OPINIÃO
Tribuna Livre
Nos supermercados é que vemos bem que Portugal é um país onde não se
produz quase nada.
A secção da fruta e legumes é um exagero. As bananas são da Costa
Rica, o Kiwi do Equador, a uva da Argentina, os figos de Marrocos, a
ameixa do Uruguai. Às vezes encontra-se algum produto português…
Ou seja, cada produto vem dum país diferente. E de países longínquos.
Não sei como é que lhes compensa cultivar estes produtos e exportá-los
para Portugal (muitos deles de avião) e não compensa aos portugueses.
Tem havido diversas tentativas de associações empresariais - e até de
grupos de amigos com boa vontade - para incentivar o consumo de
produtos nacionais. Mas essa estratégia não tem dado frutos.
Portugal só tem orgulho nas suas vitórias sobre os espanhóis, nos seus
futebolistas, na sua seleção (mas de futebol, nas outras pouco), no
seu fado, na palavra saudade (que dizem que é única, como se os outros
povos não sentissem também saudades, dos filhos, dos maridos, etc….).
Vi num supermercado uma espécie de salada numa caixinha de 250 gramas,
dum país da América Latina, por 4,00. Tratando-se de um artigo leve
poderia ser produzido em qualquer zona de Portugal.
Mas Portugal é um país onde não há incentivos para se produzir. Nem
estou a falar de ajudas em dinheiro. Falo de acompanhamento por
técnicos do Estado ou então vontade de ajudar por parte da sua vasta
prole de funcionários, com simpatia e bom atendimento.
Mas quem trata de legalizar negócios, indústria ou comércio, é olhado
com desprezo. Falta sempre mais um papel e venha no outro dia e não
está cá o diretor e foi de viagem e depois está de férias e depois de
baixa (e o processo acaba por desaparecer).
Por isso não me espanta que a empresa proprietária do Pingo Doce tenha
preferido transferir os seus negócios para a Holanda.
O ator Joaquim de Almeida abriu um restaurante em Portugal e, anos
mais tarde, confessou que nunca mais se meteria numa aventura
semelhante. Disse que é mais difícil do que em Nova Iorque e que
fechá-lo foi uma trabalheira ainda pior.
É impossível um país gerar emprego e riqueza sem produzir, importando
até os artigos mais básicos, como alfaces, que nascem com facilidade
em qualquer lado.
As exigências do Estado português têm levado ao encerramento de muitas
pequenas empresas. A ASAE tem contribuído para isso. Penso que o seu
papel principal devia ser ajudar a melhorá-las, mas com bom senso.
Não se pode pedir ao dono de um restaurante pequeno, antigo, típico,
que faça casas de banho que ocupem o espaço todo do restaurante.
No Algarve, havia particulares a produzir aguardente de medronho, mas
as fiscalizações, multas e exigências do Estado português têm acabado
com elas.
A nossa ASAE, se fosse a Espanha, encerraria grande parte dos cafés e bares.
O bom senso é sempre o melhor em tudo na vida.
*Professor
21 de Março de 2012 | 19:14
José Borges*
http://www.barlavento.pt/index.php/noticia?id=52563&tnid=16
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