quarta-feira, 27 de março de 2019

Falta de água. Cristas acusa Governo de não ter soluções


Presidente do CDS diz que o executivo liderado por António Costa só vai "resolver situações quando elas já acontecem" em vez de tratar dos problemas de forma estrutural

22 Março 2019 — 20:07

Seca mantém-se apesar da chuva e já há a gado a "lamber a lama"
A líder do CDS-PP acusou esta sexta-feira o Governo de não ter soluções para resolver o problema estrutural da falta de água em diversas regiões do país, apesar dos sucessivos avisos do partido no parlamento para a urgência do problema.

"O ano passado assistimos Viseu a ser abastecida com camiões-cisterna. Este ano, perante esta dificuldade, o que vemos é o Governo também dizer que já tem esses camiões preparados. O Governo vai sempre a reboque", disse Assunção Cristas durante uma visita à barragem do Pego do Altar, em Alcácer do Sal, distrito de Setúbal, para assinalar o Dia Mundial da Água.

Segundo a presidente do CDS-PP, o executivo, liderado pelo socialista António Costa, "vai sempre resolver situações quando elas já acontecem".

"Não vemos o Governo empenhado em tratar estes problemas de forma estrutural, com uma visão a médio e longo prazos. O CDS tem-se empenhado, muitas vezes, no parlamento, a trazer essa visão, instando o Governo a que faça estudos sobre a armazenagem de água", acrescentou.

Manifestando grande preocupação com o problema da falta de água, Assunção Cristas afirmou que se tivesse de elencar dois assuntos estruturais da maior relevância para o país, provavelmente, um deles seria a água (o outro seria a demografia, realçando que "uma boa parte do território já está em seca moderada, uma parte pequena em seca severa".

Confrontar o ministro da agricultura
"A água é, de facto, uma questão estrutural, não apenas aqui para Alcácer do Sal, onde estamos, na barragem do Pego do Altar", declarou, após ouvir alguns agricultores da região defenderem a necessidade de se construírem pequenas barragens que iriam reforçar a capacidade de armazenamento de água para a produção de arroz, única cultura que é possível fazer naquela região alentejana, devido à salinidade dos solos.

Convicta de que o executivo não tem dado a devida atenção ao problema da falta de água, Assunção Cristas promete voltar a questionar o ministro da Agricultura, que acusa de ter perdido a oportunidade de resolver alguns destes problemas nos últimos quatro anos.

"O senhor ministro da Agricultura, há quatro anos, já podia ter preparado os planos para desenvolver, a sério, o regadio em várias zonas do país. E não só isso. Em conjunto com o ministro do Ambiente, poderia também ter escolhido as zonas do país onde precisamos de investimentos para barragens de dimensões diferentes, umas maiores, de fins múltiplos, outras mais pequenas", acrescentou.

Para Assunção Cristas, o Governo, "que está refém das esquerdas, o que tem é um acordo que lhe permite governar, mas onde a palavra barragem é simplesmente riscada e postergada de qualquer hipótese de desenvolvimento e de investimento", reiterando que o executivo "já vai atrasado muitos anos no estudo e no planeamento dos investimentos necessários um pouco por todo o país" e não apenas para o setor da agricultura.


Observatório diz que recuperação da produção agrícola levará anos


MOÇAMBIQUE 21-03-2019 19:00

Lusa
O diretor-executivo do Observatório do Meio Rural, João Mosca, admitiu hoje que a recuperação da produção agrícola do centro de Moçambique poderá levar vários anos, pelo que o país precisará de apoio internacional. O responsável daquela organização da sociedade civil moçambicana falava hoje à agência Lusa, em Maputo, sobre as consequências da passagem do ciclone Idai pelo centro de Moçambique.

«As populações perderam património pessoal e familiar e vai levar muitos anos para a economia repor essa capacidade», afirmou João Mosca. 

Apesar de ainda ser cedo para ter a dimensão dos prejuízos, a devastação causada pelo ciclone Idai é maior e a capacidade de produção e padrão de vida das populações foram destruídos, acrescentou João Mosca.

O diretor-executivo do Observatório do Meio Rural assinalou que as inundações e os ventos fortes destruíram grandes superfícies de produção agrícola e pecuária, atingindo empresas e famílias que se dedicam ao setor. «A situação é gravíssima, abrange uma superfície muito grande, com muita população, numa zona de produção, agrícola e pecuária», frisou.

A região centro de Moçambique é um importante centro de produção de cereais, açúcar, fruta e hortícolas e a destruição causada pelo ciclone Idai poderá encarecer os produtos.

