quinta-feira, 19 de julho de 2018

Californianos investem €150 milhões 4 mil hectares de Alqueva


14.07.2018 às 14h00

O fundo de investimento Route One Investment Company, que também tem participações na Google e na Microsoft já começou a plantar as primeiras amendoeiras, no final do ano passado, em Alvito e Aljustrel


Num espaço de três anos, de praticamente inexistente, a amêndoa passou a ser a segunda cultura mais importante em Alqueva, depois do olival


As negociações demoraram dois anos, num processo que envolveu reuniões nos dois lados do Atlântico, muitos prospetos e pedidos de informação técnica sobre características do solo, clima ou água. Até que deu frutos, e o fundo Route One Investment Company decidiu investir em Alqueva. As primeiras amendoeiras foram plantadas no final do ano passado, em Alvito e Aljustrel, mas agora que o ritmo de investimento, assim como a sua dimensão, acelerou é expectável que a pegada destes investidores sedeados em São Francisco, Califórnia, se espalhe para outras terras abastecidas pela água de Alqueva. Até 2020, o objetivo é ultrapassar os 3 mil hectares de amendoeiras, talvez chegar aos 4 mil. Entre aquisição de terra e os custos de plantação, o investimento total andará entre os €140 milhões e os €200 milhões.

A este valor acrescem mais €10 milhões, que estão a ser investidos na primeira de duas unidades de transformação de amêndoa que o fundo tem planeadas, perto de Évora. Quase concluída, a fábrica já vai poder receber as amêndoas que vão começar a ser colhidas naquela região no próximo mês de agosto, quando mais uma campanha arrancar. Além do descasque deste fruto seco, a unidade vai permitir a transformação em produtos alimentares, como snacks e leite de amêndoa, para mercados estrangeiros. Para o futuro, está a ser planeada a criação de uma marca própria. "Este investimento é de longo prazo, entre os 10 e os 20 anos", conta ao Expresso Bill Duhamel, o administrador da One Route. Por agora amêndoas, "mais tarde vegetais ou outros frutos secos, como os pistácios", acrescenta.

O fundo de investimento Route One, fundado em 2010, conta com participações em mais de uma dezena de empresas, do sector alimentar às tecnologias — incluindo a marca de nutrição Herbalife, a cadeia americana de lojas de material de construção Fastenal, o grupo de media Liberty Global ou a Post Holdings, uma das maiores companhias de produtos alimentares norte-americana. E, embora com participações mais modestas, está também presente em gigantes mundiais como a Alphabet (proprietária da Google) e a Microsoft. A carteira de ativos da empresa rondará os 2,3 mil milhões de dólares (€2 mil milhões).

O namoro entre Portugal e os norte-americanos, alheio à guerra comercial lançada por Donald Trump, tem primado pela rapidez, desde que a AICEP, a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, fez o primeiro contacto com estes investidores, na Califórnia. "Já investi em dezenas de países e nunca vi um executivo tão amigo do investimento", garante Duhamel, que ainda no passado mês de junho jantou com o primeiro-ministro António Costa, aquando da sua visita aos Estados Unidos, em que 'vendeu' as potencialidades de Alqueva a vários empresários californianos. Esta semana, foi a vez de o norte-americano deslocar-se a Portugal, para se encontrar com o ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, e apresentar o projeto de investimento. "Estamos a falar de um investimento 100% privado, que nem sequer concorreu a fundos", sublinha o governante. "Com a situação de seca pela qual a Califórnia, que é o maior produtor mundial de amêndoa, tem passado nos últimos anos, chegar a um sítio como Portugal com disponibilidade de terra fértil e a estabilidade de fornecimento de água garantida por Alqueva é um sonho para estes investidores. Para eles, o Alqueva é a nova Califórnia", realça.

