terça-feira, 29 de maio de 2012

"Não se pode gerir aquilo que não se pode medir"

Pavan Sukhdev, consultor da ONU para a economia verde

Pavan Sukhdev, consultor da ONU para a economia verde, reconhece que o
impacto do famoso estudo sobre economia dos ecossistemas e da
biodiversidade que liderou é ainda limitado nas empresas e nos
governos.
Virgílio Azevedo (www.expresso.pt)
10:27 Segunda feira, 28 de maio de 2012
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"Estamos a ajudar as empresas a compreender, descobrir, medir e gerir
os impactos da sua atividade na Natureza"
Alberto Frias
Pavan Sukhdev, fundador da empresa de consultoria ambiental GIST
Advisory e ex-banqueiro, reconhece que o impacto do famoso estudo TEEB
que liderou, sobre a economia dos ecossistemas e da biodiversidade, é
ainda limitado nas empresas e nos governos. Mas os esforços para
atribuir um valor económico à Natureza começam a dar os primeiros
frutos.

Dois anos depois da publicação do relatório TEEB, a invisibilidade
económica da Natureza salientada no documento já pertence ao passado?
Ainda não, mas o número de pessoas que reconhecem a importância de
resolver este problema tem crescido substancialmente em todo o mundo.
Há boas iniciativas do lado dos governos e das empresas. Têm surgido
projetos de cooperação entre empresas para abordar esta questão e
países como o Brasil, Índia, Indonésia, Noruega, Holanda ou Alemanha
estão a considerar a avaliação dos ecossistemas nas suas políticas
públicas.


Quais foram as recomendações do relatório que se concretizaram? Sempre
dissemos que não se pode gerir aquilo que não se pode medir, por isso
é importante medir os impactos da atividade económica na Natureza.
Acho que a recomendação do TEEB que avançou mais foi a cooperação
entre empresas e instituições para medir esse impacto e disponibilizar
os resultados ao público, para que investidores, fornecedores,
consumidores e também organismos públicos tenham conhecimento desse
impacto. Formaram-se parcerias entre empresas e instituições, como a
TEEB for Business Coalition, apoiada pelos governos de Singapura e do
Reino Unido, e financiada pela Fundação Intel, dos EUA. Estamos a
começar a fazer os cálculos e a ajudar as empresas a compreender,
descobrir, medir e gerir as chamadas externalidades, isto é, os
impactos da sua atividade na sociedade e na Natureza. Há outras
recomendações que ainda não avançaram, temos muito trabalho pela
frente, mas penso que cada país tem condições para as concretizar.


Os relatórios anuais das empresas não têm informações sobre as
externalidades, só os relatórios de sustentabilidade e de
responsabilidade social. A situação está a mudar? É um erro as
empresas colocarem a informação sobre o seu impacto na sociedade e na
Natureza apenas nos relatórios de sustentabilidade e não nos
relatórios anuais. A situação tem mudado nos últimos anos e há mesmo
casos exemplares, como a conhecida multinacional alemã de roupa
desportiva Puma, que avaliou em 145 milhões de euros, no relatório
anual, o seu impacto ambiental em áreas-chave como as emissões de CO2,
o consumo de água, o uso da terra, a poluição do ar e a produção de
resíduos. Mas a maioria das empresas continua a omitir essa avaliação
nos relatórios anuais.


Em Portugal, muitas empresas usam o desenvolvimento sustentável e a
responsabilidade social mais como estratégia de marketing do que como
estratégia de negócio... As empresas são a chave para o
desenvolvimento sustentável, mas ainda há muito green washing em
Portugal e noutros países. Infelizmente tais práticas não resolvem nem
os problemas da empresa nem os problemas do ambiente. Na empresa,
porque a necessidade de medir o impacto económico da sua atividade na
Natureza envolve toda a cadeia de valor. Não podemos medir só um
departamento, uma fábrica, um produto ou serviço, devido a uma
estratégia de marketing. Gerir as externalidades significa medir todos
os impactos na Natureza. Depois há outro aspeto crucial: informar a
opinião pública. Se as empresas só divulgam parcialmente os dados
sobre o seu impacto na sociedade e na Natureza não estão a ser justas
para os investidores, fornecedores ou clientes, que não têm informação
adequada para poderem escolher.


A opinião pública reage a estas situações enganosas? Sim. Nos EUA há
vários exemplos em que a opinião pública denunciou situações de green
washing. A questão essencial é esta: quanto mais informação houver,
mais poderosa será a mudança nas empresas. E hoje existem meios de
informação diversificados que chegam a toda a gente, como a Internet,
o Facebook ou o Twitter.


O pagamento dos serviços prestados pelos ecossistemas e o conceito de
benefício público da Natureza estão hoje integrados nas decisões
políticas dos governos? Em alguns países já começam a estar. O
primeiro que o fez foi provavelmente o Reino Unido, onde o Sistema
Nacional de Avaliação dos Ecossistemas publicou um Livro Branco com 90
recomendações políticas de mudança a nível nacional, regional e local
e conseguiu mobilizar investimento para criar novas formas de
cooperação entre empresas e instituições.


Os incentivos económicos, fiscais e financeiros dos governos às
empresas estão a considerar o valor dos serviços prestados pelos
ecossistemas em áreas como a agricultura, pescas, energia, águas ou
transportes? Para contabilizarmos o valor total da Natureza e os
produtos e serviços que ela fornece à economia e à sociedade, as
contas nacionais dos países têm de mudar e refletir esta realidade. Ou
seja, devemos ter contas nacionais verdes, PIB verde, etc. O Banco
Mundial está a trabalhar num projeto global com esse objetivo,
inspirado nas recomendações dos relatórios TEEB e em parceria com a
ONU e a OCDE, e os governos da Colômbia, México, Alemanha, Noruega e
Reino Unido, entre outros.


A ONU defende que o crescimento económico é compatível com a proteção
do ambiente se forem investidos por ano 2% do PIB mundial na economia
verde. Isso é viável? Sem dúvida. As pessoas pensam que não há
dinheiro para a economia verde, mas a verdade é que esses 2% do PIB
mundial representam só um décimo do investimento global na chamada
economia castanha (brown economy). Apenas os subsídios aos
combustíveis fósseis passam aquele valor.



Ler mais: http://expresso.sapo.pt/nao-se-pode-gerir-aquilo-que-nao-se-pode-medir=f728137

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