terça-feira, 17 de julho de 2012

Crédito Agrícola: 'Estamos muito robustos'

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16 de Julho, 2012por Tânia Ferreira

Está entre os oito maiores bancos de Portugal e tem sido alvo das
inspecções da troika, passando os testes com sucesso. Pouco se tem
falado deste grupo financeiro, mas talvez seja dos que melhores
notícias tem para dar: sólido e com liquidez, o Crédito Agrícola
encara o futuro com «tranquilidade».

Como está a ser o ano de 2012 para o Crédito Agrícola?
O primeiro semestre foi o reflexo da situação económica. Mas embora
tenhamos sentido o impacto da crise, os resultados foram muito
folgados. Segundo os númerosmais recentes, e que revelo em primeira
mão, a actividade bancária do grupo teve lucros de 23 milhões de
euros, quase 24% abaixo do mesmo período em 2011. São números
amplamente positivos e acima das estimativas feitas nos funding plans
que foram discutidos com a troika. Os resultados consolidados do grupo
são superiores, porque as nossas seguradoras são das mais rentáveis do
mercado. Mas os valores finais ainda não estão fechados.


Como explica a quebra?
Há a convergência de dois factores: as imparidades decorrentes da
actividade económica, que tem vindo a deteriorar-se; e o aumento do
custo médio dos recursos do Crédito Agrícola.

Devido à guerra de depósitos?
Sim. Embora mantenhamos uma política muito conservadora na remuneração
dos depósitos, é evidente que temos de reagir ao mercado que se tornou
muito agressivo mesmo com as novas regras do Banco de Portugal para
tentar limitar este fenómeno. Além das necessidades de capital e
liquidez, o grande problema que a banca portuguesa enfrenta agora é o
da rentabilidade.

E como estão em termos de solvabilidade e liquidez?
Temos rácios core tier I de 12%, muito acima dos exigidos pelo
supervisor (9%) e um rácio de transformação de depósitos em crédito
abaixo dos 90% (a meta é de 120%). Para um balanço de cerca de 14 mil
milhões de euros, o grupo tem fundos próprios de cerca de 1,2 mil
milhões de euros e depósitos de 9 mil milhões de euros, o que nos dá
uma situação de conforto e solidez financeira.

Não têm sido afectados pela crise?
A crise afecta-nos porque afecta o ambiente económico e social em que
operamos. Mas como praticamos um tipo de banca de base corporativa –
que é especial e vive muito do contacto directo com a comunidade onde
opera – e o facto de sermos muito conservadores nunca alavancámos os
balanços quando a crise rebentou. Encarámos essa situação a partir de
um ponto de grande conforto.

Qual é a vossa exposição junto do BCE?
À volta de 1,5 mil milhões de euros e tem-se mantido estável.

Quais foram até agora os resultados das avaliações da troika?
O Crédito Agrícola foi submetido aos mesmos testes que os outros sete
maiores bancos portugueses e tem passado com relativa facilidade. Nos
últimos dez anos reformámos muito os fundos próprios e tínhamos
provisões extraordinárias que mais do que acomodaram as necessidades
de aprovisionamento identificadas.

Em que consiste o vosso plano de capitalização apresentado ao Banco de Portugal?
Como à partida tínhamos níveis de conforto, tivemos apenas de explicar
como é que avaliamos a evolução até 2015 e as implicações que isso
terá na instituição.

Têm de vender carteiras de crédito e activos, e/ou aumentar o capital?
Não temos nada previsto, porque temos os níveis de liquidez e
solvabilidade adequados.

E fecho de balcões ou redução de pessoal?
Não. Até devemos ser uma das poucas instituições que continua a abrir
balcões, que já somam cerca de 700 por todo o país. Mas vamos
prosseguir com movimento de fusão de caixas no sentido de ganhar massa
crítica e escala. O Crédito Agrícola é composto por 84 caixas e há
cerca de meia dúzia a discutirem esse tema agora.

Vão recorrer à linha de recapitalização da troika para a banca?
Não. Encaramos o futuro com alguma tranquilidade, embora preocupados
porque a situação do país se tem vindo a agravar.

As imparidades que registaram decorrem de investimentos em dívida
soberana de algum país da Europa?
Não. Temos dívida soberana portuguesa, sobretudo dívida de curto
prazo. As nossas imparidades devem-se ao mau momento económico.

Um dos efeitos mais evidentes desta crise é o corte de crédito ...
É preciso ter cuidado nisso, porque a partir de um determinado momento
não sabemos se são os bancos a cortar o crédito ou se há uma
diminuição da procura, porque as empresas estão em dificuldades ou
decidiram travar projectos. Há uma bola de neve que vai rodando. Num
grupo como o Crédito Agrícola, que não tem problemas de liquidez, o
crédito está estável e isso não decorre de nenhuma atitude nossa de
contracção da oferta, mas de um ambiente económico global negativo.

Como é que se divide a vossa carteira de crédito?
Estamos muito vocacionados para apoiar o pequeno negócio.

Têm sentido um aumento do malparado?
Está a evoluir tanto das empresas como das famílias, mas ainda assim
temos conseguido um comportamento melhor do que a média do sistema nos
últimos três anos, mesmo mais recentemente, por causa da proximidade.

A vossa área seguradora tem conseguido bons resultados. Mas já tem a
dimensão certa? Querem continuar a crescer organicamente ou admitem
interesse em comprar, por exemplo, alguma das companhias no mercado,
como do Grupo Caixa?
Não. Queremos continuar bem o nosso crescimento orgânico.



tania.ferreira@sol.pt

http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Interior.aspx?content_id=54448

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