sábado, 8 de junho de 2019

Candidaturas às ajudas da Política Agrícola Comum ascendem a quase 184 mil este ano


Lisboa, 04 jun 2019 (Lusa) -- As candidaturas às ajudas da Política Agrícola Comum (PAC) fixaram-se, de acordo com os últimos dados, em 183.649, mais 418 do que em 2018, revelou hoje o Ministério da Agricultura.


Lusa
04 Junho 2019 — 20:12

Segundo a informação do Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP), em 2017 registaram-se 181.267 candidaturas a estas ajudas e, no ano seguinte, 183.231.

"Os apoios da PAC envolvem anualmente montantes de cerca de 890 milhões de euros: a componente proveniente do FEAGA (Fundo Europeu Agrícola de Garantia) corresponde a 594 milhões de euros por ano; na componente do FEADER (Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural) os valores pagos atingem um montante de cerca de 297 milhões de euros ano, sendo cofinanciados pelo orçamento nacional", indicou, em comunicado, o ministério tutelado por Capoulas Santos.

Os apoios em causa têm em vista "compensar os agricultores europeus por desvantagens específicas face aos seus concorrentes no mercado mundial" e têm em conta os padrões de exigência em matéria de segurança alimentar e de sustentabilidade de produção.

Por outro lado, visam "comparticipar o acréscimo de custos assumidos pelos agricultores, no que toca à prestação de serviços ambientais e à produção de bens públicos de interesse coletivo".

Para o Governo, o nível de adesão a estes apoios demonstra assim a sua importância enquanto "contrapartida de suporte às atividades desenvolvidas".

O crescimento do número de candidaturas revela também a "dinâmica de crescimento do setor, que continua a registar níveis de atividade crescentes, a que correspondem indicadores económicos significativos".

O Ministério da Agricultura apontou ainda que entre estes indicadores encontram-se as exportações, cuja estimativa de crescimento em 2018 aponta para uma taxa superior a 4%.

Adaptar o montado ao clima: a experiência na Herdade da Ribeira Abaixo


03 jun, 2019 - 07:33 • Manuela Pires

Vários estudos feitos pela União Europeia antecipam uma redução significativa da produção agrícola na região mediterrânica. Por isso há que encontrar alternativas e, em Portugal, os investigadores trabalham há anos para encontrar soluções. A Renascença foi à procura de respostas no Alentejo.

No final deste século, a Herdade da Ribeira Abaixo, em Grândola, vai ter um aumento de temperatura durante todo o ano e em agosto atinge mais quatro graus de máxima. Os dias com temperaturas elevadas vão aumentar, no total, mais 21. Por outro lado, as geadas vão diminuir, e a chuva também, por exemplo, com o clima atual há 78 dias de chuva, em 2100 haverá menos 15.

Este é o cenário das projeções climáticas elaborado pelos investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, para o projeto LIFE Montado Adapt, cujo objetivo é perceber como adaptar o Montado às alterações climáticas. "O sistema tal como o conhecemos pode entrar em colapso e as pessoas já estão a ver isso porque as árvores estão a morrer".

André Vizinho, investigador do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Climáticas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, é um dos coordenadores do projeto.
O sobreiro e a azinheira são as árvores principais do Montado, um eco sistema típico das regiões mediterrâneas e, nesta altura, em algumas zonas do baixo Alentejo o sobreiro está já fora da zona de conforto e está a morrer.

É preciso encontrar estratégias, e os investigadores apontam dois caminhos a seguir, um deles a mitigação, que passa pela redução das emissões com gases de efeito de estufa. Uma das ideias pode passar pelo aumento das raízes permanentes, por exemplo, usando as pastagens que captam o carbono no solo.

Mas com a diminuição das chuvas é preciso garantir que a árvore consegue captar a pouca água que está no solo e uma das soluções apontadas por André Vizinho é proibir a "grade de discos, é uma espécie de arado que limpa a terra para prevenção de incêndios, mas quando fazemos isso cortamos as raízes dos sobreiros, e o sobreiro absorve 30% da sua água através destas raízes, por isso, quando as cortamos estamos a matar a árvore que é uma espécie protegida".

Como baixar a temperatura no Montado?

Num cenário de alterações climáticas é preciso manter a água no solo, mas é também necessário diminuir a temperatura no montado. Na Herdade da Ribeira Abaixo André Vizinho está a fazer várias experiências nesse sentido e que passam "por aproximar as copas das árvores para aumentar a sombra e a matéria orgânica e ao mesmo tempo diminuir a temperatura no montado. Cada vez que aumentamos a densidade das arvores conseguimos diminuir a temperatura em cinco graus".

A herdade tem 221 hectares, é um enorme laboratório gerido pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e é uma das 12 áreas piloto do projeto LIFE Montado.

Os investigadores do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Climáticas tentam aqui outras formas de garantir uma adaptação às alterações climáticas, que passa por plantar sobreiros à sombra das estevas.

"Numa das zonas da herdade limpámos as estevas numa orientação este/oeste, e plantamos os sobreiros e as azinheiras à sombra do esteval para tentar aumentar a humidade no solo durante mais tempo e aumentar a taxa de sucesso da plantação destas arvores", refere André Vizinho, que cita estudos que concluíram que quando as árvores estão viradas a sul morrem porque apanham mais calor.

Horticultores do litoral alentejano contestam restrições a mais estufas


Moção aprovada pelos autarcas de Odemira critica os "constrangimentos gerados" pelas culturas em estufa e a "perturbação" social causada pelo fenómeno migratório.

Carlos Dias 30 de Maio de 2019, 22:21

A clivagem entre as posições tomadas pela Assembleia Municipal de Odemira (AMO), que está contra novos investimentos agrícolas dentro do Perímetro de Rega do Mira (PRM), e a Associação dos Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos Concelhos de Odemira e Aljezur (AHSA), que defende a posição contrária, está a acentuar-se. Nos últimos dias, as críticas de lado a lado subiram de tom - os primeiros querem mais cautelas, os segundos dizem que a sua actividade é muito benéfica para o concelho.

Na última reunião da AMO, realizada a 30 de Abril, o PS apresentou uma moção que foi aprovada com os votos favoráveis das bancadas daquele partido, CDU, BE e a abstenção do PSD, onde se "exigia" ao Governo "medidas preventivas imediatas quanto a novos investimentos em instalações agrícolas" em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV). O documento acrescenta que deveria haver cautela até que fosse "produzida decisão definitiva" sobre as propostas apresentadas pelo Grupo de Trabalho do Mira (GTM).

