terça-feira, 29 de maio de 2012

Portugal tem muito para oferecer lá fora

28 Maio 2012 | 17:25
Carla Pedro - cpedro@negocios.pt
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As exportações têm sido o grande motor de crescimento económico em
Portugal. Mas o segredo já não está em fabricar produtos baratos,
porque haverá sempre quem os faça a um custo mais baixo. Na inovação e
na diferenciação é que está o ganho.
A cortiça portuguesa é bastante requisitada lá fora. O vinho do Porto
é presença em restaurantes e lojas especializadas de todo o mundo. O
papel higiénico preto, da Renova, é o favorito de Simon Cowell,
produtor de um concurso televisivo de talentos. A mãe e a irmã de
Katte Middleton usaram sapatos portugueses no casamento desta com o
príncipe William.


Os exemplos são muitos e o "Financial Times", numa análise hoje
publicada, fala sobre alguns destes produtos que contribuem para
impulsionar as exportações portuguesas, numa altura em que a crise da
dívida nos chamados países periféricos continua a apertar o cinto de
grande parte das suas populações.

Com efeito, já passou um ano desde que Portugal pediu ajuda financeira
externa. Para ser elegível ao resgate de 78 mil milhões de euros, o
País teve de assinar um memorando com a troika – Comissão Europeia,
BCE e FMI – assumindo rígidas medidas de austeridade. Uma das críticas
que tem sido feita, especialmente num contexto de aumento do
desemprego, prende-se com o facto de ser difícil haver crescimento
quando o mercado do crédito está tão apertado, quando os impostos
aumentaram e se tornou ainda mais fácil despedir. A resposta, para
muitos, está nas exportações. E estas têm sido, de facto, um dos
motores da economia portuguesa.

Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística revelaram um
aumento de 11,6% das exportações portuguesas no primeiro trimestre de
2012. Uma vez que as importações diminuíram no mesmo período, o défice
comercial também registou uma queda.

O "Financial Times", na análise assinada por Peter Wise, reforça a
ideia de que este aumento das exportações ajuda a melhorar o panorama
para Portugal. E que é por aí que devemos continuar a ir.

"O que pode Portugal produzir que o resto do mundo queira comprar? (…)
O papel higiénico preto, que é o favorito de Simon Cowell, (…) bem
como os sapatos usados pela mãe e irmã da noiva no recente casamento
do príncipe William com Kate Middleton, estão entre as respostas menos
esperadas que os exportadores portugueses poderão dar", refere o
jornal britânico.

O "FT" falou com vários responsáveis de empresas portuguesas que têm
conseguido prosperar por meio de um forte aumento das exportações dos
seus produtos. É o caso da empresa de calçado Helsar. O seu fundador,
Jorge Correia, diz que nenhum produto sai da sua fábrica sem a
etiqueta "Made in Portugal". "Alguns clientes italianos pedem para
colocarmos 'Made in Italy', mas nunca o permitirei", contou ao jornal.

"Confrontada com uma queda das vendas no mercado interno, devido à
recessão, a Helsar aumentou as vendas para o estrangeiro de 9% há seis
anos para cerca de 70% actualmente, tendo os seus sapatos adquirido
especial prestígio depois de terem sido encomendados para o casamento
real em Inglaterra", relata o "Financial Times". "No mundo do calçado,
'Made in Portugal' tem agora praticamente o mesmo peso que 'Made in
Italy'. E nos países em desenvolvimento, como é o caso da China, não
há qualquer diferença entre estas duas proveniências", acrescentou
Jorge Correia.

Papel higiénico: cor para que te quero?

Um outro exemplo dado pelo "FT" é o do papel higiénico colorido,
criado pela Renova. O preto é um dos favoritos de um célebre produtor
de TV e a empresa portuguesa é um exemplo de inovação e de
diferenciação que o director de marketing, Luís Saramago, considera
essencial para se ganhar quota de mercado no estrangeiro.

"Os produtos 'low cost' já não são uma opção para Portugal, porque
haverá sempre quem consiga fabricá-los a um preço mais baixo", opinou
Saramago ao jornal britânico. Daí que a personalização e a
originalidade, por exemplo, sejam apostas que têm vindo a revelar-se,
na sua grande maioria, o caminho certo para o crescimento das
empresas. E se a clientela escassear dentro de portas, lá fora poderá
haver quem queira.

"Algo está, decididamente, a mudar. As exportações são o único motor
[de crescimento] que temos e existem sinais encorajadores de que os
exportadores estão a conseguir marcar presença em novos mercados fora
da Europa", declarou ao "FT" a economista-chefe do Banco BPI, Cristina
Casalinho.

E o mercado pode vir de onde menos se espera. Em 2008, uma responsável
dinamarquesa da Carlsberg, descobriu num hipermercado no Algarve os
descascadores de alho da empresa portuguesa Silvex e levou um para ser
experimentado nos seus laboratórios. Satisfeita com os resultados
deste descascador aplicado à cevada, a Carlsberg encomendou mais
algumas dezenas de unidades.

http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=559299

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