sábado, 15 de agosto de 2020

Covid-19: Ministério da Agricultura antecipa 112 milhões de euros do Pagamento Único



Jornal Económico com Lusa 15 Agosto 2020, 12:28
Será igualmente feito um pagamento de 31 milhões de euros na medida de apoio à Produção Integrada e de 11 milhões de euros na medida de apoio à Agricultura Biológica, desde que reunidas as condições regulamentares relativas ao controlo prévio ao pagamento.

O Ministério da Agricultura anunciou hoje o pagamento, durante o mês de agosto, dos adiantamentos das ajudas incluídas no Pagamento Único (PU2020), no valor de 112 milhões de euros, dirigido a cerca de 137 mil beneficiários.

Em comunicado, o Ministério da Agricultura refere que, de acordo com a regulamentação comunitária, será feita uma antecipação extraordinária do pagamento aos agricultores de 70 milhões de euros na medida de apoio à Manutenção da Atividade Agrícola em Zonas Desfavorecidas.

Será igualmente feito um pagamento de 31 milhões de euros na medida de apoio à Produção Integrada e de 11 milhões de euros na medida de apoio à Agricultura Biológica, desde que reunidas as condições regulamentares relativas ao controlo prévio ao pagamento.

Os pagamentos em questão, esclarece o Ministério, são cofinanciados pelo FEADER (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional) e obrigam a uma antecipação das dotações do Orçamento do Estado no valor de cerca de 25 milhões de euros.

De acordo com o comunicado, este ano, devido à pandemia, o período de candidaturas prolongou-se, de final de maio até 10 de julho, pelo que só a partir desta data puderam começar os trabalhos que habitualmente se desenvolvem entre maio e outubro.

"Foi assim possível, graças a uma extraordinária dedicação e a um enorme esforço do Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP), a concretização desta antecipação extraordinária", disse a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes.

Segundo a ministra, a antecipação pela primeira vez para agosto destas ajudas "é uma forma de reconhecimento do papel importante da Agricultura e dos agricultores portugueses que permitiram que as cadeias de produção e abastecimento em Portugal funcionassem durante todo este tempo difícil e que continuássemos, embora com constrangimentos, a crescer nas exportações".

O adiantamento das ajudas das medidas incluídas no Pedido Único das Ajudas (PU) tem sido pago aos agricultores em outubro, nunca tendo sido processado antes deste mês desde que as atuais regras comunitárias estão em vigor.

As ajudas no âmbito do PU, em 2020, foram aumentadas em 112 milhões de euros face ao ano anterior, valor que corresponde a um aumento de 85 milhões de euros nos pagamentos diretos e 27 milhões de euros na medida de Manutenção da Atividade Agrícola em Zonas Desfavorecidas.

Crise é oportunidade para agricultura portuguesa



Luís Ribeiro, administrador do Novo Banco, considera que a crise dos últimos meses é um desafio, mas também uma oportunidade para o setor da Agricultura
Arecente crise relacionada com a pandemia da Covid-19, bem como as prioridades estratégicas da Europa vertidas no plano de recuperação, é uma oportunidade para as empresas nacionais ligadas à Agricultura. É essa a visão de Luís Ribeiro, administrador do Novo Banco com o pelouro do retalho e do segmento de negócios, expressa em entrevista à EXAME, como parte da parceria relativa às PME Líder.

Temos a perceção de que a Agricultura, enquanto atividade económica, mudou muito nos últimos anos. Confirma esta mudança? A que se deve?

Sim, efetivamente registou uma evolução muito positiva. Temos vindo a assistir a um volume significativo de investimento a par de um rejuvenescimento e crescente profissionalização do setor. Os nossos empresários agrícolas investiram e as empresas ganharam dimensão, apostaram em novas culturas e adotaram técnicas inovadoras. Paralelamente, também se verificou uma melhoria nas cadeias de comercialização e a aposta em novos mercados. Tudo isto contribui para o aumento do peso do setor na nossa economia.

O Novo Banco tem mantido ao longo dos anos uma postura muito próxima do tecido empresarial. Como se posiciona particularmente o Setor Agrícola em termos de abordagem comercial do Banco?

