quarta-feira, 3 de abril de 2019

Portugal Ventures investe 600 mil euros na Agri Marketplace


Mariana de Araújo Barbosa
2 Abril 2019

Plataforma que liga agricultores e produtores ao mercado global recebe o 4.º investimento do ano da gestora de capital de risco pública.


A plataforma Agri Marketplace, que liga diretamente agricultores e produtores ao mercado global, fechou uma ronda de investimento de 600 mil euros feita pela Portugal Ventures.

Este é o 4.º investimento do ano da gestora de capital de risco pública, depois das rondas anunciadas nas startups Shiptimize, Advertio e Logical Safety, no valor de meio milhão de euros cada uma. O financiamento é liderado pela Portugal Ventures mas conta ainda com a participação do fundo de investimento internacional Portinvest.

Portugal Ventures investe em menos startups. "Existimos para fazer unicórnios"

O investimento na Agri Marketplace é resultado da Call MVP, iniciativa lançada no último trimestre de 2018 e que recebeu 156 candidaturas de startups em early stage.

 

"Com este investimento a Agri Marketplace irá reforçar a sua presença nos mercados-alvo, através do reforço das suas equipas, a diferenciação da sua oferta, por via de uma clara aposta no contínuo desenvolvimento tecnológico da plataforma, criando novas funcionalidades que irão beneficiar os nossos clientes, atraindo novos mercados e utilizadores", detalha Tiago Pessoa, CEO da Agri Marketplace. A plataforma de negociação está, neste momento, focada no desenvolvimento do negócio em Portugal, Espanha, França e Itália, disponibilizando já nestes mercados, cereais (milho, cevada, arroz e trigo) e frutos secos (amêndoa, pistachos, avelãs e nozes), variedades que representam um volume de transações superior a 50 biliões de euros no mercado europeu.

Em 2019, com o investimento da Portugal Ventures, a empresa quer reforçar a sua atividade de internacionalização e expansão na Europa e nos Estados Unidos, tendo como foco a Califórnia, adianta a gestora de capital de risco em comunicado.

Criada por quatro sócios — os agricultores Filipe Núncio e Tiago Pessoa, com mais de 20 anos de experiência no setor agrícola, e José Magalhães e Luís Silva, com experiência nas áreas da gestão, finanças e IT –, a startup de Alcácer do Sal instalou-se recentemente na incubadora Taguspark, parceira da Portugal Ventures na sua rede de Ignition Partners Network.

A plataforma torna mais simples vender e comprar produtos agrícolas através de ferramentas de vendas, marketing, serviços de logística e inspeção de qualidade, ligando diretamente agricultores e organizações de produtores aos seus clientes e evitando a intermediação na cadeia de valor. Ao suprimir custos de intermediação tradicional, a Agri Marketplace é uma alternativa para potenciar o negócio agrícola, tendo registado, até ao momento, mais de 5 milhões de euros de transações online.

Portugal Ventures lança nova call especializada
Com o investimento na plataforma, a Portugal Ventures anuncia ainda a criação da Call Agrotech Economy, cujo objetivo é investir 2,5 milhões de euros em "inovação, eficiência e produtividade dos setores da agricultura, pesca e pecuária".

"O investimento na Agri Marketplace e na sua equipa de fundadores reforça a estratégia que a Portugal Ventures delineou para a captação de dealflow especializado", justifica Rita Marques, CEO da Portugal Ventures.

A nova call deverá estar disponível no início de maio e tem como objetivo investir até um milhão em cada projeto de tecnologias — hardware e software — assim como em produtos inovadores "que melhorem a eficiência e a produtividade das atividades agrícolas, agropecuárias e da agro-indústria".

Associação enganou inspectores do Ministério da Agricultura


Documentos entregues para provar a actividade da L'atitudes dizem quase exclusivamente respeito a acções realizadas por outra associação.

 José António CerejoJosé António Cerejo 1 de Abril de 2019, 7:07 Partilhar notícia

Câmara de Castelo Branco CARLA CARVALHO TOMÁS
No início de Outubro, quem passava no Largo de São João, em Castelo Banco, reparava necessariamente num edifício de dois pisos com as letras Adraces afixadas na fachada. O reclamo, de grandes dimensões, identificava as instalações do pólo local da Associação para o Desenvolvimento da Raia Centro-Sul, cuja sede estava, e continua a estar, em Vila Velha de Ródão. Na fachada do prédio nada mais havia, a não ser uma caixa de correio.

Duas semanas depois, o anúncio da Adraces havia sido removido e, por cima da caixa de correio, tinham sido colocadas duas discretas placas de acrílico: uma tinha o logótipo da associacão L'Atitudes e a palavra "sede" na parte inferior; a outra identificava a presença de um Centro de Informação Europeia.


