01/05/2013 - 03h20
LEANDRO MARTINS
DE RIBEIRÃO PRETO
O jovem português Ricardo Meneses Abreu de Sousa, 29, estava perto de
concluir a faculdade de design de multimídia no Porto, segunda maior
cidade de Portugal, quando decidiu trocar a vida acadêmica por uma
carreira totalmente diferente.
Ao ver a dificuldade de colegas para obter emprego, em julho Sousa
parou a faculdade para dedicar-se à agricultura em terras da sua
família.
"Não vejo possibilidades de trabalhar na minha área de formação",
afirma. Hoje, além de tirar os próprios rendimentos da produção de
cogumelos e kiwis, já emprega mais uma pessoa na lavoura.
Sousa é um entre muitos jovens portugueses que, por causa da crise
europeia, recorreram à agricultura como fonte de trabalho e renda.
O desemprego causado pela crise atingiu com força a mão de obra jovem.
Se no país como um todo a taxa fechou 2012 em 15,7%, entre os jovens
chegou a 37,7% --quase quatro em cada dez portugueses com até 24 anos
de idade não têm trabalho.
Em visita a Ribeirão Preto para encontro com empresários em abril, a
ministra da Agricultura de Portugal, Assunção Cristas, disse que, em
meio à crise, o setor agroalimentar é o único que segue em
crescimento. "É o setor que está a criar os postos de trabalho."
Embora a economia portuguesa tenha recuado cerca de 3% em 2012, o
setor agroalimentar fez o caminho inverso e cresceu 2,8%, diz ela.
"Os portugueses sentiam que só ficava na agricultura quem não tinha
oportunidade para outras coisas, não estudava, não ia para as
cidades", afirma a ministra. "Essa ideia está transformada."
MAIORIA JOVEM
Com interesse no setor que ainda cresce, muitos jovens recorreram a
programas estatais de incentivo. O principal deles, o Proder (Programa
de Desenvolvimento Rural), mantido pela Comissão Europeia, tem uma
linha de subsídios específica para jovens agricultores.
Sousa, que trocou a faculdade de design pelo campo, recebeu apoio de €
30 mil (R$ 79 mil). Investiu outro montante parecido de recursos
próprios e aproveitou uma área livre da família.
Na região da cidade de Amarante, no norte português, a Associação dos
Agricultores Riba-Douro classifica como um "boom" a procura dos jovens
pelo campo.
Dos 112 produtores rurais associados à entidade, hoje mais da metade
(63) são jovens. Em 1997, quando a associação surgiu, tinha apenas 17
jovens em sua lista de 52 agricultores associados.
O interesse atual é sobretudo na produção de frutas, cogumelos e horticultura.
"São majoritariamente jovens cujos pais não tinham mais ligação com a
agricultura, já estavam nas cidades, e que viram uma alternativa [no
campo]", diz Maria de Lurdes Cardoso, engenheira agrícola responsável
pela associação. "São licenciados em outras áreas, engenheiros,
arquitetos, professores."
O presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal, João
Machado, diz que 2012 terminou com recorde de 3.000 jovens
agricultores no país apoiados pelo programa europeu. "São pessoas com
formação em outras áreas, mas que estão a criar seu emprego na
agricultura."
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/05/1271598-crise-faz-jovens-de-portugal-trocarem-cidade-pelo-campo.shtml
Sem comentários:
Enviar um comentário