ANA RUTE SILVA 26/02/2014 - 13:58 (actualizado às 16:33)
Pedro Soares dos Santos, presidente executivo da Jerónimo Martins, diz que a nova lei das más práticas do comércio, em vigor desde terça-feira, estimula a venda destes produtos
Pedro Soares dos Santos divulgou resultados anuais JOÃO CORDEIRO
As marcas da distribuição pesam 25% no total das vendas do Pingo Doce (40% excluindo os produtos frescos), mas a tendência é para crescerem. Pedro Soares dos Santos, presidente executivo da Jerónimo Martins, acredita que nas prateiras dos supermercados vamos ver, cada vez mais, estes produtos, em consequência da nova lei que regula as práticas restritivas do comércio, em vigor desde terça-feira.
“Vão crescer muito talvez pela salvaguarda da nova lei, se a grande distribuição não chegar a acordo com as marcas”, disse, durante a apresentação de resultados relativos a 2013. O diploma, que tem sido muito criticado, estipula regras para a relação entre os fornecedores e os comerciantes, incluindo os descontos nas facturas de venda dos produtos, ao mesmo tempo que aumenta as multas de um máximo de 30 mil euros para 2,5 milhões de euros. Caso não haja acordo com a indústria, Pedro Soares dos Santos admite que uma das saídas é o reforço das marcas da distribuição.
“A lei das Práticas Individuais Restritivas do Comércio teve uma certa bondade do legislador, mas mais uma vez o legislador não soube legislar. Agora é a indústria e as marcas que pedem [o adiamento da lei]”, referiu o presidente executivo da Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce. E acrescentou: “Uma coisa é clara: os mais fortes vão ser mais fortes e os mais fracos, os pequenos e médios, sairão a perder”.
De acordo com os últimos dados da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição, referentes ao primeiro semestre de 2013, a quota de mercado das marcas próprias – que começaram por ser chamados “marcas brancas” porque inicialmente não tinham qualquer logótipo que as distinguisse – caiu de 37,2% no primeiro semestre de 2012 para 35,8%. As intensas promoções fizeram aumentar as vendas de produtos de marca, produzidos e detidos pela indústria, agora com uma quota de 64,2%.
No caso do Pingo Doce, o reforço do “sortido de marca própria” já tinha sido indicado como um dos objectivos até 2016. Neste período, a intenção é manter e aumentar as promoções e apostar também nos produtos perecíveis.
De acordo com os dados divulgados, nesta quarta-feira, pela Jerónimo Martins, 20% das compras totais do Pingo Doce são feitas fora de Portugal. A empresa consegue abastecer totalmente os 376 supermercados com legumes frescos produzidos em território nacional. “A nossa relação com os fornecedores tem mais de uma dezena de anos, há estabilidade”, disse Pedro Soares dos Santos, acrescentando que a cadeia não poderia atingir “os padrões de qualidade ou aceitação que tem hoje se essa relação não fosse forte”.
O presidente executivo antecipa um 2014 “muito duro” para os portugueses, já que a carga fiscal não será aliviada, e a continuação de uma tendência que tem ditado a estratégia dos maiores operadores nacionais: consumidores focados no preço e na melhor oferta.
Negócio de peso internacional
Em 2013 a Jerónimo Martins teve lucros de 382 milhões de euros, um crescimento de 6%, e vendas de 11,8 mil milhões de euros, mais 10,7% em comparação com 2012. A cadeia polaca Biedronka já representa 65,1% das vendas (63% em 2012) e é seguida pelo Pingo Doce, que facturou perto de 3,2 milhões de euros. O peso da cadeia portuguesa no negócio do grupo caiu de 28,7 para 26,9% para num sinal de que os grandes crescimentos continuam a vir do exterior.
O grupo espera abrir este ano 300 novas lojas Biedronka (tem actualmente 2393), enquanto em Portugal a previsão é de dez novos supermercados, 80% dos quais em regime semelhante ao franchising. “Temos de reconhecer que Portugal é um país maduro e a expansão orgânica que é possível fazer tem o seu limite”, disse Pedro Soares dos Santos. Na Polónia, a Jerónimo Martins também quer abrir mais 50 lojas Hebe (de cosmética e bem-estar).
Na Colômbia, onde a empresa entrou pela primeira vez em 2013, o ano fechou com vendas de 21 milhões de euros e 36 lojas Ara e as estimativas de investimento para 2014 rondam os 100 milhões de euros (de um total de 600 a 700 milhões de euros que o grupo prevê gastar este ano). A previsão é abrir mais 50 supermercados neste país.
Pedro Soares dos Santos confessou que o seu “sonho” é conseguir 25% das vendas na Colômbia. “Temos de acertar na fórmula”, disse, sublinhando que a empresa tem pela frente “um trabalho imenso”.
Quanto a novos mercados, o actual chairman diz que Ucrânia continua a ser uma ambição “mas está um pouco difícil”, disse, referindo-se à actual situação política e social.
Nos resultados anuais a única área de negócio a ter evolução negativa foram os “serviços de marketing, representação e restauração”, que venderam 78 milhões de euros, menos 10,7% em comparação com 2012. Os valores reflectem o enceramento de um terço dos cafés Jeronymo, no âmbito de um processo de reestruturação para tornar “as cadeias viáveis”. As vendas de azeite Gallo (que a empresa detém em parceria com a Unilever) cresceram nos mercados internacionais e a Unilever (dona das marcas Skip ou Dove) conseguiram aumentar receitas, “embora tenham exportado menos”, adiantou José Soares dos Santos, administrador responsável pelas áreas de Indústria e de Serviços de Marketing e Representações.
Aumentos salariais de 1,5%
Os cerca de 23 mil trabalhadores em Portugal vão ter, este ano, um aumento salarial de 1,5%. E todos os colaboradores que trabalham a tempo inteiro (Polónia incluída) terão direito a um prémio de 375 euros. A Jerónimo Martins emprega um total de 76.810 pessoas.
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