sábado, 21 de julho de 2012

Sector dos vinhos em Portugal está 'pouco orientado para o mercado'

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21 de Julho, 2012

O sector dos vinhos em Portugal está «pouco orientado para o mercado»
e desconhece as preferências do consumidor, o que o torna mais
«vulnerável às investidas» de vinhos estrangeiros, conclui o estudo de
um investigador português.
Apresentada na semana passada na Faculdade de Economia da Universidade
do Porto, a tese de doutoramento de Paulo Matos Graça Ramos – docente
da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Fernando
Pessoa – defende que a competitividade do sector nacional dos vinhos
depende do investimento num maior conhecimento do mercado e dos gostos
dos consumidores.


De acordo com as conclusões do trabalho, esta «ineficiência» na
orientação para o mercado deixa o mercado nacional de vinhos muito
mais «permeável às investidas» comerciais vindas do exterior, sendo
disso exemplo o recente 'boom' de consumo do vinho italiano Lambrusco
no mercado português.

«Embora os produtores até reconheçam que [conhecer o mercado] é uma
coisa importante, a maioria são empresas de média e pequena dimensão,
que não conseguem ou não têm vocação para o fazer, porque acham que
aquilo que os seus intermediários lhes transmitem é que é correcto»,
explicou Paulo Matos Graça Ramos, em entrevista à agência Lusa.

Contudo, disse, analisada também a perspectiva dos intermediários,
concluiu-se que «eles têm a mesma falha»: «Mesmo estando, às vezes,
mais perto dos consumidores, sobretudo o médio e o pequeno
distribuidor tomam a parte pelo todo e, se há um cliente que lhe dá
uma determinada indicação, aquilo passa a ser uma verdade a toda a
prova», explicou.

Segundo o investigador, «os intermediários e os produtores têm uma
visão muito semelhante entre si sobre o que acham que o consumidor
prefere, mas os consumidores estão muito mais distantes [dessa visão]
e não dão tanta preferência ao que eles acham, o que mostra que
produtores e intermediários estão um pouco iludidos».

«O que acontece depois – continuou – é que ficamos mais vulneráveis e,
de repente, o vinho que mais cresce em 2011 em Portugal não é
nacional, é estrangeiro, o que era algo relativamente raro em Portugal
no sector dos vinhos».

Afirmando não estarem em causa grandes investimentos financeiros,
Paulo Matos Graça Ramos diz serem necessárias, contudo, «um conjunto
de actividades que não são norma na prática de gestão do sector».

«Falta a consciencialização de que isto pode levar a consequências
negativas e [impõe-se] a implementação de uma prática de gestão mais
rigorosa e de mais estudos sobre o consumidor português de vinhos»,
sustentou.

Segundo o investigador, a concentração no sector, com criação de
empresas maiores, tem permitido alguma evolução na sensibilidade dos
produtores, «mas, mesmo assim, a maior parte deles não faz algo tão
simples como testar o produto antes de o lançar, como acontece em
qualquer outro sector de actividade industrial ou tecnológico».

«Isto é muito complicado porque, quando o produtor faz um vinho, o
engarrafa e faz o rótulo, ou o vende ou não o consegue vender. Mas
ainda há muita gente que encara isto quase como um 'hobby'», disse.

De acordo com Graça Ramos, esta é uma situação que afecta muito mais
países como Portugal, Itália e França, onde o sector tem uma grande
tradição e base agrícola, do que os produtores australianos ou os
californianos, «que encaram isto como uma actividade industrial, com
menos complexos e menos peso da tradição».

Lusa/SOL

http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=54928

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