segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Governo quer regular apanha de cogumelos

21-11-2016 
 

 
O Governo quer regular a apanha de cogumelos silvestres para dar mais garantias aos consumidores e melhorar o rendimento dos produtores. A informação foi avançada a Lusa pelo secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, Amândio Torres, que salientou, numa resposta escrita, que esta é «já uma actividade com alguma expressão, que tem sido encarada como fonte de rendimento para muitas famílias».


O governante explicou que actualmente os cogumelos são recolhidos e vendidos «sem qualquer controlo, nomeadamente, para intermediários estrangeiros» que os compram informalmente, para depois vender aos seus clientes.


O secretário de Estado defende que os cogumelos silvestres são um recurso a preservar e valorizar, que pertence ao proprietário da terra «e por isso pode constituir um acréscimo de rendimento à actividade da gestão florestal».


Segundo Amândio Torres, a regulamentação da actividade permitirá colocar os cogumelos silvestres no mercado, «com controlo, dando garantias aos consumidores, a quem se dedica à actividade de recolha e também aos proprietários da terra que os produz».


Além disso, permitirá organizar a actividade para ganhar escala e mercado, adiantou, prometendo «algumas novidades sobre esta matéria a curto prazo».

Fonte: Lusa

O que é que Portugal tem? Mais sabor e cor


Para se abastecer, o país vizinho importa produtos alimentares dos seus parceiros europeus. Portugal é o quarto principal fornecedor e com quem mantém estreita ligação desde sempre. Azeite, polvo e laranjas são os três mais comprados a Portugal.

ANA RUTE SILVA


Azeite alentejano embalado com o rótulo "produzido na União Europeia", laranja sumarenta do Algarve que não chega a ver as bancas de fruta portuguesas, polvo nacional que é servido em tapas ou exportado por Espanha para o Japão, tomate de cor e sabor cobiçados pela indústria alimentar. Nas prateleiras dos supermercados espanhóis, cabem todos estes alimentos, incluídos na lista dos dez produtos agrícolas e alimentares que o país vizinho mais comprou a Portugal em 2015. Apesar de não ser a despensa espanhola — esse título cabe a França —, Portugal é o quarto local preferido de Espanha para se abastecer.


No ano passado, 36,6% dos bens agro-alimentares produzidos em solo nacional e exportados tiveram Espanha como destino. Por seu lado, também foi a Espanha que Portugal foi comprar 48,1% dos alimentos que importou. A relação entre os dois países tem-se mantido firme e intocada pela crise, embora a dependência portuguesa seja mais evidente. A proximidade geográfica e os hábitos de consumo semelhantes fazem com que Espanha seja o destino mais relevante do comércio internacional português.

A Andaluzia anda feliz com o nosso "ouro verde"

Contudo, do outro lado da fronteira, os olhos estão postos para lá dos Pirenéus. França é o principal parceiro comercial de Espanha, escolha justificada pelo Ministério da Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente pela "proximidade geográfica e a importância do sector em ambos os países". Segue-se a Alemanha, em segundo lugar também nas exportações e nas importações. Portugal é o quarto principal parceiro, onde Espanha se abastece e para onde destina os seus produtos alimentares, depois dos Países Baixos.

A poderosa indústria alimentar ocupa um lugar de destaque na economia espanhola, valendo perto de 21% das vendas da actividade industrial e 18,2% do emprego. Representa ainda 17,6% do total das exportações. À sua escala, Portugal tem para oferecer alguns produtos e ajuda, assim, a reforçar a forte posição da indústria alimentar de Espanha no mercado internacional: é a quinta que mais factura na União Europeia, destacando-se sobretudo na exportação de azeite, carne de porco (é o maior produtor da UE), vinho, tangerinas e laranjas.

Enrique Santos, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola, diz que os dois mercados são "cada vez mais inter-relacionados e interdependentes". "Para as empresas portuguesas, o mercado espanhol tem enormes potencialidades, tendo em conta as vantagens competitivas quando comparadas com outros mercados, por exemplo, a proximidade geográfica e cultural com tudo o que isto significa em termos de custos, em que o sector agro-alimentar tem um peso importante", afirma. Enrique Santos recorda ainda que Espanha é o "maior cliente e fornecedor do mercado português e os números do comércio bilateral não param de aumentar".

Espanha é o maior cliente e fornecedor do mercado português e os números do comércio bilateral não param de aumentar"

Uma relação selada a azeite
O exemplo mais relevante nesta relação duradoura é o do azeite, o principal produto agro-alimentar exportado para Espanha e também aquele que o país vizinho mais exporta para mercados internacionais (2825 milhões de euros em 2015). No ano passado, os produtores nacionais de azeite virgem venderam mais de 165 milhões de euros deste produto aos espanhóis, o valor mais elevado desde 2013 e 51% acima do que se verificou em 2014.

Em 2015, Espanha sofreu quebras de 50% na produção, o que obrigou o maior produtor mundial de azeite a comprar ainda mais fora esta matéria-prima. O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola adianta que a procura de azeite "rondou os 1,45 milhões de toneladas e as disponibilidades não ultrapassaram os 1,3 milhões".