«O que é importante é o que acontece depois das cheias, será preciso ver como é que aquele potencial produtivo pode ser recomposto e isso vai exigir muita concentração de meios», assinalou.

Mosca enfatizou que também será necessária capacidade institucional para a recuperação da capacidade produtiva do centro de Moçambique, principalmente na província de Sofala, para ajudar as populações a recuperarem o poder de geração de alimentos.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) alertou hoje para o impacto negativo no abastecimento de cereais no país, devido ao Idai, assinalando que a região centro contribui com 40% a 50% de cereais produzidos em Moçambique.

«Apesar de os resultados da avaliação dos prejuízos não estarem ainda disponíveis, espera-se que a perda de culturas seja extensa nas áreas afetadas pelo ciclone Ida«", lê-se numa avaliação preliminar da FAO divulgada hoje em Maputo.

A produção de cereais no centro do país, prossegue o documento, poderá ficar abaixo da média dos últimos anos, refere aquela organização.

A FAO assegura que é esperado um agravamento do preço de produtos como milho, confirmando uma tendência que se já se verifica desde o início do ano.

terça-feira, 26 de março de 2019

Regantes de Campilhas e Alto Sado no Alentejo preveem “ano de calamidade”


25/3/2019, 15:35109

Com os níveis "tão baixos" nas bacias hidrográficas e "mais de 3.700 hectares sem água para cultivo", na campanha primavera/verão, os agricultores anteveem "o ano mais difícil de todos".

As barragens de Campilhas e Fonte Serne, no concelho de Santiago do Cacém apresentam um armazenamento de água de 16,3% e 33,8%, respetivamente
EDUARDO COSTA/LUSA

A Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado (ARBCAS) prevê "um ano de calamidade" na zona, em termos agrícolas, devido à falta de água em albufeiras de Santiago do Cacém e Ourique, no Alentejo.

As barragens de Campilhas e Fonte Serne, no concelho de Santiago do Cacém, distrito de Setúbal, apresentam um armazenamento de água de 16,3% e 33,8%, respetivamente, enquanto a de Monte da Rocha, em Ourique, no distrito de Beja, o armazenamento está nos 11,8 por cento.

Não temos qualquer reserva de água nas barragens de Campilhas, Fonte Serne e Monte da Rocha e apenas contamos com água proveniente de Alqueva, que vai regar uma pequena parte", afirmou esta segunda-feira à agência Lusa o vice-presidente da ARBCAS, Ilídio Martins.

Com os níveis "tão baixos" nas bacias hidrográficas e "mais de 3.700 hectares sem água para cultivo", na campanha primavera/verão, os agricultores anteveem "o ano mais difícil de todos".

Este vai ser mais um ano difícil, talvez o ano mais difícil de todos, porque temos água para regar 2.800 hectares, mas ficam 3.700 hectares de fora, sem qualquer acesso à água. Portanto, se não houver uma alteração de última hora, como no ano passado, estamos a ver que vai ser mesmo um ano de calamidade para muitos agricultores", alertou.


A chuva que caiu em março do ano passado permitiu "fazer uma campanha a 90 por cento" e apenas "uma pequena área" dos dois aproveitamentos hidroagrícolas de Campilhas e Fonte Serne, que fornecem o Vale de Campilhas e o Vale Diogo, no concelho de Santiago do Cacém, no litoral alentejano, "foi afetada".

"Este ano não é possível fazer qualquer área nestes dois aproveitamentos, não havendo perspetiva de qualquer tipo de produção, porque a única área que temos garantida, se não houver imprevistos no fornecimento de água da EDIA [Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva] será a zona do Alto Sado", acrescentou.

A albufeira do Monte da Rocha, que serve o aproveitamento agrícola do Alto Sado, nos concelhos de Santiago do Cacém e Ourique, "vai servir apenas 200 hectares de culturas permanentes e o abastecimento público".

"A restante área do Alto Sado, servida pela ligação a Alqueva, permitirá regar 2.800 hectares para as culturas de milho, olival e outras", disse.

Com um total de 6.500 hectares de área de cultivo, o responsável da associação de regantes disse manter "a esperança de que venha a ocorrer alguma precipitação" e, assim, alterar o atual cenário de seca, "que poderá comprometer as culturas de tomate e de arroz".

Esta semana, adiantou, a ARBCAS vai elaborar o plano de utilização da água referente à campanha primavera/verão para apresentar em assembleia geral, onde serão aprovadas as dotações e a sua distribuição por culturas e aproveitamentos, assim como os custos de cada operação.

