Publicado hoje às 13:47
Os três cidadãos, que foram para França trabalhar sazonalmente para
vinhas, moveram uma ação contra a entidade empregadora, num caso que o
sindicato classifica de «escravatura moderna».
«É um tráfico organizado com recrutadores que são mandados pelos
empregadores franceses para ir recrutar mão-de-obra a Portugal»,
explicou à agência Lusa Magali Astruc, sindicalista da sindicato geral
de trabalhadores (CGT) de Narbonne.
Dois dos portugueses foram abordados em Portugal por um conhecido que
alegava que o primo (também português) precisava de alguns
trabalhadores sazonais para trabalhar em vinhas francesas.
«Fizeram-nos as promessas todas», disse um dos portugueses.
As promessas previam um salário de 700 euros por mês, menos cerca de
400 euros que o ordenado mínimo francês, com comida e alojamento
incluídos, por 35 horas de trabalho semanais.
O alojamento prometido era partilhado entre «dez adultos e duas
crianças», numa casa com uma casa de banho, onde «só podiam tomar
banho de dois em dois dias», explicou.
A trabalhar em França desde o dia 21 de novembro do ano passado, em
abril, o patrão informou-os de que não teriam mais trabalho para os
portugueses, comprometendo-se a pagar as horas extra trabalhadas,
assim como as folhas de ordenado correspondentes.
«Chegámos a trabalhar vinte e quatro dias consecutivos, sem folgar,
até cerca de dez horas por dia», tendo-lhes sido entregue «uma folha
de ordenado com setenta horas enquanto trabalharam mais de duzentas»,
afirmou.
Posteriormente foram pagas as horas extra, num cheque de 30 mil euros,
mas ainda sem folhas de ordenado em dívida. No entanto, quinze dias
depois a entidade empregadora processou os trabalhadores por extorsão
de fundos.
«Fizemos a negociação, estavam os patrões e os representantes
sindicais e eles dizem que foram forçados a assinar um cheque, ninguém
é forçado a assinar um cheque, eles sabiam que nós tínhamos feito
aquelas horas, por isso é que pagaram», adiantou João.
A sindicalista explicou à Lusa que «em França é impensável trabalhar
mais de quatrocentas horas por mês, e mesmo trabalhando as duzentas e
cinquenta horas, se ele [o patrão] lhes passar as folhas de ordenado,
prova que não declarou as horas dos funcionários aos organismos de
proteção social».
Sem terem onde ficar e sem emprego, os trabalhadores precisam das
folhas de ordenado que comprovam as horas trabalhadas e o montante
recebido, de forma a conseguirem alugar uma casa e inscreverem-se no
fundo de desemprego francês.
Desde abril, que estão «numa casa emprestada até ao dia 15 de
dezembro», a partir dessa data não têm onde ficar, disse um dos
portugueses.
«Viemos à CGT e foi a CGT que nos arranjou sítio para ficar, até hoje.
Estamos sem direito ao desemprego, estamos sem trabalho, sem nada.
Estamos numa situação difícil», explicou João.
Stéphane Cabée, advogado do vinicultor Jacques Tibie, implicado no
processo, disse à agência francesa AFP que o seu cliente «não percebe
o que lhe está a acontecer».
«Contratou, como todos os anos, portugueses, por terem dificuldade em
encontrar outros trabalhadores que não sejam portugueses para
trabalhar nas vinhas», declarou Stéphane Cabée à AFP.
Os portugueses aguardam decisão do tribunal que devia ter sido tomada
até à passada quinta-feira, mas foi adiada até ao dia 14 de novembro.
Lusa
http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=3499010&page=-1
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