sábado, 1 de junho de 2019

Um calor tropical, incêndios nas florestas, desmaios na rua e 45,5ºC à sombra. De 1884 a 1949 o calor também foi notícia em Portugal


8 ago 2018 17:19

Temperaturas chegam aos 35ºC no fim de semana. Saiba como vai estar o tempo estes dias
"Uma escaldante onda de calor está varrendo Portugal, tendo elevado a temperatura a 45,5ºC à sombra. Em Lisboa a temperatura subiu a 35ºC, tendo sido em Elvas que se registou o máximo de 45,5ºC". A notícia podia ser de agora, mas não é: foi publicada em 1949, no jornal A Manhã. E se ouvir dizer por aí que "a vaga de calor que passou sobre o país nos últimos dias provocou incêndios nas florestas", não pense que só agora é notícia, porque já em 1938 foi escrito, no Diário da Tarde. O calor em Portugal tem estado presente nos jornais — portugueses e não só — ao longo dos anos, em episódios que marcam a história.
 Um calor tropical, incêndios nas florestas, desmaios na rua e 45,5ºC à sombra. De 1884 a 1949 o calor também foi notícia em Portugal

Sábado, 4 de agosto de 2018, foi o dia mais quente deste século em Portugal continental. Os valores médios da temperatura máxima, 41,6 graus, e da temperatura mínima, 23,2 graus, foram também os mais altos dos últimos 18 anos. A temperatura máxima do ar mais alta foi de 46,8 graus e registou-se em Alvega, Abrantes.

Em comunicado, o IPMA adiantou que os valores médios da temperatura mínima, que foram superiores a 40 graus em três dias consecutivos (40,1, 40,9, 41,6, respetivamente 2, 3 e 4 de agosto), confirmam o caráter excecional deste episódio de calor em Portugal.

Contudo, recuando no tempo — e olhando para jornais de época — percebe-se que o calor tem sido notícia ao longo dos tempos. Em 1884 já se falava num calor "tão intenso em Portugal que tinha danificado a vegetação", bem como da "falta de água" em 1919. Já em 1930, "em Lisboa a temperatura subiu como nunca", falando-se até num "calor tropical" que fez "numerosas pessoas desmaiarem nas ruas". No mesmo ano — e à semelhança de 2018 — o verão "tardou mas chegou" e isso fez "as alegrias dos cervejeiros" na capital do país. Mas se o verão com altas temperaturas foi noticiado, de fora não ficou a neve em pleno mês de julho, em 1889, na Guarda.

E porque os incêndios também não são notícia de agora, em 1932 registou-se um "violento incêndio na floresta de Sintra, ameaçando as vilas circunvizinhas". Em 1938 e 1943, as páginas dos jornais também os assinalaram. "A vaga de calor que passou sobre o país nos últimos dias provocou incêndios nas florestas" e "nos campos e nas matas", havendo também referência a uma "tal violência que ameaça atingir as casas".

O desespero das populações e a admiração pelos fenómenos verificados também foi sendo referida. Em 1949, a onda de calor em Lisboa "causou tremendo pânico" e "centenas de pessoas desmaiaram nas ruas, principalmente mulheres. Muitas aterrorizadas e julgando que havia chegado o fim do mundo, começaram a rezar". Em Coimbra, o rio Mondego "ficou seco em várias partes" e "viam-se amontoados milhões de peixes mortos". Afinal, registaram-se "45ºC à sombra".

Esta recolha de recortes — com referências que podem parecer bastante atuais — esteve a cargo do responsável da página Torres Vedras Antiga, que prefere manter o anonimato. Ao SAPO24, explica ter recolhido as notícias "através da Biblioteca Nacional do Brasil", onde costuma procurar "antigas memórias sobre Torres Vedras".

 
"Por curiosidade pesquisei sobre o tema. Como seria o clima no verão de outros tempos em Portugal? Ao ler essas notícias antigas — com pelo menos mais de 70 anos — pareceram-me notícias recentes. Algumas coisas melhoraram, mas outras continuam iguais. Achei interessante", diz.