DO ZERO AOS 7 MIL HECTARES
O investimento em Portugal foi intermediado por outro produtor de amêndoas em Alqueva, José Leal da Costa, que viveu mais de duas décadas na Califórnia e trouxe para aquela região alentejana variedades californianas deste fruto seco, com um travo mais doce e uma aparência mais dourada — mais apetecíveis, por isso, aos consumidores, numa altura em que a procura mundial de frutos secos continua a ser maior do que a oferta. Os preços dispararam há quatro anos (para perto de €9 cada quilo de miolo de amêndoa ao produtor) e, desde então, apesar da correção, os agricultores olham com apetite para esta cultura.

O Alqueva não escapou a esta onda de entusiasmo. Por isso, ao lado das oliveiras, que representam metade da área regada pela barragem de Alqueva, avistam-se agora filas e filas de amendoeiras — desenhadas a régua e esquadro, tal como o olival moderno, em regime intensivo e superintensivo. Em sequeiro, um hectare de amendoeiras não dá mais do que 120 quilos; em regadio e em sistema intensivo, a mesma área de terra pode produzir mais de duas toneladas de amêndoa.

Como lembra José Pedro Salema, presidente da EDIA, a empresa que gere as infraestruturas de Alqueva, "em 2015, apenas existiam mil hectares de amendoal inscritos nesta área. Em 2018, são já 6700 hectares, com tendência para aumentar". Por agora, as amendoeiras ainda não estão a substituir oliveiras, visto que a área de olival já chega aos 44 mil hectares, numa altura em que a área de Alqueva ocupada está nos 80%.

Grandes grupos agrícolas espanhóis, que entraram no Alentejo para plantar olival, estão agora a fazer amendoais, como o grupo De Prado, de Córdoba, a companhia catalã Borges International Group ou a valenciana Importaco Terra. E os produtores portugueses também entraram nesta onda. Em Ferreira do Alentejo, no início de 2017, foi inaugurada a primeira unidade de descasque de amêndoa rija do Alentejo, através da Migdalo, uma sociedade gerida pela família Sevinate Pinto.

Nos últimos anos, conta o responsável da EDIA, o perfil dos investidores em Alqueva tem-se vindo a alterar e começam a entrar em cena fundos de investimento, como a Route One Investment Company: "São investidores completamente diferentes, que procuram diversificar produtos e reduzir o risco através da aposta em bens físicos, como terra."

Agricultura recorre cada vez mais a imigrantes, alguns sem papéis

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras fiscalizou uma exploração agrícola em Santa Maria da Feira (Porto), em que 38, 4 % dos trabalhadores eram estrangeiros; dez estavam ilegais. E, numa operação em Odeceixe, identificaram 54 imigrantes, seis irregulares

16 Julho 2018 — 21:07


Nepaleses resgatados em propriedade agrícola podem ficar em Portugal
As duas ações de fiscalização tiveram lugar a semana passada e, segundo os dirigentes do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), "visam a prevenção e a deteção de situações de tráfico de pessoas para exploração laboral agrícola, através da disseminação e recolha de informação junto dos trabalhadores estrangeiros identificados".

O que os números também mostram é que, cada vez mais, o setor agrícola recorre à mão-de-obra estrangeira. São hindustânicos, imigrantes naturais do Paquistão, Bangladesh, Índia e Nepal, maioritariamente.

Coimas variam entre dez mil e 15 mil euros

Numa ação de fiscalização na sexta-feira à zona de Santa Maria da Feira detetaram dez cidadãos estrangeiros em situação irregular e que foram notificados para abandonar o país no prazo de 20 dias. Contou com operacionais das direções regionais do Centro e Norte do SEF, além da participação dos técnicos da Autoridade para as Condições do Trabalho.

Encontraram 25 imigrantes num total de 65 da mesma exploração. Quinze haviam já iniciado o processo para obter a autorização de residência em Portugal.

A entidade patronal dos cidadãos foi notificada e está sujeita a uma coima que pode ir até aos 15 mil euros.

