segunda-feira, 22 de abril de 2013

Sever do Vouga quer jovens agricultores em terrenos abandonados

Publicado ontem



foto PEDRO CORREIA/GLOBAL IMAGENS

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Entre as serras de Sever do Vouga, distrito de Aveiro, cultiva-se o
mirtilo, um arbusto de popularidade crescente que se espera que acabe
com "os terrenos sem gente e a gente sem terra."

A ideia partiu de várias associações de agricultores locais em
articulação com a autarquia severense, decidida a rejuvenescer o
concelho ao cativar jovens agricultores para a plantação do mirtilo,
através da criação de uma "bolsa de terras."

"Este conceito, no fundo, consiste em aproveitar terras que estão
abandonadas, dando-lhes um destino para quem tem interesse em explorar
a agricultura e torná-la um negócio", disse à Lusa José Martino,
engenheiro agrónomo responsável por este canal de entendimento entre
potenciais agricultores e proprietários de terrenos abandonados.

O microclima de Sever do Vouga é particularmente propício ao cultivo
daquelas bagas silvestres, algo que foi estudado e confirmado "há
cerca de 20 anos, quando uma fundação holandesa decidiu, na sequência
de um apoio que prestava à companhia leiteira local, fazer
experiências com a plantação de mirtilos e outros pequenos frutos",
explicou à Lusa o autarca Manuel Soares.

"A agricultura de subsistência, e sobretudo a cultura intensiva de
milho, não dava qualquer rendimento aos agricultores", recordou o
presidente da Câmara, referindo que "começou a verificar-se que o
mirtilo era uma boa fonte de rendimento para as famílias", apesar de
acontecer num concelho "sobretudo de minifúndio, ao socalco e em
terras de pequena dimensão."

"A verdade é que muita gente começou a viver da cultura do mirtilo",
constata Manuel Soares, pelo que participou da fundação da Associação
para a Gestão, Inovação e Modernização de Sever do Vouga (AGIM), com
técnicos que prestam apoio aos jovens agricultores e àqueles que
pretendam fazer a plantação do mirtilo, nas "condições técnicas
adequadas" e elegíveis para eventuais candidaturas aos fundos europeus
do PRODER.

"Isto começou a ter muito sucesso -- há muitos produtores em Sever do
Vouga e em toda a região -- e pensámos que para aqueles jovens
agricultores que hoje estão a regressar às terras mas não têm
terrenos, seria bom fazer um protocolo com a Fundação Bernardo Barbosa
de Quadros [proprietária dos cerca de 45 hectares de terreno
disponível] e a AGIM", explicou o presidente da Câmara.

Segundo o engenheiro agrónomo José Martino, "o trabalho da AGIM é
recolher os contactos de quem está interessado, mostrar as terras e
ajudar a definir os investimentos necessários", de modo a obter "uma
plantação de mirtilos bem instalada e que possa ter uma alta
produtividade e com alta qualidade, como é o timbre de Sever do
Vouga."

José Martino é também subscritor de "uma petição na internet por uma
bolsa de terras pública", pelo que considera a experiência de Sever do
Vouga "uma espécie de tubo de ensaio" sobre o que entende que deve ser
"uma bolsa de terras nacional", que já aguarda uma legislação
complementar sobre o seu funcionamento.

O engenheiro agrónomo sublinha que "esta bolsa de terras só funciona
enquanto houver terra", que é atribuída "por ordem de prioridade" da
chegada das candidaturas e que cessa até que apareçam novos terrenos.

Ainda que cultivado na autoproclamada Capital do Mirtilo, este fruto
silvestre azulado "não era conhecido em Portugal até aqueles
holandeses aparecerem", considerou o autarca Manuel Soares, pelo que
"inicialmente, e ainda até há poucos anos, praticamente todo o fruto
era exportado para França, Bélgica e a Holanda."

Só com a realização da Feira do Mirtilo é que o fruto "começou a ser
conhecido" em Portugal e de acordo com o edil severense "hoje há já
uma grande procura deste pequeno bago, sobretudo pela curiosidade
científica de muita gente ligada à medicina, por força de o fruto ser
considerado o rei dos antioxidantes", mas também pela "grande
variedade de pratos culinários que se fazem com o mirtilo."

O lançamento e a apresentação da bolsa de terras de Sever do Vouga
acontecem a 24 de abril na sede da AGIM, perto do centro do concelho,
onde será explicado o seu funcionamento e apresentado um programa de
negócios para a produção e rentabilidade do mirtilo.

http://www.jn.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Aveiro&Concelho=Sever%20do%20Vouga&Option=Interior&content_id=3178296&page=-1

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