terça-feira, 3 de julho de 2018

O imPACto do ‘Brexit’ na agricultura europeia


24.06.2018 às 12h00

 
EMMANUEL DUNAND/GETTY

Bruxelas, "we have a problem". Basta olhar para o gráfico de barras que aparece mais à frente para se perceber que há ali qualquer coisa de estranho na sexta barra a contar de cima. Está completamente em branco. Ou seja, há uma carta fora do baralho, chamada Reino Unido.


Na redistribuição do dinheiro da Política Agrícola Comum (PAC) pelos campos destes países há menos um a receber, mas o problema é que era também um dos principais contribuintes líquidos para o orçamento comunitário.


No final do dia estamos a falar de um cheque a menos, de mais de €12 mil milhões, nos cofres de Bruxelas — todos os anos. Este percalço, associado ao facto de a própria Comissão Europeia estar a querer canalizar menos dinheiro para o próximo pacote financeiro da PAC para o período 2021/2027, resulta numa perda de €58,6 mil milhões para os agricultores europeus.

PORTUGAL SAI A GANHAR, 
MAS TAMBÉM PODE PERDER
Em casa onde não há pão (no caso, euros) todos ralham e ninguém tem razão. Mas os países do Norte da Europa acham que têm toda a razão em querer cortar nos apoios à agricultura, para dar mais a outras áreas, como a da investigação, por exemplo. Todos os outros, do Sul e do Leste europeu, acham exatamente o contrário, e, no meio da confusão, há um que está a surpreender, mas já lá vamos.


Nesta luta de galos, que se repete de seis em seis anos, Portugal até fica numa situação que o ministro da Agricultura qualifica como nem má nem boa, antes pelo contrário. Ou seja, segundo contas fornecidas por Capoulas Santos ao Expresso, os agricultores portugueses até acabam por ficar a ganhar €279 milhões no pacote da PAC para 2021/2027.


"O problema, no nosso caso, é que o Estado — segundo Bruxelas — vai ter de aumentar a comparticipação de 15% para 30%" nos apoios a conceder aos agricultores. "Como é óbvio, é nessa frente que vamos lutar junto da Comissão, pois o que defendemos é que o Estado faça o mínimo esforço financeiro possível", sublinha o ministro.

Assim que se conheceu a proposta de Bruxelas para o período 2021/2027, Capoulas Santos criou um grupo de pressão com Espanha e França. A iniciativa foi tão cobiçada que em menos de um mês já conquistou mais 17 adeptos. E há ainda o tal — "inesperado e surpreendente", segundo o ministro — que esta semana se juntou ao grupo dos 20 para dizer que, realmente, seria melhor meter mais dinheiro no orçamento da PAC.

Foi Julia Klöckner, ministra alemã da Agricultura, que veio dar um contributo de peso à causa defendida por Portugal e restantes aliados. Aquela responsável defende que é necessária uma "posição mais construtiva" nas negociações que agora decorrem entre os vários países e a Comissão Europeia.

Note-se, porém, que ainda estamos no início de uma longa maratona de negociações entre os vários Estados-membros e Bruxelas, que se irá prolongar até maio do próximo ano — altura das eleições para o Parlamento Europeu.

Segue-se mais um ano de negociação das regras de aplicação da PAC, "que irão ser decisivas", segundo Capoulas Santos. O ministro admite que vai ter de haver cedências de parte a parte.

 Porque é que Bernardo Silva deve ser o nosso novo Ronaldo. Obrigações do Novo Banco têm a taxa de juro mais alta da Europa este ano. A hipótese de o Governo alemão poder cair neste momento político da Europa não deveria satisfazer nenhum democrata
Porque é que Bernardo Silva deve ser o nosso novo Ronaldo. Obrigações do Novo Banco têm a taxa de juro mais alta da Europa este ano. A hipótese de o Governo alemão poder cair neste momento político da Europa não deveria satisfazer nenhum democrata


segunda-feira, 2 de julho de 2018

Abre em julho novo concurso para jovens agricultores dotado com 43 milhões de euros