Uma segunda ação de fiscalização na mesma semana, em Odeceixe, esta com a GNR, "intercetou várias viaturas de diferentes entidades empregadoras e identificaram 54 cidadãos estrangeiros, dos quais seis em situação irregular, que também foram notificados para abandonar o país",

Levantaram autos de contraordenação a duas empresas "por utilização de atividade de cidadão estrangeiro em situação ilegal, cujas coimas podem ir até aos 10 mil euros"

Clima "trocado": Suécia pede ajuda para combater incêndios e em Portugal pede-se calor


Enquanto Portugal se admira com o granizo no verão, no norte da Europa os incêndios já chegam ao Círculo Polar Ártico

18 Julho 2018 — 11:49


Mau tempo afeta ocupação de parques de campismo nos primeiros seis meses do ano
Em Portugal suspira-se por temperaturas mais elevadas - a temperatura média nos próximos dias rondará os 26 graus-, mas na Suécia só se deseja que essas baixem para que o país consiga controlar os incêndios que já chegam ao Circulo Polar Ártico, zona onde mesmo no verão o clima é frio.

As autoridades suecas já pediram aos parceiros da União Europeia para enviarem meios humanos e materiais para combaterem os fogos e ajudar na retirada das populações de quatro comunidades.

Centenas de pessoas tiveram de sair das suas casas e, segundo conta o diário inglês The Guardian as que vivem em zonas onde ainda não foi dada essa ordem têm de manter-se dentro das habitações e com as janelas fechadas para evitar a inalação de fumo. As ligações por comboio foram interrompidas.

A situação é muito complicada na região como comprovam as imagens transmitidas pelo satélite de observação Copernicus, responsável pela atualização diária dos fogos na Europa, que mostra mais de 60 incêndios na Suécia, mas também na Noruega, Finlândia e Rússia.


Imagem da NASA, com data de 11 de julho, que mostrava os focos de incêndios registados nesse diana Rússia© NASA
Uma situação que tem sido habitual no sul da Europa, mas que este ano está a surpreender o norte do continente, em mais uma demonstração do quanto atípico está a ser o clima.

Enquanto na Suécia e países vizinhos se vivem estas situações de fogos, em Portugal, os primeiros meses do ano ficam marcados pelo facto de a área ardida ser, de 1 de janeiro a 15 de julho, a segunda mais baixa da última década. E o número de fogos, de acordo com a Autoridade Nacional de Proteção Civil, ser o quarto mais reduzido desse período. Segundo os dados oficiais, registaram nesse período 6035 fogos que consumiram 5327 hectares, quando em 2017 já tinham sido queimados 74 895.


METEOROLOGIA
Queda de granizo cobriu Serra da Estrela de branco no domingo
Perante a situação de emergência que está a ser vivida na Suécia, a Noruega já enviou seis helicópteros de combate a incêndios e a Itália dois Canadair CL-415s. Uma resposta que no ano passado foi dada a Portugal quando o país foi atingido pelos grandes fogos que atingiram a zona norte e centro do país e que fizeram mais de uma centena de vítimas mortais.

Ilustrando a situação de emergência, habitantes de Uppsala (um pouco a norte de Estocolmo) disseram ao The Guardian que foram proibidos os churrascos depois de se terem registado 18 dias consecutivos sem chover.

"Este é, definitivamente, o pior ano nos tempos mais recentes no que diz respeito a incêndios florestais. Temos fogos todos os anos, mas 2018 está a ser excessivo", adiantou ao diário inglês Mike Peacock, um investigador e residente na região.

Salientando que sempre têm existido incêndios, as autoridades reconhecem que nunca chegaram às proporções deste ano, nem às zonas que estão a ser atingidas: algumas regiões da Gronelândia, Alasca, Sibéria e Canadá.

As autoridades suecas reconhecem que o risco de haver novos incêndios nos próximos dias é "extremamente alto" até porque as temperaturas vão manter-se pelos 30 graus. O que já levou o Sistema de Informação Europeu para os Incêndios Florestais a alertar que nos próximos dias vão manter-se condições muito propícias ao surgimento de fogos.

Alteração global

"O que estamos a assistir é a uma alteração global das áreas suscetíveis de terem incêndios, como no nordeste da Inglaterra e agora estes na Suécia", comentou Vincent Gauci, professor universitário.

