quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Especial Vinhos 2018: Portugal é o terceiro país com maior diversidade de castas a nível mundial


Nuno Miguel Silva 01 Janeiro 2019, 10:00

Apesar do seu território exíguo, o nosso país já é o 11º produtor e o 8º maior exportador mundial de vinhos, segundo os dados de 2017.

É um dos segredos do sucesso crescente que os vinhos portugueses estão a ter no mercado interno (incluindo turistas) e na vertente externa (de que esses mesmos turistas passaram a ser um grande promotor).


Apesar de ter um território exíguo, Portugal beneficia do facto de alardear uma grande variedade de castas. Segundo os últimos cálculos, são cerca de 250 indígenas, o que dá praticamente uma casta para cada dia últil do ano. Ao fim-de-semana, os amantes do vinho podem satisfazer-se com as excelentes produções que cá se fazem a partir de inúmeras castas estrangeiras.

E o caminho não está todo percorrido, porque por esse país fora há muitas vinhas velhas cujas origens genéticas ainda não foram definidas.

É essa inestimável variedade, aliada às diferenciações de climas e de solos, parte essencial do famoso 'terroir', que tem instilado um crescendo de qualidade e nos permite ser reconhecidos entre os críticos e especialistas do setor à escala global como um país produtor de 'vinhos diferentes' com qualidade superior.

"A grande variedade de castas (…) permite produzir uma diversidade de vinhos, marcados por características únicas, o que potencia a sua competitividade em nichos de mercado, apreciadores de vinhos de excelência", destaca um estudo da Aicep, concluído em maio passado e intitulado 'Vinhos de Portugal – Reconhecimento Crescente no Mercado Internacional'.

Luís Castro Henriques, presidente do conselho de administração da Aicep, assinala nesse documento que "a diversidade de castas autóctones tem permitido produzir vinhos únicos e distintos e hoje os vinhos portugueses rivalizam com os melhores do mundo em termos de qualidade".

Mas os vinhos, como qualquer outro setor empresarial, também passam de forma inexorável pela fasquia da quantidade e da produtividade.

De acordo com as estatísticas da OIV – Organização Internacional da Vinha e do Vinho, e recorrendo a alguns dados do IVV – Instituto da Vinha e do Vinho, a Aicep chegou à conclusão que "2017 foi um ano de produção historicamente baixa na Europa Ocidental fruto das condições climatéricas adversas".

"Estima-se que a produção mundial de vinho, em 2017, tenha sido de 246,7 milhões de hectolitros [cada hectolitro equivale a 100 litros], menos 8,2% do que na campanha de 2016, sendo que esta última fora já inferior em cerca de 5% face a 2015", avança Iara Martins, especialista da fileira agroalimentar e de bebidas da instituição, no referido estudo da Aicep.

A mesma especialista da Aicep adianta que "no Velho Mundo, países como a França (36,7 milhões de hectolitros), Itália (33,5), e Espanha (33,5), apresentam valores muito baixos, enquanto a Alemanha (8,1) registou uma ligeira queda".

"Portugal, com uma produção de 6,6 milhões de hectolitros, Roménia (5,3), Hungria (2,9) e Áustria (2,4) foram os únicos países a conhecerem um aumento face a 2016", esclarece Iara Martins.

Nos países do Novo Mundo também se registaram comportamentos diversos: "enquanto a Austrália, com 13,9 milhões de hectolitros, a Argentina (11,8) e o Brasil (3,4) apresentam ligeiros acréscimos [de produção], os Estados Unidos da América (23,3) e a África do Sul (10,8) deram sinais de estabilidade, e o Chile (9,5) e a Nova Zelândia (2,9) registaram ligeiras quebras".

"Em resumo, Itália, França, Espanha e EUA são os quatro países que produziram cerca de metade de todo o vinho do mundo no ano passado. Portugal, apesar de ter explorações de pequena dimensão e uma área de vinha pequena por comparação a outros países, é o 11º produtor mundial de vinho, detendo 2% da produção mundial", assinala o estudo da Aicep.

E Iara Martins destaca que "(…) Portugal é o terceiro país a nível mundial com maior variedade de castas (250), possuindo 31 Denominações de Origem Protegida (DOP) e 14 de Indicação Geográfica (IG), que representam 89% da produção e que são encaradas como uma potencialidade".

"A nossa grande diversidade de castas assegura-nos não só um património inquestionavelmente rico, como uma diversidade que mais nenhum outro país possui", garante a especialista da Aicep.