Capoulas Santos justificou os atrasos verificados no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020) com o número de candidaturas excecionais recebidas devido aos incêndios


O ministro da Agricultura, Capoulas Santos© MIGUEL A. LOPES/LUSA
DN/Lusa
Costa quer dólares na agricultura: "Temos muita área por explorar no Alqueva"

GOVERNO
Estatuto da Agricultura Familiar aprovado. Abrange 100 mil agricultores
O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, anunciou esta quarta-feira, em Lisboa, que o Governo vai abrir um novo concurso para jovens agricultores, dotado com 43 milhões de euros.

Apesar de não adiantar mais pormenores, o governante, que falava durante uma audição parlamentar na Comissão de Agricultura e Mar, referiu que o concurso será aberto em julho.

Durante a segunda ronda de intervenções, Capoulas Santos foi questionado sobre os atrasos verificados no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020), justificando a demora com o número de candidaturas excecionais recebidas devido aos incêndios.

"Entraram no PDR 48 mil candidaturas, só as excecionais [relativas aos incêndios] foram 25 mil, que foram passadas à frente e que já estão encerradas. Estamos, por isso, a tratar dos atrasos do programa", sublinhou.

EDIA deixa recado ao Governo sobre baixa do preço da água em Alqueva


02 jul, 2018 - 12:35

Deputados do PS visitaram a sede da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva numa altura em que esta se prepara para avançar com um projeto que promete reduzir substancialmente os custos da água na região.

 
Já arrancaram as jornadas parlamentares do Partido Socialista (PS) em Beja, com os deputados a visitarem, esta segunda-feira de manhã, a sede da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva (EDIA), numa altura em que esta está a preparar-se para desenvolver um novo sistema de produção de energia para as estações elevatórias da barragem.

O projeto poderá fazer diminuir substancialmente o preço da água na região, com o presidente da EDIA a prever a expansão da rede de distribuição de água em mais 50 mil hectares, num total de investimento de 230 milhões de euros previstos no Plano Nacional de Regadio.

Pedro Salema diz que a empresa está a apostar num novo sistema de energia para alimentar as 47 estações elevatórias de alto consumo, estações essas que sempre fizeram disparar o preço da água em Alqueva. O objetivo deste novo sistema é diminuir custos, mas o responsável da EDIA tem receio de avançar números.

"Nós podemos ter economias interessantes mas que já foram acauteladas na última revisão do tarifário de Alqueva e, portanto, não quero prometer baixas de preço quando já baixámos o preço no ano passado em 25% a pensar em economias que íamos ter", disse aos jornalistas esta manhã.
Sobre a baixa de preços, Salema remete futuras decisões para os Ministérios da Agricultura, das Finanças e do Ambiente.

"Os preços em Alqueva são definidos pelo Governo, tem sido um despacho tripartido entre o ministro da Agricultura, o ministro das Finanças e o ministro do Ambiente, que fixa o tarifário de Alqueva e acho que vai continuar a ser assim, portanto cabe aos senhores governantes tomarem essas decisões. A nós cabe-nos encontrar as soluções que baixam o custo e depois apresentar resultados."

Recado dado com o líder parlamentar do PS a ouvir. Carlos César diz que o importante é garantir a expansão da rede de distribuição de água e o resto virá por acréscimo.

"Os lucros e os ganhos que, no domínio da produção agrícola, como aliás noutras áreas, como o setor energético, por exemplo, ou até no setor turístico, resultam deste projeto já são os ganhos que é preciso obter. Evidentemente que, à medida que este projeto se for consolidando, que as empresas se forem consolidando com base nos seus efeitos, teremos certamente menores custos para a produção e melhores ganhos para todos."

O projeto de energia fotovoltaica para as estações elevatórias de Alqueva está em período de concurso, havendo já um projeto-piloto no reservatório da cegonha.

Drones e aviões são solução para prevenir doença bacteriana que arrasa olivais


A bactéria em questão é a Xylella Fastidiosa e já foi responsável por destruir milhares de oliveiras um pouco por todo o mundo.