Responsáveis da União Europeia recordam que está a assistir-se cada vez mais a anos atípicos no que diz respeito aos incêndios que tradicionalmente atingiam a zona dos países do sul da Europa, mas que agora estão a surgir em zonas e em períodos inesperados. E lembram ao The Guardian o longo período de fogos registado no ano passado em que arderam centenas de hectares em Portugal, Espanha e Itália.

Nova redução de gramagem nos pacotes de açúcar



Pacotes de açúcar vão ter menor quantidade
Foto: Carlos Manique /Arquivo Global Imagens



A quantidade de açúcar nos pacotes vai voltar a baixar. Em janeiro de 2017, a quantidade máxima permitida passou de 8 para 5/6 gramas e, a partir de 1 de janeiro de 2020, os pacotes que acompanham o café nas grandes superfícies não poderão ter mais do que 4 gramas.

O protocolo que visa levar à prática esta nova redução é assinado amanhã, quinta-feira, entre a Direção-Geral da Saúde (DGS) e a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), na presença do secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo.

O AÇÚCAR QUE NÃO VÊ NESTES PRODUTOS ALIMENTARES

FOTOGALERIA
Pedro Graça, diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, admite ao JN que se trata de "um projeto ambicioso e mais restritivo para as empresas de distribuição alimentar". Revela que o objetivo da DGS é "modificar os hábitos alimentares dos portugueses através da educação, alertando para os riscos de saúde como as cáries e diabetes." Lembra que atualmente tomar um café é um ato que está mais facilitado, a maioria dos hipermercados tem o seu próprio espaço, e esse é também um dos motivos para esta redução na gramagem do açúcar avançar nas grandes superfícies, afirma Pedro Graça.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, os hábitos alimentares inadequados são o fator de risco que mais contribui para o total de anos de vida saudável perdidos pela população portuguesa (19%) e um dos determinantes da doença crónica, que representa mais de 85% da carga de doença no sistema de saúde português

A redução do açúcar nos pacotes começou a ser aplicada em 2016, através de um compromisso de entendimento assinado entre o Ministério da Saúde e as Associações Representativas da Indústria Alimentar. Agora, a DGS vai ser mais ambiciosa e incentivar a grande distribuição a dar mais um passo em frente.

"O objetivo é que as pessoas que consomem um pacote de açúcar com o seu café o continuem a fazer, mas usando uma dose menor, contribuindo assim para a sua saúde", afirma Pedro Graça, acrescentando que se pretende também combater o desperdício alimentar, "pois há pessoas que não usam um pacote inteiro e o resto vai para o lixo".

Sobre a razão pela qual a medida só entrar em vigor a 31 de dezembro de 2019, o diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável explica que se pretende dar oportunidade aos distribuidores de escoar os milhares de pacotes de 5/6 gramas produzidos.

terça-feira, 17 de julho de 2018

Travar declínio do sobro custa (para já) 60 milhões


Foto: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens


NUNO MIGUEL ROPIO
Ontem às 14:18

Cerca de 60 milhões de euros é quanto pode custar, para já, a implementação de medidas de proteção do sobrado a Sul do país e o início do seu alargamento. Estas são as contas do grupo de cidadãos que constitui a "Iniciativa Pró-Montado", que pretende do Governo medidas que possam combater o avanço do deserto do Saara, entre elas o aumento do número de sobreiros, dos atuais 60 por hectare para 80 a 100.

Segundo o grupo, formado por produtores de sobro e cortiça, autarcas de vários municípios alentejanos, associações ambientalistas e ainda investigadores, as áreas de montado abaixo do rio Tejo estão em risco, e não é de agora. O objetivo passa por sensibilizar as autoridades a canalizar para o setor parte de verbas de fundos europeus do Portugal 2020 para a agricultura, que ficaram por executar, e outros que ainda estão a ser desenhados, de modo a apostar na resistência climática dos sobreiros.

