sábado, 25 de janeiro de 2014

Leite agitado, investimento ponderado


OPINIÃO

Carlos Neves


Os dias correm de feição para a produção de leite. Assistimos a uma baixa ligeira na ração (graças ao milho, que a soja continua altíssima) e a um aumento significativo do preço do leite ao produtor, embora permaneça em Portugal 2 ou 3 cêntimos abaixo da média comunitária, que foi de quase 42 cêntimos por litro em Novembro (46,5 cts pagou a Friesland Campina na Holanda, por leite com 4,2 de gordura e 3,4 de proteína, para 1300 litros/dia). Com as exportações de leite em pó para a China e de queijo para a Rússia, os países do Norte da Europa têm neste momento os melhores preços da UE e porque subiram mais cedo o preço, injectando liquidez nas explorações leiteiras, lideram também os aumentos de produção. Abaixo dos Pirenéus, na Península Ibérica é a diferença do costume, desde 2010.

Contudo, não é tempo de entrar em euforias. Ainda temos bem fresca a memória da explosão dos preços em 2008 com a vida dos compradores espanhóis, a queda abrupta que se seguiu e a longa agonia até ao terrível ano que foi 2012. Muitas explorações leiteiras ainda têm contas para pagar e precisam que o preço não baixe durante bastante tempo para normalizar as finanças.

Previsões? Não é possível fazer previsões de longo prazo. As expectativas para o primeiro semestre de 2014 são favoráveis. Enquanto o mercado internacional absorver as exportações europeias, tudo bem; depois, já sabem onde vem parar as sobras… Sabemos que o mercado é cíclico, difícil é prever se ainda vai subir, estabilizar ou descer, e quando.

Com a facturação a aumentar, aumenta a tentação de fazer grandes investimentos: aumentar a vacaria, comprar vacas, tractores maiores… que fazer? Vivemos em liberdade e cada empresário tem autonomia para fazer as suas opções (até certo ponto, pois se for pedir dinheiro ao banco a autonomia é limitada e se abrir falência outros vão sofrer com isso). Apesar de respeitar a liberdade de cada um, deixo aqui, em curtas palavras, algumas sugestões sobre investimento:

1º Pagar as dívidas e investir com ponderação. Um nível baixo de endividamento significa poucos custos fixos, o que será muito útil se/quando o preço do leite voltar a cair por causa do excesso que o fim das quotas vai permitir. Formas de reduzir o valor a investir: Obter co-financiamento em projectos de investimento, comprar material usado, comprar em sociedade, comprar só quando não for possível recorrer a prestação de serviços;

2º Dar prioridade aos investimentos com retorno mais imediato, o que geralmente equivale aos investimentos que estão mais perto do tanque do leite, que o enchem mais depressa e que sejam usados todos os dias: Equipamento de ordenha, Unifeed, camas para as vacas, ventilação e tudo o mais em bem-estar animal e só depois reboques, cisternas, tractores e outras máquinas;

3º Dar prioridade a investimentos que baixem os custos de produção (poupança de energia, produção de forragem, redução de perdas, redução de riscos, melhoria da qualidade.

O fim das quotas não será o fim do mundo. Será um novo desafio que poderemos vencer e ultrapassar tanto melhor quanto melhor nos prepararmos.

Carlos Neves

Publicado em 24/01/2014

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