É estratégico e está na mesma linha de prioridade que a Indústria, o Turismo ou os Serviços. Com a profissionalização do setor de que já falei, é natural que a liderança, capacidade de gestão e perspetivas de crescimento e rentabilidade das empresas agrícolas estejam ao nível das restantes. Adicionalmente e ao longo do tempo, tem tradicionalmente demonstrado uma maior resiliência. Por isso procuramos colocar à disposição dos nossos clientes do setor agrícola, todo o nosso conhecimento, através de um conjunto de Soluções que visam suprir todas as suas necessidades específicas: de tesouraria inerentes aos diferentes ciclos de produção através de crédito de curto prazo, de investimento ajustadas às diferentes culturas com crédito de médio longo prazo, bem como de apoio às exportações ou soluções para fidelizar os seus colaboradores.

A crise dos últimos meses mostrou-nos que as cadeias de abastecimento globais poderão ser difíceis de repor. Isso deve ser considerado como um desafio adicional para o setor?

É sem dúvida um desafio, mas para um país como Portugal, que ainda é deficitário em muitos produtos, é também uma oportunidade.

Não são só as cadeias de abastecimento que mudaram, o comportamento dos clientes e as suas preferências também se alteraram, e isso é uma oportunidade para o setor crescer no relacionamento com os seus clientes. O desenvolvimento da logística, que permite alavancar imenso as vendas online, encurtando prazos de chegada dos produtos diretamente do produtor ao consumidor, terá um efeito positivo no médio prazo. Esta perceção do mercado, de produtos frescos vindos do produtor e de elevada qualidade, será uma alavanca que virá do lado do mercado nacional.

Os produtos 'made in Portugal', não só os frescos, mas também os transformados, estão muito bem cotados e podemos e devemos aproveitar as necessidades dos nossos parceiros tradicionais da União Europeia para substituir alguns exportadores de fora do nosso espaço económico

Já quanto aos mercados externos, os produtos "made in Portugal", não só os frescos, mas também os transformados, estão muito bem cotados e podemos e devemos aproveitar as necessidades dos nossos parceiros tradicionais da União Europeia para substituir alguns exportadores de fora do nosso espaço económico. Para isso há desafios adicionais, que passam pela certificação internacional dos produtos e pelo ganho de escala – que se pode conseguir através do associativismo agrícola através de organizações de produtores.

Os nossos empresários são resilientes e têm uma forte capacidade de adaptação, pelo que irão certamente colher os frutos destas novas oportunidades.

O plano de recuperação europeu poderá contribuir para um reforço do investimento na agricultura portuguesa. Que tipo de projetos poderão beneficiar com a previsível estratégia da UE e de Portugal para este setor?

Não tendo ainda todos os detalhes do plano, é expectável uma forte aposta na sustentabilidade, na digitalização e na economia verde. As verbas a disponibilizar, em sede de Política de Coesão e que visam apoiar a diversificação da economia, e de Política Agrícola Comum no aproveitamento dos recursos endógenos, quando articulados e materializados em reforço de infraestruturas produtivas e que se complementam, sem dúvida que sim, que irão contribuir para o desenvolvimento da economia em geral e também do setor agrícola.

Adicionalmente acrescentarão valor todos os Investimentos ao nível da rede de transportes que venham a facilitar a logística da distribuição, a nível europeu, encurtando os prazos da entrega dos produtos, assim como seria muito relevante conseguir-se otimizar e ampliar as zonas de regadio, nunca descurando a melhoria dos padrões de racionalização e sustentabilidade dos sistemas de rega.

Por outro lado, também serão alavancas de crescimento da agricultura, os incentivos aos investimentos na indústria agroalimentar, como grande consumidora de produtos para transformação, bem como todo o investimento em termos de transição digital, que apoiará transversalmente a economia e também o setor primário.

As empresas do setor agrícola têm sido resilientes nesta fase de quebra económica. A procura por crédito tem sido mais para realizar novos investimentos ou para suprir necessidades de tesouraria?

Como já referi, as empresas agrícolas têm as mesmas necessidades que todas as outras empresas e, adicionalmente, tem a particularidade de não podermos interromper os ciclos da natureza e consequentemente das culturas. Isso faz com que, ao contrário de outros setores, a atividade das empresas agrícolas, pelo menos no que concerne à produção, não se alterou e grosso modo se mantiveram os níveis de pedidos de apoio creditício.

Como as empresas agrícolas nunca pararam, foi necessário continuar a suprir as necessidades em termos de apoio à tesouraria, com especial destaque para a aplicação dos tradicionais créditos de campanha ou antecipação de recebimentos via factoring, e também foi necessário continuar a apoiar a aquisição de fatores de produção e de equipamentos.