Pedro Sousa, um dos produtores de sobro que faz parte da "Iniciativa Pró-Montado", garante que não se pode continuar a passar ao lado das doenças, pragas e secas que vêm atingindo a floresta a Sul - que concentra 72% dos sobreiros e 92% de azinheiras do país.

"Não há só uma floresta em Portugal. Há várias. No Norte e Centro são florestas lenhosas. E esta [sobrado], além do seu enorme valor económico, pode e deve servir para travar a desertificação do ´Sul do país", sustenta sobre uma floresta que, no ano passado, permitiu a exportação de 966 milhões de euros em cortiça.

Montado em agonia

Daí que o grupo exija o lançamento de um concurso regional para o Alentejo de apoio à melhoria de resiliência e de valorização ambiental. Em causa poderão estar cerca de 60 milhões de euros, dos fundos europeus do Portugal 2020, que poderiam ser reafetados a esta estratégia, para fazer face a cerca de "duas décadas de deterioração do clima e de três anos de seca seguida".

A possibilidade de haver um forte investimento em sobro na reflorestação do Centro e Norte, afetados pelos incêndios de 2017, não é vista com bons olhos pelo grupo. O motivo deve-se à falta de "resultados práticos", quanto a rendimentos de produtores e à qualidade da cortiça, já que "demorarão cerca de 30 a 40 anos a aparecer".

O apelo é que que o montado de sobro e também o de azinho "passem a ter programas de defesa e apoio próprios", para que a densidade por hectare aumente: passando de cerca de 60 árvores por um hectare para 80 a 100.

Segundo o grupo, um dos apoios financeiros para tal estratégia pode vir do reforço em 133 milhões de euros do Programa de Desenvolvimento Rural Florestal, que conta neste momento com 530 milhões de euros.

Pedro Sousa alega que o Alentejo mantém-se, "de longe", como "repositório principal do fornecimento de cortiça ao país", já que o "montado de sobro é o seu povoamento florestal" pode servir de barreira para o avanço do deserto.

Durante o levantamento da realidade do montado no Alentejo, para elaborar tais pedidos ao Governo, este grupo admite que sofreu "um valente susto". Nas serras de Portel, Grândola ou Santiago do Cacém, foram encontradas árvores em agonia e em desfolhação - queda prematura de folhas.

Estes cenários do sobro no Sul, bem como as intenções do grupo para inverter o declínio do setor, já chegaram às mãos do primeiro-ministro e do ministro da Agricultura. Até agora, ainda não houve uma resposta.

Impactos das alterações climáticas na agricultura é tema da Ovibeja em 2019

Os impactos e consequências das alterações climáticas na agricultura e o papel dos agricultores como "guardiões da biodiversidade" vão ser o tema principal da próxima edição da feira agropecuária Ovibeja, em 2019, em Beja, foi hoje anunciado.


Lusa
17 Julho 2018 — 10:03

Segundo a organizadora da feira, a associação ACOS - Agricultores do Sul, o tema vai ser abordado através de várias iniciativas durante a 36.ª Ovibeja, entre os dias 24 e 28 de abril de 2019, no Parque de Feiras e Exposições de Beja - Manuel Castro e Brito.

Colóquios, seminários, sessões de esclarecimento, apresentações e análises de estudos e exposições são algumas das iniciativas previstas e que vão reunir contributos de agricultores, estudantes, técnicos e especialistas nacionais e estrangeiros, indicou hoje a associação.

"Com a certeza de que não há agricultura sem homens, nem homens sem agricultura", os agricultores "são o grupo profissional que está na linha da frente para a tomada de medidas que permitam continuar a produzir alimentos e a desenvolver e a dinamizar o espaço rural de forma sustentável", considera a ACOS.

Os agricultores, continua, são "peças-chave na construção da paisagem" e "responsáveis" pela produção de alimentos de origem vegetal e animal, mas também pela "proteção do espaço rural e pela criação de condições que salvaguardem o equilíbrio entre a atividade produtiva e a proteção do meio ambiente".