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Com a criação deste organismo, em Agosto de 2018, pretendia-se dar resposta a questões como os alojamentos para trabalhadores agrícolas imigrantes e a "compatibilização" dos valores naturais do PNSACV e da Rede Natura 2000 com a actividade agrícola de regadio. Também as dificuldades crescentes no acolhimento e alojamento de trabalhadores imigrantes, têm suscitado constantes apreensões.

O presidente Câmara de Odemira, José Alberto Guerreiro, tem alertado para o facto de já existirem cerca de dezasseis mil habitantes naquela faixa do território. Mesmo assim, as empresas propõem a "triplicação" da população imigrante quando o território "não tem capacidade" para responder com oferta de habitação, infra-estruturas, desenvolvimento social, e articulação cultural a esse aumento populacional em tão curto espaço temporal, assinala o autarca.

Esta posição é igualmente partilhada pelo presidente Junta Freguesia Vila Nova de Milfontes, Francisco Lampreia, quando diz que na localidade "é impossível encontrar habitações para alugar porque as casas encontram-se ocupadas por migrantes"

Para além dos aspectos suscitados pelo fenómeno migratório, o grupo de trabalho também deveria ponderar sobre "uma eventual revisão da delimitação do PRM e ou da área abrangida pelo PNSACV". Os trabalhos ficaram concluídos em Novembro de 2018 e o respectivo relatório de conclusões e propostas, foi então remetido ao Governo.

Até ao momento, não é conhecida qualquer decisão sobre as conclusões do relatório. Nem mesmo a garantia dada pelo primeiro-ministro, António Costa, ao deputado do PAN, André Silva, durante o debate quinzenal na Assembleia da República em meados de Janeiro de que, até final desse mês,"seriam tomadas decisões quanto as acções a desencadear no seio do que foi proposto no Grupo de Trabalho do Mira" foi cumprida, lembrou a moção apresentada pelo PS.


É neste contexto, "e tendo em conta a ausência de quaisquer decisões por parte do Governo referentes a esta matéria", que os eleitos do PS na Assembleia Municipal propuseram, através da moção aprovada, que sejam tomadas, por parte do Governo, "medidas preventivas imediatas quanto a novos investimentos em instalações agrícolas no território, até que seja produzida decisão definitiva". É ainda pedido que "seja tomada uma decisão" quanto a acções a desencadear com base no que foi proposto no GTM "num prazo não superior a 30 dias".

Odemira é "beneficiada"
Confrontada com o teor desta moção, a AHSA, através de comunicado enviado ao PÚBLICO, diz que "não se revê", bem como as suas associadas, na moção tornada pública pelo PS de Odemira, "sobretudo pelo claro desconhecimento que evidencia da realidade agrícola da região". E assume que a actividade baseada nas culturas de pequenos frutos (framboesa, amoras, mirtilos) em estufa, bem como as próprias empresas agrícolas, "não geram constrangimento".

Refere ainda que do ponto de vista económico, o concelho de Odemira "beneficia" das hortofrutícolas, realçando o Valor Acrescentado Bruto (VAB) concelhio gerado em 2015, pela actividade hortofrutícola, que ascendeu a 44 milhões de euros. E acentua que o factor determinante para a valorização económica do concelho de Odemira reside nas excelentes "condições edafo-climáticas únicas do Sudoeste Alentejano", que consagra a região como "uma das melhores regiões da Europa" para a prática de um modelo agrícola com "elevadíssimo valor acrescentado".


Limitar a expansão da actividade agrícola no espaço que foi destinado para esse fim, há 50 anos, através da criação do PRM, não é encarado como razoável pela AHSA, frisando que "menos de 2% da área do PNSACV e de 0,7% da área total do concelho" estão ocupados por hortofrutícolas que empregam, segundo a AHSA "mais de 3500 colaboradores, muitos estrangeiros".

Referindo-se ao teor da moção que se reporta às crescentes dificuldades de alojamento e integração destes trabalhadores, a AHSA salienta que, à semelhança do que acontece noutros países, uma solução possível seria ter os colaboradores a residir dentro das próprias unidades de produção agrícola, "em estruturas temporárias construídas para o efeito". Este tipo de instalação "chega a alojar 600 ou mais colaboradores, de forma socialmente responsável, com muito relevantes condições de habitabilidade, sendo inspeccionados e auditados com frequência, quer pelas próprias cadeias de retalho, quer pelos organismos competentes". É um modelo que "funciona e que permitiria retirar os trabalhadores agrícolas dos perímetros urbanos, minimizando, desta forma, a pressão que se verifica actualmente no centro das freguesias do concelho de Odemira", conclui a AHSA.

Estado está a fazer "o possível" para ser exemplo na limpeza da floresta



Luís Manuel Capoulas Santos, ministro da Agricultura

30 Maio 2019 às 18:13

O ministro da Agricultura afirmou esta quinta-feira, em Benavente, que o Estado está a fazer "o que é possível" para ser "exemplo" na limpeza das florestas, realçando, contudo, as dificuldades colocadas pela "grande dimensão" das áreas sob a sua responsabilidade.

Luís Capoulas Santos, que esta quinta-feira presidiu, na Companhia das Lezírias, em Samora Correia (concelho de Benavente, distrito de Santarém), à entrega de 42 viaturas a equipas de sapadores florestais do Norte e Centro do país, afirmou que todos os Ministérios que têm áreas florestais sob a sua responsabilidade estão a cumprir as tarefas que lhes são exigidas e que o Governo está empenhado "em levar tão longe quanto possível a prevenção".

Num balanço do trabalho realizado pelo Ministério da Agricultura, o ministro referiu a limpeza de quase 3.400 quilómetros da chamada rede primária, a gestão de combustível executada em 5.200 hectares de áreas públicas, mais de 3.000 hectares em mosaicos de gestão de combustível, mais de 2.600 quilómetros na rede viária florestal, entre "outros indicadores que traduzem uma atividade que não teve precedente em nenhum momento anterior".