Se não os podes vencer, junta-te a eles
"Foi um ano muito complicado para o mercado espanhol de azeite. Houve uma importante quebra na produção em cerca de 50%, e as razões são fundamentalmente de ordem climática. Espanha viu-se forçada não apenas a importar de Portugal mas também de outros mercados produtores, como Marrocos, Grécia ou Tunísia. O mercado espanhol conta como um importante mercado de exportação de azeite e, em 2015, viu-se forçado a dar resposta a estes mercados. Daí a necessidade de importar azeite", detalha.

Os produtores espanhóis têm investido directamente no olival nacional para suprir necessidades do seu mercado e o Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo estima que explorem 50 mil dos 177 mil hectares de olival existentes nesta região (onde se produz 76% de todo o azeite nacional).

Em termos globais, a produção em Portugal registou um máximo histórico em 2015, atingindo 1,19 milhões de hectolitros: foi o terceiro maior registo dos últimos cem anos. Foram precisamente estes olivais do Alentejo, de produção intensiva e superintensiva, com variedades de azeitona mais produtiva e dotados de sistemas de rega que "compensaram largamente a baixa produtividade observada em muitos olivais tradicionais de sequeiro do interior Norte e Centro", referiu recentemente o INE.

As exportações para Espanha têm estado a aumentar devido à qualidade do nosso polvo, o melhor do mundo, com uma alimentação rica em marisco

Mas de Espanha não vem apenas o interesse pelo azeite português. O polvo é o segundo principal produto vendido aos parceiros ibéricos, não fosse Portugal o segundo exportador mundial da espécie octopus spp, apenas superado pela China. No ano passado, os espanhóis gastaram quase 90 milhões de euros em polvo, um crescimento de 43% face a 2014 que não surpreende José Agostinho, presidente da Associação dos Armadores de Pesca de Polvo do Algarve (Armalgarve Polvo).

"Além de comprarem directamente no mercado, há várias empresas portuguesas que exportam para Espanha, quer fresco, quer congelado. Ultimamente, as exportações para Espanha têm estado a aumentar devido à qualidade do nosso polvo, o melhor do mundo, com uma alimentação rica em marisco", conta. Os espanhóis vêm atraídos pela qualidade "e pagam-na". E a popularidade crescente deste molusco, que escorrega facilmente das lotas nacionais para outros destinos, também está relacionada com um esforço de divulgação que tem sido feito pelos pescadores e autoridades de pesca. Os consumidores, diz José Agostinho, não sabiam comer polvo, mas hoje sabem que podem usá-lo de formas diversas, a ponto de rivalizar com o bacalhau.

Os espanhóis consomem-no, por exemplo, em tapas, mas a verdade é que nem todo o polvo português termina a viagem em Espanha. "Compram aqui, mas depois transportam-no para o Japão. E o produto é nosso", revela o presidente da Armalgarve, que quer aumentar as vendas para oriente. Os armadores estão, por isso, a "trabalhar para reduzir os intermediários e fazer a exportação directa", numa tentativa de disputar o mercado com os espanhóis. Ao mesmo tempo, a venda de polvo vivo para o Japão e para a Coreia do Sul está em fase final de ensaio na Estação Piloto de Piscicultura de Olhão (a maior do país). Falta encontrar os clientes certos, dispostos a comportar os custos de transporte. "Já é possível exportar polvo vivo, mas falta encontrar os preços certos e os compradores certos. O custo de transporte é maior, tem de ser por avião e estamos a tentar arranjar clientes", adianta.

No Algarve, o interesse espanhol estende-se à laranja. Pedro Madeira, director da Frusoal, conta que, com maior capacidade de compra, Espanha tem comprado laranja portuguesa a preços acima do mercado e combinado com antecedência o negócio. "É por isso que muita laranja está a ir para Espanha", explica o responsável desta organização de produtores. Em Portugal, diz, as "cadeias de distribuição não acompanham os preços espanhóis e, por isso, temos durante menos tempo laranja nacional à disposição dos portugueses".

O ano passado, a exportação de laranjas para Espanha disparou 58%, chegando perto dos 67 milhões de euros. Nunca foram tão valorizadas como em 2015: em 2013, as exportações valiam 34 milhões de euros (e ocupavam o 6.º lugar entre os produtos agro-alimentares fornecidos a Espanha); em 2014, mais de 42 milhões de euros. Ao mesmo tempo, as laranjas são um dos cinco produtos que Espanha mais exporta para outros mercados, com o valor das vendas a atingir uns expressivos 1160 milhões de euros.

Em termos de cor e sabor, o tomate português é melhor do que o espanhol

Na lista dos dez principais produtos vendidos a Espanha, está o tomate, considerado o melhor do mundo, sobretudo pela indústria alimentar, que depois produz molhos e todo o tipo de sucedâneos. Espanha também vem abastecer-se (desembolsou perto de 35 milhões de euros, segundo o INE) nas versões "fresco e refrigerado".

Miguel Cambezes, presidente da Associação dos Industriais do Tomate (AIT), detalha que os espanhóis utilizam a matéria-prima produzida em Portugal devido à proximidade geográfica e às características do tomate que aqui encontram, com mais cor e sabor. "Há uma organização de produtores que tem a sua zona de influência em Elvas, mais próximo de fábricas espanholas da Estremadura do que das unidades portuguesas do Alentejo. Há contratos [de venda] que são firmados previamente e esta organização não entrega um quilo de tomate a Portugal", conta. Há também fábricas espanholas que arrendam terrenos em Portugal onde produzem tomate para se abastecer, continua.