Quanto à página onde publicou o artigo, conta que tudo começou com um trabalho escolar. "Tinha algumas imagens antigas sobre este concelho e achei interessante criar uma página e partilhá-las. Teve logo uma excelente adesão — para a temática que é — e pensei em criar mais conteúdos sobre o património material e imaterial de Torres Vedras, o que poderá ajudar na preservação dessas 'antigas memórias', como lendas, histórias, imagens e vídeos antigos, recordações, curiosidades e figuras torrienses", começa por explicar. E, com o tempo, começaram a ser "os seguidores da página, de Portugal e de vários lugares do mundo, a ajudar em algumas memórias para publicação".

terça-feira, 28 de maio de 2019

O “ecossistema” da Califórnia

Pedro Santos
 
Nos últimos 20 anos, o valor da produção agrícola da Califórnia praticamente duplicou. E parece relevante assinalar que os produtores reconhecem que isso só foi possível pela enorme cooperação que existe entre todos e que permite criar um "ecossistema" que defende e promove a produção californiana nos Estados Unidos e no Mundo.

28 de Maio de 2019, 2:15

Estive recentemente na Califórnia, integrado numa missão de agricultores da região de Alqueva promovida pela Magos Irrigation Systems em parceria com a Consulai e com o apoio da EDIA, e tive oportunidade de conhecer um pouco da realidade agrícola daquele estado norte-americano.


É uma casa burguesa, com certeza — e ganha prémios no século XXI
A agricultura californiana impressiona pela sua escala e pelo seu dinamismo. No total, a agricultura na Califórnia ocupa uma área de 10,2 milhões de hectares (ou seja, uma área agrícola superior à área total de Portugal Continental) e representa um produto agrícola superior a 45 mil milhões de euros (cerca de 6,5 vezes o valor da produção agrícola nacional). Na Califórnia existem 77.000 explorações agrícolas, sendo a área média por exploração de cerca de 130 hectares. As principais atividades agrícolas da Califórnia são a produção leiteira, as uvas, as amêndoas, os pequenos frutos, as nozes, os pistáchios, o tomate indústria, o gado bovino para carne, os citrinos e os hortícolas.

Só tive oportunidade de conhecer aquilo que se designa como "Vale Central", composto pelo Vale de Sacramento e pelo Vale de São Joaquim, que representa cerca de 50% da área agrícola da Califórnia (cerca de metade da área total de Portugal), e que apresenta um declive médio inferior à Lezíria do Tejo.

Estes vales têm de facto excelentes condições edafoclimáticas para a produção agrícola. Nem tudo é perfeito, sobretudo aos olhos de um europeu; a tipologia de produção, com dotações de rega bastante acima daquelas que praticamos (por exemplo, na amêndoa regam uma média de 12.000 m3 por ha, quando em Portugal se regam alguns pomares com 4500 m3) e com baixas preocupações de eficiência no uso dos fatores, parece pouco sustentável e incompatível com as restrições regulamentares em vigor na Europa. É um problema que enfrentam, sobretudo marcado pelo prolongado período de falta de água que viveram nos últimos quatro anos, mas que também se percebe que têm uma enorme margem de progressão e que o farão de forma rápida.


De qualquer forma, nos últimos 20 anos o valor da produção agrícola da Califórnia praticamente duplicou. E parece relevante assinalar que os produtores reconhecem que isso só foi possível pela enorme cooperação que existe entre todos e que permite criar um "ecossistema" que defende e promove a produção californiana nos Estados Unidos e no Mundo. De variados exemplos, destaco quatro pontos que me parecem bastante diferenciadores da nossa realidade e que fazem bastante diferença.

O primeiro é a uniformidade na utilização da tecnologia. Percorrer o vale central da Califórnia é ver milhares de hectares que parecem todos iguais; é usado o mesmo compasso, as mesmas variedades, o mesmo sistema de rega, etc... Nas conversas com os produtores percebe-se que não se sentem motivados para "inventar", preferindo apostar na adoção de um modelo produtivo rentável e com resultados comprovados.

Um segundo aspeto é a existência de fortes estruturas de agregação da produção, quer sejam operadores privados, quer sejam organizações de produtores, que conseguem ter escala na comercialização dos seus produtos e inovar nos produtos que oferecem. Por exemplo, a Blue Diamond é uma cooperativa com mais de 3000 produtores de amêndoa, que comercializa mais de 165.000 toneladas de amêndoa e com um volume de faturação superior a 1000 milhões de euros. Em conversa com um dos diretores foi possível perceber o enorme foco na criação de diferenciação no mercado e no empenho colocado no acompanhamento dos produtores, garantindo que se sentem envolvidos e valorizados na venda da sua amêndoa.

