terça-feira, 4 de setembro de 2018

Agroglobal começa quarta-feira em Valada com perto de 400 expositores


A Agroglobal, que se reclama como "a maior feira agrícola da Europa a céu aberto", começa na quarta-feira em Valada, Cartaxo (Santarém), com perto de 400 expositores e mais de 100 máquinas agrícolas a trabalhar plantações de diferentes culturas.

Realizando-se nos cerca de 200 hectares de terreno do mouchão da Fonte Boa, propriedade do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), junto ao rio Tejo, a Agroglobal -- Feira das Grandes Culturas "valoriza o saber de experiência feito de gerações de agricultores, mas, ao mesmo tempo, exibe os meios tecnológicos e científicos que um enorme conjunto de empresas coloca à disposição do setor de forma permanentemente renovada", afirma a organização.

Ao longo de três dias, o certame permite aos profissionais do setor assistirem ao vivo ao trabalho de mais de uma centena de conjuntos de tratores e alfaias, alguns deles a serem apresentados pela primeira vez ao mercado português, refere.

Promovida pela Valinvest, Investimentos e Gestão Agrícola, em colaboração com a Agroterra, a feira, que se realiza de dois em dois anos, começou em 2009 focada então na cultura do milho e com a presença de uma centena de expositores, envolvendo atualmente "toda a agricultura portuguesa", com o número de produtores e empresas de toda a fileira a crescer em cada edição.

Este ano com a presença de perto de 400 expositores "e mais de 35.000 profissionais", a maior participação de sempre, a Agroglobal alargou as culturas na parte dos pomares, "acompanhando o que se passa na atividade agrícola portuguesa -- o olival, as amêndoas, as nogueiras, mas também o melhor que se faz no Oeste - a pera e a maçã -, que estão a ter uma importância cada vez mais significativa", realça.

O vasto programa de seminários inclui, quinta-feira de manhã, uma palestra de Paulo Portas, ex-vice-primeiro ministro e ex-líder do CDS-PP, para falar sobre "Tendências, Riscos e Oportunidades para a Agricultura Portuguesa no Mundo Atual", integrando o programa dos colóquios que vão decorrer no auditório Armando Sevinate Pinto.

Os debates, que vão decorrer também no auditório Companhia das Lezírias, concluem-se na sexta-feira à tarde com uma sessão sobre "Revisão da PAC 2020 -- que Valor Acrescentado para os Agricultores Europeus", que será encerrada pelos ministros da Agricultura de Portugal, Capoulas Santos, e de Espanha, Luis Puchades.

O certame volta a ter em destaque o espaço para apresentação de projetos inovadores, o AgroInov, e este ano disponibiliza um 'Business Center', para facilitar a realização de negócios, contando ainda com dois espaços de restauração, com vista para o rio, também eles requisitados para eventos de entidades e empresas dirigidos a potenciais clientes.

Sob o slogan "Nós Semeamos... Negócio!", a Agroglobal convida os visitantes a "pôr os pés na terra" e assistir às numerosas demonstrações e ensaios nos mais de 160 hectares de terrenos ocupados com culturas de milho (grão e silagem), tomate, vinha, girassol, olival, sobreiro, pinheiro, eucalipto, amêndoa, batata, mirtilo, pera rocha, laranja, pistáchio, noz, pimento, framboesa.

Aos campos de ensaios -- fertilização, sementes, agroquímicos, rega --, juntam-se áreas de trabalho de máquinas, pistas para as diversas marcas de tratores e alfaias e zonas específicas para pulverização aérea em pomares, vinha e culturas anuais.

“Cultura de canábis pode gerar uma mais-valia por hectare completamente inédita”

José Pedro Salema, presidente da EDIA - Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva. 

02.09.2018 / 07:25 

A canábis medicinal pode ser a próxima aposta agrícola no Alqueva, depois do olival e da amêndoa. O presidente da EDIA explica o que está a mudar. A seguir Alqueva vai crescer em 2018 para garantir mais regadio e abastecimento público 

José Pedro Salema tem a cargo a economia da água e a promoção do regadio na região do Alqueva. É, desde 2013, o presidente do conselho de administração da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), uma empresa pública com contas no vermelho e pressionada pelos custos da energia que usa para fazer chegar a água a novas zonas do Alentejo. Não vai haver margem para voltar a baixar tarifas aos agricultores, mas estão em marcha os primeiros concursos públicos que representam novo investimento na infraestrutura: mais 50 mil hectares de regadio e a construção de uma central de energia solar. 