Os olivais são particularmente vulneráveis à doença RUI GAUDENCIO
A silenciosa bactéria Xylella Fastidiosa, responsável por devastar olivais um pouco por todo o mundo, poderá ser agora identificada antes de surgirem efeitos visíveis nas plantas infectadas. Esta identificação precoce será possível graças a imagens aéreas recolhidas através de aviões ou drones. A descoberta foi publicada, esta semana, na publicação científica Nature plants. "O nosso estudo descobriu que os efeitos da bactéria podem ser remotamente detectados, antes de ser visível qualquer sintoma nas plantas. Isto permitirá uma rápida identificação das oliveiras infectadas dentro de um olival", afirmou o professor Peter North da Universidade de Swansea, membro da equipa que efectuou o estudo.

A bactéria vive nos vasos que conduzem a água (xilema) das plantas e propaga-se através de insectos que se alimentam do xilema das árvores infectadas. Apesar das oliveiras serem particularmente vulneráveis a esta doença, a bactéria pode hospedar-se em outras espécies de plantas com impacto económico relevante, como por exemplo laranjeiras, pessegueiros e amendoeiras. A presença da Xylella Fastidiosa faz com que os ramos e galhos da árvore infectada sequem, causando, ainda, queimaduras na folhagem. 

PÚBLICO -Foto
Oliveira infectada pela bactéria Xylella Fastidiosa DR
A Xylella Fastidiosa apresenta uma taxa de crescimento reduzida e os sintomas revelam-se tardiamente, o que torna difícil a aplicação de medidas de controlo. Muitas plantas podem estar infectadas sem revelar sintomas, mas apesar de poderem ter a doença de forma dissimulada, esta é muito mortífera. Detectar precocemente a bactéria nas plantas infectadas permite que se crie um plano para combater eficazmente e atempadamente a doença, impedindo a propagação e reduzindo os impactos socioeconómicos de um eventual surto.

Não existindo nenhum medicamento que permita a cura da doença, a única forma de travar um alastramento da bactéria passa pela queima e consequente remoção das plantas que se encontrem infectadas. Para além desta medida, o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária aponta para uma série de recomendações preventivas que passam pelo uso de cultivos resistentes e pela gestão dos insectos vectores nas zonas periféricas das plantações.

Doença "fastidiosa" do olival em Espanha está a assustar o Alentejo
A solução vem do céu

Durante décadas pensou-se que a bactéria estaria circunscrita ao continente americano. Os Estados Unidos da América — de onde a bactéria é originária — debatem-se com a doença desde a década de 1940 do século passado, altura em que surgiram os primeiros surtos. A doença foi detectada pela primeira vez na Europa em 2013, devastando milhares de oliveiras na região de Apúlia, em Itália. Para além de Itália, segundo dados da Comissão Europeia, no continente europeu já foram registados surtos da doença, igualmente arrasadores, na Alemanha, Espanha e França. Como forma de prevenção, a União Europeia impôs que todos os seus Estados-membros realizassem prospecções anuais às plantas passíveis de hospedar a bactéria.

Até ao momento, para além dos países já identificados com casos registados da doença, o restante território europeu encontra-se livre da bactéria. Porém, segundo a Unidade Estratégica de Investigação e Serviços em Sistemas Agrários e Florestais e de Sanidade Vegetal, Portugal possui vários factores que facilitam a entrada da bactéria. A posição geográfica, as condições climatéricas (Inverno pouco rigoroso), a presença de plantas hospedeiras da bactéria (oliveira, vinha, citrinos, sobreiros e amendoeiras) e ainda a presença de insectos vectores são factores que aumentam o perigo da bactéria surgir em Portugal.


A equipa liderada pelo investigador Pablo Zarco-Tejada instalou câmaras modificadas numa pequena aeronave. Estes equipamentos recolheram imagens hiperespectrais e termais, que permitem observar todo o campo electromagnético, apontando, desta forma, as plantas que já se encontram infectadas.

