Entrevista
Bruno Proença e Filipe Garcia
09/04/12 00:05
Em entrevista ao Diário Económico, a ministra Assunção Cristas deixa o
aviso: para que o sector da água seja sustentável o preço terá de
subir.
O desmantelamento da Águas de Portugal e o fim da Parque Expo têm sido
dois dos dossiers mais complexos de Assunção Cristas, ministra da
Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território. Sem prazos
para a resolução de qualquer um deles, a justificação é a mesma para
ambos - é preciso investimento e mais eficácia. O aviso fica feito em
entrevista ao Diário Económico: para que o sector da água seja
sustentável o preço terá de subir.
Há muito que foi dito que são necessários avultados investimentos para
combater o desperdício na rede de água, como isso se compatibiliza com
a reestruturação em curso e com as imposições da 'troika'?
Esse é um dos principais motivos para a reestruturação do sector. As
perdas em Portugal estão estimadas na casa dos 40% e o 'benchmark'
aponta para os 15, 20%. Há bastante trabalho que pode e deve ser
feito, mas como diz é preciso investimento. A verdade é que temos um
grupo Águas de Portugal de Portugal com três mil milhões de euros de
dívida, temos défices tarifários crónicos e dívidas que não são pagas
à própria Águas. Queremos é resolver o problema para o futuro, mas o
problema também está no financiamento. É preciso atrair dinheiro novo
para se poderem fazer os investimentos.
Há quem defenda que o sector das águas deve ser do domínio público e
que a rede em alta nunca deveria sair do controlo do Estado...
Estamos num domínio sensível. É o cerne da existência humana, que
corresponde a um monopólio natural e por isso a opção do Governo não é
privatizar, mas sim manter toda a propriedade sobre a água e apenas
concessionando a sua gestão. Porque não se mantém tudo público?
Acreditamos que podem existir ganhos de eficiência na gestão, mas
também porque precisamos de dinheiro para os investimentos de que
falava há pouco e que são essenciais para modernizar sobretudo a rede
em baixa que tem as maiores perdas.
A Águas de Portugal foi uma criação de José Sócrates como secretário
de Estado do Ambiente e de Mário Lino, então presidente da AdP.
Concorda que esse "monstro" deve ser desmantelado?
Precisamos de reestruturar o grupo para lhe dar sustentabilidade
financeira e para conseguir um equilíbrio das próprias tarifas, porque
é impossível o interior pagar os investimentos que foram feitos.
Precisamos de temperar, numa lógica de solidariedade, pois no Litoral
a água é muito mais barata e há mais gente para pagar os sistemas. A
nossa opção é criar sistemas que olhem para o País como bandas entre
litoral e interior e que permitam ter um equilíbrio com tarifas mais
aproximadas em todo o país. A água em alta no Porto é paga a 0,34
cêntimos, em Lisboa a 0,43 e em Trás-os-Montes a 0,66 e ainda assim
para reflectir o custo teria de ser acima de um euro. É um
desequilíbrio muito grande.
http://economico.sapo.pt/noticias/governo-admite-que-subida-do-preco-da-agua-e-inevitavel_142100.html
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