E como é um setor que produz bens essenciais e com mercado, os projetos de investimento que estavam em curso continuaram a ser desenvolvidos e apoiados em termos de crédito e registamos mesmo o facto de que temos continuado a ser desafiados para novos projetos, que continuamos a analisar e querer apoiar.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

“Agricultura de sequeiro continua a ser necessária e imprescindível”


Em entrevista concedida ao "CA", a ministra da Agricultura faz um retrato do sector na região, onde o regadio floresce e o sequeiro passa por grandes dificuldades. Ainda assim, Maria do Céu Antunes garante que o sequeiro associado à pecuária continua a ter futuro no Baixo Alentejo.
"A manutenção de actividades de agricultura de sequeiro nos concelhos indicados continua a ser não apenas necessária como imprescindível. É importante para assegurar níveis adequados de rendimento dos agricultores existentes na região e também para promover os produtos endógenos, apreciados e procurados pela gastronomia regional e pela restauração", frisa a governante.

Em que medida foi o Alqueva fundamental para abrir "novos horizontes" na agricultura alentejana?
A carência de água nesta região foi, ao longo dos anos, um dos principais condicionalismos ao desenvolvimento da agricultura alentejana, impedindo a sua modernização e fragilizando as suas possibilidades de sustentabilidade. Com o Alqueva foi criada a maior reserva estratégica de água da Europa, que tem como objectivo o desenvolvimento económico e social da região aonde se insere, através da garantia do recurso água.Com a disponibilidade de água surgiram novas oportunidades – novas culturas regadas com rendimentos muito superiores aqueles que se verificam nas culturas de sequeiro. A garantia de abastecimento deu a segurança necessária para se concretizar um processo de reconversão a uma velocidade muito superior ao que estávamos habituados a observar. Grandes e pequenos projectos de instalação foram rapidamente executados, muitos com o apoio dos fundos comunitários – através do PDR –, trazendo novos agentes económicos à região, criando emprego e riqueza.Actualmente são regados mais de 100 mil hectares com origem em Alqueva, de forma extremamente eficiente e fazendo uso das melhores técnicas e tecnologias de apoio. Até a paisagem mudou muito rapidamente, mas esta mudança foi desejada, planeada e concretizada de acordo com os critérios mais rigorosos de respeito ambiental.

O crescimento das monoculturas intensivas na região, com o olival à cabeça, não são um risco?
Em teoria, as monoculturas não são desejáveis pelos desequilíbrios ecológicos que podem provocar. Mas não podemos deixar de quantificar a realidade para ficarmos com a perspetiva correcta: o Alentejo tem 1,9 milhões de hectares de superfície agrícola utilizada e o projecto Alqueva rega 63 mil hectares de olival. Os agricultores têm uma enorme consciência ambiental e uma grande maioria deles opta por sistemas certificados concebidos para minimizar os impactos das suas culturas, como a produção integrada ou a produção biológica. Muitas práticas ecológicas, como a manutenção de enrelvamento permanente na entrelinha, são hoje as mais frequentes e têm provas das suas vantagens ambientais e económicas. Há medidas eficazes e de baixo custo que podem reduzir de forma significativa os riscos ecológicos das grandes áreas com a mesma cultura, como são exemplo o fomento das zonas de abrigo e alimentação dos auxiliares biológicos, a instalação de caixas-abrigo para morcegos ou a instalação de espécies produtoras de pólen nas bordaduras e terrenos marginais para o fomento dos insectos polinizadores, a manutenção das quercíneas isoladas permanentes ou a preservação dos charcos temporários mediterrânicos. Portugal precisa de zonas de agricultura de elevada produtividade e de zonas de agricultura de conservação. O Alqueva tem todas as condições para se consolidar como um excelente exemplo de intensificação sustentável, onde a produção intensiva anda de braço dado com o respeito do ambiente.

Qual o maior desafio que se coloca à agricultura nesta região?
O maior desafio é, sem dúvida, o efeito provocado pelas alterações climáticas, com períodos de seca prolongados, aleatoriedades climatéricas e subida de temperatura. As suas consequências começam a fazer-se sentir em territórios mais fragilizados em termos de solo, com baixos níveis de pluviosidade e forte exposição solar, como é o caso do Baixo Alentejo. A adaptação a esta situação é da maior importância numa área em que na maior parte não existem alternativas à agricultura na ocupação do solo. A expansão actual do perímetro de rega do Alqueva é estruturante neste domínio. A adopção de práticas adequadas no quadro do uso eficiente dos recursos, a utilização de recursos vegetais e animais mais resistentes às novas condições climatéricas ou a operacionalização de sistemas de gestão do risco são vias a percorrer no futuro.