Por isso, frisa, os agricultores podem dar "contributos fundamentais para a mitigação e a reversão dos impactos causados pelas alterações climáticas".

A ACOS considera ainda que "o empenho e o esforço dos agricultores na manutenção e na salvaguarda do meio ambiente têm de necessariamente ser tidos em conta na nova Política Agrícola Comum".

Para tal, a associação, "com base em parcerias, sessões de esclarecimento e reuniões", está a reunir contributos para "trabalhar, reunir e veicular informação relevante sobre a matéria".

Quatro empresas angolanas do setor agrícola em risco


Quatro empresas estatais angolanas do setor agrícola estão em risco, por não gerarem lucros, e o futuro será avaliado em 30 dias por um grupo de trabalho nomeado pelos ministros das Finanças e da Agricultura e Florestas.


Lusa
16 Julho 2018 — 09:12

Em causa, segundo despacho conjunto de 10 de julho, consultado pela Lusa, estão a Sociedade de Desenvolvimento de Perímetros Irrigados (Sopir), Sociedade de Desenvolvimento do Polo Agro-industrial de Capanda (Sodepac), da Empresa Nacional de Mecanização Agrícola (Mecanagro), bem como a Empresa de Rebeneficiamento e Exportação de Café (Cafangol).

O despacho conjunto reconhece o "esforço que o Estado angolano tem empreendido na busca de soluções para recuperação e revitalização das empresas públicas e a necessidade de se desenvolver ações concretas" para "aferir a situação atual" das quatro empresas de capital público.

O documento acrescenta, além da criação do grupo de trabalho, a "necessidade de acompanhar e monitorizar" as quatro empresas, "visando apresentar propostas concretas sobre o futuro" das mesmas.

O grupo será liderado por Walter da Cruz Pacheco, da Unidade de Gestão da Dívida Pública, e entre as tarefas consta a identificação das "principais causas que estão na base da incapacidade" daquelas empresas "em desenvolver os planos de negócios pré-concebidos para rentabilização" das mesmas.

A Lusa noticiou a 10 de maio que o Governo angolano prevê privatizar 74 empresas públicas a médio prazo, sobretudo do setor industrial, processo que entre 2013 e 2017 permitiu um encaixe financeiro para o Estado de quase 20 milhões de euros.

A informação consta de um documento enviado aos investidores, no qual é referido que Angola privatizou entre 2013 e 2017 um total de 29 pequenas empresas.

"Angola pretende privatizar mais 74 empresas a médio prazo. Globalmente, o Governo pretende vender toda a sua participação nessas empresas, a maioria das quais opera no setor industrial", lê-se no documento. Recorda ainda que a política de longo prazo do Governo é que as empresas que não sejam obrigadas a permanecer na esfera pública, por questões políticas, "devem ser privatizadas".

Contudo, o documento não adianta quais as empresas a privatizar ou o montante que o Governo estima arrecadar com essas operações.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Todos desistiram da plantação de papoila branca no Alqueva


O objectivo que a cultura da planta dormideira produtora de ópio pretendia atingir, cerca de 6000 hectares até 2016, ficou pelo caminho. Em 2018 não foi plantado um único hectare.

CARLOS DIAS 16 de Julho de 2018, 8:50 Partilhar notícia



A cultura de papoila branca (Papaver somniferum L.), também conhecida por planta dormideira, destinada à produção de morfina, deixou os campos do Alqueva, cinco anos depois de ter sido iniciada a sua exploração. O excesso de oferta deste produto no mercado mundial ditou o fim do investimento em Portugal.

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À expectativa criada à volta da uma nova e exótica cultura, considerada "interessantíssima" pelos agricultores que aderiram ao projecto (cerca de meia centena) sob fortes medidas de segurança, seguiu-se o fracasso de uma iniciativa que chegou a ser considerada pelos autarcas de Beja um "investimento estratégico" para a região.