Na campanha realizada ao longo do último ano foram ainda aprovados 78 projetos "cabras sapadoras", para intervenção em 5.530 hectares, realizado fogo controlado e queimadas em 2.936 hectares, apoiada a constituição de 83 Zonas de Intervenção Florestal, num total de 643.232 hectares, e de 28 Unidades de Gestão Florestal, segundo dados fornecidos à Lusa pelo gabinete do ministro.

O balanço refere ainda a aprovação de 48 candidaturas ao programa "queima segura" e o envolvimento de uma centena de escolas do ensino secundário na campanha "econtigo.ecomtodos".

"Estamos a fazer mais nestes últimos dois ou três anos do que se fez nos 10 ou 15 precedentes e queremos continuar nos próximos anos com este trabalho", disse Capoulas Santos, sublinhando a afetação de 160 milhões de euros "só para a prevenção", pela "primeira vez mais do que aquilo que é alocado ao combate".

O ministro disse que a cerimónia que hoje decorreu junto à coudelaria da Companhia das Lezírias se inseriu no esforço de "dar mais e melhores instrumentos de trabalho a uma força que se tem vindo a consolidar e que tem um papel fundamental na limpeza da floresta".

Salientando que os sapadores florestais foram criados há 20 anos, quando liderava o Ministério, Capoulas Santos lamentou os anos de "abandono", em que, disse, não houve reequipamento nem melhoria do financiamento e das remunerações, para destacar o objetivo de chegar às 500 equipas e 2.500 elementos na missão de limpeza das florestas até ao final do ano.

Das 272 equipas existentes quando o atual Ministério tomou posse, passou-se para as atuais 427, sendo objetivo chegar às 500, salientou o secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, Miguel Freitas.

Capoulas Santos afirmou que o trabalho em curso para reforma da floresta é "de uma geração", referindo como "crucial" a questão do cadastro, à espera de decisão da Assembleia da República desde novembro de 2018.

O ministro declarou que o projeto-piloto realizado em 10 municípios foi "muito positivo", tendo sido cadastrados, num ano, metade dos mais de 600.000 prédios rústicos identificados, aguardando que o parlamento se pronuncie para que se possa alargar a todo o território nacional e, em quatro anos, "cadastrar todo o país".

"Estou certo de que o parlamento o fará brevemente. Certamente terá tido razões ponderosas para o não ter feito até este momento", acrescentou.

Dois terços da área ardida em 2018 são de incêndios provocados por linhas elétricas, diz especialista


ENTREVISTAS VISÃO 02.06.2019 às 19h04

 
Marcos Borga

Xavier Viegas, investigador da Universidade de Coimbra, garante, em entrevista à VISÃO, que o problema dos incêndios associado às linhas elétricas tem vindo a aumentar. "Chegámos a 2017 com uma contribuição de 20% destas linhas para a área ardida". Em 2018, se incluirmos o incêndio de Monchique, "vai para 68%"
Hugo Séneca

Domingos Xavier Viegas já viu muitos fogos, mas não esperava que a triste ironia o apanhasse em outubro de 2017: no penúltimo dia de redação do relatório da Comissão Técnica Independente que estava a estudar o grande incêndio de Pedrógão Grande, que vitimou 66 pessoas, a equipa do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais (CEIF) é chamada à pressa para defender os laboratórios no coração da Lousã, que se encontravam cercados pelas chamas que haveriam de vitimar mais 49 pessoas. Em ambos os casos, o professor da Universidade de Coimbra, que é também um dos mais conceituados especialistas no estudo dos incêndios em Portugal, não hesita em apontar o dedo às linhas elétricas.

Há uma relação direta entre as linhas elétricas e a ignição de incêndios?

Ocorrem milhares ou dezenas de milhares de incêndios por ano no País. Claro que nem todas as ocorrências são causadas pelas linhas elétricas, mas temos investigado várias ocorrências causadas pelas linhas elétricas... ou porque as autoridades, como a PJ, nos pedem ou porque isso faz parte do nosso trabalho. Há casos em que podemos ter um indício ou uma convicção, mas podemos não ter a capacidade de fazer prova, o que confirma a necessidade de estudar e de conhecer melhor este problema.

Os fogos originados pelas linhas elétricas geram indícios diferentes daqueles que têm outras causas?

Sim, claramente. Há um incidente, em fevereiro de 2005, que levou à morte de quatro bombeiros e que está claramente relacionado com uma linha elétrica de média tensão, com 15 quilovolts, em Mortágua. Foi algo que verificámos, era um dia de vento forte... Há também outro caso em Poiares, em que fomos chamados pela PJ para ajudar na obtenção de prova. Nesse caso, foi encontrado o eucalipto que tinha tocado na rede elétrica, e havia sinais claros disso. A parte de cima do eucalipto estava queimada. Depois desse contacto, houve folhas em combustão que caíram, e havia indícios de que o fogo se propagou a partir dali. Aquele eucalipto não se incendiou, mas outros começaram a arder a partir daquele ponto.

Há muitos casos similares?

Há algumas situações em que vimos a linha elétrica partida. Depois do contacto e com o aquecimento, a linha elétrica quebra e cai no chão... tivemos vários casos desses investigados. Numa ou noutra situação, até houve uma tentativa para disfarçar as coisas, cortando a árvore que esteve em contacto com a linha elétrica.

Foi isso que aconteceu em Pedrógão Grande? Ou devemos acreditar na tese que viria a abrir caminho a reportagens de TV com a árvore que, alegadamente, foi atingida por um raio?

Essa tese está fora de questão. No princípio, levantou-se essa hipótese, porque nesse dia aconteceu uma trovoada seca que, de facto, causou focos de incêndio, nas zonas de Castelo Branco e de Portalegre. É óbvio que era bem mais fácil, para a opinião pública e para as autoridades, aceitar que a tragédia tivesse sido causada pela Natureza. Não haveria, portanto, culpado ou responsável pelo incêndio. As autoridades embarcaram nela e foram ao ponto de indicar a árvore. Depois, investigando um pouco mais e começando logo pelo Instituto Português de Meteorologia e Atmosfera (IPMA), que analisou os registos, comprovou-se que não tinha havido descarga na zona do incêndio, a não ser muito depois do início do fogo. E há ainda mais um dado, que muita gente ignora ou quer ignorar: na zona do incêndio, havia um conjunto de câmaras de vídeo que registava tudo o que se passava em 360 graus. Uma das câmaras apontava para a Escalos Fundeiros, onde o incêndio começou. O dia estava limpo, o céu azul... Não se vê raios, não se vê nuvens, não se vê coisa nenhuma. Mas havia um cabo elétrico e alguns ramos em várias árvores enegrecidos...