Muitos agricultores e dirigentes associativos consideram que o próximo passo que a agricultura alentejana tem de dar é o de garantir a transformação dos produtos na região. O que falta para haver mais agro-indústria no Baixo Alentejo? Qual a estratégia do Governo nesse sentido?
O desenvolvimento da agro-indústria local é um elemento positivo para a agricultura. Neste ciclo de políticas comunitárias (2014-20), o PDR aprovou cerca de 40 projectos de transformação e comercialização de produtos agrícolas no Baixo Alentejo, representando um investimento total de cerca de 60 milhões de euros. No futuro, os apoios à transformação de produtos agrícolas continuarão a existir, mas a decisão de investimento é dos empresários e na sua avaliação pesarão factores como a proximidade da produção, mas também a dos locais de consumo, a disponibilidade de infra-estruturas e redes ou a existência de mão-de-obra. No quadro das políticas de valorização do interior, a influência sobre todos estes factores terá que estar presente.

Entende que a agricultura de sequeiro (como a que se pratica em zonas como os concelhos de Castro Verde, Almodôvar ou Mértola, onde não há regadio) continua a ser necessária e a ter viabilidade?
A manutenção de actividades de agricultura de sequeiro nos concelhos indicados continua a ser não apenas necessária como imprescindível. É importante para assegurar níveis adequados de rendimento dos agricultores existentes na região e também para promover os produtos endógenos, apreciados e procurados pela gastronomia regional e pela restauração. Por outro lado, a existência de sistemas de produção em regime de sequeiro assentes em rotações cereal-pousio, permitem criar condições que preservam a avifauna associada ao eco-sistemaestepário, o qual tem vindo a ser apoiado por medidas específicas de cariz agro-ambiental no PDR2020. A viabilização das actividades agrícolas deverá ser abordada de forma integrada, na medida em que se deverão promover de forma gradual não apenas as actividadesdirectamente associadas à produção de alimentos, mas também outras oportunidades de negócio que levem à diversificação de rendimentos e promovam uma maior resiliência ambiental e climática do sector, nomeadamente através da produção de bens públicos. São de destacar, por exemplo, as actividades complementares associadas à apicultura, às actividades de turismo de natureza e observação de avifauna, às actividades de conhecimento, como arqueológicas, culturais, gastronómicos e de lazer.

Que estratégia tem o Governo para a dinamização da agricultura de sequeiro e para apoiar estes agricultores?
Neste âmbito, e para além das medidas preconizadas no 1º Pilar da Política Agrícola Comum (PAC), em termos de pagamentos directos aos agricultores, e no PDR2020, em particular, através de medidas específicas para apoio agro-ambiental, são de salientar a Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais (ENPPC) e a Estratégia Nacional para a Agricultura Biológica (ENAB). A ENPPC, aprovada em 2018, visa reduzir a dependência externa, consolidar áreas de produção, criar valor na fileira dos cereais e viabilizar a actividade agrícola em todo o território, e está assente em quatro pilares: organizações de produtores; organização ao longo da fileira; inovação e transferência de conhecimento; e, finalmente, a PAC como principal instrumento de apoio à estabilização do rendimento dos agricultores. O nossoobjectivoé aumentar o grau de auto-aprovisionamento nos cereais praganosos – como trigo mole, trigo duro, centeio, cevada, aveia e triticale – em 20%. Para tal, destacam-se medidas como a redução dos custos de energia, a dinamização da produção nacional de semente certificada e de genética nacional, o reforço de meios de luta contra agentes bióticos e a promoção da capacitação técnica e melhoria dos meios disponíveis para experimentação e prestação de serviços no âmbito da agricultura de precisão ao nível das OP.