A equipa recolheu os dados das observações aéreas, e de seguida, comparou-as com as análises retiradas no terreno às árvores que tinham sido identificadas pela equipa como hospedeiras da Xylella Fastidiosa. Os resultados recolhidos através das câmaras corresponderam com os recolhidos no terreno. Com o recurso a esta tecnologia, os cientistas chegaram à conclusão que os efeitos infecciosos da bactéria podem ser detectados antes de surgirem quaisquer sintomas visíveis. 

PÚBLICO -Foto
Imagem aérea termal do olival retirada pela equipa de investigadores

Empresa pública de gestão florestal concluída “até ao final de julho”


29/6/2018, 16:59
O ministro da Agricultura disse que o processo de criação da empresa pública de gestão florestal deverá estar concluído "até ao final de julho", indicando que terá a designação de Florest Gest.

O ministro da Agricultura disse esta sexta-feira que o processo de criação da empresa pública de gestão florestal deverá estar concluído "até ao final de julho", indicando que terá a designação de Florest Gest e será sediada em Figueiró dos Vinhos.

Tem sido também orientação política do Ministério da Agricultura que todos os novos serviços, ou entidades dele dependentes a criar de novo, sejam criados fora de Lisboa e, preferencialmente, em zonas do interior do país", declarou à Lusa o ministro Capoulas Santos, após a reunião do Conselho Florestal Nacional, em Lisboa.

Neste âmbito, o titular das pastas da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural prevê que a empresa Florest Gest comece a funcionar "dentro de muito pouco tempo", já que "toda a tramitação burocrática está neste momento concluída".

"Penso que será uma solução que estará concluída até ao final do mês de julho", avançou o governante. Em março, Capoulas Santos anunciou no parlamento a criação desta empresa pública de desenvolvimento e gestão floresta, referindo que entraria em funcionamento dentro de semanas em Figueiró dos Vinhos.

Na reunião do Conselho Florestal Nacional, que demorou cerca de três horas, esteve em análise a reforma da floresta, que inclui 11 diplomas do Governo aprovados pela Assembleia da República em 2017 e que "estão em fases diferentes de aplicação", disse Capoulas Santos, considerando que o balanço é "francamente positivo".



"É uma reforma muito ambiciosa, que toca em muitos e diferentes aspetos, em que o exercício legislativo foi concluído há pouco mais de seis meses e que está agora a dar os primeiros passos de aplicação, de um modo geral dando uma expectativa de que são instrumentos que respondem aos nossos objetivos, que é ter uma floresta ordenada, uma floresta bem gerida, uma floresta que cumpra uma função económica, ambiental e social", afirmou o ministro da Agricultura.

Neste sentido, o governante defendeu que a floresta tem de produzir "rendimentos que garantam a continuidade das populações nos territórios", já que "são as pessoas os melhores guardiões da floresta".

Dos 11 diplomas em curso para a reforma do setor florestal, Capoulas Santos destacou o projeto-piloto do cadastro, que está a ser desenvolvido em dez municípios – Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Góis, Pampilhosa da Serra, Penela, Sertã, Caminha, Alfândega da Fé e Proença-a-Nova -, em que os resultados, até ao momento, são "muito positivos".

Estou certo de que esta operação será alargada a todo o país, porque é fundamental para dar resposta a outros aspetos da reforma da floresta", adiantou.

Sen identificação dos prédios, por exemplo, "não é possível, por exemplo, na pequena propriedade, entidades públicas ou privadas tomarem de arrendamento pequenas parcelas que garantiriam um rendimento a pessoas idosas, que não têm condições, nem pela idade, nem pela pequena dimensão da propriedade, de apresentar projetos florestais".

Assim, as pequenas propriedades florestais podem "incorporar áreas de gestão florestal, com valor económico para o país, bem geridas, reduzindo o risco de incêndio e, ao mesmo tempo, garantindo anualmente um rendimento às pessoas, que de outra forma teriam de esperar décadas para obter rendimento com o crescimento das árvores", apontou o ministro.