Há ainda produtores portugueses que, não estando localizados na zona de Elvas, "entregam tomate ao abrigo de contratos firmados com a indústria espanhola e que são usados para a produção de pasta de tomate, sumos ou cubo", adianta. Convivem duas realidades: tomate que é produzido e transformado em Portugal e enviado, depois, para Espanha. E tomate produzido em território nacional e transformado no país vizinho.

De acordo com Miguel Cambezes, Portugal transforma 1 milhão e 507 mil toneladas, enquanto Espanha processa mais de dois milhões e 950 mil toneladas, "onde estão incluídos os tomates portugueses". "Em termos de cor e sabor, o tomate português é melhor do que o espanhol. A cor é reconhecidamente muito boa e quando misturo concentrado feito com tomate português estou a melhorar o meu produto", garante.


Esclarecimento sobre a doença da "Língua Azul"

DGAV

25 de novembro, 2016


A "Língua Azul" é uma doença viral, infeciosa não contagiosa, que atinge os ruminantes não sendo transmissível aos humanos. Estão descritos 26 serotipos do vírus sem imunidade cruzada, que resultam em doenças diferentes.

O agente é transmitido por insetos do género Culicoides, que são os vetores biológicos, dependendo a distribuição geográfica da doença da presença de certas espécies de Culicoides (nomeadamente C. imicola, C. obsoletus e C. pulicaris). Em Portugal encontra-se atualmente em circulação o serotipo 1 da Língua Azul na totalidade do território continental e o serotipo 4 na região do Algarve.
As Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira são livres de "Língua Azul".

O serotipo 1 da "Língua Azul" surgiu pela primeira vez em Portugal em setembro de 2007, na região do Alentejo, tendo-se alargado à região Norte em outubro de 2008.

O acompanhamento e o controlo da "Língua Azul" são efetuadas através da delimitação de áreas geográficas, com imposição de restrições à movimentação animal, através de planos de vigilância clínica, serológica e entomológica que permitem monitorizar a evolução da doença e através de programas de vacinação para controlar a dispersão do vírus.
Estão em curso campanhas de vacinação obrigatória dos ovinos reprodutores e dos jovens destinados à reprodução dos efetivos das áreas consideradas de risco. Fora das áreas de risco é ainda permitida a vacinação voluntária dos ovinos e bovinos, mediante procedimento específico.

Em 2012 ocorreram dois focos de BTV1, sem mais ocorrências nos 3 anos seguintes. A doença ressurgiu em setembro de 2015 na região do Alentejo, com os primeiros focos identificados nos concelhos de Moura, Mértola e Serpa, atingindo outros concelhos da região e também a região do Algarve. Nesta sequência foi determinada a vacinação do efetivo ovino reprodutor adulto e dos jovens destinados à reprodução nas áreas de circulação viral.

Em 2016, na sequência de suspeitas clinicas num efetivo de ovinos do concelho de Benavente, foi confirmado um foco de serotipo 1 de Língua Azul, que determinou a 25 de outubro, o alargamento da área de vacinação obrigatória aos concelhos de Benavente, Coruche, Alcochete, Palmela e as freguesias de Canha e Pegões do concelho do Montijo, através do Edital 41. Posteriormente a circulação do vírus veio a detetar-se em diversos efetivos de ovinos dos concelhos de Abrantes, Chamusca, Setúbal, Sardoal, Proença-a-Nova e Fundão, o que determinou novo alargamento da área de vacinação obrigatória através do Edital 42, publicado a 18 de novembro.


De referir que a região de Lisboa e Vale do Tejo foi afetada por circulação viral de serotipo 1 em 2008 e em 2010, nos concelhos de Montijo, Palmela e Setúbal, sendo estas novas ocorrências de 2016 as primeiras a serem registadas no Ribatejo Norte.
A vigilância clinica é um componente essencial da estratégia em curso pelo que se recomenda aos detentores dos animais e aos médicos veterinários assistentes, que comuniquem aos serviços veterinários oficiais qualquer indício de doença, face á importância de uma deteção precoce.

O Portal da DGAV disponibiliza informação atualizada sobre a doença - www.dgav.pt
Lisboa, 25 de novembro de 2016

A Andaluzia anda feliz com o nosso “ouro verde”


Muita água, que escasseia na Andaluzia, muita terra boa e barata disponível e apoios estatais e da União Europeia trouxeram centenas de agricultores espanhóis, muitos andaluzes, para o Alentejo. Compraram milhares de hectares para olival e estão contentes. Muitos continuam de olho em Portugal.

 Luciano Alvarez

José Luis Robles, 41 anos, vai todos os dias ao seu olival desde que a campanha da apanha da azeitona começou no início de Outubro. Avalia a qualidade do fruto, a forma como a rega é feita, dirige a recolha ali ainda feita à mão e o transporte para a cooperativa onde é transformada em azeite ou segue para embalar como azeitona de mesa. É ele que gere o negócio nas mãos da família há várias gerações. Também produz amêndoas, mas azeite é o seu "grande amor".

O olival fica na região de Estepa, cerca de 120 quilómetros a sudoeste de Sevilha. É uma propriedade pequena, quando comparada com os grandes olivais da Andaluzia. São 140 hectares, onde crescem 28 mil oliveiras, que vão dar cerca de 1,5 milhões de quilos de azeitona no final da campanha — 75% da produção será de azeitona de mesa e 25% vai para azeite. Cerca de 95% do produto será para exportação para diversos países.