O perfil de culturas da região já está a mudar. "A diferença é entre o dia e a noite", diz. E há novidades "picantes", como projetos de canábis medicinal em estufa – alguns dos interessados são emigrantes portugueses. À semelhança de 2017, houve um período de seca neste ano. A EDIA conseguiu responder a todos os pedidos de água da primeira metade do ano? Este ano foi completamente diferente do de 2017, no qual tivemos muitos dias de onda de calor, desde muito cedo e durante muito tempo. O consumo de água foi muito grande. Também tivemos pedidos dos nossos vizinhos que têm áreas de regadio. Tivemos uma subida muito grande desses pedidos. 

Estivemos no fio da navalha para conseguir responder, mas conseguimos. Neste ano, pusemos todas as cautelas e caldos de galinha no máximo, preparámos a campanha com muito mais cuidado. Garantimos o abastecimento a estes clientes grandes que têm barragens antes do pico da campanha. Estamos muito mais descontraídos. Fomos ajudados também com o clima. O verão quase só começou em agosto. A satisfação dos pedidos é integral. Acreditamos que vamos continuar assim até ao final do ano. Houve redução de pedidos? Houve uma redução em volume, mas em termos de área servida houve uma subida. Temos assistido nos últimos anos a um crescimento continuado da área à qual entregamos água para regar. Em 2018 subiu outra vez. 

A taxa de adesão, que é a nossa métrica de velocidade de adesão dos agricultores ao regadio, está a atingir os 80%, que era a nossa meta de longo prazo. Era de 76% no ano passado. E neste ano devemos chegar muito perto dos 80%. Reduziram o tarifário de água no ano passado, mas há ainda produtores que a consideram muito cara. A EDIA tem vindo a manifestar que a estrutura de custos é muito influenciada pela questão da energia. Há margem para abater tarifas? A decisão é política. O que fixa o preço da água em Alqueva é um despacho do ministro da Agricultura, do ministro do Ambiente e do ministro das Finanças. O processo de redução do preço foi complicado. Há interesses conflitantes. Por um lado, a Agricultura quer dar melhores condições aos agricultores. Mas há também a salvaguarda dos recursos hídricos do lado do Ambiente, e as Finanças, com a questão das contas públicas. A EDIA está integrada no perímetro de consolidação e, portanto, receitas da EDIA são também receitas do Orçamento do Estado, assim como custos são custos do Orçamento. Não é muito fácil descobrir outra solução. A proposta de redução que partiu da EDIA teve que ver com as poupanças que conseguimos antecipar em resultado do projeto fotovoltaico e em resultado da expansão. Antecipámos essas poupanças já em 2017. Houve uma decisão política de baixar o preço pensando nas conquistas que se vão obter. Em 2023? Há projetos que já estão a começar. O projeto fotovoltaico tem concursos na rua hoje. Está a avançar. Não é futurologia, não é só Powerpoint. Mas é preciso ir com cautela. 

Objetivamente, se formos analisar a estrutura de custos de cada uma das atividades que beneficiam da água, vemos que o peso da água não é muito relevante, não é determinante. É óbvio que quem compra diz sempre que é cara. Quando os agricultores percebem que quando a sua voz atinge determinado volume o decisor político reage, tentam fazer pressão. Na EDIA temos de ser imunes a essas coisas, ouvir e apresentar os números. É uma empresa do Estado. E há também as restrições legais. Os estados da UE não podem subsidiar o preço da água. Todos os custos têm de ser refletidos na tarifa. É um equilíbrio muito difícil. E baixar o custo? Aí já estamos a entrar no campo das possibilidades. É possível baixar custos, mas já descemos o preço a contar com algumas coisas. Agora temos de verificar se essas poupanças vão concretizar-se, e se conseguimos poupar ainda um bocadinho mais. Não há bons indicadores. Se olhar para o preço do mercado grossista da eletricidade, estamos a bater recordes históricos. Não vamos conseguir produzir com o nosso projeto fotovoltaico toda a energia de que precisamos, vamos estar sempre dependentes da energia da rede. A energia está com tendência de subida, o que não é bom sinal. A água vai ter de acompanhar o preço da energia. É o custo principal, 80% do custo variável é energia. Há também um contrato com um produtor de energia hidroelétrica, a EDP, de 2007, que a EDIA reconhece que tem um impacto muito negativo na sua atividade. O contrato com a EDP para a subconcessão [da barragem do Alqueva] foi fixado em 2007 e ficará fixo. São muitos anos em que a renda é garantida. Podia ser maior? Podia. Mas é uma decisão tomada há mais de dez anos e que não temos posto em causa. Nem vamos pôr. Os atuais inquéritos em curso às rendas da energia podem determinar alguma mudança? Não. O Tribunal de Contas publicou um relatório sobre a adjudicação da central de Alqueva em 2016. As recomendações à EDIA foram implementadas no dia seguinte. Eram publicar os contratos no site. Da nossa parte, esse processo está encerrado. Se há ilações a tirar, são ilações políticas. Não são ilações técnicas nem jurídicas. O processo para o início de construção do vosso projeto fotovoltaico está em que passo? Está a decorrer o primeiro concurso para 1 MW em terra. Vamos lançar em breve uma outra unidade de 1 MW na água. 

