26 de Abril, 2012por Ana Serafim
Líder da Frulact, João Miranda conquistou o Troféu Novas Tecnologias
do Best Leader Awards. Com vendas de 75 milhões de euros, nesta
empresa portuguesa de preparados à base de fruta, aposta-se na
juventude e na inovação.
Fundou a Frulact em 1987 por incentivo familiar e comanda-a desde o
início. De que forma esses aspectos influenciam a sua liderança?
Todo o trajecto foi enriquecedor em termos pessoais. Permitiu-me
construir uma carreira, passando por todos os sectores da empresa, o
que me deu à-vontade para gerir e liderar. Há uma mudança muito grande
no que era o líder de há 25 anos e o de hoje. A figura do líder
austero dessa época, que reprimia, que era quase intocável e que
criava uma distância enorme, nunca existiu na Frulact. Exactamente,
porque a minha liderança acabou por se promover de forma natural e
envolvida com toda a estrutura, marcada pela proximidade com a equipa
e pela vertente relacional. Hoje um líder tem, essencialmente, de ser
capaz de captar respeito e admiração pelo exemplo que dá.
É mais fácil ou mais difícil liderar quando se tem também o pai e o
irmão na empresa?
A Frulact só chegou onde chegou por ser familiar e pelo facto de os
accionistas familiares não terem um objectivo de dividendo, mas de
projecto. A desvantagem é que é muito difícil criar uma separação
entre a relação familiar e a profissional. A certa altura, a família
decidiu que eu seria o seu representante e passámos a integrar quadros
exteriores no conselho de administração para que não tivesse esse lado
familiar que poderia condicionar a decisão.
Uma das suas preocupações é incluir jovens nos quadros. Inclusivamente
escolheu dois elementos dos mais novos para o conselho de
administração. Porquê?
Porque é com os mais jovens que sempre aprendo mais. Os jovens
acrescentam valor, porque têm discursos diferentes, são mais
disruptivos nas ideias e fazem parte do que será o futuro. Na Frulact,
quando temos de recrutar, primeiro olhamos para a organização para ver
quem pode crescer e isso serve de motivação para todos. Sempre tive o
hábito de trabalhar com alguém ao meu lado, mesmo no meu gabinete.
Gosta de partilhar a sua liderança?
Gosto muito. Um líder não tem de ser especialista em nada. Tem é de se
rodear das pessoas que lhe são fundamentais, tem de ter a capacidade
para decidir. Ter uma pessoa ao meu lado é construi-la com a matriz da
Frulact. Durante estes anos foram quatro jovens, que fizeram percursos
de três ou quatro anos. E que, trabalhando comigo, tocaram vários
temas, ganhando lastro para assumir outro nível de responsabilidades.
Ganhou na categoria de Novas Tecnologias e graças à inovação. Em
altura de crise e de escassez de recursos é fácil ser inovador?
A inovação está na matriz da Frulact e vem já da visão do meu pai.
Grande parte do sucesso está na forma como conseguimos ter as
ferramentas correctas para responder às exigências do mercado.
Uma das ferramentas é o Frutech.
Sim. É um centro de inovação e tecnologia agro-alimentar, com 40
pessoas, onde centramos a produção de conhecimento tecnológico e
científico, cruzando-a com as tendências de mercado. Na Frulact
desenvolvemos uma estratégia de crescimento baseada nos mercados
externos, que pesam 95%, e optou-se por centrar a produção de
conhecimento e o processo de gestão de inovação em Portugal. Assim
conseguimos captar talentos, criar relações com os produtores de
conhecimento e com as entidades do sistema científico e tecnológico
nacional, com as universidades. É fundamental para a sustentabilidade
da Frulact que haja esta capacidade de criar novos produtos e
acrescentar-lhes valor porque, cerca de 10% do nosso portefólio morre
em fim de ciclo todos os anos. Há que ter capacidade de fazer
novamente, recuperar esses 10% e ainda crescer. É esta dinâmica que
temos de alimentar e, para isso, temos de ser competentes em todas as
áreas.
ana.serafim@sol.pt
http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Interior.aspx?content_id=47836
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