produção em várias explorações hortícolas e frutícolas algarvias,
segundo os agricultores, que lamentam a falta de seguros adequados.
Perante as avultadas perdas, há quem confesse que já só vive "da
esperança".
A Associação de Agricultores de Faro e Concelhos Limítrofes, que
congrega a maioria dos produtores de horto-frutícolas do Algarve,
mostra-se descontente com os apoios anunciados na segunda-feira pelo
Governo e fala de situações de pré-falência e desespero.
A gravidade do problema de seca é confirmada pelo segundo relatório de
acompanhamento e avaliação dos impactos da seca em 2012, de 13 de
março, que refere prejuízos em cerca de 50% dos hortícolas plantados
nas estufas algarvias, "com especial relevância" em Faro e Olhão.
O documento aponta "prejuízos avultados" causados pela geada negra nas
estufas de tomate, pimento, pepino, feijão e melão e "prejuízos
causados pelas geadas na horticultura de ar livre, sobretudo nas
culturas da fava, ervilha e batata". Nos citrinos, estima-se "uma
quebra de produção significativa".
"Perdi 80% da plantação de tomate, mas isso corresponde a uma quase
perda total, porque ninguém vai regar ou colher os 20% que sobraram",
contabiliza Paulo Cristina, 44 anos, que tem seis hectares de estufas
nos arredores de Faro, no centro da zona com mais fruto-hortícolas do
Algarve.
Com uma produção perdida de 120 toneladas e o preço médio de venda do
tomate a 45 cêntimos/quilo, calcula em 54 mil euros o prejuízo,
correspondente a meio ano de trabalho.
E aponta o mar de tomates apodrecidos que sarapintam de vermelho as
plantas que ainda enchem as duas estufas que o ladeiam, pois a maior
parte da produção perdida ainda está por colher.
Preocupado com a sua própria subsistência, já à beira da segunda
plantação anual, o agricultor espera pela ajuda comunitária já
admitida pelo Ministério da Agricultura, mas queixa-se da falta de
seguros adaptados para fazer face a este tipo de calamidades.
A presidente da Associação de Agricultores de Faro e Concelhos
Limítrofes, Ana Lopes, 59 anos, lamenta que as companhias seguradoras
não façam seguros adaptados a cada região, pois "cada zona do país tem
a sua especificidade, a sua agricultura própria".
A agricultora critica ainda que a banca não esteja a emprestar aos
empresários do setor, nem sequer se mostre recetiva a receber imóveis
como hipoteca. No seu caso, garante que já pagou a casa onde vive
"umas quatro ou cinco vezes".
Ezequiel Martins, 48 anos, assevera que comprou a horta a pronto, mas
agora está hipotecada e, por uma razão ou outra, o destino parece
teimar contra ele.
"Em 2009 houve um tufão que me destruiu as estufas, em 2009 a produção
foi quase toda para o lixo por causa da e.coli [bactéria descoberta em
produtos agrícolas na Alemanha, que matou 52 pessoas e causou a
diminuição drástica do consumo em Portugal], agora são as baixas
temperaturas", enumera o agricultor.
Com dois hectares de estufas ao seu cuidado, nas quais plantou no
último trimestre de 2011 cerca de 1,3 hectares de tomate, distribuindo
plantios de pimentos e feijão verde pelo espaço restante, Ezequiel
garante que agora, com uma casa de família e três empregados para
sustentar, limita-se a viver "da esperança", pois deixou de ganhar
dinheiro há alguns meses.
"Além disto, tenho seis hectares de citrinos todos para jogar fora",
diz, sublinhando que, aquando dos dias de geada, em finais de janeiro,
teve que regar os laranjais todos os dias, mas nem assim salvou a
produção.
O que lhe falta em laranjas sobra agora em faturas de eletricidade
para pagamento, com a energia e o IVA ao mesmo preço que a qualquer
consumidor e não – como pretendia – a um "preço verde" especial para
agricultores. "Com estas regas suplementares, gasto 2.600 euros em
energia a cada dois meses", enuncia.
A situação é agravada com o mercado aberto, uma vez que, diz Ezequiel
Martins, "se há mais fruta irregular, as grandes superfícies não a
querem e compram noutras regiões ou ao estrangeiro e os agricultores
são obrigados a vendê-la em mercados secundários, a preços muito
baixos".
Descontente que as ajudas anunciadas tenham tido apenas em conta seis
meses de carência à Segurança Social e uma devolução mais rápida do
IVA, a presidente da Associação dos Agricultores do Centro Algarvio
pede que os subsídios tenham em conta as perdas devidas ao mau tempo.
"Se eles quiserem, têm especialistas capazes de saber o que foi
perdido", afirma, frisando a necessidade de, nos anos vindouros,
adequar os seguros a este tipo de perdas.
Redacção DORS
14:44 quarta-feira, 04 abril 2012
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