Depois, há algumas pequenas unidades também já em construção. Estamos a preparar um grande concurso, de cerca de 50 MW, no final do verão. Penso que em setembro, outubro, o concurso sairá para que o mercado responda. O objetivo é conseguimos boas propostas para baixar a nossa fatura energética. Já há muitas manifestações de interesse? Muitas. Nos primeiros concursos apareceram logo uma dezena ou mais de empresas, até a pedir a prorrogação de prazos por estarmos em agosto. Nacionais e internacionais? Sim, ambas. Quando vão ser lançados os primeiros concursos da expansão do regadio? Temos concursos já encerrados e em fase de análise. Temos já dois concursos em análise: a ligação a Sines e o [bloco de rega] Cuba-Odivelas. Temos concurso em execução para reforço das bombas numa estação elevatória muito grande, dos Álamos. Estamos a preparar mais concursos muito em breve, para a área de Évora e para a área de Viana do Alentejo, que serão os próximos, e depois também, no final do verão, Reguengos e Póvoa-Moura-Amareleja. O concurso de Reguengos está atrasado? Sim, houve algum atraso. Tivemos problemas no projeto e a emissão da Declaração de Impacto Ambiental (DIA) também leva sempre mais tempo do que planeámos inicialmente. Já temos a proposta da DIA. 