E relativamente à ENAB?
Em Julho de 2017 foi aprovada a ENAB e o Plano de Acção (PA) para a Produção e Promoção de Produtos Agrícolas e Géneros Alimentícios Biológicos. A ENAB, definida para um horizonte temporal de 10 anos (2017-2027),procura fomentar, designadamente, a expansão das áreas de produção biológica nos sectores da agricultura e da pecuária, através da melhoria da sua viabilidade técnica e do reforço da sua atractividade económica. Com esta estratégica pretendemos aumentar a oferta de produtos agrícolas e agro-alimentares obtidos em produção biológica, promovendo a sua competitividade e a sua rentabilidade comercial nos mercados interno e a abertura de novos mercados, a promoção da sua notoriedade, da sua disponibilidade do reforço da confiança e credibilidade junto do consumidor. Ou seja, estas duas estratégias [ENPPC e ENAB] visam, nos seus domínios específicos, incentivar a produção de produtos locais, utilizando modos de produção mais sustentáveis e mais adaptados aos cenários climáticos futuros.Paralelamente às estratégias assinaladas, é, ainda de referir o papel decisivo dos apoios da PAC, que visam, para além da melhoria do rendimento dos agricultores, da promoção e da modernização do sector, limitar algumas das fragilidades associadas aos territórios rurais, cuja principal ameaça está ligada ao despovoamento e envelhecimento da população e ao consequente esvaziamento económico, com repercussões na competitividade territorial, constituindo-se como uma ameaça à manutenção dos valores naturais, paisagísticos, culturais e das condições sociais que lhe estão associados.

Entrevista publicada no destaque "Campo", editado pelo "Correio Alentejo" na sua edição de 7 de Agosto

domingo, 9 de agosto de 2020

Vinho. Medidas de crise com 6,8 milhões de euros por atribuir


Números preliminares das candidaturas mostram que os vitivinicultores nacionais se propõem destilar 12 milhões de litros, recebendo, por isso, 8,6 milhões de euros, e armazenar mais de 24 milhões de litros. Apoios totalizam 2,5 milhões de euros; Douro foi a região que mais candidaturas apresentou a ambas as medidas.


Vinho. Medidas de crise com 6,8 milhões de euros por atribuir


Osector reclamou e o Estado reforçou as verbas para as medidas de crise para o vinho com mais três milhões de euros, fazendo subir o valor total dos apoios para 18 milhões. Afinal, as candidaturas ficaram longe de esgotar sequer a dotação, ficando 6,8 milhões de euros por atribuir. A ministra da Agricultura promete que esta verba ficará disponível para outras iniciativas que possam vir a ser necessárias em função da evolução da situação do mercado.

"Continuamos a acompanhar o evoluir da situação da crise pandémica de forma a ajustar atempadamente todas as medidas que a Comissão Europeia disponibiliza e estaremos sempre atentos às necessidades do sector", avançou, em declarações ao Dinheiro Vivo, Maria do Céu Antunes.

Em causa estão as medidas de apoio à destilação e ao armazenamento de vinho, às quais o Ministério da Agricultura havia afetado, inicialmente, 10 milhões e cinco milhões, respetivamente. E que reforçou, a 18 de julho, para um total de 12 milhões para a destilação e de seis milhões para a guarda, prolongando as candidaturas até ao final de julho. E os dados preliminares do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) mostram que, afinal, o dinheiro extra alocado não foi necessário, embora a alteração das regras, que acompanhou o reforço de dinheiro, permitindo aumentar de 40 para 60 cêntimos por litro o preço da destilação de crise dos vinhos com Denominação de Origem e de 30 para 45 cêntimos nos vinhos com Indicação Geográfica, e majorando estes valores para regiões com viticultura em zona de montanha, tenha levado a um aumento substancial das candidaturas.

O Douro, por exemplo, que poucas candidaturas havia apresentado na versão inicial dos apoios, lidera agora os pedidos, quer na destilação, quer no armazenamento. Assim, dos 12,426 milhões de litros de vinho que os produtos se propõem queimar, de modo a evitar excedentes que levem a uma desvalorização das uvas na próxima vindima, 4,355 milhões são de vinhos da região duriense, a esmagadora maioria dos quais com DOC. Correspondem a, grosso modo, 3,265 milhões de euros, de um total de 8,631 milhões de euros candidatados a nível nacional.

Em segundo na tabela surgem os produtores da Região dos Vinhos Verdes, que se propõem enviar para destilação mais de 2,923 milhões de litros pelos quais receberão 2,165 milhões de euros. E, em terceiro, surgem os vitivinicultores alentejanos, que candidataram à queima quase 1,9 milhões de litros, que darão direito a um apoio de 1,092 milhões de euros.