Outro exemplo do tal "ecossistema" é a existência do Almond Board of California, que é uma organização (do tipo interprofissional) que agrega 6800 produtores e 100 processadores de amêndoa, apoiando a promoção e os mercados de exportação da amêndoa californiana e investindo em investigação e desenvolvimento. É uma estrutura que gere um orçamento anual de cerca de 90 milhões de euros, totalmente financiado pelos produtores de amêndoa. Repito: totalmente financiado pelos produtores!

Por último, queria destacar o modelo de extensão agrícola que têm no terreno em colaboração com a Universidade da Califórnia (UC Davis). Tivemos oportunidade de visitar um centro de experimentação onde se desenvolvem mais de 130 ensaios em resposta a problemas concretos dos agricultores. Os serviços da Universidade estão divididos em diferentes categorias, tendo um conjunto de mais de 200 advisors no terreno, em grande proximidade com os produtores, que têm o apoio de especialistas e de professores universitários. Um sistema capilar que permite identificar os problemas concretos e que contribui para que haja confiança por parte dos produtores na universidade.

Parece simples. Mas nós não temos conseguido fazer este percurso, mesmo quando existem incentivos disponíveis. Não conseguimos estabilizar modelos produtivos, não conseguimos na organização da produção, pelo menos de forma sistemática e com escala suficiente para afirmar Portugal nos mercados internacionais, nem conseguimos na ligação às entidades do sistema científico e tecnológico, que continua a depender integralmente de fundos públicos e tem por isso uma ligação à produção que fica aquém do desejável.


Apesar disto, muito tem sido feito nos últimos anos e acredito que podemos mudar ainda mais e aproveitar as excelentes oportunidades que se vão colocar ao nosso país e ao setor agrícola nos próximos anos

Três ideias nacionais que estão a dar cartas na nova agricultura /premium


27 Maio 2019954

Marta Leite Ferreira
O plástico que evita 500 toneladas de poluição, o fungo que abastece as plantas com nutrientes e o casaco impermeável para os cereais. Três ideias nacionais que vale a pena conhecer.

Imagine que alguém cobre a cidade de Lisboa com plástico de polietileno, aquele que é usado para fabricar os sacos pretos de lixo que usa em casa. Não com uma camada, mas com três. Essa é a quantidade de plástico que os agricultores usam anualmente quando preparam os campos para uma nova plantação. São entre 25 mil e 30 mil hectares de terreno cobertos por cinco mil toneladas de um plástico preto que, aos agricultores, ajuda a garantir a fertilidade e a controlar a humidade do solo. Mas que traz um problema para o ambiente. Quando são retirados, os plásticos costumam ser enterrados numa zona improdutiva dos campos. Ou amontoados ao ar livre.

E mesmo que os agricultores sigam os procedimentos aconselhados para o fim do ciclo de cada cultura, pelo menos 10% desse plástico fica enterrado nos solos. São 500 toneladas de um material de origem fóssil, isto é, feito através de petróleo, que ficam inevitavelmente sepultados nos terrenos de cultivo. E que podem não só contaminar os alimentos que ali se cultivem, mas também a água que circula por baixo deles.

Esta é uma das ideias inovadoras premiadas em Portugal, viradas para a nova agricultura, que estão a dar cartas a nível internacional. Com a ajuda da COTEC Portugal, organismo dedicado a estimular a inovação em Portugal (e que recentemente promoveu as sessões Open Shop Floor, com o IAPMEI), o Observador escolheu três casos de produtos e técnicas inovadoras que vale a pena conhecer.

O "plástico" que evita 500 toneladas de poluição
A Silvex — uma fabricante portuguesa de sacos de plástico e papel, películas e alumínio — criou uma solução premiada para o problema dos plásticos que cobrem as culturas. A empresa inventou um filme biodegradável chamado "Agrobiofilm" que pode substituir o polietileno nos campos agrícolas. Visualmente é parecido com os plásticos pretos onde se coloca o lixo, mas é mais fino, mais resistente e mais macio ao toque — quase semelhante à seda.