"Ainda não decidimos que culturas vão ser feitas, ainda vamos atribuir dotações. Há um tarifário e as pessoas vão ser, de certa forma, livres de o fazer naquela zona onde existe água, mas atendendo ao tarifário não sei se haverá cultura do arroz", explicou.

"Nas zonas "onde não há água, não faremos nada. Naquelas em que há água ainda estamos a analisar a melhor forma de distribuição", referiu.

"Vamos começar a fazer o nosso trabalho que é gerir a pouca água que temos e vamos alertar e pedir ajuda ao Ministério [da Agricultura] para ter uma atenção com os nossos agricultores e ver o que se pode fazer para que não sejam desativadas as explorações agrícolas".

Água no Solo 25 Março

Traders recorrem a aplicações de streaming para negociar milho chinês


Os operadores de mercado estão a recorrer a aplicações de streaming para tentarem perceber como vão evoluir as reservas de milho e arroz, de forma a anteciparem a evolução dos preços no mercado bolsista.

17 de março de 2019 às 11:00
As aplicações de streaming conquistaram a China com vídeos curtos de adolescentes a dançar e a fazer brincadeiras estranhas. Agora, os operadores estão a usá-las para prever o futuro dos preços dos cereais.

Por exemplo, um agricultor da zona rural no nordeste do país usa o seu telefone para filmar caminhões em fila, prontos para carregar montes de milho dourado. A cerca de 3.200 quilómetros de distância, no seu escritório em Shenzhen, Honda Wei observa atentamente, examinando os comentários entusiasmados do produtor e as imagens dos campos à procura de pistas sobre a oferta e a procura.
 
"Isso dá-nos informações intuitivas sobre os mercados", disse Wei, de 33 anos, sobre a sua experiência na aplicação Kuaishou, uma plataforma de vídeos curtos financiada pela gigante da tecnologia Tencent Holdings. "Os traders estão à procura de correlações entre o sentimento dos agricultores e a flutuação dos preços futuros."

Com mais de 700 milhões de utilizadores combinados, as aplicações Kuaishou e Douyin, da Bytedance, oferecem uma enorme fonte potencial de informações no pouco transparente mercado chinês, onde os dados do governo nem sempre são os mais confiáveis ou eficientes. Recorrendo também a redes sociais, como a Weibo, os traders recolhem informações sobre plantações de safras, colheitas, reservas e vendas em tempo real, em vez de passarem horas a fazer pesquisas por telefone ou visitas presenciais, como era necessário antigamente.

Redes sociais

"A comunidade dos traders monitoriza os agricultores, que partilham o seu sentimento nas redes sociais", disse Zhang Yan, analista da Shanghai JC Intelligence, que acompanha utilizadores no Kuaishou.

Embora internacionalmente os operadores tenham usado o Twitter para rastrear oportunidades, reagindo a tudo, desde incêndios em refinarias e encalhamentos de navios até o sentimento do mercado acionista, isso não é uma opção na China, país onde a rede social com sede nos EUA está bloqueada.

Na sua avidez por dados, muitos operadores na China recorreram às aplicações de streaming, porque os agricultores começaram a filmar-se para estar em contato com outros e ajudar a melhorar a produtividade, gerir custos e maximizar os lucros. Mudanças no mercado interno de commodities contribuíram para esta tendência.

Em 2016, o país aboliu o seu programa de armazenamento de milho na região nordeste para deixar que o mercado definisse os preços. Em vez de comprar a produção, o governo agora concede subsídios aos agricultores para os incentivar a plantar. Os rendimentos na China são contidos pela restrição de variedades geneticamente modificadas e por limites às transferências de terras, o que contribui para a sensibilidade do mercado interno.

Os mistérios da produção e das reservas no principal comprador de "commodities" têm confundido operadores e analistas, agitando os mercados globais. O milho oscilou acentuadamente em novembro, quando o Departamento de Agricultura dos EUA revelou grandes mudanças nos números das reservas mundiais depois de a China ter ajustado as estatísticas da última década.

Isso tornou a disseminação e a coleta de informações nas redes sociais uma prática comum.

Em novembro, quando os preços de referência do milho na China atingiram o patamar mais alto em mais de três anos, traders com gigantes do setor - como Archer-Daniels-Midland, Cargill e Cofco - começaram a partilhar vídeos. Houve uma correlação entre os vídeos que mostravam os stocks dos agricultores e os movimentos reais dos preços, e isto bastou para estimular os operadores a instalar as aplicações. No mês passado, o contrato de futuros mais ativo da Dalian Commodity Exchange caiu 10% em relação ao pico e atingiu o ponto mais baixo desde julho.