O Centro de Interpretação do Românico é "a unidade dentro da diversidade"
Por coincidência, ou não, as mudanças ocorridas na fachada do edifício antecederam a visita de uma equipa da Inspecção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT). A deslocação dos inspectores a Castelo Branco, comunicada à L'atitudes seis dias antes, como estabelecem as regras deste tipo de acções de controlo, destinava-se precisamente a verificar a conformidadade do destino dado aos 200 mil euros que a associação recebeu do Proder com os regulamentos em vigor.

Um dos principais tópicos do controlo consistia na confirmação do funcionamento, no local, da sede da L'atitudes e do chamado Centro de Apoio ao Desenvolvimento Socioeconómico e Cultural da Beira Interior Sul - serviço cuja criação pela associação, juntamente com a recuperação do edifício, foi a principal justificação da atribuição do subsídio.

Por outro lado, cabia à equipa da IGAMAOT verificar se os objectivos específicos que a associação se propunha atingir com a candidatura tinham sido cumpridos. Entre eles destacava-se a publicação de uma newsletter mensal, a promoção de um workshop temático por mês, a realização de seis acções de formação por ano e de outros tantos "eventos promocionais de sensibilização e cidadania".

Tudo bem, concluiu a IGAMAOT
Terminado o trabalho, os inspectores concluíram no seu relatório, em fins de Dezembro, que estava tudo bem, referindo nomeadamente que "a operação foi executada de acordo com o aprovado e contratado" e que "o beneficiário mantém os compromissos assumidos".

De acordo com a documentação recolhida pela equipa e consultada pelo PÚBLICO na IGAMAOT, ao abrigo da Lei de Acesso aos Documentos Administrativos (LADA), tudo parecia efectivamente correcto. Aquilo de que os inspectores não se aperceberam, até por causa da natureza deste género de acções de controlo e do tipo de verificações que lhe está associado, foi que os serviços existentes no edifício têm a ver apenas com o pólo local da Adraces e que a quase totalidade dos elementos que lhes foram disponibilizados se refere a acções desenvolvidas por essa entidade e não pela L'atitudes, a beneficiária do subsídio.

É o caso das newsletters entregues à IGAMAOT para provar que a L'atitudes estava a cumprir os objectivos assumidos no pedido de apoio. O mesmo sucede com um outro conjunto de documentos apresentados como resultado do trabalho da associação, mas que foram produzidos e difundidos pelo Centro de Informação Europeia - entidade que era gerida pela Adraces, com um financiamento da Comissão Europeia no valor de 30 mil euros por ano, e que foi extinta no dia 31 de Dezembro por decisão desta instituição.

As bases de dados de beneficiários cuja elaboração competia à L'atitudes e que foram fornecidas aos inspectores também não passam de listagens das pessoas e organizações às quais a Adraces envia as suas publicações.

Para tentar esclarecer a real actividade da L'atitudes, o PÚBLICO pediu à sua direcção que elencasse os principais projectos desenvolvidos e lhe facultasse o acesso aos seus relatórios de actividades. A resposta veio por escrito e diz que a associação considera "não serem atendíveis razões" para disponibilizar essa informação. O mesmo foi respondido, quanto ao pedido de identificação dos membros dos seus órgãos sociais.

Para justificar esta recusa, a associação alegou que não está abrangida pela LADA, uma vez que o que foi financiado por fundos públicos foi o "investimento" nas obras, e não as "actividades" da associação. No seu entender, a obrigação de revelar aqueles elementos só existiria se as suas "actividades" fossem maioritariamente financiadas por dinheiros públicos, o que, segundo afirma, não é o caso.

Fundador está na prisão
Apesar de se recusar a identificar os seus membros e respectivos cargos, a direcção identificou todos os sócios da L'atitudes. São eles, alem da associação Adraces, os seguintes autarcas e ex-autarcas eleitos pelo PS: Álvaro Rocha (ex-presidente da Câmara de Idanha-a-Nova), Armindo Jacinto (ex-vereador e actual presidente da mesma autarquia), Arnaldo Brás e João Carvalhinho (ex-vereadores da Câmara de Castelo Branco), Domingos Torrão (ex-presidente da Câmara de Penamacor), Joaquim Soares (ex-vereador de Idanha-a-Nova), Joaquim Morão (ex-presidente das câmaras de Castelo Branco e Idanha-a-Nova), Luís Correia (ex-vereador e actual presidente da Câmara de Castelo Branco), Luís Pereira (ex-vereador e actual presidente da Câmara de Vila Velha e Ródão) e Maria do Carmo Sequeira (ex-presidente da mesma autarquia).

