inShareO nível de poeira na atmosfera em Portugal ultrapassa desde
sábado passado o limite aconselhável para a saúde devido a um fenómeno
climático arrastado do norte de África, mas o Governo não lançou
nenhum alerta, alertou um investigador.
O aviso foi avançado à Lusa pelo coordenador da área do ar do
departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da Faculdade de
Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT/UNL),
Francisco Ferreira, que refere que o fenómeno deverá durar até ao
próximo sábado.
«As estações de monitorização da qualidade do ar de todo o país
revelam valores que estão a exceder os limites fixados pela
legislação, não devido apenas à poluição relacionada com as atividades
humanas, mas, sem dúvida, resultado deste fenómeno, que já dura há uns
dias», afirmou.
Um fenómeno que é comum em ilhas como a Madeira, Cabo Verde e
Canárias, mas mais invulgar em locais mais a norte.
«Em determinadas épocas do ano, há tempestades de areia que levam a
que muitas poeiras sejam arrastadas pelo vento desde o Norte de África
até vários locais da Europa, principalmente até à Península Ibérica»,
explicou.
«Em determinadas circunstâncias, estas poeiras podem ser arrastadas
para bem mais longe e foi isso que aconteceu», disse, adiantando que
«os ventos trouxeram estas partículas do Norte de África e, [no
sábado, isso] coincidiu com alguma chuva», tendo feito notar-se pela
sujidade e pó que deixou sobretudo nos automóveis.
O valor limite é de 50 microgramas por metro cúbico (m3), sendo que os
valores atuais em toda a rede chegam, segundo o especialista, a
ultrapassar os 70 microgramas/m3.
«Este transporte de partículas está a ter lugar desde sexta-feira e, à
partida, continuará a ocorrer até dia 31», alertou ainda.
Apesar de referir que o pó que se encontra agora no ar não tem efeitos
na saúde tão graves como as partículas resultantes das emissões dos
automóveis, Francisco Ferreira admite que «as concentrações em jogo já
são bastante elevados e desde sexta-feira ou sábado que as populações
mais sensíveis deveriam estar a tomar algumas precauções».
De acordo com o coordenador do departamento de Ciências e Ambiente da
UNL, «as pessoas mais idosas, as crianças e as pessoas com problemas
respiratórios» devem evitar «esforços que exijam uma elevada taxa
respiratória».
O problema, sublinhou, é o número de dias de exposição ao pó. «Estamos
a falar já de uma sequência de uma semana em que as pessoas estão
expostas a elevados níveis de partículas que não deixam de trazer
problemas para a saúde», lembrou, acrescentando que «vários artigos
científicos mostram que pode causar agravamento do risco de doenças
cardiovasculares, problemas associados ao agravamento de alergias e
problemas respiratórios».
Por isso, e como é habitual, o departamento de Ambiente da
Universidade Nova de Lisboa avisou o ministério do Ambiente. «Nós
fazemos um aviso, que depois as entidades podem ou não resolver
passá-lo à população» -, mas «que eu saiba não houve nenhum aviso» do
Governo, concluiu.
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