A Silvex não foi a primeira a criar um filme biodegradável, mas há duas coisas que o diferenciam das invenções das outras empresas. Em primeiro lugar, pode ser instalado nos campos agrícolas com as mesmas máquinas com que se coloca o plástico de polietileno. Além disso, "nós adaptamos o filme biodegradável a cada tipo de cultura": "Há opções para culturas que durem até seis meses, até 12 meses e mais de 12 meses. Fizemos ensaios em melão, pimento, morango e vinha, que têm diferentes portes e duração de ciclo".

As explicações vêm de Carlos Rodrigues, engenheiro agrónomo que trabalha com a Silvex. Segundo ele, em vez de se usar polietileno na produção deste mulch — o nome técnico para os plásticos de cobertura de solos — o filme biodegradável é feito de amido de milho e óleos vegetais. É por isso que, ao contrário do plástico tradicional, este pode "e deve" ser enterrado com os restos da cultura para ser transformado em matéria orgânica, água e dióxido de carbono.

Em vez de se usar polietileno na produção, o filme biodegradável é feito de amido de milho e óleos vegetais. É por isso que, ao contrário do plástico tradicional, este pode "e deve" ser enterrado com os restos da cultura para ser transformado em matéria orgânica, água e dióxido de carbono.
A ideia para inventar este produtos, que é "tão bom ou melhor que o polietileno", veio do diretor-geral da Silvex, Paulo Azevedo: "Ele também é agricultor. E uma vez, em passeio com uma professora do ISA [Instituto Superior de Agronomia] pelo Alentejo, reparou que havia muito plástico na terra. Aquilo chamou a atenção deles e ficaram a matutar no assunto até terem decidido fazer alguma coisa em biodegradável com os mesmos propósitos", recorda Carlos Rodrigues

Quando encontrou uma solução, a empresa candidatou-se a um programa da União Europeia que ajuda pequenas e médias empresas sem departamento de investigação a levar avante ideias como esta. A Silvex passou com uma pontuação a roçar a máxima. O projeto arrancou em 2010, estabeleceu-se em 2013 e agora já é usado em 500 hectares de cultivo em Portugal.


Um agricultor coloca o Agrobiofilm num terreno. Créditos: Silvex

É assim porque "os agricultores não ficaram indiferentes às preocupações com o plástico": "Há uma diabolização do plástico. Julgo que o problema não é do plástico, é nosso, que não o sabemos gerir, nem colocar no sítio certo. Mas isso resultou numa maior abertura do mercado a estas soluções, sobretudo este ano", analisa o engenheiro agrónomo. A ajudar está uma subvenção prometida aos agricultores que utilizem produtos amigos do ambiente, como este.

Para Carlos Rodrigues, o mulch biodegradável pode ser mais revolucionária — ou pelo menos mais impactante na saúde do ambiente — do que a Reforma da Fiscalidade Verde, a lei que taxou os 80 milhões de sacos de plástico usados nos supermercados para transportar as compras.

"Esses sacos ainda eram facilmente reutilizados para outros fins nas casas das pessoas. Mas este não pode ser reutilizado porque já está contaminado com pesticidas, com restos de plantas e terra. Até pode ser reciclado, mas é caro. E alguns países que o compravam, como a China, já nem sequer aceitam plásticos de má qualidade como esse, por isso ele fica para trás", descreve o engenheiro da Silvex. O Agrobiofilm, por outro lado, não precisa de passar por esse processo por ser destruído pelo solo.

O fungo que carrega as plantas com nutrientes
Glomus iranicum var. tenuihypharum é um fungo que coloca em esteroides as plantas onde assenta. E a Hubel Verde, uma empresa portuguesa especializada em produtos que diminuem o risco e potenciam o resultado das culturas, comercializa esse fungo através de um produto chamado MycoUp. Em testes laboratoriais, foi capaz de aumentar em 45% a produção total dos campos agrícolas onde foi usada. Durante pelo menos três anos consecutivos.

Em entrevista ao Observador, o engenheiro João Caço explicou que o MycoUp é "um bioestimulante do sistema radicular, composto por um fungo micorrizico", isto é, um microorganismo que, quando presente no solo, estabelece "uma simbiose com a planta, estimulando as raízes a absorver nutrientes e água de uma forma mais eficiente".


À esquerda, as raízes de morangueiro sem o tratamento com MycoUp. À direita, as raízes de morangueiro cultivado nas mesmas condições, mas com o produto à base do fungo. Créditos: Symborg/Facebook

Como? O fungo Glomus iranicum var. tenuihypharum é muito resistente porque não depende do ambiente em que está inserido. Aliás, consegue até sobreviver em ambientes muito ricos em fertilizantes ou altamente alcaninos — com p.H. de 9,5, dizem os testes. Tudo porque depende mais das plantas do que do ambiente para viver.

