Cliff Richard
Joana Moura
20/07/12 00:05
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"Aprendi imenso sobre vinhos. E depois é assim: se produzes vinho és
agricultor, e aprendes a estar dependente do tempo, mesmo que seja um
mau ano".
Cliff Richard esteve esta semana em Lisboa a apresentar a nova
colheita do seu Vida Nova e Onda Nova.
Esta é a história de uma estrela 'pop' britânica dos anos 70 que se
tornou produtor de vinho em Portugal.
"It was love at first sight", explicou-nos Cliff Richard. Mas, não se
pense que o cantor era apenas um turista excêntrico deslumbrado com o
sol do Algarve. O então cantor comprou uma quinta na zona de Albufeira
e quis "mantê-la viva", conta.
E tudo começou assim: passava o ano de 1951, quando Cliff Richard
visitou Portugal pela primeira vez. O seu 'manager' tinha acabado de
comprar seis casas na Guia e disse-lhe: "se quiseres uma podes
comprá-la". Bastou uma semana a viver nela, foi amor à primeira vista,
como Sir Richard gosta de dizer. "Comprei uma casa que é uma grande
quinta e queria que a quinta continuasse viva".
Foi assim que Cliff Richard, mais habituado aos palcos do que à vida
do campo perguntou ao caseiro o que poderiam plantar naquele terreno
para se vender. O caseiro não arriscou muito: figos. E lá se plantaram
figos.
A Quinta do Moinho, onde fica a propriedade de Cliff Richard, produziu
figos durante vários anos. Mas "depois conheci um viticultor
australiano, o Richard Smart,que me disse: 'devias plantar vinhas e
fazer vinho'. Eu respondi: 'o Algarve não é famoso pelos seus vinhos.
E ele disse: 'isso é só porque ainda ninguém fez um bom vinho, mas
podes ser o primeiro'. Eu disse-lhe que só se ele me ajudasse porque
eu não sei fazer vinho, eu sei cantar mas não sei como fazer vinho",
reproduz o artista convertido em produtor de vinho.
É em 1997 que, com o apoio de Nigel e Lesley Birch, e Max e Michelle
Birch, proprietários de outras duas quintas no Algarve, que o projecto
ganha dimensão: da união das três quintas - Quinta do Moinho, Quinta
do Miradouro e Quinta do Vale Sobreiro - nasce a Adega do Cantor, que
tem actualmente 25,5 hectares de vinha, onde são produzidos tintos,
brancos, rosés e espumantes.
"Aprendi imenso sobre vinhos, nunca me tinha apercebido que é uma
autêntica ciência e depois é assim: se produzes vinho és agricultor, e
aprendes a estar dependente do tempo, mesmo que seja um mau ano. De
facto, o vinho do Algarve não é o mais conhecido e conceituado quando
se fala em vinho português, mas Cliff Richard reclama para si o título
de ter sido "o primeiro a fazer um bom vinho no Algarve". Admite que,
hoje em dia, já tem vários concorrentes e "muitos também com vinho
muito bom" e lembra os vários prémios que as suas colheitas têm
recebido - foi a primeira adega algarvia a receber uma medalha no
concurso Internacional Wine Challenge, com o Vida Nova Tinto 2004 e a
primeira adega algarvia a receber uma medalha de prata no
International Wine and Spirits com a mesma colheita, além de várias
medalhas de ouro e prata que o Branco e o Reserva Tinto receberam no
ano passado em Munique e Berlim - para justificar o facto de só beber
do seu vinho. "Porque é que hei-de beber o vinho de outra pessoa
qualquer, se o meu é realmente bom? Portanto, eu levo o meu para
qualquer lado onde vou", diz. Ainda que isso implique ter de levar
caixas e caixas para os Barbados, onde passa ao lado dos três meses do
rigoroso 'british winter'.
Aos 72 anos continua 'bon vivant' e vive permanentemente no Verão,
mesmo que isso implique mudar de fuso horário em casa três meses. "O
sol faz-me bem e faz bem à pele, estou sempre bronzeado", brinca.
Mas, afinal, o que faz do Vida Nova e do Onda Nova - nomes que
ilustram bem o caminho que a sua vida tomou depois de se dedicar à
Quinta do Moinho- bons vinhos?
"Não sei o que faz a diferença, mas obviamente fomos os primeiros a
fazer um bom vinho no Algarve", diz para justificar o sucesso da sua
produção. Mas acaba por explicar que "o Algarve é uma região óptima
para a produção de vinhos frutados devido à brisa do mar que tempera o
sol abrasador e aos solos calcários, com pouca água, que favorecem a
maturação das uvas de alta qualidade".
A Quinta do Moinho tem actualmente três hectares de vinha Syrah,
quatro de Aragonês, um de alicante Bouschet e dois hectares de
Viognier. E Cliff Richard não dramatiza: "O que digo aos meus amigos
é: 'vocês têm de experimentar, podem não gostar, somos todos
diferentes, mas se não gostarem pelo menos usem-no para fazer molho".
Pragmático e descontraído, vive os três meses de Verão em Portugal e o
resto do ano entre os Barbados e Inglaterra, não abdica de jogar ténis
três vezes por semana e andar a cavalo. Nem nunca desistiu da sua
carreira musical. Prova disso é o seu último disco " Soulicious - The
Soul", que lançou em Outubro passado, e os projectos que tem para os
próximos tempos: "estou a planear uma 'tournée' em Fevereiro, Março e
Abril, pela Austrália, Nova Zelândia, Sudoeste Asiático e
provavelmente India e Israel. Depois no Verão do próximo ano devo ir a
Nashville para gravar um álbum de 'rock and roll', quero fazer um
álbum de clássicos 'rock', daquela música que até os portugueses vão
reconhecer porque foram 'hits' de outras pessoas".
E o vinho? Dois milhões de euros investidos (o investimento total em
vinhas, adega, marketing) depois, Cliff Richard responde,
descomprometido como sempre: "Bem, com o vinho apenas continuaremos a
tentar vendê-lo e a fazê-lo bem", diz o cantor agricultor que garante
não querer produzir em massa. "Somos uma espécie de boutique, não
somos produtores em larga escala, não fazemos milhões de garrafas,
fazemos no máximo cerca de 200 mil garrafas por ano. E estamos bem
assim".
O ícone musical dos anos 50 e 60
Cliff Richard continua a ser o ícone da Adega do Cantor - aliás,
quando está em Portugal não é raro vê-lo a tratar das vinhas -, mas é
também o símbolo vivo da geração musical britânica dos anos 50 e 60. O
artista, que migrou do 'Rock and Roll' para um género mais próximo da
'Pop', deixa para trás um percurso feito de êxitos desde 1958, época
em que começou a ganhar popularidade. Entre os maiores sucessos
contam-se os temas "Congratulations" (1968), "Devil Woman" (1976) ou
"We don't talk anymore" (1979). Cliff Richard já vendeu até hoje perto
de 250 milhões de discos e continua com projectos na área da música
para ocupar os próximos anos: uma 'tournée' de três meses no início do
próximo ano, e a gravação de um albúm de clássicos do 'Rock' são
apenas algumas das tarefas que já estão agendadas.
Trabalho publicado na edição de 20 de Junho de 2012 do Diário Económico
http://economico.sapo.pt/noticias/a-estrela-de-rock-que-faz-vinho-em-portugal_148715.html
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