Nos últimos oito anos, José Luis Robles fez "várias visitas de trabalho ao Alentejo" à procura de terras para que pudesse "expandir" o negócio. "Na Andaluzia já não há muita terra disponível, especialmente se se procuram muitos hectares. Por isso, Portugal, e em especial a região do Alentejo, onde havia muita terra disponível e de qualidade, foi vista por muitos como uma nova oportunidade de expansão do negócio. Para mim, o Alentejo é uma espécie de nova Califórnia [risos]."

Espanha é o maior produtor mundial de azeite, estimando-se que após a campanha da apanha de azeitona que começou no início de Outubro a produção espanhola em 2016/2017 possa chegar a 50% de todo o azeite que é colocado no mercado mundial. Uma subida de cerca de 9% em relação à campanha de 2015/2016.

50%
de todo o azeite que é colocado no mercado mundial estima-se que venha da campanha espanhola de 2016/2017
Segundo o Conselho Olivícola Internacional, a região da Andaluzia, que faz fronteira com o Algarve e Alentejo, deverá ser responsável por perto de 70% do azeite que é produzido no país. Dos cerca de 2,5 milhões de hectares de olival existente em Espanha, mais de 1,5 milhões estão nesta região. Na Andaluzia as azeitonas são também chamadas de ouro verde.

Com a construção do Alqueva, as terras alentejanas tinham por perto algo que há muitos anos escasseia na Andaluzia: água, muita água. Havia também fartura de terra de qualidade disponível, que na Andaluzia já está quase toda ocupada com os mais diversos cultivos. Terra boa e barata, com o hectare a custar no Alentejo cerca de um quinto do que custava naquela região espanhola.

Na Andaluzia, a água para o regadio, além de cara, é absolutamente controlada pelo governo regional, que estabelece a quantidade de metros cúbicos que cada produtor pode usar, tendo em conta factores como a dimensão das propriedades e o tipo de cultura produzida. O executivo da região autónoma espanhola estabelece ainda preços diferenciados para os períodos do dia em que a água é usada, sendo o período nocturno mais barato, o que leva a maior parte dos agricultores a fazer o regadio à noite.

"Foi a água que levou muitos a expandirem-se para Portugal. Durante as minhas visitas [a Portugal], várias pessoas, algumas do Ministério da Agricultura, garantiram-me que no Alentejo se podem passar cinco anos sem cair uma gota de água do céu; e que a água, toda a água que precisasse, não faltaria. Para um agricultor andaluz, ouvir isso é maravilhoso."

Produção dispara no Alentejo
Quando os agricultores espanhóis começaram a passar a fronteira em direcção ao Alentejo compraram milhares de hectares, prepararam os solos para produções mais intensas, instalaram novos sistemas de rega e maquinaria. Com investimentos de milhões de euros, construíram mesmo um sofisticado lagar (Herdade do Carapetal, em Santiago do Cacém), com capacidade de armazenamento de quase 2,3 milhões de quilos de azeite.

PÚBLICO -Foto
Do olival de José Luis Robles, na região de Estepa, perto de Sevilha, vão sair 1,5 milhões de quilos de azeitona no final da campanha CORNELIA SMET/UNIÃO EUROPEIA
Os resultados começaram a aparecer. A produção de azeite na campanha portuguesa de 2015/2016 atingiu as 109.052 toneladas. Um aumento de 75%, comparando com a campanha 2014/2015 e a terceira maior dos últimos cem anos. Para encontrar valores semelhantes, é preciso recuar a 1953 e 1961, anos de elevada produção. A principal região produtora de azeite foi o Alentejo, com 73% do total nacional, quase 80 mil toneladas. Em 2007, os dados do Alentejo eram de 11 mil toneladas. A Espanha foi o principal cliente, para onde Portugal exportou 49% do total (63.970 toneladas).

Em termos globais, a área destinada a olival no país não cresceu muito em 2015/2016, excepção feita à região alentejana, que já tem 177 mil hectares ocupados com oliveiras, mais 25% em comparação com 2007/2008.

177
mil hectares no Alentejo estão ocupados com oliveiras
José Luis Robles estima que existam cerca de 100 produtores espanhóis com terras no Alentejo, "embora só cinco sejam grandes proprietários" de olival.

O agricultor diz que, "nos primeiros anos", os espanhóis que decidiram investir em Portugal "não tiveram uma vida fácil". "Foram obrigados a fazer grandes investimentos em equipamento, preparação de solo e em novas oliveiras. Tiveram de começar tudo do princípio, pois era tudo muito [pausa]… antiquado. Depois veio a crise, que também não ajudou em nada, mas hoje sei que as coisas estão a correr muito muito bem. Têm bons e produtivos olivais e a qualidade da azeitona e do azeite é muito boa. Está a ser um bom negócio e a crescer."

O pesado investimento que terão sido obrigados a fazer foi de alguma forma atenuado pelo preço da terra. Há cerca de dez anos, quando terá começado em força a "expansão" espanhola, o preço de um hectare na Andaluzia "custava no mínimo 20 mil euros, quando no Alentejo era adquirido por cinco mil", revela Robles. "Hoje já não é bem assim. Na Andaluzia, custa cerca de 25 mil a 30 mil euros ou mais e no Alentejo já anda entre os 10 e os 20 mil euros por hectare. Sei que já houve quem recentemente tenha pedido 20 mil euros por hectare."