Ora, quando os esporos destes fungos entram dentro das raízes das plantas e se começam a reproduzir, elas sugam açúcares das plantas para sobreviverem. Mas, em troca, fazem duas coisas por elas: obrigam as raízes a expandirem e a absorverem mais nutrientes e minerais do solo; e potenciam a fotossíntese das plantas, sem que tenham de gastar mais energia.

Quando os esporos entram nas raízes, elas sugam açúcares das plantas para sobreviverem. Em troca, obrigam as raízes a expandirem e a absorverem mais nutrientes e minerais do solo. E potenciam a fotossíntese das plantas, sem que tenham de gastar mais energia.
Segundo as instruções na embalagem de MycoUp, este produto pode ser usado em quase todas as culturas — exceto nas de couves, couves-flor, repolhos, brócolos, trigo-mourisco e ruibarbo. Primeiro, tem de ser dissolvido em água. Depois, tem de ser introduzido no sistema de irrigação do campo agrícola.

De acordo com João Caço, esta solução é uma das que a Hubel Verde utiliza para "tornar as culturas agrícolas mais produtivas", mas "com menor impacto ambiental". "Todos estes produtos foram devidamente testados in loco e revelaram ser muito interessantes. O que distingue a Hubel Verde das outras empresas dentro da mesma área de serviços é o acompanhamento contínuo que é prestado aos agricultores, com visitas regulares aos campos de cultivo", conclui o engenheiro.

O casaco impermeável para os cereais
A história da Frulact começa com Arménio Miranda, pai do atual diretor-geral e acionista maioritário da empresa, João Miranda: "O meu pai teve um percurso brilhante ligado à investigação numa das maiores empresas de referência na área dos lácteos em Portugal. Foi pioneiro a lanç̧ar iogurtes com fruta no mercado português na década de 80", recorda, em conversa com o Observador.

A seguir, foi a vez do irmão de João, Francisco Miranda, ter dado um novo empurrão à Frulact: "Talvez inspirado pelo meu pai, foi também especializar-se em lácteos em Poligny". "Esta matriz técnica, no seio familiar, e todo o conhecimento de um mercado e categoria que o meu pai estava a ajudar a criar, aliado à minha vontade e ambiç̧ão em empreender, fizeram com que se reunissem as condições para o início da Frulact", resume João Miranda.

De acordo com o diretor-geral da empresa, o grande fator de inovação da Frulact — e aquilo que a diferencia da concorrência — é "a capacidade de gerar conhecimento": "A Frulact desde sempre pautou a sua atividade pela vigilância ativa dos mercados. Antecipamos as necessidades dos clientes e do mercado. É daí que vem mais de 60% dos nossos novos produtos", analisa João Miranda.

Mas a Frulact vai mais longe do que isso. Atualmente, a empresa tem em andamento seis projetos de inovação — alguns deles financiados por programas como o Portugal 2020 e pela União Europeia. Há um que se destaca, até porque já está totalmente concluído desde o ano passado: o Enrobee, que está a ser desenvolvido em parceria com Escola de Engenharia da Universidade do Minho.

De acordo com a Frulact, o projeto "Enrobee" tem como principal objetivo o desenvolvimento de um revestimento que proteja os cereais — e outros elementos com baixa quantidade de água, como as bolachas — da humidade. "Trata-se de um revestimento edível que funcionará como uma barreira à passagem de água", descreve a empresa.

De acordo com a Frulact, o "Enrobee" tem como objetivo o desenvolvimento de um revestimento que proteja os cereais da humidade. "Trata-se de um revestimento edível que funcionará como uma barreira à passagem de água", descreve a empresa.
O Enrobee funciona como uma espécie de casaco impermeável para os alimentos e garante que "não perdem propriedades texturais por hidratação indesejada, garantindo assim uma melhor conservação dos produtos durante o transporte, armazenamento e comercialização", concretiza a marca.

