Por Marta F. Reis, publicado em 18 Jun 2012 - 03:10 | Actualizado há 6
horas 32 minutos
Estudo publicado hoje defende novo indicador para a sustentabilidade
do planeta: a biomassa humana. E de acordo com esse indicador, vamos
ser mais difíceis de alimentar se continuarmos a ficar mais gordos
Chama-se Danica Maio Camacho e vai completar oito meses de idade no
próximo dia 31. A bebé filipina foi apresentada ao mundo em Outubro de
2011, como representante da entrada da humanidade no patamar dos 7 mil
milhões de habitantes. As projecções de que seremos 9 mil milhões em
2050 têm servido para aumentar a urgência do debate em torno da
sustentabilidade alimentar e pressões sobre o ambiente.
Um novo estudo publicado hoje alerta que há outro indicador a pesar,
literalmente. Em 2005, o ano com dados comparáveis usado pelos
investigadores, a população adulta no planeta pesava 287 milhões de
toneladas, dos quais 15 milhões eram devidos ao excesso de peso. Isto
fazia com que o planeta, na altura com 4,6 mil milhões de pessoas
acima dos 15 anos, precisasse de recursos para alimentar o equivalente
a mais 242 milhões de pessoas. E este número pode duplicar, se não se
combater a obesidade, alertam os investigadores.
"O aumento da obesidade na população poderá ter as mesmas implicações
para a procura de recursos alimentares que mais mil milhões de pessoas
a viver na terra", lê-se no artigo publicado na edição online da
revista científica "BMC Public Health".
Os investigadores da Faculdade de Higiene e Medicina Tropical de
Londres, Instituto de Ciências da Saúde de Leeds e Organização Mundial
de Saúde (OMS) advertem que as necessidades de energia de uma
população dependem não só do número de indivíduos mas também da
biomassa. Se esta variável tem sido incluída nos estudos da ecologia
de outras espécies, tem escapado às projecções em torno da população
humana. O que pode levar um enviesamento das necessidades reais: "A
actividade física representa 25% a 50% dos gastos de energia dos seres
humanos. Como mover um corpo mais pesado tem um maior custo
energético, o uso de energia aumenta com a massa corporal", explicam
os autores. "Actualmente, mais de mil milhões de adultos têm excesso
de peso e em algumas regiões do globo a distribuição da massa corporal
da população está a desviar-se para cima."
EUA OU JAPÃO? Para chegar à primeira estimativa do peso da população
mundial, os investigadores usaram dados da OMS para 190 países, com
informação sobre a população e prevalência de excesso de peso e
obesidade. Segundo o estudo, a América do Norte é a região com maior
peso médio: 80,7 quilos. A Ásia surge no outro extremo, com os
habitantes a pesar em média 57,7 quilos.
Para perceber aonde querem chegar, os investigadores projectaram
cenários extremos: se todos os países tivessem uma distribuição de
peso na população como os EUA, 74% da população teria excesso de peso
e só o peso a mais da humanidade rondaria os 53 milhões de toneladas,
mais de duas vezes as estimativas actuais. O peso global da humanidade
disparava 20%, para 345 milhões de toneladas. Por outro lado, se a
regra fosse a população japonesa, onde 22,3% da população tem excesso
de peso, a população mundial passaria a pesar menos 5% – 272 milhões
de toneladas em vez dos actuais 287 milhões. Seguindo-se o modelo dos
EUA, as calorias necessárias para alimentar toda a população com
excesso de peso (mais de 224 kcal por dia/adulto do que na população
com peso normal) dariam para alimentar mais 406 milhões de pessoas com
peso normal.
O indicador menos complicado acaba por ser o de quantas pessoas cabem
numa tonelada – conta que os investigadores também fazem para cada
país. O pior rácio surge na América do Norte, onde uma tonelada de
biomassa humana corresponde a 12 adultos. A região tem apenas 6% da
população mundial mas contribui com um terço do fardo da obesidade. Na
Ásia, no outro extremo, cabem 17 adultos em cada tonelada. A região
tem 61% da população mundial e apenas 13% da biomassa atribuída à
obesidade.
"As implicações ecológicas do aumento da população vão ser exacerbadas
pelo aumento da massa corporal média", avisam os autores do estudo,
alertando que basta olhar para as dinâmicas da população mundial para
se perceber o problema. Calcula-se que a população dos EUA passe de
310 milhões de habitantes em 2010 para 403 milhões em 2050. Mesmo que
a maioria resulte da imigração, os recém-chegados tendem a adoptar o
estilo de vida local. Alertam também que na África e na Ásia as
populações urbanas estão a aumentar mais depressa do que as rurais.
Se isto fizer com que o planeta convirja para o cenário
norte-americano, significará um aumento da pressão alimentar como se
houvesse mais 473 milhões de adultos no planeta do que realmente há.
"Combater a obesidade da população pode ser crítico para a segurança
alimentar e sustentabilidade ecológica", concluem.
http://www.ionline.pt/mundo/humanidade-na-balanca-populacao-mundial-pesa-287-milhoes-toneladas
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