O ministro e os espanhóis a ensinar os portugueses
Em 2007, dos 22 mil hectares de novo olival no Alentejo, cerca de 11 mil já pertenciam a investidores espanhóis. Os números foram divulgados pelo ministro da Agricultura da altura, Jaime Silva. O governante fazia esta revelação precisamente durante uma visita à Herdade do Sobrado, um investimento do grupo espanhol Bogaris, que adquiriu 1440 hectares em Ferreira do Alentejo (Beja), 1234 dos quais ocupados com 353 mil oliveiras.

Um investimento que entusiasmou de tal forma Jaime Silva que até teve uma frase pouco simpática para os agricultores portugueses. Salientando a "aposta no regadio" que estava a ser feita no Alentejo e a existência de "terrenos óptimos, que produzem tudo desde que tenham água", afirmou que os espanhóis "perceberam" tudo isto e "vieram a correr" para comprar as terras e começar a produzir azeite, "antes que os portugueses descobrissem que o olival dá um lucro potencial fabuloso".

O apoio dos governos portugueses aos agricultores é outro dos aspectos que José Luis Robles aponta para os investimentos de agricultores em Portugal. E não se refere especialmente aos juros mais baixos no crédito bancário ou ao acesso a fundos comunitários, mas ao facto de os governantes lusos "ouvirem os agricultores".

"Em Portugal, ao contrário do que acontece em Espanha e especialmente na Andaluzia, os agricultores são tidos em conta antes de as decisões serem tomadas. Por outro lado, a gestão da água é muito mais correcta. Na Andaluzia, não há água, mas o Governo permite a instalação de culturas como algodão ou cana-de-açúcar, que precisam de muita água. Creio que em Portugal isso nunca aconteceria", afirma.

Em Portugal, ao contrário do que acontece em Espanha e especialmente na Andaluzia, os agricultores são tidos em conta antes de as decisões serem tomadas. E a gestão da água é muito mais correcta
José Luis Robles
Com tanta vantagem, por que não apostou José Luís Robles em Portugal? "Não encontrei nenhum terreno do meu agrado. Vim muitas quintas, recolhi muita informação mas não havia nada a meu gosto. Talvez tivesse ido tarde de mais e o melhor já estava tomado [risos]", explica. Acrescenta, porém, que não desistiu de se "expandir para Portugal". "A região do Alentejo ainda oferece muitas oportunidades."

Nas várias visitas exploratórias que fez a Portugal, diz que apenas detectou um problema: "O preço do trabalho." "Aqui, nas minhas terras, na altura da colheita, pago 46 euros por dia por seis horas de trabalho a cada funcionário, período para almoço incluído. Sei o que tenho de descontar para a segurança social e o trabalhador sabe a sua parte de descontos. Há uma tabela. Em Portugal, cada angariador de trabalhadores com quem falei dava-me um preço diferente pelo dia de trabalho. Era tudo um bocado confuso e eu não posso fazer contas se não souber exactamente o custo do trabalho", revela.

Portugal é garantia de qualidade
Já sobre o facto de parte de o azeite produzido em Portugal acabar por ir para Espanha a granel, e algum dele poder ser vendido como sendo um produto feito nesse país, Robles não vê qualquer problema. "Estamos na União Europeia, não há nenhuma ilegalidade", afirma.

"Acredito que a maior parte da produção fica em Portugal, mas é natural que alguma venha para Espanha. Somos o maior produtor mundial de azeite, mas também importamos, porque a procura ultrapassa a oferta", acrescenta, salientando o facto de haver muitos produtos agrícolas à venda na Europa ou exportados para outros continentes que "apenas referem que o produto tem origem na UE, sem referir um país específico".

Nesta matéria, Robles tem uma coisa como certa: "Se o azeite vem de Portugal para ser vendido em Espanha ou para ser exportado, é porque o produto é bom. A qualidade do azeite português é hoje muito boa."

Uma garantia que não é oferecida por países como Marrocos, Turquia ou Egipto, que também exportam azeitonas e azeite para Espanha. Conta mesmo uma história de há dois anos, em que a produção de azeitona Gordal (a azeitona de mesa de maiores dimensões) foi fraca. Face à escassez de matéria-prima, um grande produtor andaluz importou várias toneladas do Egipto para exportar para os Estados Unidos. Só que, conta, a qualidade da azeitona "estava longe da que os consumidores estavam habituados" e "no ano seguinte teve uma quebra nas exportações".



De qualquer forma, estas importações de azeitona ou azeite, que são feitas por todos os principais países produtores para conseguirem responder à procura, é algo que não afecta José Luís Robles. O azeite do seu olival, bem como o das outras cerca de 4500 famílias da região de Estepa que se dedicam à produção de azeitona e azeite, é canalizado para um azeite com Denominação de Origem Protegida (DOP) desde 2010. O "Rolls Royce" das certificações da UE que garante que o azeite tem origem numa área geográfica delimitada, com solos e clima característicos e é exclusivamente elaborado com azeitonas de certas variedades de oliveiras.

São cerca de 5,5 milhões de oliveiras espalhadas por 40 mil hectares de terra que garantem uma produção de 25 milhões de quilos de azeite extra virgem de marca Estepa, detentor de vários prémios internacionais.