Do projeto resultou uma "matriz hidrolífica", isto é, uma cobertura que repele a água e que é capaz de protege os alimentos da humidade e da água. Essa cobertura pode ser feita de óleo de coco, cera de abelha, cera de carnaúba e etilcelulose, descobriu o projeto da Frulact com a Universidade de Minho. Um projeto que, afirma a empresa, é "uma clara inovação para o mercado português, europeu e mundial".

Empresários algarvios reclamam falta de mão de obra em setores que vão sentir impacto da automatização


Loulé, Faro, 17 mai 2019 (Lusa) - A destruição de 54 mil empregos no Algarve até 2030 devido à automatização é um cenário distante para empresários algarvios dos setores do turismo e da agricultura, que reclamam falta de mão de obra na atualidade.


Lusa
17 Maio 2019 — 17:12

À margem da apresentação de um estudo da CIP - Confederação Empresarial de Portugal, hoje realizada em Loulé, o administrador de uma cadeia hoteleira disse que o setor turístico na região algarvia precisa de 40 mil trabalhadores, enquanto um dirigente de uma cooperativa agrícola afirmou que na apanha da fruta não há portugueses disponíveis para trabalhar.

De acordo com a análise, a automatização vai causar a destruição de 54 mil postos de trabalho na zona sul do país, na próxima década, o que criará a necessidade de requalificar 27 mil trabalhadores.

No entanto, no mesmo período, entre 2020 e 2030, serão também criados 30 mil postos de trabalho na zona em análise.

A mudança líquida estimada de postos de trabalhos no setor de alojamento e restauração no Algarve será negativa e ronda os 8.000 postos de trabalhos perdidos até 2030.

Depois de ter ouvido estes números, Mário Azevedo Ferreira, da Nau Hotels & Resorts, reclamou que existe, na atualidade, "um problema laboral grave" no setor turístico algarvio face à falta de mão de obra.

"Se o estudo aponta para menos 8.000 postos de trabalho e o Algarve necessita, neste momento, de 40 mil trabalhadores, então precisamos de encontrar 32 mil pessoas para vir trabalhar para os nossos hotéis", apontou o empresário, considerando que o impacto na perda de postos de trabalho "se vai sentir mais na restauração do que no alojamento".

Reclamando a ausência de flexibilidade laboral imposta por uma legislação que impede que os trabalhadores com contrato possam fazer mais horas, o administrador hoteleiro questionou se o estudo teve em equação a realidade do trabalho temporário no setor.

"Não há mão de obra e não há flexibilidade laboral numa atividade sazonal. O que resultou no aparecimento e recurso massivo a estas empresas de trabalho temporário, apesar de a qualidade do serviço ser menor", disse Mário Azevedo Ferreira.

Também na área de agricultura, serviços florestais, caça e pesca, a mudança líquida estimada de postos de trabalho no Algarve será negativa, com a perda de quase 4.000 postos de trabalho na próxima década.

José Oliveira, da CACIAL - Cooperativa Agrícola de Citricultores do Algarve, sustentou que há "défice de mão de obra" no setor: na apanha da fruta, a cooperativa trabalha com uma equipa liderada por espanhóis e composta por trabalhadores do Leste da Europa, enquanto na área da seleção e acomodação de fruta há cada vez menos funcionárias disponíveis.

"Não há pessoas, em Portugal e no Algarve, para fazer este tipo de trabalho. É um problema bastante sério neste setor", acrescentou.

Segundo o estudo de âmbito nacional, a adoção da automação em Portugal pode levar à perda de 1,1 milhões de empregos na indústria e comércio até 2030, mas criar outros tantos na saúde, assistência social, ciência, profissões técnicas e construção.

domingo, 26 de maio de 2019

"A vinha e o vinho" em destaque na Feira Nacional da Agricultura de 08 a 16 de junho


Santarém, 20 mai 2019 (Lusa) -- O Presidente da República abre, dia 08 de junho, a 56.ª Feira Nacional da Agricultura, que, até dia 16, terá em destaque, no Centro Nacional de Exposições, em Santarém, "A Vinha e o Vinho".

A 56.ª Feira Nacional de Agricultura (FNA) / 66.ª Feira do Ribatejo foi apresentada hoje, em conferência de imprensa, no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), pelo presidente e pelo secretário-geral da Confederação dos Agricultores Portugueses (CAP), e pelo presidente da Câmara de Santarém, membros da administração do CNEMA, que organiza o certame.