Portugal é o 8º maior exportador mundial de vinhos

O estudo da instituição liderada por Luís Castro Henriques observa ainda que "Portugal é também o oitavo melhor exportador mundial de vinho, num 'ranking' liderado pela França, detendo 1% das exportações mundiais de vinho, com 747 milhões de dólares faturados [778,7 milhões de euros], a um preço médio de 3,51 dólares".

"O país sobe, assim, para sétimo no 'ranking' do preço médio por garrafa, mas o vinho português continua, em muitos dos casos, a estar posicionado num segmento com preço baixo e sem espaço de prateleira", alerta o estudo da Aicep.

Este documento revela que, em 2017, o mercado nacional representou cerca de 2,48 milhões de hectolitros, o que correspondeu a um volume de negócios de cerca de 746 milhões de euros. "Em comparação com o ano anterior, 2017 apresentou um crescimento de 3,2% em volume e de 5,2% em valor", frisa este documento, demonstrando que o lento caminho de subida do preço médio por garrafa dos vinhos portugueses, mesmo no mercado interno, continua a fazer-se.

Vinhos tranquilos dominam exportações para 145 países

Na frente externa, "em 2017, as exportações portuguesas de vinho destinaram-se a 145 países, dos quais [a] França foi principal cliente, com uma quota de 14,1% nas nossas exportações totais deste produto, seguindo-se o Reino Unido (10,2%) e os EUA (10,1%)".

O estudo da Aicep salienta "(…) os aumentos das vendas para Angola (39,9%), Brasil (53%), China (24,1%) e Espanha (15,8%)".

"Por categorias de produto, constata-se que é fundamentalmente o vinho de mesa (vinho tranquilo) que sustenta o crescimento global do setor, apresentando uma taxa de crescimento (DO-Denominação de Origem + IG – Indicação Geográfica '+ Vinho) de 13,1%. Dos 55 milhões de euros de acréscimo das exportações totais, 50 milhões devem-se aos vinhos ditos tranquilos", nota o estudo da Aicep.

 

-Área de vinha plantada (em Portugal Continental) em 2016: 190.456 hectares, menos 47.606 hectares do que em 2000. Destacam-se as Beiras, com 25,2% da área; o Douro, com 22,5%; e o Alentejo, com 12,3% (a região onde a área de vinha mais cresceu, com mais 7.252 hectares do que em 2000);

-Regiões com produção mais significativa (2017/2018): Douro, com 21% do total (1,4 milhões de hectolitros); Lisboa, com 19% (1,2 milhões de hectolitros), Minho, com 15% (974 mil hectolitros); e Alentejo, com 14% (957 mil hectolitros);

-Número de empresas (2016): 1.296 (INE). O número de empresas a operar neste setor tem vindo a aumentar de forma sistemática entre 2012 (850 empresas) e 2016 (11,%, em média, por ano);

-Número de empresas exportadoras de vinho (2016): Portugal registou 1.296 empresas exportadoras de vinho neste ano, das quais as cinco principais representaram 36,7% das exportações totais;

-Número de empregados (2016): 9.538. O número de trabalhadores aumentou de forma consistente entre 2012 (8.573 empregados) e 2016 (2,7%, em média, ao ano). Os maiores crescimentos anuais ocorreram em 2013 e em 2014;

-Dimensão das empresas (2016): 82,6% das empresas tinham menos de 10 trabalhadores, 15,4% contavam com 10 a 49 colaboradores; 1,9% tinham entre 50 e 249 e apenas 0,2% empregavam 250 ou mais trabalhadores;

-Faturação global do setor (2016): seis mil milhões de euros. O volume de negócios do setor aumentou em todos os anos do período 2012-2016; subida de faturação de 4%, em média, ao ano;

-VAB – Valor Acrescentado Bruto do setor (2016): 378 milhões de euros. Mais 62 milhões de euros do que em 2012; o VAB cresceu em todos os anos do período 2012-2016, crescimento de 4,7%, em média, ao ano;

-FBCF – Formação Bruta de Capital Fixo (vulgo, investimento, entre 2012 e 2016): O investimento produtivo acumulado entre 2012 e 2016 somou 409 milhões de euros;

– Peso do setor do vinho na economia (2016): O setor do vinho respondia por 1,4% do emprego em Portugal, por 1,9% do número de empresas e do VAB e por 2% do volume de negócios e do investimento produtivo na indústria transformadora;