Agricultores muito preocupados com a seca. Chuva nem vê-la


20 DE MARÇO DE 2019 - 07:12

A Comissão Permanente da Seca reúne-se esta quarta-feira para avaliar o problema, mas os agricultores dizem que não basta fazer balanços e que são precisas medidas urgentes a longo prazo para enfrentar o impacto das alterações climáticas.

Sem previsão de chuva até ao fim do mês e com as reservas de água em baixo, a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) está preocupada com os efeitos na agricultura. Ouvido pela TSF, o presidente da CAP, Eduardo Oliveira e Sousa, admite que a situação é muito complicada: "Estamos muito apreensivos. Vislumbra-se outra vez, infelizmente, um ano difícil. O país está outra vez a entrar num período de carência de água, não só nas barragens, mas também no solo."

Eduardo Oliveira e Sousa explica que o tempo seco e a falta de água estão a comprometer as culturas em todo o país, principalmente as plantas para a alimentação animal e as culturas de inverno, como o trigo e a cevada, mas também a campanha de primavera/ verão no que diz respeito a frutas, vinhas e culturas regadas, como o milho ou tomate.

Ouça a peça da jornalista Maria Miguel Cabo
O presidente da CAP lamenta que o problema se repita quase todos os anos e considera que é preciso encarar as alterações climáticas com um plano a longo prazo: "Há medidas que têm de ser estudadas para enfrentarmos estas alterações como sendo um padrão novo da meteorologia no nosso território, que vai obrigar a mudanças de culturas e calendários, para que o futuro não seja sempre esta agonia: 'Como é que vai ser o este ano? Vai ser bom? Vai ser mau?'", nota Eduardo Oliveira e Sousa.

A Confederação considera ainda que o Plano Nacional de Regadios, criado pelo Governo no ano passado, é insuficiente e sugere, por exemplo, a criação de instrumentos financeiros de ajuda e estudos aprofundados sobre o impacto da seca e a adoção de novas culturas.

A Comissão Permanente da Seca, que envolve diversos ministérios, vai reunir-se, esta quarta-feira, no Ministério da Agricultura. As previsões apontam para um abril seco e com pouca chuva.

Costa defende equilíbrio entre capacidade de produção e preservação do território


O primeiro-ministro, António Costa, considerou hoje que a agricultura intensiva nas zonas de Odemira e Aljezur é "um bom exemplo" do equilíbrio necessário entre a valorização da capacidade de produção e a preservação do território.


Lusa
19 Março 2019 — 19:09

A quetsão da agricultura intensiva foi levado ao debate quinzenal, que decorreu esta tarde na Assembleia da República, em Lisboa, pelo deputado único do PAN.

André Silva falou num "processo de destruição em curso do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina", provocado por um modelo agrícola que "recorre à utilização massiva de fertilizantes químicos e pesticidas", cujos "impactos na água, ar, solo e na biodiversidade são avassaladores".

"A zona de Odemira e de Aljezur é já conhecida como a Almería do Alentejo, tal é a quantidade de plástico das estufas que cobre esta região", notou o parlamentar, salientando que "o descontrolo é a norma", uma vez que "as autoridades não conseguem controlar a proliferação de estufas".

André Silva salientou que "a pressão na comunidade é crescente e os municípios não estão a conseguir dar respostas dignas à vaga de milhares de imigrantes", referindo a existência de "graves problemas no acesso aos cuidados médicos" e o facto de que "muitas pessoas vivem em condições desumanas e chocantes e sem que haja acompanhamento por parte das entidades competentes".

Apontando que "este é um problema nacional" e "um desafio ambiental e humanitário que carece de respostas por parte do Governo", o PAN propôs que o executivo "decrete uma moratória na instalação de novos abrigos e estufas nesta região até que se proceda ao aperfeiçoamento dos instrumentos de ordenamento e gestão ambiental e se garantam no território condições habitacionais e de infraestruturas de saúde e de ensino".

Em resposta, o primeiro-ministro considerou que este é "um bom exemplo" da necessidade de conjugar o "aumento da capacidade de produção nacional, da rentabilização e valorização" das capacidades de produção, com a "necessidade de preservar os equilíbrios sociais, ambientais, de ordenamento do território que a exploração intensiva do território" coloca.