A PJ ignorou isso?

Fizemos, na altura, fotografias com um drone e, para nossa surpresa, a EDP foi autorizada a cortar e a limpar a ramagem toda... E não só aí como em Regadas (Cimeiras), onde se registou um segundo foco.

As provas foram eliminadas?

Não digo que tenham sido eliminadas, porque guardámos muito material, mas, curiosamente, quem estivesse atento e fosse ao local podia ver uma coisa interessante: o tal cabo enegrecido estava no meio da ramagem, mas, como essa foi cortada, então ficou completamente à vista. E nós tirámos fotos de uma coisa e de outra. Em Regadas, o caso é mais claro, porque houve um senhor que viu que o fogo começou ali junto à linha elétrica e tentou apagá-lo com um extintor. Não conseguiu, e o fogo propagou-se. Falei com muita gente no terreno... e havia indícios de que o fogo terá começado com folhas a arder, que caem no chão, e depois vai encontrando caminho até à base da encosta e segue por aí acima.

As autoridades ignoraram as opiniões de especialistas e de testemunhas? Houve uma barreira política?

Não faço ideia. Mas queria dizer outra coisa: muita gente ignorou o segundo foco de incêndio. Todos pensam que o fogo começou na tal árvore (de Escalos Fundeiros), mas houve um segundo ponto em Regadas, que fica a três quilómetros... Apurámos que o incêndio teve aquelas consequências por ter dois focos que se desenvolveram de forma independente e depois se encontraram. Foi o facto de esses dois focos se terem juntado que criou condições de propagação tão graves. É um processo de feedback... Um incêndio alimenta o outro.

A PJ nunca se insurgiu contra as vossas teses?

Nas causas, a PJ foi perentória: oficialmente, disse que a causa era aquela árvore (atingida por um raio) e, quando lhes perguntámos se não poderia rever a sua posição, disseram-nos que esta era para manter. Não sei se vai fazer alguma reanálise...

É uma questão importante para efeitos de seguros...

Não sei por que razão a PJ não mostrou até agora abertura para reapreciar o caso... Tivemos esta investigação em junho e, depois, surgiram os incêndios de outubro. Felizmente, já tínhamos terminado o relatório, que entregámos ao Governo a 16 de outubro. Mas, no dia 15 de outubro, quando nos encontrávamos aqui (na Universidade de Coimbra) a trabalhar, estava tudoà volta a arder. Tivemos de interromper o trabalho para prestar apoio ao nosso laboratório na Lousã, que estava em risco. Admito que a PJ ainda não tenha reanalisado este processo (de Pedrógão Grande), mas tanto quanto sei, no julgamento que está em curso no Tribunal de Leiria, há uma acusação que responsabiliza a EDP. Além disso, nas estatísticas oficiais (do Estado), a causa do incêndio de Pedrógão Grande já é descrita como associada às linhas elétricas.

Que estatísticas oficiais são essas?

Na base de dados do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, o incêndio de Pedrógão Grande está indiciado como causado pelas linhas elétricas...

Também foram as linhas elétricas que desencadearam o incêndio da Lousã, em outubro de 2017?

Referimo-nos a esse incêndio como sendo do Prilhão, por se tratar do local de origem, no concelho da Lousã. Também nos chamaram logo a atenção para uma linha elétrica ligada ao incêndio... e contactámos a EDP. Gosto de fazer as coisas de modo transparente e, além disso, precisamos dos dados de que a EDP dispõe... Os colegas da EDP discordaram de nós, mas dissemos-lhes que os argumentos que nos dão não nos levam a mudar essa convicção.

Os incêndios podem ser gerados em qualquer tipo de linha elétrica?

Deixe-me contar-lhe outro episódio, em 2016, num incêndio em Anadia, que o Ministério Público me pediu para investigar. Tudo começou de madrugada, no início de agosto, numa linha elétrica de baixa tensão, de 400 volts – o que confirma que este problema existe não só na média tensão como na baixa tensão. Também aí havia a tal situação do eucalipto que tocava na linha elétrica... O incêndio começou num vale relativamente isolado, perto de uma aldeia, onde vivem algumas pessoas que assistiram às descargas que iniciaram os fogos. É indubitável que o incêndio começou ali. E aconteceu uma coisa curiosa. Falámos com testemunhas oculares que moravam ali perto e que assistiram ao início do incêndio. Os responsáveis da EDP vieram ao nosso laboratório (na Lousã). Apresentámos o nosso relatório, enquanto eles nos mostraram o deles, que negava claramente que a linha elétrica tivesse qualquer relação com o incêndio...

Esse relatório estava correto?

Eles mostraram-nos que estavam a fazer trabalhos na linha elétrica a meio da manhã e que, àquela hora, não havia incêndio... só que, realmente, o incêndio estava a deflagrar a cerca de 100 ou 200 metros do local onde aqueles homens estavam… e aqueles homens tiveram de sair dali pouco depois. Houve uma apresentação parcial da realidade... Temos estatísticas que mostram que o problema associado às linhas elétricas tem vindo a aumentar. [Pega numa folha com um gráfico.] Esta é a percentagem de ocorrências entre 2003 e 2018, e não incluímos aqui o incêndio de Monchique, porque oficialmente a causa ainda não foi determinada. Podemos ver uma linha que ronda as 20 mil ocorrências por ano com causas conhecidas... e que é mais ou menos constante ao longo do período estudado. E depois temos o númerode ocorrências cuja causa é atribuída à linha elétrica e que vai entre 20 e 30, em 2003, a mais de 100, em 2017 e em 2018. O mais impressionante disto é o efeito em termos de área ardida, que também tem vindo a crescer, e chegámos a 2017 com uma contribuição de 20% das linhas elétricas para a área ardida. Em 2018, ainda não se incluiu Monchique, mas, se o incluirmos, vai para 68 por cento...

Muitos desses incêndios acabaram por produzir vítimas mortais...