"Aqui não há misturas de azeites, nem engarrafamentos duvidosos. Tudo é absolutamente controlado por laboratórios certificados. Quem não cumprir as regras é expulso da dominação de origem", garante Moisés Cabalhero, secretário do Conselho para a Dominação de Origem do Azeite Estepa, organismo criado pelos agricultores locais para garantir a qualidade do azeite produzido na região. Diz mesmo ter orgulho em que o conselho que dirige seja considerado como "o mais exigente da UE".

Também ele não vê qualquer problema com azeite importado a granel de Portugal ou de outros países. Azeite que diz ser misturado com outro de menor qualidade para conseguir um produto melhor ou até para o voltar a exportar para outros países quando a procura do "ouro verde" da Andaluzia ou de outras regiões é maior do que a oferta disponível.

Moisés Cabalhero diz desconhecer qualquer tipo de engarrafamento ilegal na região da Andaluzia ou de azeite produzido em Portugal a ser vendido como azeite espanhol.

Já sobre os investimentos de agricultores espanhóis em Portugal, também ele os vê com naturalidade, repetindo os argumentos de José Luís Robles. "Há boa terra, há muita água e é tudo feito de acordo com as regras europeias. Porque não? É uma nova oportunidade."

A "pirataria" italiana
No que respeita a engarrafamentos e vendas enganadoras sobre a origem do azeite, Cabalhero aponta o dedo a Itália, que "não produz tudo o que diz produzir".


Em Fevereiro deste ano, os jornais espanhóis noticiaram a apreensão no Sul de Itália de 2 mil toneladas de azeite extra virgem produzido em Espanha e Grécia entre 2014 e 2015 e que era vendido em Itália com rótulos que garantiam ser 100% italiano.

Segundo revelou a Inspecção Italiana de Repressão à Fraude, o produto era vendido como sendo de alta qualidade, quando na verdade era feito com azeitonas de baixo preço. Na operação foram detidas oito pessoas, que conseguiriam um lucro de 13 milhões de euros se este azeite chegasse ao mercado.

Nessa altura, a maior associação de agricultores de Itália, a Coldiretti, emitiu um comunicado lamentando as "frequentes fraudes" que se cometem ao misturar azeite importado com o italiano, seja para o colocar no mercado seja para o exportar "como azeite italiano de alta qualidade" com "o objectivo de obter preços mais elevados".

Moisés Cabalhero lamenta este tipo de práticas, até porque, dos 25 milhões de quilos de azeite Estepa produzido, 40% é exportado a granel, nomeadamente para Itália, para onde seguem em média 7 a 11 milhões de quilos.

Por que é que vendemos azeite extra virgem a granel para Itália? Deixem de o exportar que a pirataria acaba
José Lopes, agricultor em Córdoba
José Lopes dirige uma empresa agrícola familiar em Fuente Palmera, na província andaluz de Córdoba. Em 2007, especializou a empresa, pertença da sua família há três gerações, na produção exclusiva de produtos biológicos. As maiores áreas estão dedicadas à produção de laranjas, marmelos e romãs, mas produz também 30 toneladas de azeite biológico por ano. Também ele desconhece se há azeite produzido em Portugal a ser vendido ou exportado como espanhol. Sabe, isso sim, que os italianos vendem azeite espanhol como sendo italiano. Chama-lhe "uma verdadeira pirataria". Mas "a culpa não é só dos italianos". "Por que é que vendemos azeite extra virgem a granel para Itália? Deixem de o exportar que a pirataria acaba. Há muito mercado para vender o azeite que hoje vendemos aos italianos. Os italianos, embora não sejam os principais produtores, dominam o mercado de distribuição e por isso fazem o que querem."

De Portugal para Espanha e depois para Itália 
Nestas andanças do azeite, há também produto do olival português que é exportado para Espanha e que depois segue para Itália. A revelação foi feita ao P2 já em 2011 por Miguel Rico, presidente do grupo espanhol Innoliva. Desde 2007 que este grupo investiu cerca de 126 milhões de euros no Alentejo e na Andaluzia na aquisição de 5000 hectares de terras, na preparação dos solos, sistemas de rega, equipamentos agrícolas e na instalação de um lagar.

O grosso da produção da empresa espanhola concentra-se no Alentejo. Entre 2008 e 2011, a empresa plantou olivais em Moura, Cuba, S. Manços (Évora), Figueira de Cavaleiros e Gasparões (Ferreira do Alentejo). Ao todo, são 3500 hectares de olivais superintensivos onde crescem cerca de sete milhões de árvores.

Construiu também um sofisticado lagar de azeite na Herdade do Carapetal, em Santiago do Cacém, que alberga um total de 22 silos, fabricados totalmente em aço inoxidável por uma empresa de Córdoba e cinco centrifugadoras que foram fabricadas na Alemanha. A capacidade total de armazenamento é de quase 2,3 milhões de quilos de azeite, e implicou, numa primeira fase, o investimento de cinco milhões de euros de um total previsto de 7,3 milhões de euros.

Manuel Rico lamentava que um azeite de excelente qualidade que podia valorizar a imagem da região onde é produzido, fosse "vendido sob marcas italianas". "Nem sequer sabemos [exactamente] quais os mercados onde é colocado (…) É vendido a 2,5 euros o quilo, chega ao consumidor americano a 50 euros", afirmou na altura.

Portugueses e espanhóis mais unidos
Na serra de Montilla, a sul da província de Córdoba, a paisagem muda completamente. O verde-escuro das oliveiras que enchem campos a perder de vista mistura-se agora com o verde-claro das vinhas. Bem no meio da serra, fica o lagar Cañada Navarro. São 23 hectares de vinha e dois de olival. O negócio principal aqui é o vinho.