Na lista dos sócios não consta, no entanto, o nome de António Realinho. Segundo João Carvalhinho, o fundador e primeiro vice-presidente da associação, "solicitou, há meses, a sua desvinculação" da condição de sócio. Este economista e empresário, que até ao Verão passado era vice-presidente e director-executivo da Adraces, actualmente presidida por Joaquim Morão, está desde Agosto a cumprir uma pena de quatro anos e meio de prisão efectiva a que foi condenado por burla e falsificação em negócios de uma da suas empresas, sem qualquer ligação à Adraces.

Em 2015 e 2016, conforme o PÚBLICO revelou em Março do ano passado, duas das suas empresas foram utilizadas pela Câmara de Lisboa para simular uma consulta ao mercado e viabilizar a contratação de Joaquim Morão como consultor do vereador Manuel Salgado.

Quanto aos actuais sócios da L'atitudes, dois deles - Domingos Torrão, agora desligado do PS, e um outro que pediu para não ser identificado - disseram ao PÚBLICO que não se recordam de alguma vez ter ouvido falar na L'Atitudes. Sobre as actividades da associação, usaram a mesma expressão: "Não faço a mínima ideia." O mesmo respondeu Manuel Eusébio, ex-vereador do PSD que participou na reunião de 2013 em que o subsídio camarário foi aprovado, e Carlos Almeida, o actual vereador desse partido que tem reclamado, repetidamente e em vão, a elaboração de um regulamento municipal de atribuição de subsídios.

Desconhecimento absoluto sobre a existência da associação foi o que revelaram igualmente numerosos residentes em Castelo Branco, entre as quais advogados e jornalistas e militantes de vários partidos.

Mas embora a L'atitudes se tenha recusado a facultar os seus relatórios de actividades e contas, o PÚBLICO obteve os de 2015, 2016 e 2017 junto da IGAMAOT. A conclusão é confrangedora: os três documentos são, em grande parte iguais e as actividades que a associação diz ter desenvolvido são quase sempre da exclusiva responsabilidade da Adraces.

Questionado sobre os apoios atribuídos à L'atitudes pela Câmara de Castelo Branco, o seu presidente afirmou que a cedência à associação de um imóvel, "devoluto e muito degradado (…) permitiu que, através do acesso a fundos comunitários, [ele] pudesse ser recuperado, valorizado e utilizado ao serviço da comunidade, mantendo-se na titularidade do município, tendo assim no caso vertente sido perseguido o interesse público municipal".

Luís Correia rejeita, por outro lado, a existência de quaisquer impedimentos legais para ele próprio e Joaquim Morão, tal como os vereadores Arnaldo Brás e João Carvalhinho, intervirem na aprovação dos apoios e subsídios à associação de que eram sócios.

Os autarcas em questão não estavam impedidos de intervir, afirma - contrariando o entendimento dos tribunais (ver texto à parte) -, porque "a câmara, ao deliberar como deliberou, fê-lo na prossecução do interesse público do município, contribuindo para a recuperação de um imóvel que era – e é – seu e [porque] o apoio monetário foi concedido a uma associação que, em termos estatutários, também prossegue o interesse geral da comunidade, inexistindo pois interesses contrapostos ou conflituantes capazes de pôr em causa o princípio da imparcialidade no exercício das suas funções de vereadores". 

Relativamente ao facto de o subsídio ter sido concedido para a execução das obras, quando, nos termos do contrato de cedência do edifício, cabia à associação "recuperar o imóvel e financiar a respectiva requalificação", Luís Correia também não vê aí qualquer problema. "A Associação L'atitudes foi, efectivamente, a entidade que procedeu à recuperação do imóvel e assegurou o financiamento da obra. O subsídio corresponde apenas a uma parte – minoritária – do investimento total", sustenta o autarca, que tem a correr contra si, no Tribunal Administrativo e Fiscal de Castelo Branco, um processo em que o Ministério Público pede a perda do seu mandato por ter assinado, em representação do município, vários contratos de empreitada com o próprio pai. 

O PÚBLICO perguntou também a Joaquim Morão se não considerava ter violado o Estatuto dos Eleitos Locais e a legislação sobre impedimentos ao celebrar um contrato de comodato com uma associação de que era presidente e propor ao executivo municipal a concessão de um subsídio à mesma associação, mas não obteve resposta. A carta enviada para António Realinho a pedir uma entrevista, através do Estabelecimento Prisional de Castelo Branco, também não teve resposta.

Bio_lógico, vale mesmo a pena?