Embora com apoios menores, naturalmente, já que se trata apenas de comparticipar no esforço de guarda dos vinhos à espera de melhores condições para os introduzir no mercado, a medida de crise de apoio ao armazenamento foi a preferida pelos vitivinicultores. Deram entrada nos serviços do IVV 286 candidaturas para apoios ao armazenamento de 24,271 milhões de litros de vinho (quase o dobro do que vai ser destilado), a que correspondem apoios de 2,540 milhões de euros.

O apoio médio por candidatura é de 8.881 euros para uma média de 85 dias de armazenamento. Mais uma vez o Douro lidera, com 87 candidaturas, referentes a quase 719 milhões de litros e a um apoio potencial de 719 mil euros. Segue-se o Alentejo, com 50 candidaturas correspondentes à intenção de guardar 505 milhões de litros de vinho, a que corresponde um apoio estimado de 552 mil euros. Em terceiro lugar, surge a região de Lisboa, que não apresentou qualquer candidatura para destilação de vinhos com denominação de origem (só para vinhos com Indicação Geográfica e, mesmo assim, apenas para 576 mil litros), mas cujos vitivinicultores pretendem apoio para armazenar, à espera de melhores condições de mercado, quase 205 milhões de litros, o que lhes dará um apoio potencial de 226 mil euros.

Para o presidente do IVV, os dados das candidaturas aos apoios de crise são "um sinal de que o sector está, apesar de tudo, saudável", sendo de destacar que, à porta das vindimas, "o nível de stocks excedentários não é tão alto como alguns temiam". Bernardo Gouvea mostra-se "satisfeito" por a medida de destilação ter chegado para todos, e ainda sobrado, não obrigando ao rateio das verbas.

No caso do Douro, além destas medidas, o Governo aprovou ainda o desbloqueio de cinco milhões de euros do saldo de gerência do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) para a criação de uma reserva qualitativa específica para o vinho do Porto que permitirá produzir 10 mil pipas adicionais, elevando a produção autorizada (vulgo benefício) para 102 mil pipas na próxima vindima, sendo que a reserva qualitativa ficará guardada nos primeiros três anos e será, depois, introduzida gradualmente no mercado nos sete anos seguintes, em função das necessidades.

Exportações voltam a terreno positivo em junho e crescem 16%
As exportações de vinho cresceram 16% no mês de junho para um total de 65,2 milhões de euros, mais nove milhões de euros do que em igual período de 2019. Apesar desta recuperação, o sector não conseguiu ainda anular as quebras de 4% em abril e de 18% em maio, pelo que, no acumulado do primeiro semestre, as empresas portuguesas de vinho exportaram menos 0,9%, no valor total de 365 milhões de euros. O presidente do Instituto da Vinha e do Vinho admite que a quebra no semestre "é preocupante", mas mostra-se convicto que a situação se poderá alterar rapidamente.

"Ainda estamos a analisar os números, mas é muito preocupante fecharmos o semestre negativos", admite Bernardo Gouvea, em declarações ao Dinheiro Vivo, sublinhando que o comportamento das exportações foi "totalmente díspar" entre os destinos europeus e extracomunitários. Na verdade, as exportações para a União Europeia caíram 14% no acumulado do semestre (embora, só no mês de junho, já tenham crescido 9,5%) para 173,8 milhões de euros, quanto as vendas para países terceiros cresceram 15,5% para 191,2 milhões.

"É sempre mais difícil recuperar nos países terceiros, ou seja, se conseguirmos manter esta dinâmica de crescimento, assim que a Europa começar a recuperar, as nossas exportações recuperarão mais rapidamente", acredita Bernardo Gouvea. E os dados de junho parecem ajudar: as vendas de vinhos para fora da União Europeia dispararam 23,9% para 31,7 milhões de euros, um aumento de seis milhões face a igual mês do ano passado.

Em termos dos principais mercados, a França está a cair 9,9%, para 50 milhões de euros, embora no mês de junho já tenha crescido 20,8%, e a Alemanha perde 4,75% para 24,3 milhões (em junho cresceu mais de 20%). Mas a Holanda já cresce no acumulado do semestre 5,3% para 19,149 milhões e o Reino Unido também: 14,5% para 29,4 milhões de euros. Em terreno positivo estão, também, os Estados Unidos e o Canadá, a crescer, respetivamente, 9,9% e 11,32% para 23,5 milhões e 44,8 milhões de euros. O Brasil desliza 0,9% para 22,3 milhões de euros.