Em 2003, registaram-se 23 vítimas mortais, mas nenhuma resultou de um incêndio iniciado pelas linhas elétricas. Em 2005, foram contabilizadas 22 vítimas, cinco delas vítimas de incêndios causados por linhas elétricas, o que corresponde a 22,7% do total. Em 2017, houve 117 vítimas, das quais 79, ou seja 67%, resultaram de incêndios causados por linhas elétricas. Uma coisa muito importante que temos verificado é que a percentagem de incêndios desta natureza aumenta com a dimensão dos fogos. Os grandes incêndios, com mais de mil hectares, são aqueles que têm maior percentagem de fogos causados pelas linhas elétricas.

O que se pode fazer para alterar este panorama?

Uma das soluções também pode passar por aquilo que algumas empresas dos EUA já fazem: em dias de elevado risco, a rede é desligada. Assim, não há riscos... Claro que têm de pagar indemnizações brutais, mas acaba por ser um valor menor do que as indemnizações por vítimas mortais... que levaram à falência de grandes empresas elétricas da Califórnia, devido aos grandes fogos do passado recente. Outra solução passa por enterrar as linhas, ou alterar completamente o traçado, colocando-as em pontos mais elevados ou levando a rede elétrica a acompanhar as linhas de comunicação, como as estradas...

Mas isso implica alterar milhares de quilómetros de rede!

Poderá não ser toda a rede. Temos de compreender que o País foi todo eletrificado nos últimos anos, com um grande esforço e investimento, mas se calhar não se teve em conta este risco...

Os incêndios em Portugal vão tornar-se tão regulares como a neve na Suíça?

Claramente. É certo que vamos ter incêndios todos os anos e alguns bem graves... Há uma grande falta de preparação e muito pouco esforço concertado para preparar o País para este problema. Vou dar-lhe um exemplo: há muitos anos que defendo que deveria existir um programa nacional de investigação científica nesta área...

... E não há?!

Não há. Agora estamos a tentar criar um programa, mas de forma totalmente desconchavada, com tiros para todas as direções, sem planos, sem estratégias e sem esforços concertados.

Eventualmente, só será feito quando o fogo estiver às portas de Lisboa, do Porto ou de Coimbra. Há esse risco?

Não deveria ser necessário. Em 2005, aqui [Coimbra] ardeu tudo à volta. O fogo veio de Poiares com projeções... e só não queimou o Jardim Botânico por uma sorte muito grande. Se tivesse caído uma fagulha na parte de baixo, teria ardido o Jardim Botânico. Temos de ir preparando as pessoas. Os cidadãos são os primeiros afetados por uma catástrofe e são também os primeiros que tentam dar uma resposta. E muitas vezes não terão apoio.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

“A China é um mercado interessante para Portugal”, diz Capoulas Santos na assinatura de um Protocolo para o Reforço da Cooperação


 29 Maio, 2019

Foi assinado, esta terça-feira (28 de Maio), entre o Governo português e a República Popular da China, um Protocolo para o Reforço da Cooperação, com o objetivo de harmonizar procedimentos e agilizar os processos de internacionalização. Depois de ter aberto o mercado da China para a carne de suíno nacional, o Ministério da Agricultura está a agora a trabalhar intensamente nos mercados da pera Rocha, da uva de mesa e dos citrinos, produtos cuja negociação se encontra já numa fase bastante adiantada, tendo ficado já agendada a visita de uma missão técnica chinesa a Portugal no próximo mês de agosto.

De acordo com o Ministério da Agricultura, "além da pera Rocha e das uvas de mesa, Portugal está igualmente a negociar os citrinos, as maçãs, arroz (baby rice), kiwis, pêssegos, nectarinas e ameixas, mel, carne de aves, carne de ovino e de bovino, ovos de incubação e pintos do dia, cavalos e ainda, em complemento ao mercado da carne de suíno, produtos derivados da carne de suíno."

Portugal tem com a China uma balança comercial positiva no setor agroalimentar, exportando um montante anual global de 150 milhões de euros, valor que o Ministro da Agricultura considera que "temos condições de fazer crescer a favor da produção nacional". Capoulas Santos, que recentemente viajou até à República Popular da China em Visita Oficial, afirma que "a China é um mercado interessante para Portugal não só pela sua dimensão de milhões e milhões de consumidores, mas também pela apetência do próprio mercado, que procura produtos que se diferenciem pela qualidade e por elevados padrões de segurança alimentar, o que é manifestamente o caso da produção nacional". Luís Capoulas Santos aposta na simplificação de procedimentos "através do estabelecimento de canais bem articulados, que permitam melhorar os contactos e acelerar a capacidade de resposta das autoridades nacionais".

Francisco Guerreiro aterrou em Bruxelas com vontade de "mexer a máquina"


O eurodeputado eleito pelo PAN, Francisco Guerreiro, aterrou hoje em Bruxelas com vontade de "mexer com a máquina" e de integrar a Comissão de Agricultura de forma a alertar para o impacto da agropecuária e do bem estar animal.

 Francisco Guerreiro aterrou em Bruxelas com vontade de "mexer a máquina"

13:30 - 29/05/19 POR LUSA

Acabado de chegar a Bruxelas, para completar o registo como eurodeputado e reunir-se com os Verdes europeus, a família política que o partido Pessoas--Animais--Natureza (PAN) elegeu, Francisco Guerreiro fez a sua declaração de intenções, assumindo que tem "muito interesse" em integrar a Comissão de Agricultura do Parlamento Europeu (PE).

"[Agricultura] é uma área fundamental para as alterações climáticas - e muitas vezes não é falada - por causa do impacto da agropecuária, mas também em questões relacionadas com o bem estar animal. Portanto, temos estas duas grandes componentes que achamos que a nível dos eurodeputados portugueses não tem sido trabalhada, e achamos que é importante acrescentar este valor não só na componente ambiental, mas também na proteção dos direitos dos animais", salientou.

O novo eurodeputado esclareceu que não quer fugir à lógica dos fundos, que tem sido a prioridade dos representantes portugueses na assembleia europeia na área da agricultura, mas sim tratá-los de "outra perspetiva", nomeadamente a de redirecionar essas verbas para "outras culturas", como "a produção de alimentos de modo biológico e extensivo", que o PAN considera ser "muito mais positivo do que cimentar e esbanjar dinheiro em indústrias poluentes, como a agropecuária tem sido".

Outras das "bandeiras" do partido no hemiciclo será acabar com a exportação de animais vivos, confirmou.

