quinta-feira, 19 de abril de 2012

Na Agrária nunca é tarde para aprender

Publicado por Bruno OliveiraEnsino, twitterQuinta-feira, Abril 19th, 2012

Têm em comum o gosto de aprender sempre mais. São ou já foram todos
estudantes da Escola Superior Agrária de Santarém, uma instituição que
não se cansam de elogiar pela "exigência" do ensino, pelo empenho e
elevado conhecimento técnico e académico dos professores e pela
proximidade entre o que aprendem no curso e a realidade do mercado de
trabalho. São profissionais com larga experiência nos seus ramos de
atividade mas não se conformaram com o que aprenderam na "escola da
vida". Quiseram mais, uma nova oportunidade.
Essa oportunidade foi-lhes proporcionada pelo processo de acesso ao
ensino superior aos maiores de 23 anos, uma "janela" que se abre todos
os anos para a entrada de pessoas com mais idade e que querem
frequentar o ensino superior. No Instituto Politécnico de Santarém,
esta modalidade de acesso tem sido muito procurada. Este ano o prazo
de candidaturas termina já no próximo dia 5 de abril. Se ainda não
decidiu, talvez estas histórias de vida o ajudem.

José Paulo, 45 anos, de Alenquer, terminou há dois anos a licenciatura
em Engenharia da Produção Animal. Trabalhou 23 anos na área de venda
de produtos químicos, alguns dos quais para a agricultura. A empresa
encerrou. Passou pelo desemprego. Resolveu ingressar no ensino
superior. O antigo sonho de ser veterinário tinha-se já esfumado com
os anos. O curso de produção animal foi o mais próximo que encontrou.
Atualmente é comercial numa empresa do setor agrícola. "O que aprendi
no curso serve-me hoje como uma importante ferramenta de trabalho
porque tenho um melhor conhecimento para vender os produtos da minha
empresa", afirma este profissional que está a fazer também um mestrado
em Marketing na Escola Superior de Gestão de Santarém. "Acho que,
atualmente, os conhecimentos nestas áreas de gestão e marketing são
importantes em qualquer profissão", acrescenta. Recomenda a escola e o
curso mas avisa quem vem: "é preciso muita força de vontade". José
Paulo sabe do que fala: fez o curso em horário pós-laboral enquanto
trabalhava e, muitas vezes, teve que aproveitar as férias para
concluir trabalhos. "Não é para se ir fazendo, é para fazer e para nos
superarmos a nós próprios".

Melania Durico, 30 anos, natural da Roménia, vive em Abrantes. Chegou
a Portugal à procura de uma melhor vida e de oportunidades de
trabalho. Trabalha numa exploração pecuária e decidiu que deveria
aprender sobre a sua profissão. Está a concluir o curso de Engenharia
da Produção Animal. Assim como José Paulo, entrou pelo processo de
acesso a maiores de 23 anos. "O que aprendi no curso, na teoria, tenho
usado agora na prática. Dantes executava determinada tarefa porque era
mandada, sem muitas vezes perceber. Agora sei porque o faço", explica.

João Torres, 39 anos, de Almeirim, está no 3º ano de Engenharia do
Ambiente. Ao contrário dos seus colegas, voltou à escola pelo processo
de reingressos, pois já tinha concluídas muitas das disciplinas do seu
curso porque, há alguns anos, frequentou, no Instituto Superior de
Agronomia, o curso de Engenharia Florestal, que não concluiu.
Trabalhou na área da educação ambiental da câmara de Lisboa e no
IPAMB. Foi vereador com o pelouro do ambiente na Câmara de Almeirim,
entre 2002 e 2005. É perentório na defesa da Escola Agrária e da
"exigência" dos que funcionam em horário pós-laboral: "o ingresso não
é fácil, a prova que fazemos é igual àquela que fazem os alunos mais
novos, os docentes são os mesmos e têm o mesmo grau de exigência".
Sublinha ainda que os alunos que entram com mais idade "não vêm para
brincar porque estão a correr contra o tempo". "Não vim para a festa,
vim foi para fazer 'festas' aos livros", brinca, numa alusão aos seus
colegas mais novos. Está desempregado mas espera agora encontrar
trabalho na área. Pondera prosseguir estudos, provavelmente, no
mestrado em sistemas de gestão ambiental. "Estudar?! Primeiro
estranha-se, depois entranha-se", remata.

António Cartaxo é o decano deste grupo de alunos. Tem 49 anos e 30 de
trabalho no campo. Atualmente é técnico da Benagro e dá apoio a
organizações de produtores de arroz e tomate na zona de Benavente. É
natural de Coruche, nasceu nas antigas instalações do INIA e sabe o
que é agricultura desde que nasceu. "Sempre me trataram por engenheiro
mas eu só tinha o 11º ano", recorda, acrescentando que já tinha
sonhado vir para a Agrária quando terminou o ensino secundário. Foi na
altura em que a escola passou por uma fase de interregno. Agora veio
mesmo através dos maiores de 23. E a sua vida de estudante não foi
fácil. Visitava diariamente 170 agricultores e, ao final da tarde, tem
que ter tudo despachado para vir para as aulas, que começam às 18h.
"Foi um tremendo esforço para dar a volta à situação", confessa,
embora esteja radiante com a oportunidade de aprender mais e de ser
verdadeiramente um engenheiro, neste caso um engenheiro agrónomo.
Sérgio colaço, 39 anos, trabalha numa empresa de telecomunicações e
resolveu vir para o ensino superior para fazer o curso de Engenharia
do Ambiente. Tinha apenas o 11º ano e já não estudava há mais de 20
anos. "O início foi violento mas agora, que estou no 2º ano,
estão-se-me a abrir novos horizontes profissionais e tenho algumas
ideias que podem cruzar a minha atual área profissional e aquilo que
estou a aprender no curso", salienta Sérgio. "Como diz o nosso
diretor: escola fácil, vida difícil, vida fácil, escola difícil",
evoca este aluno para sublinhar mais uma vez o rigor e a exigência dos
cursos da Agrária.

Todos estes alunos e ex-alunos elogiam o grande entrosamento entre os
vários cursos e turmas, a disponibilidade e empenho dos docentes, o
espírito de interajuda, o cruzamento de saberes que existe na escola –
como agronomia, pecuária e ambiente – e ainda a forte componente
prática e real que os cursos facultam aos alunos.

http://www.oribatejo.pt/2012/04/na-agraria-nunca-e-tarde-para-aprender/

Sem comentários:

Enviar um comentário