A Macfarlan Smith, empresa escocesa que foi pioneira na plantação de papoilas brancas nos campos do Alqueva, pretendia, para além da produção de matéria-prima, proceder numa fase posterior à sua transformação numa fábrica nos arredores de Beja. Seriam investidos, numa primeira fase, cerca de 4 milhões de euros e, posteriormente, o alargamento das instalações implicaria um investimento de 20 milhões de euros com a promessa de criação de 30 postos de trabalhos fixos. 

Neste sentido, a empresa escocesa iniciou em 2009 estudos e experiências para atestar o grau de adaptabilidade agronómica da cultura à região do Alentejo. O trabalho de investigação foi coordenado pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e teve a colaboração do Ministério da Agricultura, da Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas do Alqueva (EDIA), do Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio (COTR) e do Instituto Politécnico de Beja (IPB).

As experiências efectuadas em cerca de 100 hectares abriram "excelentes perpectivas" pela qualidade dos terrenos, o sol persistente e a abundância de água debitada por Alqueva, ou seja, os ingredientes fundamentais para suporte da cultura de plantas dormideiras. A primeira campanha arranca em 2012 e ocupou 650 hectares. Vaticinavam-se resultados "muito promissores". As primeiras colheitas apresentaram valores de morfina "muito satisfatórios e encorajadores" e a Macfarlan Smith não poupou nos predicados para dar "continuidade ao investimento da cultura no país", assumia, na circunstância a Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo (DRAPAL).

A EDIA passou a demonstrá-la como exemplo da diversidade cultural que Alqueva potenciava para contrariar a ideia da hegemonia da monocultura do olival e, rapidamente, se antecipou para 2014 a ocupação de 6 mil hectares no regadio do Alqueva. Os mais entusiastas admitiam que podia chegar aos 10 mil. A terra não era problema. Os menos optimistas ficavam-se pelos 3000 hectares.

"Bom rendimento"
Nos anuários agrícolas publicados pela EDIA, a cultura de papoila branca passou a ser descrita como "uma boa alternativa aos agricultores das novas áreas de regadio". Estava garantido "apoio técnico, por parte das empresas promotoras" (Macfarlan Smith e TPI Enterprises) e "um bom rendimento" aos agricultores que aderissem ao projecto.

A EDIA anunciou em 2016 que a área ocupada por papoilas já tinha "ultrapassado a barreira dos 1000 hectare". E com a presença de "dois player's no mercado, é previsível que a área continue a aumentar, contudo a um ritmo mais reduzido", dizia na altura. Foi o primeiro e subtil sinal de alerta a deixar dúvidas sobre a sustentabilidade da nova cultura. No seu anuário agrícola de 2017, a empresa gestora do regadio do Alqueva reconhece: "Contrariamente às previsões do último ano, a área de papoila não aumentou, tendo mesmo reduzido para cerca de metade". Com efeito, em 2017 foram inscritos 509 hectares nos perímetros de rega de Alqueva, quando em 2016 a área ocupada chegou aos 1070 hectares.

A empresa avança com uma possível causa: "Aparentemente existem duas razões para a redução da área de papoila. A primeira é a saída de uma das empresas responsáveis pela produção do mercado português, a outra a saturação do mercado mundial de substâncias opiáceas, com excesso de oferta deste produto". Leitura que está confirmada no Relatório do Comité Internacional de Controlo de Estupefacientes de 2016 ao referir que a área semeada com papoila rica em morfina nos principais países produtores "diminuiu aos níveis do ano anterior na Austrália, França, Hungria e Espanha". No país vizinho, a área real colhida de papoila "foi 66% menor que no ano anterior", enquanto na Turquia, outro país produtor, "mais que dobrou" em relação a 2015, refere o documento. E acrescenta: a produção global de matérias-primas de opiáceos, ricos em a morfina "excedeu a procura global de morfina". E em 2016, a produção de morfina continuou a exceder a procura.