28.03.2019 às 12h20

Os produtos biológicos explodiram e levaram à criação de empresas de milhões que já em 2019 contam multiplicar por 10 o volume de negócios. O mercado que nasceu da venda direta, do porta a porta, dos cabazes ao domicílio, do online, já provou que está aí para ficar. Costuma comprar biológicos? Sabe como identificar um produto biológico? E já pensou se vale a pena comprar mais caro?

MANUELA VICÊNCIO / SIC

De uma economia paralela, de nicho, o mercado dos biológicos duplicou na última década. Em 2017, só na Europa, o mercado dos orgânicos bateu os 34,3 mil milhões de euros e já representa 37% do mercado mundial.

E a tendência é para crescer, ao ritmo das exigências dos consumidores. Prova de que, como na democracia, quem manda é o povo, neste caso, a clientela.


MATTHIAS RIETSCHEL

COMO É QUE PRODUTOS MAIS CAROS CRESCEM COMO COGUMELOS?
Chegam a ser 150% mais caros do que os produtos convencionais, mas os biológicos já provaram ser a exceção que confirma a regra: o preço não é a única matriz a ditar o mercado. Mas a lei da procura sim.

A economia que cresceu sozinha, sem gigantescas campanhas de publicidade ou complicados planos de marketing, provou que quem manda é o consumidor, que também consegue vergar o mercado.

Impulsionado por um punhado de agricultores de discurso radical, fervorosos ambientalistas e consumidores exigentes, o mercado dos biológicos foi fazendo caminho. Começou de mansinho, sem se dar muito por isso e, alimentado pelo medo das doenças e dos químicos que invadiram o mundo moderno, mudou o mercado. Para sempre.

Hoje, o mercado que era dos radicais, dos ambientalistas, dos freaks e dos doentes conquistou as grandes marcas, que já abrem zonas diferenciadas e lojas especializadas.


A economia que nasceu das micro e pequenas empresas (78% dos produtores biológicos têm 10 ou menos trabalhadores e 88% só produz bio) começa agora a ganhar dimensão.

Já em 2019, uma marca francesa de produtos biológicos, a JusteBio, anuncia a entrada no mercado português para implementar o granel orgânico em 100 lojas, através de investimento de 100 mil euros para alcançar vendas de um milhão de euros, ainda este ano.

A empresa que começou com 4,5 milhões de euros de volume de negócios em 2014 passou para 49 milhões de euros em 2018. Mais de 10 vezes mais em apenas quatro anos.

E em 2019 a empresa acredita que vai faturar 75 milhões de euros em França, Portugal, Bélgica, Suíça e Luxemburgo.

Este é apenas um exemplo do crescimento exponencial que o mercado dos biológicos assistiu em pouco mais de uma década.

Em Portugal praticamente todas as grandes superfícies têm zonas destacadas ou lojas especializadas em biológicos.

"TODOS TÊM INTERESSE EM PRODUZIR OU VENDER BIOLÓGICOS"
A Agrobio, a primeira associação de Agricultura Biológica, fundada em 1985, acompanhou de perto a evolução do mercado em Portugal. O presidente Jaime Ferreira explica que as grandes marcas também já estão rendidas ao mercado que deixou de ser nicho para ser um negócio de milhões.

"Todos têm interesse em produzir ou vender biológicos", disse numa entrevista à SIC Notícias.

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50% DOS BIOLÓGICOS TÊM DE SER IMPORTADOS
Para responder à procura, Portugal, como toda a UE, importa cerca de 50% dos produtos de agricultura biológica que consome. Com uma superfície agrícola de 270 mil hectares exclusivos aos biológicos, o Governo e o mercado já perceberam que há aqui uma janela de oportunidade e a aposta está feita.

"É tempo de perceber que o mercado está ansioso de ter este tipo de produção e a indústria também percebeu que tem aqui um nicho", referiu Miguel Freitas em declarações à Lusa, durante uma sessão pública sobre a Estratégia Nacional para a Agricultura Biológica em Idanha-a-Nova.

Nos últimos 15 anos a área agrícola reservada aos biológicos cresceu 20 vezes em Portugal. Em 2017 representava 7% da área cultivada, quase metade da média da UE que, entre 2014 e 2015, crescia cerca de 12% ao ano.

MERCADO DO LUMIAR: O PRIMEIRO BIOLÓGICO DE RAIZ
Um dos mercados mais antigos de Lisboa viu-se forçado a renovar para fazer face à falta de clientes.

Em 2018 reabriu de cara lavada como o primeiro mercado municipal com as várias valências Bio: frescos, mercearia, restaurante, padaria e até uma zona grossista inteiramente Bio.