É necessário "por um lado não desperdiçar o potencial de produção que o país tem, em segundo lugar assegurar a qualidade do ordenamento do território e preservar a qualidade ambiental, em terceiro lugar a proteção social de quem trabalha naquelas estufas, designadamente assegurando condições de habitação condigna e, finalmente, assegurar que aquele ecossistema produtivo é compatível com o conjunto de serviços sociais e equipamentos existentes no território, de forma a que haja um desenvolvimento harmonioso e não seja um desenvolvimento de uma destas vertentes, a vertente produtiva com sacrifício insuportável de todas as outras", referiu.

António Costa lembrou ainda que "foi constituído, em 2018, um grupo de trabalho sobre o rio Mira, para juntar as diferentes entidades da administração central com as da administração local por uma abordagem integrada aos desafios e oportunidades que se colocam no perímetro de rega".

Segundo o governante, "em dezembro foi apresentado o relatório final desse grupo de trabalho e, até ao final deste mês de março, serão tomadas as decisões para pôr em prática as conclusões do grupo de trabalho, tendo em vista responder à diversidade das necessidades".

Restrições de água no Alqueva travam novas plantações de olival


EDIA denuncia "utilização abusiva de recursos hídricos" e "sem a devida autorização". Crescem os riscos de culturas superintensivas num país com um clima cada vez mais quente e mais seco, alerta especialista


A gestão dos recursos hídricos na bacia do Guadiana e do Tejo conheceu, nas últimas semanas, uma alteração no paradigma que estava a ser seguido. Até então, a água era distribuída sem controlo rigoroso em Portugal e em Espanha. Cerca de sete mil agricultores beneficiam do sistema de regadio do Alqueva.

As restrições no acesso à água começaram em Fevereiro. A Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA) está a notificar "todos os beneficiários e potenciais interessados" no fornecimento de água para rega "a título precário" (todos os agricultores que têm as suas explorações fora dos blocos de rega do empreendimento), que só serão aceites as propostas para a "instalação de culturas anuais", como é o caso das culturas de melão, trigo, feijão e batata. Ou seja, fica de fora a autorização de fornecimento de água a novas culturas permanentes que são de alto rendimento como o olival, amendoal, vinha e árvores de fruto.

Barragens vazias já obrigam a abastecimentos com auto-tanques no Alentejo

Foi para acautelar a garantia de água no futuro que a EDIA tomou esta decisão. O projecto do Alqueva tem área para regar 120 mil hectares, mas as plantações e o seu fornecimento continuavam a aumentar sem controlo. Qualquer interessado que pretenda investir em áreas localizadas fora das manchas de rega deverá sempre e previamente "obter autorização da EDIA".

Supremo espanhol anula plano
Em Espanha, o Supremo Tribunal, numa decisão tomada no passado dia 15 de Março, anulou "parcialmente" o Plano Hidrológico do Tejo, por "não cumprir os caudais mínimos" nos débitos transportados do Tejo para a barragem do rio Segura, calculados em cerca de 400 milhões de metros cúbicos anuais.

Na base deste modelo de regadio estão as culturas intensivas como acontece na bacia do Guadalquivir e na bacia do Guadiana, em território espanhol e português, onde os "olivais superintensivos são muito lucrativos", refere o presidente do Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CNADS), Filipe Duarte Santos, advertindo para o problema da salinização do solo. Na região espanhola da Extremadura, prossegue o investigador na área das alterações climáticas, "há imensa actividade agrícola que debita para o Alqueva muitos fertilizantes e os solos deixarão, no futuro, de ter a produção de agora".

A decisão tomada pela entidade gestora do sistema de rega do Alqueva vem reconhecer que existe, neste momento, "uma utilização abusiva de recursos hídricos" e "sem a devida autorização" fora dos blocos de rega.


A EDIA refere que o grau de optimização do sistema de rega atingiu uma dimensão (neste momento a taxa de adesão ao regadio atinge mais de 80% da área do empreendimento) que só era esperada "em fase mais madura da exploração das infra-estruturas" do projecto.


Filipe Duarte Santos defende uma "maior coordenação" entre Espanha e Portugal no que respeita aos recursos hídricos. Mas acima de tudo importa aferir em que medida a agricultura que "estamos a ter é compatível com a precipitação que temos" num contexto que exige uma "adaptação" a um clima que "é não só mais quente, mas também mais seco", frisa o presidente do CNADS.

As barragens erguidas nas bacias espanholas dos rios Tejo e Guadiana concentram no final do Inverno cerca de metade da sua capacidade máxima de armazenamento, enquanto na barragem do Alqueva, a sua reserva de água chega aos 80% da sua capacidade máxima, o que representa cerca de metade do volume que as 60 albufeiras públicas de norte a sul do país no final de Fevereiro.