O primeiro representante do PAN no PE quer trazer "dinamismo" à assembleia europeia, "quebrar um bocadinho as regras dentro dos procedimentos normais, tentar mexer com a máquina, sabendo que há procedimentos e dinâmicas instaladas".

"Queremos trazer novos temas, mesmo dentro da família dos Verdes europeus e queremos que haja mais reforço desta componente de priorização das alterações climáticas. Queremos fazer desse tópico ainda mais reforçado dentro desta família", especificou, explicando que o seu partido elegeu aquele grupo político, depois de se reunir com vários, por considerar que era o que mais se aproximava dos objetivos e da forma de trabalhar do PAN.

O eurodeputado de 34 anos estimou que a ascensão dos Verdes a quarta força política na assembleia europeia, com 69 representantes, demonstra quanto os cidadãos europeus "estão despertos para a urgência de fazermos alterações profundas na nossa sociedade, não só a nível económico mas social".

Assumindo estar disposto a estabelecer compromissos com outras famílias políticas, Francisco Guerreiro pronunciou-se sobre a eventual formação de uma aliança progressista no PE, uma ideia impulsionada por socialistas e liberais.

"Se os Verdes tiverem uma posição forte dentro dessa aliança, possivelmente será de validar. Agora, se os Verdes estiverem excluídos, será muito difícil porque iremos ver mais uma vez a dinâmica que tem sido imposta, a economia pela economia, e isso não é positivo para a Europa", estimou.

Nesse sentido, o eurodeputado português espera que a renovada preocupação das instituições europeias, nomeadamente do Conselho Europeu, com as alterações climáticas não seja mera retórica política.

"Nós temos visto que a retórica abunda sempre nestes períodos pós-eleitorais, mas depois na prática é muito difícil lutar contra alguns lobbies e setores já estabelecidos. O que queremos é que haja prática política", frisou.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Governo faz anúncio na sexta-feira sobre barragem do Pisão


Lisboa, 5 jun 2019 (Lusa) - O Governo vai anunciar na sexta-feira novidades sobre a barragem do Pisão, no Crato, cuja construção tem sido reivindicada por agricultores e empresários do Alto Alentejo, mas nunca chegou a ser construída, afirmou hoje o ministro da Agricultura.


Lusa
05 Junho 2019 — 13:49

"Sexta-feira vai ser feito um anúncio, pelos ministros da Economia, do Ambiente e da Agricultura, sobre a barragem do Pisão", afirmou hoje aos deputados o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, sem adiantar mais pormenores, numa audição regimental hoje da Comissão de Agricultura e Mar.

Há cerca de dois meses, no início de abril, o Governo anunciou a constituição de um grupo de trabalho para avaliar a viabilidade técnico-financeira da Barragem do Pisão, um projeto hidroagrícola reivindicado há dezenas de anos por vários setores locais.

O grupo de trabalho teve por missão desenvolver um modelo de financiamento e gestão do empreendimento e, no prazo de 60 dias, tinha de apresentar um relatório que inclui, nomeadamente, estimativas do custo-benefício no contexto regional, sproposta de financiamento e gestão do empreendimento e um plano de ação e respetivos prazos de execução.

Na altura, o presidente da Câmara do Crato, Joaquim Diogo, em declarações à agência Lusa, mostrou-se "bastante satisfeito" com a criação do grupo de trabalho, considerando que foi dado "mais um passo de forma consolidada" para que a construção da barragem pudesse ser uma realidade.

Os primeiros estudos sobre a Barragem do Pisão e a sua valia agrícola datam de 1957, no Plano de Valorização do Alentejo, que indicava - segundo o Governo - a necessidade de construção de uma barragem para armazenar água dos caudais da ribeira da Seda.

Em 2010, o Estudo de Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos do Crato - Sua Viabilidade, nas vertentes da rega, do abastecimento público e da criação de uma central mini-hídrica estimou o custo da obra em cerca de 100 milhões de euros, segundo o gabinete do ministro Adjunto e da Economia.

Seis anos depois, todos os grupos parlamentares, em resolução da Assembleia da República, consideraram a Barragem do Pisão como obra prioritária e aprovaram, por unanimidade, recomendar a inclusão do projeto nas prioridades de investimento do regadio, no Plano Nacional de Regadio e no Programa Nacional para a Coesão Territorial.

Em todos os estudos efetuados, segundo o executivo, a Barragem do Pisão foi "apontada como fundamental para estimular o desenvolvimento económico e sustentável da área de influência do projeto, pelo que foi considerado urgente avaliar, de forma rigorosa, toda a documentação produzida até à data, que possam suportar uma decisão sobre a viabilidade de construção do empreendimento, rentabilizando o conhecimento específico já produzido".

A Barragem do Pisão, no Alto Alentejo, já foi anunciada por três primeiros-ministros, Mário Soares, António Guterres e Durão Barroso, mas continua por construir.

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Projetos agrícolas herdados do QREN deixam por aplicar 30% do apoio atribuído

Mónica Silvares
29 Maio 2019

Em causa está a libertação de cerca de 60 milhões de euros que agora podem ser utilizados em novos projetos.

O programa que concede apoios comunitários aos agricultores está a levar a cabo uma operação de limpeza para libertar verbas que não estejam a ser utilizadas, confirmou ao ECO a gestora do PDR2020. Segundo Gabriela Freitas só nos projetos que transitaram do quadro anterior — avaliados em 800 milhões de euros — houve uma subexecução de 30%.

Ao contrário dos restantes programas operacionais do Portugal 2020, na agricultura houve a possibilidade de fazer transitar projetos de um quadro comunitário para outro, ou seja, do QREN para o PT2020. Gabriela Freitas avançou ao ECO que houve "alguns casos de desistência", mas "fundamentalmente houve uma subexecução de 30% dos compromissos transitados" do Proder.

"Houve uma libertação de verbas fruto de algumas desistências, mas fundamentalmente houve uma subexecução de 30% dos compromissos transitados."

Gabriela Freitas
Gestora do PDR2020

A gestora do Programa de Desenvolvimento Rural que vigora entre 2014 e 2020 (PDR2020) sublinhou ainda que "a maior parte destes projetos transitados já está encerrada" e que subexecução acabou por se traduzir numa libertação de verbas, que até é bem-vinda tendo em conta as taxas de overbooking — dinheiro atribuído a projetos para além da dotação global. O dinheiro que não foi executado fica dentro do programa e pode ser reutilizado, não tendo de ser devolvido a Bruxelas.