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"TEMOS DE SABER IDENTIFICAR O QUE É UM PRODUTO BIOLÓGICO"
Como ter a certeza de que se está a consumir um produto biológico? Jaime Ferreira, presidente da Agrobio, explica que há um "sistema de controlo e de certificação", que começa logo quando o o agricultor se instala. Garante ainda que "o sistema está a funcionar". Basta o consumidor estar atento.

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Desde 2007 que a agricultura biológica está identificada e regulamentada na UE mas, no resto do mundo, há referências diferentes.

No Brasil e nos países de língua inglesa é mais conhecida por "agricultura orgânica" ; na vizinha Espanha ou na Dinamarca por "agricultura ecológica"e do outro lado do mundo, no Japão, por "agricultura natural".

Na União Europeia há apenas um símbolo oficial com diferentes tonalidades e referências.

Ao contrário da economia convencional - que pode ser fiscalizada apenas no produto final -, os biológicos não podem sequer começar a ser produzidos se não estiverem certificados logo na produção. E mesmo os transformados têm de ter certificação da matéria-prima.

A Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural concentra quase todo o processo em Portugal. É a entidade responsável pela transposição das diretrizes europeias e garante a implementação e fiscalização da produção biológica - desde o pedido para análise dos locais de cultivo à atribuição de licenças. Pode inclusive, em caso de suspeita, fiscalizar e retirar licenças de produção biológicas.

A ASAE, a Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica, é a entidade responsável por controlar os produtos nos pontos de venda, mas até lá tem de passar pelo crivo de uma série de agentes responsáveis pela certificação da produção: Direção-geral do Ambiente (analisa a qualidade do solo), Direcção-Geral da Agricultura (regula questões de mercado), por exemplo.

Há cerca de dois anos a ASAE criou finalmente um plano de controlo específico para avaliar e certificar o BIO.

O processo de certificação nasceu com a Agrobio, a associação independente criada em 1985, e acabou por ser a primeira e única certificadora do país, na altura sobretudo para guiar os agricultores e ajudar à produção.

Hoje já há 11 organismos de controlo independentes (que também são auditados) e certificados pelo Instituto Português da Acreditação e da Certificação (IPAC).


ARMANDO FRANCA

PESTICIDAS: É MESMO POSSÍVEL GARANTIR QUE BIOLÓGICOS NÃO TÊM QUÍMICOS?
Sem pesticidas sim, mas sem contaminação não.

Os biológicos não são produzidos em ilhas e, por isso, estão sujeitos à poluição atmosférica ou ambiental tais como os lençóis freáticos ou a a qualidade dos solos.

A legislação europeia de Agricultura Biológica inclui apenas uma lista restrita de pesticidas de origem natural: mineral, vegetal, animal ou microbiana, sem perigo para o ambiente e a saúde.

A produção biológica não pode usar pesticidas, mas tem outras armas para combater pragas ou prevenir ou combater doenças.

Isto faz-se desde logo na escolha das sementes (variedades resistentes a pragas e/ou doenças) mas também com a rotação dos cultivos (pousio), conjugação de espécies ou delimitação natural das culturas ou até a luta biológica como atrativos alimentares e/ou sexuais, o uso de feromonas para impedir o acasalamento de pragas (confusão sexual), métodos que não fazem qualquer recurso à aplicação de pesticidas.

Quando nada funciona a agricultura biológica pode ainda recorrer a produtos fitofarmacêuticos de origem mineral, vegetal, animal ou microbiana, mas em número reduzido e de impacto ambiental, toxicológico e ecotoxicológico mínimo ou nulo.

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ESTUDO MOSTRA QUE PORTUGUESES PREFEREM BIOLÓGICOS MAS IGNORAM PESTICIDAS
Quase dois terços dos portugueses preferem consumir somente alimentos biológicos, mas apenas um quinto diz saber que a agricultura biológica também utiliza produtos fitofarmacêuticos ou pesticidas, concluiu um estudo realizado pelo Centro de Estudos Aplicados da Católica-Lisbon, School of Business & Economics em parceria com a Associação Nacional para a Indústria da Proteção das Plantas (ANIPLA) com o objetivo de saber mais sobre o conhecimento da população portuguesa relativamente à realidade da produção de alimentos.

Numa estrevista à Edição da Manhã, da SIC Notícias, Ricardo Reis, diretor do centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica, diz que ainda há muita falta de informação sobre o uso de "pesticidas" nos biológicos e defende que "estes produtos funcionam como medicamentos".

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"A FRAUDE NA AGRICULTURA BIO NÃO VAI ALÉM DOS 4%"
Jaime Ferreira, da Agrobio, aponta a desconfiança dos consumidores como um dos maiores obstáculos à agricultura biológica. Publicações que põem em causa a quantidade de pesticidas nos produtos biológicos contribuíram para essa insegurança, mas o presidente da Agrobio prefere destacar as estatísticas da União Europeia que registaram entre 3% a 4% de fraude nos orgânicos. Sobretudo, porque assegura que a fiscalização é apertada.

