indústria: Aplicações e sacaria industriais
Construção: Isolamento, tubagens e chapas
Vestuário: Ténis, revestimento de roupas e sapatos
Medicina: Implantes de ossos artificiais
Sintéticos: Cola, verniz, elásticos, perfumaria, cremes, pneus
Aplicações: Pulseiras de relógio, suturas, capacetes de segurança, lentes, filmes fotográficos, isoladores
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