"Temos em curso uma operação limpeza que já libertou no PDR cerca de 60 milhões de euros", especificou ainda Gabriela Freitas, sublinhando que se trata não só de fundo comunitário, mas também de verbas do Orçamento do Estado, que perfaz a fatia do custo dos projetos que tem de ser assegurada por despesa pública.

"Temos em curso uma operação limpeza que já libertou no PDR cerca de 60 milhões de euros."

Gabriela Freitas
Gestora do PDR2020

Esta operação limpeza acaba por ter reflexo nas taxas de pagamento do PDR2020, que no primeiro trimestre de 2019 registou uma quebra de dois pontos percentuais na taxa de pagamento. O valor do fundo pago aos beneficiários versus o valor do fundo aprovado associado às operações passou de 52%, no último trimestre de 2018, para 50%, no primeiro trimestre deste ano, tal como revela o boletim trimestral do Portugal 2020, publicado pela Agência do Desenvolvimento e Coesão.

Gabriela Freitas, que veio substituir Patrícia Cotrim na gestão dos fundos para apoiar os agricultores, sublinha ainda que foi necessário aumentar a contrapartida nacional para injetar mais 160 milhões de euros no programa para tentar resolver o volume de overbooking que existia que ultrapassava em 200 milhões de euros o montante global. O Executivo decidiu passar de uma taxa de 15%, para 16% em 2017 e 2018; até 19% em 2019 e até 23% em 2020 e anos seguintes.

Até março de 2019, o PDR2020 apoiou mais de 288 mil projetos, num total de 3,48 milhões de euros de apoio comunitário, que alavanca um investimento de 5,92 milhões de euros. Além disso, tem uma taxa de execução de 54%, a mais elevada do Portugal 2020.

Associação Lusomorango está preocupada com desenvolvimento no Perímetro de Rega do Mira

Lisboa, 28 mai 2019 (Lusa) - A Lusomorango, associação de 42 produtores agrícolas de pequenos frutos, enviou hoje uma carta a várias entidades, incluindo o Presidente da República, a manifestar as suas preocupações relativas ao desenvolvimento do Perímetro de Rega do Mira (Sudoeste Alentejano).

28 Maio 2019 — 14:48

De acordo com o documento a que a Lusa teve acesso, a associação, que representou no ano passado mais de um quarto (26%) das exportações do setor, salienta que a área do Perímetro de Rega do Mira, é "um dos territórios em Portugal com maior potencial agrícola", mas "os instrumentos de gestão territorial atualmente existentes não permitem explorar de forma consistente esse potencial".

Em causa está a situação dos trabalhadores imigrantes, alojamentos e ainda entraves ao processo de expansão agrícola.

Na carta, enviada a Marcelo Rebelo de Sousa, ao primeiro-ministro, António Costa, e aos ministros da Administração Interna, Agricultura, Economia e Ambiente, a Lusomorango sublinha que "está empenhada no diálogo institucional" e que nos últimos anos envolveu-se em dois grupos de trabalho, tendo apresentado propostas concretas na área do trabalho e do ambiente.

"Acreditamos que o diálogo institucional é a via para o desenvolvimento, mas a multiplicidade de entidades envolvidas neste diálogo, por um lado, e algum imobilismo de algumas dessas entidades em solucionar questões prementes, por outro, têm causado, senão um retrocesso, pelo menos um travão quanto às respostas que o setor merece e que, estamos certos, o território precisa", refere.

"A situação da escassez de mão-de-obra disponível para trabalhar na agricultura levou a que as empresas se vissem na contingência de recorrer a trabalhadores estrangeiros", prossegue a associação, salientando que no universo das empresas que integram a Lusomorango "trabalham cerca de 2.200 pessoas de mais de 30 nacionalidades".

Dos 205 milhões de euros que o setor dos pequenos frutos exportou no ano passado, que já representa 30% do valor da exportação de frutas nacionais (689 milhões de euros), "26% teve origem na Lusomorango: amoras, framboesas, mirtilos e morangos", o que corresponde a 54 milhões de euros (99% é vendido aos mercados externos).

A associação destaca o contributo dos trabalhadores imigrantes nos resultados das empresas associadas, mas adianta que estes "merecem mais" de Portugal, "desde logo condições mais dignas para as suas vidas e para a suas famílias".

"As empresas da Lusomorango, conscientes das suas responsabilidades, já apresentaram soluções de alojamento que, invariavelmente, esbarram em burocracias labirínticas", aponta, considerando que as empresas "estão muito mais avançadas na sua disponibilidade para integrar estes trabalhadores migrantes do que as entidades públicas, que não têm resposta, mas que também não aceitam as soluções propostas".

Manifestando querer fazer parte da solução, já que se trata de um setor que garante a "preservação da biodiversidade e do equilíbrio dos ecossistemas", bem como a agricultura permite "fixar populações e desenvolver o território" e ser "um travão aos incêndios, ao abandono e à desertificação", a Lusomorango considera que "é preciso um decisor capaz de olhar para o território de uma forma estratégica e de funcionar como um efetivo impulsionador de um diálogo que seja consequente".

Adianta que a Universidade Católica, a pedido da associação, "está a concluir um estudo sobre o impacto do crescimento da hortofruticultura na economia de Odemira, cujos resultados preliminares apontam para vendas estimadas de 211 milhões de euros em 2017.

Alentejo e Algarve querem centro que investigue agricultura e ambiente no Mediterrâneo


Évora, 28 mai 2019 (Lusa) -- Quatro centros de investigação do Alentejo e Algarve "juntaram esforços" e querem criar um centro único especializado em investigar temas de agricultura e ambiente no Mediterrâneo, para responder a novas necessidades face às alterações climáticas.

28 Maio 2019 — 18:07

"Estes quatro centros atuam em áreas complementares e, como somos todos focados sobre sistemas do Mediterrâneo, achámos que faria sentido juntarmos esforços", destacou hoje à agência Lusa Teresa Pinto Correia, diretora do Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas (ICAAM) da Universidade de Évora (UÉ).