Além disso, acrescenta ainda que "há uma estratégia para a agricultura biológica e que vai ser criado um portal que mostra as empresas certificadas e as que prevaricaram".

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TUDO COMEÇA E ACABA NA TERRA
Até 2030 a produção alimentar terá de aumentar 70% para colmatar o crescimento da população mundial.

A pressão sobre a economia é também uma bomba relógio para o ambiente e a agricultura do futuro volta-se para o sustentável: local, sazonal e bio.

Em Portugal já se pensa na criação de uma BIO Região, uma espécie de DOP - denominação de origem protegida para os biológicos. Idanha-a-Nova está na vanguarda do projeto, de base local e à semelhança (ainda que noutra proporção) do que já se faz noutros países.

A Dinamarca quer romper com todos os limites e criar uma agricultura totalmente biológica até 2020, após 25 anos de leis duras de proteção da natureza. O projeto não está só no papel como está em marcha numa estratégia do atual Governo para fornecer às escolas, cantinas e hospitais, pelo menos, 60% de alimentos de origem biológica.

Noventa e sete por cento dos dinamarqueses reconhecem o significado e a importância dos biológicos e defendem que num futuro próximo apenas nasçam apenas produtos orgânicos neste país nórdico.

VÁRIOS ESTUDOS DEMONSTRAM VANTAGENS DOS BIOLÓGICOS
Vários estudos recentes demonstram os efeitos dos químicos usados nos alimentos na saúde humana e já há médicos que recomendam dietas biológicas para determinados tipos de cancro.

Um outro estudo conclui que os produtos biológicos são bons para o ambiente, mas a vantagem nutritiva ainda está por provar.

"Temos boa evidência científica, que são produtos mais amigos do ambiente, mas do ponto de vista exclusivamente nutricional ainda não há muita informação que prove uma grande diferença entre os produtos da agricultura tradicional e da agricultura de produção biológica", afirmou o especialista em nutrição Pedro Graça e diretor da Faculdade de Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto.

Para o presidente da Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (Agrobio), Jaime Ferreira, "a questão dos nutrientes é muito redutora".

"Eu posso tomar um comprimido com todos os nutrientes que hoje achamos suficientes para ser saudável e resolvia o assunto, só que sabemos que não é assim", disse.

Um outro estudo ainda refere que a produção industrial de alimentos vai matar cinco milhões até 2050.

"AS PESSOAS DEIXARAM DE SABER COMER?"
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MELHOR DO QUE O QUE TÊM, É O QUE NÃO TÊM
Grande parte das substâncias químicas usadas na alimentação são corantes e intensificadores de sabor, precisamente para dissimular os produtos produzidos de forma artificial. Cor e sabor só se conseguem respeitando os ciclos da natureza, o que leva tempo.

Está provado que o organismo humano tem necessidades diferenciadas ao logo do ano e da vida, com correspondência com o que produz a natureza em cada época do ano. Quem não sabe que deve comer laranjas no inverno (sabendo que também há laranjeiras de primavera) ou que os morangos sabem a verão. E já provou melão no inverno?

Biológicos ou não, o mais importante é consumir produtos da época, no pico da maturação, da qualidade e da quantidade. O mais natural possível, respeitando a natureza, inclusive a humana. E o melhor? É mais barato.

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DA PERA ROCHA AO BIOLÓGICO: COMO SE TRANSFORMAM 15 HECTARES DE TERRA
Luísa Ferreira de Almeida herdou a Quinta do Arneiro, considerada "quinta modelo de pera rocha do Oeste".

Da produção intensiva e clientela assegurada passou para os pequenos mercados de Lisboa e Cascais para conseguir escoar a produção. Hoje, lidera a venda de cabazes 100% Bio na zona de Lisboa.

A SIC foi perceber as principais diferenças entre produção biológica e a convencional.

terça-feira, 2 de abril de 2019

GNR multou Instituto de Conservação da Natureza por falta de limpeza da Mata de Leiria



Em causa estão "oito situações de falta de gestão de combustíveis na Mata Nacional de Leiria, denunciadas em setembro através da linha SOS Ambiente
Lusa
LUSA
A GNR multou o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) por falta de limpeza da Mata Nacional de Leiria, informou o Comando Territorial de Leiria, notando que, até à data, é a primeira vez que o faz.

Em causa estiveram, segundo informação enviada à agência Lusa pelo comandante da unidade, "oito situações de falta de gestão de combustíveis na Mata Nacional de Leiria", denunciadas a 25 de setembro de 2018 através da linha SOS Ambiente.