– Aumento de qualidade dos vinhos (2000/2017): Em 2000/2001, dos 6,7 milhões de hectolitros produzidos, 3,26 milhões de hectolitros foram DOP (48,6%) e 1,342 milhões foram IGP. Na campanha 2016/17, dos 6,7 milhões de hectolitros, 3,586 milhões foram DOP (53,5%) e 1,901 milhões foram IGP (28,4%);

-Previsões para a campanha 2017/2018: Na altura em que foi concluído o estudo da Aicep, os dados provisórios apontavam para uma produção de 6,7 milhões de hectolitros de vinho, um volume muito próximo do verificado em 2000, mas superior em 682 mil hectolitros ao da campanha de 2016/17.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Produção de batata deverá cair 15% enquanto a do azeite aumenta


As condições climatéricas e algumas doenças vão ditar desempenhos diferentes na produção agrícola. Há menos batatas e mais azeite. O vinho, tal como já tinha sido revelado, deverá registar a menor produção dos últimos 20 anos.

Produção de batata deverá cair 15% enquanto a do azeite aumenta 
Rui Miguel Pedrosa

Sara  Antunes Sara Antunes saraantunes@negocios.pt
13 de dezembro de 2018 às 13:37

A produção agrícola vai ter desempenhos distintos consoante os produtos, num ano marcado por um aumento do rendimento agrícola. Haverá menos batata, e o preço deverá subir na mesma proporção, mas mais azeite e uma quebra pronunciada da produção de vinho.

A conclusão geral aponta para que, "em 2018, a produção vegetal tenha aumentado 0,9% em valor" mas o volume terá diminuído 3,1%, revela o Instituto Nacional de Estatística (INE). Já os preços deverão ter aumentado 4,1%.

Destaque para a quebra de 15% do volume de produção da batata, "devido a doenças (nomeadamente míldio) e diminuição da área originada pelo encharcamento dos solos", explica o INE. Este desempenho deverá provocar um aumento de 14,7% dos preços no produto, acrescenta a mesma fonte.

O vinho também deverá registar uma queda aparatosa (20%), tal como já tinha sido revelado anteriormente. As previsões apontam mesmo para "a menor produção de vinho em quantidade dos últimos vinte anos", confirmando assim as previsões divulgadas em Novembro.

Do lado oposto está o azeite, cujo volume de produção deverá crescer 8,7%. Apesar do maior volume, é previsto um aumento de preços no produtor de 0,3%.

O INE destaca ainda a produção do leite, que deverá contar com um aumento de 1,3%, enquanto se prevê que o preço cresça 3,4%.

Rendimento da atividade agrícola deve aumentar 0,6 por cento em 2018

2018 - 12:06

O rendimento da atividade agrícola em Portugal deverá aumentar 0,6 por cento em 2018, face a 2017, após um crescimento de 5,4 por cento no ano passado, segundo a primeira estimativa das contas económicas da agricultura hoje divulgada pelo INE.

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), esta evolução estimada "resulta fundamentalmente da combinação de um aumento de 3,5 por cento perspetivado para o Valor Acrescentado Bruto (VAB) com um decréscimo de 2,9 por cento dos outros subsídios à produção".

"A evolução nominal prevista para o VAB resulta do efeito conjugado do acréscimo da produção do ramo agrícola (+1,6 por cento), mais acentuado do que o do consumo intermédio (+0,4 por cento)", refere o INE.

Contudo, acrescenta, "em termos reais, estima-se uma diminuição do VAB (-1,5 por cento), refletindo uma redução mais pronunciada do volume da produção comparativamente com a do consumo intermédio (-1,2 por cento e -1,0 por cento, respetivamente)".

O aumento nominal da produção do ramo agrícola em 2018 resultou de acréscimos quer da produção vegetal (+0,9 por cento), quer da produção animal (+2,2 por cento), tendo-se registado, em termos globais, um decréscimo do volume (-1,2 por cento) e um aumento dos preços de base (+2,8 por cento).

Já os preços no produtor e os subsídios ao produto aumentaram 2,9 por cento e 0,9 por cento, respetivamente.

Em 2018, o consumo intermédio deverá apresentar um "ligeiro acréscimo" em valor (+0,4 por cento), em resultado de uma diminuição em volume (-1,0 por cento) e de um aumento de preços (+1,4 por cento), devendo-se esta evolução "sobretudo ao aumento dos alimentos para animais (+2,4 por cento), da energia (+1,3 por cento) e dos adubos e corretivos do solo (+7,5 por cento)".