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Para o agrónomo Manuel Guimanez del Pino, a entrada de produtores espanhóis em Portugal "pode ser uma oportunidade para os dois países se unirem mais e se apresentarem em Bruxelas a falar a uma só voz" RUI GAUDÊNCIO
O agrónomo Manuel Guimanez del Pino e o seu irmão Santiago, o enólogo, fazem a partir da uva do tipo Pedro Ximénez 30 mil litros de vinho branco, mil litros de Chardonnay, produzido também a partir desta qualidade de casta e outros mil litros de uva Verdejo.

O vinho é ainda produzido quase como a família o faz desde o século XVIII. O principal "segredo" está no facto de ser fermentado em "tinajas", enormes vasilhas de cimento que dão um gosto único.

Quando o P2 puxa a conversa para os investimentos espanhóis que estão a ser feitos em Portugal, os irmãos entusiasmam-se. Dizem visitar frequentemente o nosso país em turismo e onde têm vários amigos. Elogiam "a qualidade cada vez maior dos vinhos portugueses", onde "já não é só o vinho do Porto a reinar", a "comida fantástica", especialmente o peixe e o marisco, e a "simpatia das pessoas", que os tratam como se fossem família. Sobre os investimentos, dizem que "só podem ser bons para os dois lados". Para Manuel, a entrada de produtores espanhóis em Portugal "pode ser uma oportunidade para os agricultores dos dois países se unirem mais", para "trocarem experiências e conhecimentos" e para "se apresentarem em Bruxelas a falar a uma só voz".

Já Santiago afirma que "seria bom que também os agricultores portugueses investissem em Espanha". "Vivemos num mercado de livre circulação. Investir em Portugal é uma oportunidade, uma nova oportunidade. De certeza que é bom para portugueses e espanhóis. Venham vocês também para Espanha. Serão bem recebidos", garante.

"Mau era voltar a levantar fronteiras"
Fonte da Comissão Europeia ligada à política agrícola admite que existam "más práticas na livre circulação de alguns produtos", mas considera "positivo" que os produtores, "sejam eles de onde forem", possam "investir noutros países da UE". No caso dos investimentos espanhóis em Portugal, "de certeza que é bom para os dois países".

A mesma fonte dá como exemplo a situação dos agricultores holandeses. "No seu país, já não há terra para crescerem e estão a espalhar-se por toda a Europa."

Fala ainda num sector que "está cada vez mais orientado", em que "os agricultores não produzem apenas de acordo com o que dá mais subsídios". "É o sector que decide o que fazer, não as políticas. Por outro lado, os agricultores não querem só produzir, querem produzir melhor, com menores agressões ao meio ambiente, com uma melhor gestão de recursos. Há livre circulação? Há e isso é bom. Mau era voltar a levantar fronteiras", remata.

O jornalista viajou a convite da Comissão Europeia

Previsões apontam para um aumento da produção mundial de açúcar em 2016/2017

21-11-2016 
 
 
A produção mundial de açúcar em bruto chegará a 171 milhões de toneladas na campanha de 2016/2017, o que supõe mais cinco milhões de toneladas frente à campanha anterior.

Este crescimento deve-se às melhores colheitas no Brasil, na União Europeia e na maioria dos 25 maiores produtores, que compensaram reduções na Índia e Tailândia, de acordo com a última informação do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América (USDA).

Os preços médios mensais de açúcar, depois de cair ao longo de um ano e chegar a menos de 11 centavos de dólar/libra em Agosto de 2015, mostram uma subida até cerca de 23 centavos/libra em Outubro de 2016. Apesar dos preços altos, prevê-se que o consumo alcance o valor recorde de 174 milhões de toneladas, com quebra das existências até o nível mais baixo desde a campanha 2010/2011.

O défice global de açúcar reduz de 6,7 milhões de toneladas em 2015/2016 para um prognóstico de 2,6 milhões de toneladas. Apesar dos aumentos de produção em 2016/2017, os níveis baixos de existências preveem fortes preços.

Na União Europeia (UE) espera-se que a produção aumente em 1,9 milhões de toneladas (Mt) até 16,2 milhões, devido à maior superfície cultivada. Para o consumo estima-se uma manutenção constante em 18,8 milhões de toneladas e para as importações uma descida. As exportações mantêm-se sem m alterações em 1,5 milhões de toneladas, demarcadas pelos limites da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Nos Estados Unidos prevê-se um aumento da produção de 300 mil toneladas até 8,5 milhões de toneladas, no Brasil, um aumento de 3,1 milhões até 37,8 milhões de toneladas; na china um crescimento de 700 mil até um total de 9,5 milhões de toneladas; Austrália, um aumento de 200 mil até as 5,1 Mt, para a Rússia uma subida de 400 mil até 5,6 MT e no Paquistão a produção poderá subir 460 mil até um total de 5,7 milhões de toneladas e no México a produção pode atingir 6,7 milhões de toneladas.

Pelo contrário, na Índia a produção poderá reduzir 3,6 milhões até 23,9 milhões de toneladas e na Tailândia também se prevê uma baixa de 470 mil, até um total de 9,3 milhões de toneladas.