"Na sequência da análise das denúncias reportadas e posterior deslocação ao terreno, entre 9 de outubro e 6 de novembro de 2018, procedeu-se ao levantamento de oito autos de notícia por contraordenação", acrescenta o Comando Territorial de Leiria da GNR.

Contactado pela agência Lusa, o ICNF reconhece ter sido notificado, mas apenas por quatro autos de contraordenação, "relativos a alegadas violações de normas do Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios".

O valor das contraordenações é ainda desconhecido, porque "os respetivos processos encontram-se em fase de instrução", acrescenta o ICNF.

A ação da GNR foi divulgada pelo "Jornal da Marinha Grande" na edição de 21 de março de 2019. Segundo a notícia, a denúncia foi feita em março de 2018 por um munícipe não identificado, que terá reportado - à autarquia da Marinha Grande, PSP, GNR e Autoridade de Proteção Civil - situações de deficiente manutenção de áreas não ardidas no incêndio de 2017, que consumiu 86% da Mata Nacional de Leiria.

De acordo com o ICNF, "todas as situações que terão motivado a instauração de contraordenações estão ultrapassadas".

Em causa, acrescenta o instituto, estavam "alegadas violações do n.º 2 do art.º 36 do Sistema de Defesa de Floresta Contra Incêndios", que obriga à remoção de materiais de áreas ardidas numa faixa mínima de 25 metros para cada lado das faixas de circulação rodoviária.

Além disso, o mesmo diploma obriga "à gestão de combustível numa faixa exterior de proteção de largura mínima não inferior a 100 metros nos aglomerados populacionais inseridos ou confinantes com espaços florestais", o que também não se verificava nos locais denunciados.

Para intervir nos locais alvo de denúncia, o ICNF informa que, ao abrigo do Código dos Contratos Públicos, procedeu à contratação de uma empresa, por não dispor de "meios suficientes para proceder à gestão de combustíveis na totalidade das áreas públicas".

"A escassez de mão-de-obra especializada e as condições meteorológicas, que impediram e dificultaram muito a circulação de máquinas nas zonas rurais, levaram a que muitos dos trabalhos de gestão de combustível não pudessem ter sido realizados dentro dos prazos contratados, tendo sido concluídos logo que possível", acrescenta o ICNF.

A GNR de Leiria avança que, na Mata Nacional de Leiria e até à data, estas foram primeiras situações em que autuou o ICNF.

Portugal é um dos três países europeus onde morrem mais pessoas em acidentes com tratores. O que é que se passa?


28.03.2019 às 23h11


Mais de 350 vítimas mortais em cinco anos é o total que resulta dos acidentes com tratores em Portugal. Os dados reportam-se ao intervalo entre 2013 e 2017, mas a cada semana somam-se novas mortes a um ritmo semelhante. Em causa estão, geralmente, capotamentos, envolvendo condutores com mais de 65 anos
Mafalda Ganhão
MAFALDA GANHÃO
Em Portugal morrem demasiadas pessoas por causa de acidentes com tratores. Só entre 2013 e 2017 foram registadas 358 vítimas mortais, curva estatística que não dá sinais de abrandamento e que tem colocado o país sistematicamente na terceira pior posição da União Europeia. Não há dados oficiais em relação a 2018, adianta a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT), mas basta estar-se atento. Esta semana, por exemplo, foram noticiadas três mortes apenas desde sábado.

A mais recente aconteceu na terça-feira, em Perelhal, concelho de Barcelos, quando um rapaz de 12 anos ficou debaixo do trator que conduzia na via pública, depois de este ter capotado. O rapaz terá escapado à atenção da avó e saído sem autorização, um acidente atípico dentro da categoria, já que a maior parte das ocorrências envolve homens mais velhos, quase sempre acima dos 65 anos, e acontecem em contexto de trabalho agrícola.

"Na realidade, Portugal sempre teve uma sinistralidade muito alta neste domínio", disse ao Expresso Augusto Ferreira, coordenador técnico da Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas (Confagri). E várias causas concorrem para o problema, acrescentou.

IDADE, CANSAÇO E EXCESSO DE CONFIANÇA
Uma delas "é a idade avançada dos nossos agricultores", a que se alia a necessidade de as tarefas agrícolas "terem de ser realizadas em intervalos reduzidos de tempo", agravando o "cansaço físico", próprio de uma atividade já se si fisicamente exigente, explica Augusto Ferreira. As outras causas, continua, resultam de um certo "excesso de confiança" a operar máquinas "que, para todos os efeitos, são perigosas"; decorrem da "falta de formação"; e também do facto de em Portugal o próprio parque de tratores estar demasiado envelhecido.