Estamos agora a preparar o concurso. Não tardará muito. A falta de bombas nos Alámos tem sido um fator limitador da capacidade em períodos de pico. Quanto tempo vai demorar o projeto a ser terminado? Só no verão de 2020 teremos mais duas bombas. Temos de enfrentar estes dois anos com tranquilidade. Porquê? Porque o sistema que está dependente das bombas tem uma grande albufeira de reserva, o Alvito, que tem 50 a 55 milhões de metros cúbicos úteis. Mesmo que ambas as bombas dos Álamos avariassem, ainda tínhamos o Alvito cheio e conseguíamos assegurar o resto da campanha. Em 2019, vamos ter uma gestão semelhante. Vamos garantir que a reserva está no máximo, encher o Alvito antes da campanha de verão. Temos ali dezenas de milhões de metros cúbicos que asseguram um mês ou dois de fornecimento. Que novos investimentos agrícolas têm surgido no Alqueva? Continua a haver muito interesse em amêndoa e olival. São as duas culturas que geram mais investimento e transações. Mais o amendoal do que o olival, hoje. Mas o olival tem ainda muitos projetos novos. Depois, têm surgido alguns investidores com coisas mais giras, e mais picantes. A canábis medicinal? Como está a evoluir o interesse? Mesmo agora, no princípio de agosto, tivemos três contactos de seguida de investidores à procura de terra para fazer canábis medicinal. Não sei se avançam ou não, mas é interessante. Segundo eles, é uma cultura que pode gerar uma mais-valia por hectare completamente inédita. São valores com mais alguns zeros do que a melhor cultura agrícola que conseguimos imaginar. Mas a ocupação de área não é significativa. Os modelos de que nos falaram são produções em estufa que ocupam 5,10, 20 hectares. Há projetos de amendoal de dois mil hectares. Há projetos nacionais? São projetos por investidores estrangeiros, alguns de emigrantes portugueses que estão a voltar. Portanto, as novidades são em olival, amêndoa e canábis. Depois temos as hortícolas, as frutícolas. Há projetos de frutas de caroço: pêssegos, nectarinas, ameixas, alperces. Temos algumas hortícolas de alguma relevância, como as curbitáceas: melão, melancia, abóboras, já com alguma expressão. A cebola também está a aparecer. Há muita cebola a ser entregue a Espanha para o McDonald's. O perfil de culturas mudou muito? Se vamos comparar o Alentejo de há dez anos com o de hoje, a diferença é entre o dia e a noite. Mudou completamente o perfil. Se se pensava também que era só olival e mais nada – e se fosse só olival já era muito bom –, vamos ter muitas outras coisas. Na última campanha, Portugal bateu recorde de produção de azeite. Três quartos daqui. Três quartos daqui. Mas isso não vai parar. Nós temos muitos olivais que ainda nem sequer entraram em produção porque as árvores são pequenas. Quando todos os projetos que já conhecemos estiverem em plena produção, vamos ter mais não sei quantas mil toneladas de produção nacional de azeite. Vamos continuar nessa senda. E a seguir, muito rapidamente, vamos começar a ouvir falar de recordes de produção de amêndoa. Temos aqui sete ou oito mil hectares de amendoal moderno e muito produtivo. Produzem 20 vezes mais do que um amendoal tradicional. Vamos bater muitos recordes e espero que apareçam outras culturas. Os produtores do Alqueva estão a integrar bem a agricultura de precisão e outras novas ferramentas de eficiência? Temos uma sorte extraordinária porque no Alqueva é tudo novo. Não há ninguém que se lance a fazer um projeto em 2018 e que vá usar tecnologia de 1990. Vai buscar o melhor que há. Tem todas essas preocupações de eficiência energética, eficiência hidráulica, agricultura de precisão, modos de produção sustentáveis. Tudo isso é a regra. Há sempre algumas pessoas ou jornalistas mais alarmistas que gostam de ir à procura do que correu mal. E, com certeza, nos muitos milhares de hectares que temos há alguns agricultores com más práticas agrícolas. Mas essa não é a norma. A regra é que os projetos são muito cuidados, muito apoiados em tecnologia e em conhecimento. Os próprios fornecedores dos agricultores já são muito mais sofisticados e estão cá baseados. As empresas de rega, que antes só tinham sede em Santarém, todas têm uma delegação em Beja. Todo esse ecossistema é muito mais sofisticado. A segunda fase de expansão do regadio do Alqueva ainda não é o limite? É muito perto disso. A água não estica. Estamos a trabalhar com base na concessão que temos. É de 75 anos para extrair do Guadiana 600 milhões de metros cúbicos por ano. É com essa água, face aos consumos que temos observado nos últimos dez anos, que conseguimos aumentar a área beneficiada em mais cerca de 50 mil hectares. Estamos a fazer render o peixe. Vamos distribuir a água que temos por mais, e garantir que a água que temos é de facto toda utilizada. Nunca chegámos nem perto disso. Mesmo em 2017, verão excecional de consumos, retirámos apenas cerca de 400 milhões de metros cúbicos. Acreditamos que conseguimos servir mais 50 mil hectares, mantendo todas as garantias de fornecimento que já temos: a possibilidade de poder atravessar períodos de seca de três anos com abastecimento a toda a gente. Há ainda áreas que gostariam de ser servidas e que não vão ter infraestruturas nesta segunda fase. O que é que a EDIA lhes pode dizer? O que posso dizer é que quando o mapa da expansão que está em cima da mesa estiver concluído vamos estar muito perto da nossa capacidade máxima. Vamos ter de ir vendo, na medida dos recursos e dos consumos verificados, se é possível ou não algum alargamento adicional. Mas nunca nesta escala. Em 2023, nunca estaremos a falar de mais dezenas de milhares de hectares. Poderão ser mais mil, mais dois mil. Isso conseguimos enquadrar. Em 2015 afirmou numa entrevista que a EDIA ganharia em ser privatizada. Porquê? Acho que nunca disse isso. Julgo que sim. Ou, pelo menos, assim foi interpretado. Algum jornalista deve ter posto isso em destaque, mas não é essa a ideia. Da nossa parte não há nenhum preconceito, relativamente a ser privatizada ou não, desde que seja mantido o conceito. Se mantivermos a ideia de ter uma empresa cujo fim não é o lucro, mas o desenvolvimento regional, é complicado pensar numa estrutura privada que queira fazer isso. Só as fundações têm esse objetivo. As infraestruturas de distribuição de água são monopólios naturais. E em todos os monopólios existe a tentação monopolista, que é quando o operador do mercado exerce o seu poder e extrai mais vantagem dos clientes. Para combater a tentação monopolista, o que é que se faz no regadio? Ou se entrega a uma entidade que é um conjunto de beneficiários que não quererão ir contra os próprios interesses, ou então a uma entidade pública que tem uma finalidade muito controlada. Foi o que foi feito na EDIA. Tem o objetivo de desenvolver a região por via da gestão e da construção de infraestruturas e não vai extrair mais valor dos seus clientes porque não é essa a sua missão. Não vai dar tiros no pé. Se cobrássemos o dobro pela água tínhamos menos clientes, não promovíamos tanto o desenvolvimento regional. É muito difícil pensar em concessões. A não ser que um privado consiga fazer este trabalho melhor do que a EDIA, ganhando dinheiro e ainda poupando aos clientes, o que acho muito difícil. Foi mal interpretado? Se calhar falei nisso como uma possibilidade. E, do meu ponto de vista, não há qualquer impedimento. O cenário de hoje é que não é atrativo. Qualquer analista vê nas nossas contas que esta empresa não é privatizável. Não é privatizável uma empresa que tem capitais próprios negativos [299,4 milhões de euros]- isto é, que está tecnicamente falida – se não tiver um ativo extraordinário. O ativo que nós temos é o nosso contrato de concessão, a capacidade de gerar cash-flows futuros, porque se acredita que a base de clientes não vai embora. Os agricultores não vão embora e vão continuar a comprar a água. Mas, se os preços são limitados por decreto-lei, nunca vamos conseguir gerar lucros muito interessantes. Mas esta missão pública está melhor no quadro em que está? Sim. Agora, qual é a minha visão? É tentar limpar as contas da EDIA o melhor possível. Se eu conseguisse que o Estado liquidasse toda a dívida, seria fantástico. Gostava muito mais de terminar o mandato com umas contas muito mais sanadas do que aquelas que tive quando peguei na empresa. Se puser a empresa num ponto em que o dono, o Estado, possa tomar a decisão de privatizar ou não, tanto melhor. É o ponto em que devemos querer todas as empresas.

