Por Nelson Pereira, publicado em 17 Jul 2012 - 03:10 | Actualizado há
10 horas 18 minutos
A maior organização mundial de investigação em florestas veio debater
em Portugal gestão sustentável e deixou recomendações
A gestão sustentável das florestas, ao nível das plantações como da
prevenção dos fogos, é um dos principais desafios a enfrentar pela
indústria florestal portuguesa – uma opinião deixada ao i por Pekka
Saranpää, responsável da IUFRO (Associação Mundial das Organizações de
Estudos Florestais).
Tempos de crise não favorecem, porém, a utilização responsável dos
recursos naturais, lamenta Saranpää: "Quando há dificuldades
financeiras, como actualmente em Portugal, a tendência é esquecer a
protecção da natureza. As decisões concentram-se nos efeitos imediatos
e ignoram as consequências para o futuro das gerações seguintes".
Calcula-se que cerca de 18% das emissões globais de gases com efeito
de estufa estão relacionadas com a destruição de recursos florestais.
"O avanço da desflorestação e a utilização cada vez maior da madeira
para bioenergia estão entre as principais ameaças à sustentabilidade",
acrescenta o responsável.
A IUFRO organiza, de quatro em quatro anos, em países diferentes, um
congresso mundial de produtos florestais. Este ano, mais de 500
cientistas de 62 países, especialistas da área das florestas,
estiveram reunidos no Estoril para apresentar o estado actual da
investigação mundial em soluções de sustentabilidade e produtos
florestais. A indústria florestal portuguesa é ainda pouco conhecida
internacionalmente, sendo excepção única a área ligada à cortiça. O
congresso da IUFRO foi também uma oportunidade para a apresentação das
indústrias florestais portuguesas, nomeadamente a relacionada com a
construção de madeira.
Procurando soluções de sustentabilidade, os participantes defenderam
que, no futuro, a área de floresta seja dividida entre zonas de
cultivo mais intenso, como a agricultura e espécies florestais
destinadas a exploração comercial, e zonas florestais protegidas que
assegurem a biodiversidade, como zonas de floresta natural virgem.
Segundo Pekka Saranpää, "temos de encontrar uma fórmula que nos
permita defender a biodiversidade. Para isso tem de ser gerida a área
florestal para fins económicos de forma a retirar dela os rendimentos
que permitam garantir a protecção da floresta natural". Isto significa
que, "se temos árvores de crescimento como o eucalipto, para pasta de
papel, necessitamos igualmente de diferentes tipos de madeira, de
árvores de crescimento lento e florestas de espécies mistas. E de
florestas preservadas por terem outro tipo de valor como, por exemplo,
florestas para fins recreativos", defende o responsável da IUFRO.
E explica que a organização procura soluções que permitam ter floresta
para fins imediatos, assegurando ao mesmo tempo a biodiversidade.
Reconhece que a floresta deve dar rendimento, mas lembra que tem de
haver uma boa gestão do crescimento das árvores. E, principalmente,
que deve ser assegurada a sustentabilidade da floresta e tem de ser
garantido o equilíbrio: "Não podemos destruir este valioso recurso
natural sacrificando-o ao lucro económico", sublinha.
De acordo com Saranpää, a introdução de espécies forasteiras nem
sempre tem bons efeitos e disso há muitos exemplos no mundo inteiro.
"Necessitamos de produção de madeira, de madeira para bioenergia, para
pasta de papel – sem descurar a biodiversidade e a conservação dos
recursos naturais", assinala. E acrescenta que "são necessários
estudos sérios para encontrar soluções".
Uma das equipas de investigação na IUFRO ocupa-se, em particular, de
estudar estratégias para o futuro. A humanidade não sabe hoje se
conseguirá encontrar uma solução para a crise energética, a reserva
fóssil está a esgotar-se, o petróleo acabará por se esgotar. Há que
repensar certas soluções, diz Saranpää, apontando exemplos: "A
utilização de madeira na construção de edifícios seria vantajosa em
comparação com a utilização de outros materiais porque, quando tiverem
de ser demolidos, essa madeira pode ser utilizada como fonte de
energia, para pasta de papel, fins químicos ou biocombustível."
Defendendo que há muito a fazer ainda para que a gestão dos recursos
naturais seja entendida de forma responsável, Saranpää reconhece que
estamos melhor, pois "as sociedades estão, hoje em dia, mais
conscientes daquilo que está em jogo".
Helena Pereira, investigadora do Centro de Estudos Florestais do
Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa,
admite que houve decisões negativas, do ponto de vista da
sustentabilidade da floresta, "que obedeceram a interesses económicos,
com desflorestação em grande escala e extracção ilegal de madeira".
Ressalva, porém, que "garantir sustentabilidade, protegendo florestas
e espaços naturais, é hoje preocupação essencial nos sectores da
produção e da transformação".
Considerando existir capacidade técnica em Portugal para actuar bem em
termos de gestão florestal, lembra que "não é fácil conseguir uma
gestão eficaz, porque a nossa floresta é privada, temos proprietários
pouco informados e um mercado pouco transparente, e as áreas são
pequenas".
http://www.ionline.pt/portugal/florestas-portugal-longe-da-biodiversidade
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