O técnico da Confagri toma por base o número de tratores registados para efeitos de atribuição de subsídios de gasóleo: "Dos cerca de 170 ou 180 mil listados, mais de 50% têm mais de vinte anos". Na prática, isto significa que não dispõem de estruturas de proteção, sejam elas arcos ou cabines, 'acessórios' que se tornaram obrigatórios para os tratores matriculados após janeiro de 1994.

RISCO DE MORTE OITO VEZES SUPERIOR
Geograficamente, os dados disponíveis mostram também que há características muito próprias a potenciar os acidentes. Grande parte destes acontecem em zonas de minifúndio - nos distritos de Bragança, Viseu, Guarda -, onde as parcelas pequenas levam a que os agricultores tentem explorar cada bocadinho de terreno livre, deixando vias de circulação mais estreitas que o recomendável para manobrar um trator, aumentando o risco.

Diz um documento da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) que os tratoristas, "em comparação com os condutores de veículos ligeiros, veem a probabilidade de morte ser aumentada em pelo menos 8 vezes". Falam novamente as estatísticas: "Dois em cada três capotamentos de trator são 'mortais' e 70% das vítimas resultam deste tipo de acidente", pode ler-se no mesmo artigo.

Augusto Ferreira lembra que estão em causa "máquinas de trabalho", com riscos específicos. Se se procurarem as suas características, encontra-se uma descrição esclarecedora, como a que consta no site Marketing Agrícola.pt, explicando que um trator tem "aproximadamente 65% do peso no eixo traseiro, distribuindo-se os restantes 35% pelo eixo dianteiro. É esta diferença de peso significativa entre os dois eixos que potencia o capotamento do veículo.

FORMAÇÃO ESPECÍFICA TORNOU-SE OBRIGATÓRIA
Numa tentativa de responder ao problema, e já depois de ter criado um grupo de trabalho para o efeito em Junho de 2017, o Governo publicou recentemente um despacho, tornando obrigatória a formação específica para os condutores de veículos agrícolas, deixando de ser suficiente ser-se portador de carta de condução ou licença.

"Os condutores de veículos agrícolas com carta de condução da categoria B que pretendam conduzir veículos agrícolas da categoria II e com carta de condução das categorias C e/ou D que pretendam conduzir veículos agrícolas das categorias II e III, dispõem de dois anos, após a data de entrada em vigor do presente despacho, para realizarem com aproveitamento a formação", estabelece o despacho publicado em fevereiro, o que coloca como prazo limite fevereiro de 2021.

Será suficiente? O técnico da Confagri acredita que "não chega", sublinhando a necessidade de ser renovado "com urgência" o parque nacional de tratores. O que, sendo no imediato difícil, pode justificar que se olhe para soluções como as que já foram adotadas noutros países, nomeadamente "o estabelecimento de parcerias com instituições que desenvolvam, a custos razoáveis, estruturas de segurança homologadas", que possam ser aplicadas aos veículos existentes.

Portugueses entre os maiores consumidores de frutas e legumes da UE


01.04.2019 às 11h47


81% da população portuguesa consome fruta todos os dias e 78% faz o mesmo em relação aos legumes. Média comunitária em ambos os casos é de 64%

Portugal é o segundo país da União Europeia (UE) onde a população mais come fruta diariamente, ocupando também o quarto lugar no que toca ao consumo diário de legumes, acima da média comunitária, foi anunciado esta segunda-feira.

Segundo dados divulgados pelo Eurostat, o gabinete de estatísticas da UE, 81% da população portuguesa consome fruta todos os dias em 2017 (dados mais recentes), sendo apenas ultrapassada por Itália, onde este consumo diário rondava os 85%.

No que toca ao consumo de legumes, Portugal fica em quarto lugar (com 78% da população a fazê-lo diariamente), apenas atrás da Irlanda (84%), Bélgica (84%) e Itália (80%). Em ambos os consumos, a média comunitária é de 64%.

Em sentido contrário, os países com menor consumo de fruta eram, em 2017, a Letónia (35%), a Bulgária e a Lituânia (ambos com 37%). Já a Hungria (30%), a Roménia (41%) e a Letónia (44%) eram os que menos comiam legumes.

Em toda a UE, uma em cada quatro pessoas (27%) comia fruta duas vezes por dia em 2017, enquanto 37% da população comunitária o fazia uma vez por dia e a restante 36% o fazia com menor frequência, pelo menos uma vez por semana.

Em menor número, 23% da população da UE comia vegetais duas vezes por dia nesse ano, enquanto 40% o fazia uma vez também diariamente.