Fonte: Agrodigital

“Faculdades de Veterinária estão a vender um sonho que não se vai realizar”


Bastonário dos médicos veterinários está convencido de que é uma questão de tempo até animais de companhia passarem a poder acompanhar donos nos restaurantes e noutros locais onde a sua presença ainda está vedada.

ANA HENRIQUES 26 de Novembro de 2016, 8:50

Apesar de a taxa de desemprego dos médicos veterinários em Portugal ser das mais altas da Europa, o ensino superior continua a formar jovens "para o desemprego", diz Jorge Cid, bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, que gostava de ver alguns cursos encerrados.

A Ordem faz este mês 25 anos de existência e esteve nesta sexta-feira reunida em congresso. E este foi um dos temas. "Não olhem para este curso como sendo rentável, porque as saídas profissionais cada vez são menos: o Estado deixou de empregar e o sector leiteiro, que dava muito trabalho, foi concentrado em grandes explorações que empregam um único veterinário", diz o bastonário.

Acredita que um dia irão por diante as restrições ao número de animais de companhia que se podem ter em casa, como chegou a ser proposto pelo anterior Governo?
Vamos opor-nos a isso com unhas e dentes, porque não faz sentido. Se não há uma lei que limita o número de pessoas por apartamento, porque há-de haver para os animais? E é completamente diferente ter dois caniches ou ter dois serra-da-estrela. Então uma pessoa não pode ter quatro chihuahuas num apartamento se não incomodarem os vizinhos? É proibir por proibir. E um apartamento pode ser um T0 ou um T6. É ridículo, não faz sentido. É quase como se dissessem que só se pode ter três filhos se se morar num T3. Restringir vai contra o bem-estar animal: implica que pessoas com grande disponibilidade para dar bem-estar e carinho fiquem impedidas de o fazer, porque já têm outros animais.

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Embora e lei em vigor já imponha certas restrições a esse nível.
Não é aplicada, ninguém liga muito a isso. Mas seja como for devia ser revista para não restringir as liberdades das pessoas. Não se pode ir a um jardim público com um animal, nem entrar num transporte público...

Tem esperança de que isso mude?
Vai necessariamente mudar, como já sucedeu noutros países da Europa. Quanto melhor um povo trata os seus animais, mais evoluído é. Em França ou Inglaterra entram em todo o lado — vão a um restaurante e ficam sossegadinhos, sentadinhos —, embora também os vejamos a comportarem-se melhor do que em Portugal, provavelmente fruto de uma canicultura mais evoluída. Aqui ainda se vêem animais mal-educados, que dificilmente poderão entrar em espaços públicos porque podem causar perturbações. No metro destes países as pessoas viajam com o seus animais. Aliás, em Portugal também há uma lei para poderem viajar nos transportes públicos. O problema é que ainda se criam muitos entraves a quem tem um animal de companhia — e isso leva ao abandono. Há condomínios que não os aceitam, por exemplo.

Isso é legal?
Há pareceres jurídicos que dizem que sim e outros que dizem que não.

A segurança alimentar pode estar em risco no futuro. [Se hoje os alimentos] são de qualidade, é devido a um esforço brutal dos inspectores sanitários
Jorge Cid
Os centros de recolha de animais, vulgarmente chamados" canis municipais", têm condições?
Existem situações muito boas e situações críticas. Quando vemos fotos de alguns deles até nos sentimos arrepiados. As câmaras nem sempre têm verbas.

Mas a lei permite que funcionem nesses moldes?
Não há alternativa. Como é que são autorizados a funcionar certos lares de terceira idade? Certas pessoas a viverem em condições sub-humanas? A quantidade brutal de animais sem dono que existe exigiria um grande aumento da capacidade de resposta. Mas percebo que se faltam verbas para os tais lares de terceira idade ou para centros de saúde também faltem para os animais.

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Dentro de menos de dois anos, de acordo com legislação já aprovada, será proibido o abate, nestes canis, de animais saudáveis ou recuperáveis. Haverá condições para tal?
Estou muito preocupado e tenho grandes dúvidas. Fez-se uma lei antes de haver bases para a executar. Não sei se não vai ser mais uma lei de aplicabilidade duvidosa. Não estão a ser ampliados ou criados de raiz em número suficiente os tais centros de recolha. Por outro lado, há sete ou oito anos que não se nomeia um veterinário municipal. É gravíssimo. Há mais de cem câmaras em Portugal que não têm um sequer, e eles é que deviam gerir os centros.

Existem municípios que optam por contratar veterinários no mercado de trabalho à sua conta para colmatar essa falha — quando os seus salários devem ser pagos em parte pela Direcção-Geral de Veterinária. O que pode ser perigoso, porque os inspectores sanitários devem ter uma ligação à entidade reguladora, como garante da sua independência.

Veterinários portugueses são dos mais atingidos pelo desemprego na Europa
Veterinários portugueses são dos mais atingidos pelo desemprego na Europa
Isso reflecte-se na saúde humana?
A segurança alimentar pode estar em risco no futuro.

Os portugueses podem confiar nos alimentos de origem animal que compram?
Se são de grande qualidade e segurança, é devido a um esforço brutal dos inspectores sanitários.

E a contaminação por antibióticos?
A resistência aos antibióticos pode vir um dia a matar mais pessoas do que o cancro. A facilidade com que se usam quer em pessoas quer em animais levou ao surgimento das bactérias multirresistentes, que têm levado à morte de humanos. O controlo da sua utilização tem de aumentar.