31.05.2012
Ricardo Garcia
Não há dia em que não se ouça dizer que o ambiente é uma pedra no
sapato da economia. Estes números dizem, porém, o contrário: a chamada
"economia verde" pode gerar 15 a 60 milhões de novos empregos nos
próximos 20 anos.
A estimativa resulta de uma análise feita pela Organização
Internacional do Trabalho (OIT) e leva em conta os postos de trabalho
criados em vários sectores, como o das energias renováveis, da
eficiência energética ou da reciclagem.
O estudo admite que, com a transição para a economia verde, alguns vão
ter de mudar de emprego. Mas trata-se de um número "gerível" – nos
países desenvolvidos, será de um por cento da força de trabalho. "As
preocupações sobre a perda de empregos na economia verde são, por
isso, exagerados", conclui o estudo, realizado no âmbito da Iniciativa
Empregos Verdes, que envolve também outras agências da ONU.
A economia verde já está a dar sustento a milhões de pessoas. Nos
Estados Unidos, segundo o relatório, há 3,1 milhões de trabalhadores
(2,4%) a prestarem serviços ou produzirem bens na área do ambiente. No
Brasil, são 2,9 milhões (6,6%). Só no sector das renováveis,
trabalham, no mundo todo, cinco milhões de pessoas. E a área da
biodiversidade criou quase 15 milhões de empregos directos e
indirectos na Europa.
Entre o dever e haver, as projecções apontam para um ganho positivo de
0,2% a 2,0% no número de empregos globais – ou seja, mais 15 a 60
milhões de postos de trabalho.
A economia verde, e como esta via pode ser a solução para pobreza no
mundo, é o tema central da Conferência das Nações Unidas sobre o
Desenvolvimento Sustentável, que terá lugar no Rio de Janeiro, de 20 a
22 de Junho. A OIT dá exemplos desta ligação – como a utilização de
práticas mais eficientes e com menor impacto por parte dos 400 milhões
de pequenos agricultores nos países em desenvolvimento, ou a
integração, na fileira da reciclagem, de milhões de "catadores" de
lixo das grandes cidades. Ao benefício ambiental soma-se o aumento da
produção e do rendimento.
O foco da Rio+20 sobre a economia verde não é pacífico. Vários países
e organizações têm-se mostrado reticentes, invocando argumentos contra
a mercantilização do ambiente e contra a ingerência externa no padrão
de desenvolvimento de cada nação.
"A sustentabilidade ambiental não é assassina os empregos, como
normalmente se diz. Pelo contrário, se gerida adequadamente, pode
levar a mais e melhores empregos, à redução da pobreza e à inclusão
social", afirma, no entanto, Juan Somavia, director-geral da OIT,
citado num comunicado da organização.
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