Questionado sobre o diploma para a criação do banco nacional de terras, que foi rejeitado pela Assembleia da República, Capoulas Santos referiu que é preciso encontrar uma solução que permita ao Estado assumir a posse dos terrenos sem dono conhecido, "ainda que transitoriamente até um certo período, para que possam ser valorizados económica e socialmente".

As alfaces sustentáveis do futuro


SOCIEDADE 30.06.2018 às 12h33


Mais do que plantar vegetais, a Grow to Green quer expandir uma nova tecnologia que põe a engenharia ao serviço da agricultura sustentável – e sem uma gota de pesticidas

Sónia Calheiros
SÓNIA CALHEIROS

Dentro do laboratório, em Castelo Branco, em que toda a produção energética autónoma deriva de energias renováveis, os técnicos usam máscaras, toucas e batas. Não para se protegerem a si próprios mas para resguardarem as plantas. O sistema de agricultura vertical da Grow to Green é estanque, daí que não se deva levar contaminações para dentro das câmaras climáticas. Ao contrário de outros laboratórios, neste, as luzes para a horticultura são magenta, pois a mistura de duas componentes (azul e vermelho) corresponde aos comprimentos de onda cuja energia é aproveitada com maior eficiência pelas plantas para o seu processo de fotossíntese. É num ambiente fechado, totalmente controlado, que estão a ser cultivadas alfaces, rúculas, couves, agrião e ervas aromáticas, entre outros vegetais de folha verde, sem qualquer tipo de preocupação com as condições climáticas – o "indoor farming", com a Holanda e o Japão à frente da tendência, marca o caminho de uma agricultura cada vez mais sustentável e de uma indústria agroalimentar com um pé no futuro.

Qual o agricultor que não desejou ter controlo absoluto sobre o sol, a chuva, a humidade e o vento, fatores naturais que interferem no cultivo dos produtos hortícolas? As primeiras saladas portuguesas provenientes do "indoor farming" já podem ser provadas no Mercado da Ribeira, em Lisboa, na carismática Manteigaria Silva. Tenras e firmes, as folhas de alface têm o tamanho certo e um gosto intenso, numa mistura de diversos verdes que são sinónimo de sabor à primeira vista.

CLIMA SEMPRE FAVORÁVEL
Será a Grow to Green uma tendência de engenharia ou da área alimentar? "É a engenharia a responder à alimentação", sublinha João Alves Pereira, responsável pela empresa, o mais recente projeto do Grupo ISQ – Instituto de Soldadura e Qualidade e da Aralab, um dos principais fabricantes europeus de câmaras climáticas.

A hidroponia, surgida em Portugal há meia dúzia de anos, já permitia o cultivo de morangos, por exemplo, uma flor invertida em altura, sem solo, cujos frutos são alimentados através de uma solução nutritiva aquosa. Agora, esta nova tecnologia possibilita controlar a temperatura, a humidade, a velocidade do ar, o dióxido de carbono, a nutrição e a luminosidade, mantendo a planta sempre em situação de conforto. "Passámos a não estar dependentes das condições climáticas, e aumenta-se a qualidade do vegetal, alargando-se também o seu prazo de validade para cerca de 15 dias", garante o engenheiro civil.

Esse domínio sobre o estado do tempo mantém afastadas dos vegetais bactérias como a E.coli ou a salmonella. "Um vegetal em campo aberto tem 300 mil bactérias por grama; esta alface tem menos de dez, sendo que o limite regulamentar em Portugal para um vegetal ser vendido pronto a consumir são 300 bactérias. Tudo acontece sem aditivar qualquer hormona, pesticida ou desinfetante. Não entrou qualquer contaminante no circuito de produção."

FALTAM LED MAIS BARATOS
Apesar de se apresentarem no seu estado mais puro, os vegetais da Grow to Green não são considerados biológicos. Na Europa, a empresa portuguesa não consegue certificar esta tecnologia como biológica, porque não faz uso integrado do solo. Mas, nos Estados Unidos da América já é possível. "Neste momento, a certificação dos biológicos incide no processo e não no produto", lamenta João Alves Pereira. "A Europa não está a acompanhar o desenvolvimento tecnológico. 
A legislação comunitária está atrasada face à tecnologia."