A exemplo do que aconteceu em 2017 e 2018, em que o tema foi, no primeiro, os cereais, e, no segundo, a oliveira e o azeite, também na edição desde ano os visitantes vão ter, no grande pátio junto à entrada principal do centro de exposições, as diferentes formas de vinha existentes em Portugal, no que "começa a ser uma imagem de marca" da FNA, disse Eduardo Oliveira e Sousa, presidente do CNEMA e da CAP.

O espaço estará dividido em quatro talhões, um representando a vinha do Douro, outro a do Pico (ambas Património da Humanidade), outro terá perto de uma centena das mais de 200 variedades de vinha e outro mostrará o atual sistema de rega, especificou Luís Mira, administrador do CNEMA e secretário-geral da CAP.

O destaque dado este ano ao setor do vinho foi justificado pela importância que este tem vindo a adquirir na economia e na agricultura nacionais, pelo seu peso na balança externa e pela "qualidade crescente" que tem permitido a conquista de prémios internacionais, destacou Oliveira e Sousa.

Como produto "que requer conhecimento", a par dos avanços tecnológicos a divulgar em colóquios e seminários, na nave A serão proporcionadas aos visitantes "experiências" que permitirão, por exemplo, saber como escolher o copo certo, ou o prato mais indicado ou a temperatura para cada vinho, além de cursos de iniciação à prova de vinhos, provas temáticas de vinhos do Porto, Madeira e Moscatel de Setúbal, 'masterclass' de vinhos Casta Negra Mole, de Fernão Pires, de Vinhos Velhos, entre outras, salientou Luís Mira.

Lembrando que a FNA surgiu associada à Feira do Ribatejo, Oliveira e Sousa realçou o esforço que tem vindo a ser feito para que essa "marca" tenha "uma expressão individualizada" dentro do certame, permitindo a expressão de "tradições muito peculiares e muito próprias, como seja a ligação aos toiros e aos cavalos".

Assim, os nove dias do evento incluem atividades com campinos, toiros e cavalos, desde as largadas até às numerosas provas equestres - com destaque para o espetáculo "O cavalo na história", que poderá ser visto nos sábados de 08 e 15 de junho -- e às corridas de touros na Praça Celestino Graça, este ano com o regresso da "Corrida dos Agricultores", promovida pela CAP, a encerrar o certame, numa parceria com o movimento de cidadãos "Praça Maior".

Pela primeira vez, a Comissão Europeia vai instalar um pavilhão na FNA, além de contar com representantes em seminários e colóquios técnicos, com destaque para a presença, dia 14, do Comissário da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, Phil Hogan.

Para a edição deste ano, o CNEMA investiu no alargamento da zona de exposição lateral à nave A, uma área com 6.400 metros que dá mais espaço e maior visibilidade aos expositores, renovou as cozinhas e esplanadas na zona de "Tasquinhas", explorada por associações desportivas e culturais locais, que passa a ter decoração alusiva ao Ribatejo, acrescentou.

Outras melhorias passaram por alterações na circulação, facilitando o acesso ao grande ringue, pelo aumento das zonas sombreadas e por um novo espaço de estacionamento, que continua a ser gratuito.

Mantém-se a parceria com a Rodoviária do Tejo, que disponibiliza transporte diário desde a estação ferroviária, integrando um autocarro elétrico na sua frota, e cria carreiras específicas, em que o preço do bilhete já inclui a entrada na FNA, a partir de Lisboa, de Alpiarça e de Rio Maior, assegurando o regresso mesmo para os que fiquem até de madrugada.

A parceria com a CP volta a conceder um desconto de 30% para bilhetes com destino a Santarém nestes dias, em qualquer tipo de comboio.

Além do autocarro elétrico, as preocupações ambientais levaram o CNEMA a eliminar os copos de plástico, passando a existir copos recicláveis, mantendo-se a parceria com a Resitejo para reciclagem dos resíduos produzidos no certame, disse Luís Mira.

O cartaz de concertos da FNA abre dia 08 de junho com José Cid, seguindo-se, dia 09, o grupo "Capitão Fausto", atuando Conan Osíris dia 13, Marisa dia 14 e David Antunes e os convidados Samantha Fox e Toy no dia 15.

Dia 13 será dedicado ao município de Santarém, querendo o presidente da Câmara, Ricardo Gonçalves, contar nesse dia com a presença de "20.000 ou 30.000" visitantes do concelho, superando os 17.000 de 2018.