Excesso de produção
O excesso de produção de papoila de ópio "é uma das causas que terão justificado o abandono da cultura no Alentejo", reforça Francisco Palma, presidente da Associação de Agricultores do Baixo Alentejo (AABA). É um produto específico que "sofreu as consequências de um mercado desajustado e as coisas começaram a correr mal", acentua o dirigente associativo, que disse ao PÚBLICO ter recebido indicações de que "este ano (2018) não se plantaram papoilas" na região. E deixa críticas às entidades públicas por terem aceitado "sem garantias" os projectos apresentados pela empresa escocesa (Macfarlan Smith) e australiana (TPI Enterprises). Esta última anunciou em 2017 a venda da sua subsidiária portuguesa, alegando que a aquisição de uma empresa na Noruega "tornou desnecessário o investimento na produção em Portugal". Recorde-se que esta também chegou a anunciar ter como objectivo alcançar 3000 hectares de cultura e a instalação de uma fábrica, onde iria investir cerca de 10 milhões de euros.

O PÚBLICO solicitou esclarecimentos à empresa mãe da Macfarlan Smith, a Johnson Matthey Fine Chemicals, sobre as razões que levaram a cessar a produção de papoila branca no Alentejo, mas até ao fecho da nossa edição não obtivemos qualquer resposta.


Questionado o presidente da Câmara de Beja, Paulo Arsénio, entidade que assinou no anterior executivo um protocolo com a empresa escocesa para a instalação de uma fábrica para armazenamento e processamento inicial das papoilas, junto ao aeródromo de Beja, disse não saber "se haverá desenvolvimento desta actividade" admitindo que as actuais condições "não são favoráveis" à concretização do projecto.

Questionada a Johnson Matthey Fine Chemicals, a casa-mãe da empresa escocesa. Pranika Sivakumar, que se apresenta como gestor de conteúdos, confirma que devido "à maior disponibilidade de matérias-primas utilizadas na produção de opiáceos", a MacFarlan Smith "decidiu cessar as operações relacionadas com a cultura da papoila em Portugal" e já não irá avançar com o projecto de construção de uma fábrica em Beja para tratamento da produção que depois seria enviada para Edimburgo.

Governo vai pagar a proprietários que optem por floresta resiliente


Os proprietários e municípios que contribuam com serviços de ecossistemas, como biodiversidade, floresta, água ou solo, vão receber um pagamento do Estado. A intenção, aprovada este sábado em Conselho de Ministros, ainda está a ser estudada.

Governo vai pagar a proprietários que optem por floresta resiliente

14 de julho de 2018 às 17:03

O Governo vai pagar a proprietários que optem por uma floresta resiliente e aos municípios com territórios que prestem serviços de ecossistema, anunciou este sábado o ministro do Ambiente.

A medida, que ainda está a ser trabalhada juntamente com "a maior parte das universidades portuguesas" e que estará definida em Setembro, pretende pagar a proprietários e municípios que contribuam com serviços de ecossistemas (como biodiversidade, floresta, água ou solo), afirmou o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes.

O objectivo é um dos dez compromissos para o território, inseridos no Programa Nacional da Política Ordenamento do Território (PNPOT), cuja revisão foi ontem aprovada em Conselho de Ministros Extraordinário, que decorreu na Pampilhosa da Serra, distrito de Coimbra.

Dando um exemplo sobre como é que poderá surgir essa remuneração, o ministro do Ambiente referiu que pode haver transferência directa de dinheiro para proprietários que optem por uma floresta resiliente, ao contribuírem para o capital natural do país.

Na dimensão dos municípios, serão transferidas e incorporadas "competências nos municípios", com factores "que privilegiem exactamente esses territórios com maior capital natural", vincou.

Segundo João Pedro Matos Fernandes, a ideia de pagar pelos serviços de ecossistema prestados vai arrancar com dois projectos piloto no país, na Serra do Açor e no Parque Natural do Tejo Internacional.

"É fundamental remunerar os serviços de ecossistemas que são prestados", realçou, considerando que a presença de pessoas é importante não apenas "para a noção primeira de abandono, mas para uma segunda, que é a perda do próprio capital natural, que justifica e sustenta um conjunto de actividades do país".