Tanto na agricultura convencional como no laboratório é usada água da rede. A diferença está nos litros gastos por alface: 50 na terra vs. menos de um litro no laboratório. Sem dúvida que está garantida a eficiência hídrica. O mesmo não se poderá dizer do consumo de energia. Se os campos de cultivo a céu aberto não têm quase nenhum gasto de energia, na Grow to Green a iluminação LED é um custo, logo, uma desvantagem. "Temos de aproveitar os tarifários com horas de vazio, por isso o ciclo de luz da planta é invertido", explica João Alves Pereira. "Conseguimos pôr um vegetal a crescer mais depressa se lhe dermos mais intensidade luminosa, mas isso só acontecerá se tivermos mais barras LED, e, por enquanto, estas também são muito caras", acrescenta. E as plantas germinadas em câmara são até três vezes maiores do que as plantadas em estufa.

Com o custo inicial de instalação superior, entre oito e dez vezes, ao de uma estufa equivalente (de €100 por metro quadrado passa para €1 000 por metro quadrado), só à medida que o preço do LED baixar se conseguirá otimizar a redução de custos. Outra das desvantagens é não poder aplicar a tecnologia de "indoor farming" em legumes sem serem de folha verde ou em frutos. Apesar de a Grow to Green já ter feito experiências de sucesso com rabanetes, cenouras e feijões, os frutos exigem polinização e, por enquanto, ainda não é possível pôr a abelha dentro da câmara. "Do ponto de vista da tecnologia, conseguimos produzir qualquer coisa, até eucalipto, mas, do ponto de vista económico, tudo o que demore muito tempo a crescer não é rentável."

CAMPO ABERTO 
VS. LABORATÓRIO
Um vegetal na terra 
tem 300 mil bactérias por grama, em laboratório tem menos de dez por grama
Na agricultura de campo aberto, facilmente 
se gastam 50 litros 
por alface, enquanto 
no laboratório é menos 
de um litro por cada alface

Em Portugal, a área 
de cultivo exclusivamente de alfaces corresponde ao concelho de Odivelas (26,54 km²), com a tecnologia da Grow 
to Green ocuparia apenas 
a área do Estádio da Luz

NÚMEROS
98% poupança de água 
99,4% menos bactérias
23% mais fibras alimentares

Empresários angolanos e brasileiros cooperam para desenvolver agricultura em Angola


27/6/2018, 20:03
A Confederação Empresarial de Angola e o consórcio Brasil-África assinaram um protocolo de intenções para o desenvolvimento do agronegócio, assumindo a captação de recursos financeiros.


A Confederação Empresarial de Angola (CEA) e o consórcio Brasil-África assinaram esta quarta-feira um protocolo de intenções para o desenvolvimento do agronegócio, assumindo a captação de recursos financeiros como o primeiro passo. O documento foi assinado entre o presidente da CEA, Francisco Viana, e o presidente do consórcio brasileiro, Omar Wagner, à margem do I Congresso da Produção Nacional.

Trata-se de um consórcio brasileiro, que integra quatro empresas ligadas ao negócio da agricultura, da lavoura à pecuária, passando pela agroindústria e pelo agronegócio.

Esse protocolo de boas intenções é o passo inicial para a gente continuar nos próximos degraus organizando um documento para a busca de recursos, temos que conseguir dinheiro para isso, porque só o petróleo não vai acabar pagando a conta, então vamos ter que buscar recursos externos", disse à imprensa o engenheiro agrónomo Omar Wagner.

O presidente do consórcio brasileiro, que é também presidente da Agência Brasil África para o Desenvolvimento Económico Social (ABADES), referiu que neste congresso veio partilhar a experiência brasileira de 40 anos e avançar as prioridades para desenvolver a cooperação com os empresários angolanos num curto espaço de tempo.