"Estima-se que o consumo de alimentos para animais tenha aumentado em volume (+2,0 por cento), com aumentos nos alimentos simples e compostos", reporta o INE, acrescentando que "o aumento da produção pecuária, em particular de bovinos, conduziu a um consumo mais elevado de alimentos para animais".

Já o preço dos alimentos para animais deverá ter sido este ano "ligeiramente superior" ao de 2017 (+0,3 por cento), refletindo o aumento de preço dos alimentos compostos (+1,8 por cento).

Segundo o instituto estatístico, a importância relativa do ramo agrícola na economia nacional deverá manter-se em 2018 nos 1,7 por cento, estimando-se também que o volume de mão-de-obra agrícola se mantenha em valores próximos do ano passado (+0,3 por cento).

Numa comparação internacional, o INE reporta que, entre os triénios 2000-2002 e 2015-2017, o peso do VAB do ramo agrícola no VAB nacional "decresceu na generalidade dos Estados membros e na União Europeia a 27, mantendo-se Portugal acima da média europeia (1,6 por cento versus 1,3 por cento)".

Já o rendimento da atividade agrícola em Portugal evoluiu, entre os triénios de 2001-2003 e 2015-2017, "de forma menos favorável do que a média dos Estados-membros (+30,9 por cento versus +42,6 por cento), ultrapassando, no entanto, países mediterrânicos como França, Espanha, Itália e Grécia".

Em 31 de janeiro de 2019 o INE irá disponibilizar uma segunda estimativa das contas económicas da agricultura.

Nem as vacas voam, nem a economia avança


Sofia Afonso Ferreira, Fundadora do Democracia21 14 Dezembro 2018, 00:08

Esta decisão é um ataque ao mundo rural e aos produtores de carne e derivados, à economia nacional, e ineficaz quanto ao objectivo a que se propõe.
O Governo decidiu reduzir o número de bovinos para metade até 2050, com vista a diminuir a emissão de dióxido de carbono e gases equivalentes (CO2eq). A proposta integra o Roteiro para a Neutralidade Carbónica, apresentado em Lisboa e na Cimeira do Clima da ONU na Polónia (COP24) pelo ministro do Ambiente, João Matos Fernandes. Uma medida positiva? Errado. Por vários factores que não foram equacionados.

Vamos deixar de consumir carne? Não. O ministro responde a essa questão: a solução encontrada pelo Governo, "num quadro de maior liberalização mundial", é passarmos a importar a carne, nomeadamente do Brasil e Argentina. Uma decisão positiva para os portugueses, segundo o ministro – "a carne de vaca vai chegar a Portugal a preços mais competitivos". E como se reduz o gado? Com o fim dos subsídios, os produtores entram em falência, o número de vacas diminui.

Esta decisão é um ataque ao mundo rural e aos produtores de carne e derivados, à economia nacional e ineficaz quanto ao objectivo a que se propõe. Zonas importantes de produção de carne e produtos lácteos, como os Açores, vão ter a sua economia abalada de forma irremediável.

À partida os números de vários estudos são alarmantes e levam-nos a concordar com a medida, por cada quilo de bife produzido em sistema semi-intensivo no país são emitidos 27kg de CO2eq. Mas para tal muito se deve à ingestão da ração dada ao gado e aos fertilizantes nas pastagens, entre outros factores.

Um erro comum nesta linha de pensamento é não contabilizar o impacto das medidas de compensação para substituir o produto. Se removessem os animais da agricultura e da dieta dos EUA, um dos países que mais consome produtos animais, as emissões de gases de efeito de estufa seriam reduzidas apenas em 2,6%, devido à necessidade de substituir o estrume por fertilizantes sintéticos e à produção de produtos industriais com os naturais custos associados, para além do gado reciclar alimentos não comestíveis e subprodutos de processamento de fibras, convertendo-os em alimentos comestíveis para humanos e animais de estimação. Resumindo, o problema é apenas substituído por outro, não é solucionado.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, é possível reduzir em 30% o impacto ambiental da criação animal alterando a forma como se cria e alimenta os animais, na gestão do estrume e na redução da aplicação de fertilizantes sintéticos na produção ou acrescento da alga Asparagopsis taxiformis na ração, recorrendo a novas técnicas que poderão eventualmente reduzir a emissão de metano entre 80 e 99%.

Afinal, aniquilar o gado não tem o impacto que os ambientalistas e o ministro da Agricultura defendem. Infelizmente, num país que vai fechar o ano com 47 pré-avisos de greve de diversos e importantes sectores, o gado não faz greve.