segunda-feira, 16 de abril de 2012

Falta de água afeta calibragem da fruta na Cova da Beira

As próximas três semanas são consideradas pelos técnicos como
decisivas para a produção de cereja e outros produtos frutícolas,
pois, ou chove em quantidade suficiente, ou a fruta deste ano vai ser
mais pequena do que o habitual.

No caso das cerejas, o sabor e qualidade "estão garantidos" e a seca
até as pode deixar mais doces, explica Filipe Costa, diretor técnico
da Cerfundão, empresa de embalamento e comercialização de cerejas da
Cova da Beira.
No entanto, como "80 a 90 por cento da fruta é constituída por água",
se o cenário de seca não for atenuado nas próximas semanas, tudo o que
for colhido nos pomares terá tendência a ser mais pequeno do que o
costume.
Como o mercado paga melhor por frutos maiores, a situação pode
provocar um prejuízo junto dos produtores "da ordem dos 50 cêntimos
por quilo" por cada três a quatro milímetros de redução no calibre da
cereja, exemplifica Filipe Costa.

Um valor de meros cêntimos que passa a "significativo" quanto maior
for a fatia afetada por entre as sete mil toneladas de produção anual
de cereja na Cova da Beira (a maior região produtora do país).
Tudo porque "os olhos também comem" e o tamanho conta nas prateleiras das lojas.
António Moreira trata de 30 hectares de cerejais na Serra da Gardunha
e sabe que, "hoje, toda a gente só gosta do que enche o olho: no meio
da fartura, o que é mediano, fica para trás".
De olho nas árvores, por enquanto só com pequeninos frutos verdes,
ainda escondidos por entre a floração, garante não se lembrar "de um
ano assim", tão seco. E já leva 60 a tratar de cerejais.
Dentro de uma semana, "as árvores estão limpas [da floração] e se vier
uma boa rega, é bom, mas essa chuva tem de cair antes de as cerejas
ganharem cor", descreve.
João Paulo Carneiro, António Ramos e Paula Simões, docentes na área de
fruticultura na Escola Superior Agrária de Castelo Branco, consideram
que a diminuição de calibre "será mais grave" para os frutos com
período de desenvolvimento mais curto.
É o caso "da cereja e de algumas espécies de pêssego, em que o espaço
de tempo entre a floração e a maturação é de apenas dois a três
meses", explicam à agência Lusa.
O assunto torna-se mais sensível na Cova da Beira, porque a
fruticultura "é uma atividade muito importante", localizando-se na
região "25 por cento da área de produção nacional de pêssego e mais de
50 por cento da área de cereja".
Consideram, por isso, a ausência de regadios de média e grande
dimensão como "uma falta de visão política, uma vez que tal permitiria
menor suscetibilidade a situações de seca, que se vêm tornando cada
vez mais frequentes".
O Regadio da Cova da Beira, iniciado há 50 anos, continua por
concluir, e não abrange os pomares a sul da Gardunha, que estão à
mercê das reservas de água privadas, sublinham.
Filipe Costa concorda e considera que seria "extremamente importante
que as entidades oficiais pensassem na vertente sul da Serra da
Gardunha, porque é uma área com pomares em grande expansão".
http://noticias.sapo.pt/infolocal/artigo/1236483

Sem comentários:

Enviar um comentário