"Nós não tínhamos conhecimento nenhum. Hoje, a gente tem, e é esse conhecimento que a gente quer partilhar, não só o conhecimento cognitivo, mas aquele tácito, técnico, ou seja, a informação organizada para o desenvolvimento e é essa nossa proposta", referiu.

O empresário brasileiro apontou três níveis para que Angola consiga desenvolver a agricultura – organizar vontade política, as ações meio (pesquisa, assistência técnica, extensão rural, estradas e caminhos-de-ferro) e as ações produtivas, porque o resto – bons solos, água, clima e recursos humanos, Angola possui. "Os recursos estão aqui, é um pouquinho de organização e, claro, aproveitar as experiências dos outros", frisou.

Omar Wagner manifestou-se otimista relativamente à cooperação com a CEA, que "está mais efetiva do que há cinco, seis anos atrás", quando tentativa igual foi feita com o Governo. "Tropeços em cima de tropeços, deixa para amanhã, não sai, agora não, o empresariado parece que vai ser diferente", disse.

Por sua vez, o presidente da CEA, Francisco Viana, congratulou-se com o facto de integrarem o consórcio brasileiro aqueles que considerou como os dois mais importantes ministros da Agricultura do Brasil, frisando que os melhores especialistas do Brasil vieram até Angola e estão à sua disposição.

Governo e peritos reúnem-se para chegar a consenso sobre a nova política de agricultura


27/6/2018, 19:31

O ministro da Agricultura esteve reunido, em Lisboa, com um conjunto de peritos académicos e confederações para continuar a discussão e alcançar um "consenso" sobre a Política Agrícola Comum pós 2020.


O ministro da Agricultura esteve esta quarta-feira reunido, em Lisboa, com um conjunto de peritos académicos e confederações agrícolas para continuar a discussão e alcançar um "consenso" sobre a Política Agrícola Comum (PAC) pós 2020.

"Foi uma reunião onde o ministério explicitou as medidas em discussão, de forma a que, a partir de agora, haja debate segmentado sobre cada um dos pontos. São precisas muitas horas de debate para chegarmos a um acordo sobre as matérias", disse Capoulas Santos à Lusa, após a reunião da Comissão de Acompanhamento da Revisão da PAC.


Para o governante, apesar das diversas opiniões sobre o tema "nem sempre serem totalmente coincidentes", é importante fazer um esforço para alcançar um consenso. "Quanto maior consenso tivermos mais fácil é a tarefa do ministro na frente de batalha em defesa das posições sociais", vincou.

Segundo Capoulas Santos, o objetivo do Governo é manter o nível de apoio aos agricultores, apesar das consequências do 'Brexit' (saída do Reino Unido da União Europeia), "não aumentando o esforço orçamental nacional".

Tal só é possível se aumentarmos a comparticipação financeira da União Europeia", explicou. Segundo uma proposta apresentada em 01 de junho em Bruxelas, Portugal vai receber menos dinheiro no âmbito da PAC no próximo quadro financeiro plurianual (QFP), estando prevista uma ligeira subida nos pagamentos diretos aos agricultores.

A Comissão Europeia propôs uma verba de cerca de 7,6 mil milhões de euros no QFP 2021-2027, a preços correntes, abaixo dos 8,1 mil milhões do orçamento anterior, com uma ligeira subida nos pagamentos diretos e cortes no desenvolvimento rural.



A preços correntes, para o QFP 2021-2027, está prevista uma verba de 4,2 mil milhões de euros no primeiro pilar (pagamentos diretos) e de 3,4 no segundo (desenvolvimento rural). No arranque da PAC 2014-2020, Portugal recebeu 4,1 mil milhões de euros no âmbito do primeiro pilar e 4,082 mil milhões no segundo pilar.

De acordo com a Comissão Europeia, a PAC pós 2020 será dotada, globalmente, com um orçamento de 365 mil milhões de euros, prevendo uma nova forma de trabalhar, uma distribuição mais justa dos apoios, maiores ambições no domínio do ambiente e utilização intensiva dos conhecimentos e da inovação.