Sever do Vouga 2012-06-13 09:10:00
Cerca de trinta produtores agrícolas de Sever do Vouga, sobretudo
ligados à produção do mirtilo, juntaram-se para combater o que dizem
ser "injustiças dos preços" e "falta de transparência". Eliana Silva,
engenheira agrónoma a dar apoio a esta associação, não compreende como
é que o mirtilo está a ser pago a 3,50 euros por quilo aos produtores
e comercializado a preços que variam entre 25 e 30 euros.
"Como é possível o agricultor, que tem todo o trabalho, desde a
plantação à colheita ter um preço tão baixo e o produto chegar ao
consumidor a tão elevado preço, sendo considerado um fruto «de luxo»,
questiona.
A produção do mirtilo em Sever do Vouga triplicou nos últimos anos,
mas, mesmo assim, a oferta não chega para as encomendas, dado que
cerca de 80% da produção destina-se a exportação. "Torna-se imperativo
que os agricultores que nos últimos anos fizeram investimentos no
aumento da produção de mirtilo sejam reconhecidos pelo valor do
mesmo", diz Eliana Silva, acrescentando que o objetivo desta
associação não é vender ilusões, nem milagres, mas lutar de forma
consistente e organizada, apostando na certificação de todos os seus
produtores para valorizar o mirtilo, o trabalho e a produção.
A nova associação pretende estar ao serviço dos produtores, diz-se
apartidária e independente da distribuição, da indústria e de qualquer
outra organização agrícola. Está, no entanto, "disponível para
cooperar com todos na resolução dos problemas, salvaguardando a
independência e a soberania da produção", refere a técnica agrária.
Esta nova associação já possui uma rede de frio e instalações
provisórias na Zona Industrial de Cedrim. No primeiro dia (5 de Junho)
receberam meia tonelada de mirtilo que estão a pagar ao produtor a
preços que variam entre 4,50 e 4,75 euros e algumas dezenas de quilos
de groselha (a ser paga esta semana a 6 euros o quilo). A associação
não está limitada aos associados e qualquer produtor pode vir ali
entregar o seu produto. Para este ano o objectivo é atingir às 20
toneladas de mirtilo recolhido.
Os impulsionadores admitem que a nova associação vai ser expandida a
outros produtos. "Numa primeira fase vamos executar projectos no
âmbito das ajudas comunitárias do PRODER e vender plantas de mirtilo
certificadas a 3 euros", referem, sublinhando que pretendem também
apostar na formação agrícola e na certificação. Os responsáveis da
nova associação dizem ser necessário "dinamizar a agricultura da
região, incentivar o agricultor e dignificar e gratificar quem
produz". Para tal propõem "valorizar o agricultor, ultrapassando os
intermediários entre os produtores e consumidores".
Embora já com contactos estabelecidos com importadores europeus de
mirtilo, a nova associação de produtores agrícolas irá apostar no
mercado nacional, e não descarta a hipótese de uma campanha que
incentive o português a consumir mais mirtilo.
A seguir aos mirtilos, esta associação de produtores agrícolas
pretende avançar para um grande investimento em maracujá, esperando
plantar 5 000 plantas ainda este ano. A certificação da laranja e do
limão do Vouga são outros dos objectivos.
Texto: Edgar Jorge
http://www.terranova.pt/index.php?idNoticia=17068
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