O projeto do centro MED - Mediterranean Institute for Agriculture, Environment and Development, já candidatado à Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), a ser aprovado, irá permitir aos quatro centros envolvidos "aumentarem a sua massa crítica e o tipo de sistemas acerca dos quais podem dar resposta em termos de investigação", acrescentou a responsável.

A criação do MED (que em português pode ser traduzido como Instituto para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento no Mediterrâneo) é fruto de uma parceria entre três centros de investigação alentejanos e um algarvio.

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Do Alentejo, a iniciativa tem a participação do ICAAM e do Polo de Évora do Cibio - Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, ambos da UÉ, assim como do Centro de Biotecnologia Agrícola e Agroalimentar do Alentejo (CEBAL), localizado em Beja.

O MeditBio - Centro para os Recursos Biológicos e Alimentos Mediterrânicos da Universidade do Algarve é a outra unidade de investigação participante no projeto.

Caso a FCT aprove a candidatura "apresentada no ano passado" e que ainda se encontra "em fase de avaliação", disse hoje Teresa Pinto Correia, o centro MED vai ter cerca de 180 investigadores doutorados.

"E será a única unidade de investigação na integração entre agricultura, alimentação, desenvolvimento rural e ambiente" a existir "no sul do país", destacou o ICAAM.

A diretora do ICAAM explicou que os centros envolvidos, "como estão no sul do país, têm um foco maior sobre os sistemas produtivos e os ecossistemas do Mediterrâneo".

"Um atua do lado da conservação e das alterações climáticas, outro na agricultura e no território, outro na área da biotecnologia e o outro nas questões da produção de hortícolas e frutícolas. Podemos cruzar todas estas áreas e potenciar a nossa investigação", argumentou.

E, "face às questões das alterações climáticas, ainda é mais necessário" apostar nesta investigação aplicada especializada no Mediterrâneo, defendeu.

"É muito difícil manter os sistemas da forma como têm vindo a ser desenvolvidos, porque eles tem de se adaptar a condições novas e temos de tentar minimizar os impactos negativos. Por isso, o objetivo do MED é fazer investigação que responda às questões práticas e, sobretudo, às que têm a ver com as novas necessidades face às alterações do clima", frisou.

Para dar visibilidade à investigação que já é desenvolvida nos quatro centros que pretendem criar o MED e dar visibilidade ao projeto, o Polo da Mitra da UÉ vai acolher, nos dias 27 e 28 de junho, as primeiras Jornadas MED, que têm como tema central "A Agricultura e o Ambiente no Mediterrâneo".

Os primeiros robôs capazes de substituir os trabalhadores agrícolas já estão a ser testados


SOCIEDADE 28.05.2019 às 16h40


O primeiro robô capaz de colher, em média, mais 10 mil framboesas por dia do que um trabalhador humano, foi testado pela primeira vez no Reino Unido, e parece ter várias vantagens comparativamente com os trabalhadores

Custa mais de 7900 euros, mas é capaz de colher mais de 25 mil framboesas por dia enquanto um trabalhador, em oito horas de trabalho, colhe em média apenas 15 mil.

Este robô foi desenvolvido pela Fieldwork Robotics, uma empresa da Universidade de Plymouth, em parceria com Hall Hunter, um dos principais produtores de bagas da Grã-Bretanha que fornece as maiores cadeias de supermercados do país.

Trata-se de uma máquina sob rodas com 1.80 metros de altura e um braço robótico que, guiado por sensores e câmaras 3D, mede a framboesa para calcular a sua idade, arranca a fruta com a suas pinças e deposita-a num tabuleiro lateral onde esta é depois classificada por maturidade, antes de ser transportada para cestos, pronta para ser encaminhada para os supermercados. Só para colher cada baga, a máquina demora cerca de um minuto, contudo, a versão final do robô, que deverá entrar em produção no próximo ano, terá quatro pinças, todas capazes de colher em simultâneo durante 20 horas, uma vez que.... as máquinas não se cansam.

Segundo Rui Andres, responsável pelo portfólio de um dos patrocinadores do projeto, o maior desafio tem sido conseguir que os robôs se adaptem a diferentes condições de luz. Andres disse ainda que os agricultores britânicos normalmente pagam 1 a 2 libras para que um quilo de framboesas seja colhidas por trabalhadores, enquanto a Fieldwork pretende alugar os seus robôs por menos que isso. Alguns produtores já manifestaram interesse devido à pressão do aumento do salário mínimo, que faz com que a mão-de-obra represente metade dos seus custos de produção.

O robô é uma criação de Martin Stoelen, professor de robótica na Universidade de Plymouth, que passou da engenharia aeroespacial para os robôs, inspirando-se na fazenda dos seus avós na Noruega. Ao abordar primeiro um dos frutos de baga mais difíceis, ele espera ser capaz de ajustar a tecnologia para que o robô possa ser usado para colher outras bagas, frutas e vegetais. Testes realizados na China confirmam esta previsão e indicam que o robô será em breve capaz de colher também tomates e couve-flor.

Além disso, os robôs também começam a ser utilizados para lavrar os campos, plantar várias culturas e ordenhar vacas, como parte de uma tendência a longo prazo de automação na agricultura. A empresa inglesa Small Robot Company está a testar três robôs, com uma aparência semelhante a uma aranha sobre rodas, a que deu o nome de Tom, Dick e Harry. Estas três máquinas semeiam, alimentam, eliminam ervas daninhas e monitorizam culturas como o trigo, de forma mais suave do que as máquinas agrícolas pesadas, reduzindo a necessidade de água e pesticidas.

Estas inovações tecnológicas surgem numa altura em que a indústria agrícola no Reino Unido luta contra o aumento dos custos de mão-de-obra e a escassez de trabalhadores sazonais. Entre as causas para a redução do número de trabalhadores, particularmente aqueles provenientes da Europa Oriental, está o medo das possíveis consequências do Brexit e o crescimento económico da Polónia e a Roménia, o que leva a que muitos trabalhadores acabem por permanecer nos seus países de origem. Os produtores de bagas e de maçãs foram os mais afetados pela escassez de mão de obra. Nicholas Marston, presidente do organismo comercial British Summer Fruits (BSF), afirma que os fruticultores tiveram menos 15% a 30% dos apanhadores sazonais no verão passado. Mas Marston adverte: "Serão necessários 10 anos para que os robôs funcionem de forma tão eficaz quanto as pessoas."