por LusaHoje
Fotografia © José Carlos Carvalho/Arquivo DN
O Porco Alentejano corre o risco de se tornar numa raça "muito
ameaçada" a "curto prazo", com muitos produtores a abandonar o sector
e o efetivo reprodutor a diminuir devido à "forte quebra" da
rentabilidade da atividade.
"Corremos o risco de chegar a um limiar de menos de cinco mil porcas e
passar para a classificação de raça muito ameaçada", disse à agência
Lusa o secretário-geral da Associação Nacional dos Criadores do Porco
Alentejano, Pedro Bento.
O Porco Alentejano é considerado uma raça "ameaçada" e está a
"caminhar drasticamente" para "a curto prazo" se tornar "muito
ameaçada", o que irá "por em causa uma raça autóctone portuguesa",
avisou.
O efetivo reprodutor de Porco Alentejano, reconhecido pelas suas pele
preta, cabeça comprida e orelhas pequenas e pelo sabor suculento da
carne, era de 12 mil porcas em 2007, mas tem vindo "a cair a uma
velocidade muito grande".
Atualmente, o efetivo está perto das seis mil porcas e, "se não se
aplicarem as medidas necessárias", chegará "rapidamente" às cinco mil
e poderá mesmo ficar abaixo desta barreira, tonando-se uma raça "muito
ameaçada", disse.
"Estamos a chegar a um limiar que pode por em causa populações futuras
e a diversidade genética" da raça, avisou, explicando que a queda do
efetivo deve-se à "elevadíssima" taxa de abandono da atividade.
Muitos produtores têm desistido de produzir Porco Alentejano, devido
"à forte quebra da rentabilidade da atividade nos últimos quatro
anos", provocada por "condições do mercado, que tem sido muito
penalizador", lamentou.
Em causa, além da "crise de consumo", está a venda de carne, "de menor
qualidade, que dizem ser porco preto" e não é regulamentada, nem
protegida, como sendo Porco Alentejano, o que prejudica a venda de
carne da raça suína alentejana de Denominação de Origem Protegida
(DOP), explicou.
"Porco Alentejano é a designação da raça, mas o termo popular
associado é porco preto", por isso a procura de Porco Alentejano
tornou-se uma "oportunidade" para empresas que vendem "produtos que
dizem ser porco preto e indexados a novos nomes de peças de carne",
como secretos, contou.
Vende-se "gato por lebre", frisou, denunciando que "o chamado porco
preto que invadiu o mercado não é Porco Alentejano", que é produzido
no Alentejo à base de uma alimentação natural e "teve um crescimento
apreciável em vendas até 2007".
A carne que se vende como sendo porco preto é "maioritariamente" de
porcos brancos cruzados com Porco Alentejano, fabricados em unidades
industriais intensivas e alimentados com farinhas, e grande parte vem
de Espanha e a preços mais baratos, disse.
O Porco Alentejano "é único no mundo", mas "o problema" é que "está a
ser substituído por um produto altamente barato, de qualidade
inferior, que dizem ser porco preto, mas nada tem a ver, e não dá
hipóteses de o Porco Alentejano chegar ao mercado", sobretudo a
restaurantes e grandes superfícies, disse.
O "problema não se limita à raça", porque "se nada for feito" também
estão "em causa" a continuidade da produção extensiva de porco
alentejano, a ocupação dos montados, as pequenas agroindústrias, os
produtos qualificados de Porco Alentejano e a economia das zonas
rurais do interior centro e sul, alertou.
Para resolver o problema, além de "medidas internas que o sector já
está a desenvolver", Pedro Bento defendeu uma norma nacional para
regulamentar a comercialização e o uso da designação porco preto e
ajudas diretas ao sector.
http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=2434084&page=-1
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