Empresários e produtores reivindicam nova máquina de raio x no Aeroporto



24 Ago 2018

Secretaria da Agricultura promete intervir junto do operador para resolver o problema.


A falta de uma máquina de raio x no Aeroporto da Madeira que possibilite trabalhar com 'paletes' inteiras obriga aos produtores e empresários a trabalharem com estruturas de menores dimensões com custos acrescidos e é uma situação que está a ser monitorizada pelo Governo Regional através da Secretaria da Agricultura e Pescas.

"É preciso uma máquina de raio x que viabilize a passagem de paletas inteiras, evitando trabalho e custos extraordinários. Vamos abordar essa situação junto do operador do Aeroporto, garante Humberto Vasconcelos.

O secretário com a tutela da Agricultura na Madeira diz que o aumento da exportação dos produtos regionais é uma prioridade do Governo que, com esse intuito, assinou ontem um protocolo com o Consórcio Mais, detentor do avião cargueiro, para promoção das culturas madeirenses.

Drone em Montemor-o-Velho no combate à vespa velutina

Vespa-asiática

31 Agosto 2018 às 17:15

A disseminação da vespa velutina tem aumentado na região Centro e as autoridades tentam novos métodos de combate, como o drone que a Câmara de Montemor-o-Velho utiliza para uma destruição mais eficaz dos ninhos.

O presidente da Câmara de Montemor-o-Velho, Emílio Torrão, disse à agência Lusa que se tem verificado "um aumento substancial" do número de pedidos para extermínio das colónias daquele inseto de origem asiática.

Conheça a vespa "assassina" que ameaça Portugal.

No âmbito de "um projeto com mais de um ano", numa parceria com a Associação de Modelismo do Centro de Portugal (AMCP), a Proteção Civil local registou "dois ensaios bem-sucedidos" de destruição com auxílio de um drone, tarefa em que pode igualmente ser usada uma pistola de "paintball" para aplicar o veneno.

Emílio Torrão salientou que os sapadores florestais "destruíram mais de 200 ninhos" desde que a vespa velutina começou a ser vista neste e noutros concelhos do Baixo Mondego, por volta de 2016.

Tem sido usada sobretudo "uma vareta de vários metros" para injetar o inseticida no vespeiro, instrumento que, afinal, é "uma cana de pesca convertida em seringa".

O mesmo sistema foi adotado esta semana pelos Bombeiros Sapadores de Coimbra (BSC), que conseguiram eliminar sete ninhos logo no primeiro teste, realizado na quarta-feira.

O comandante dos BSC, Paulo Palrilha, realçou à Lusa a vantagem desta solução, que passa pela colocação de uma substância química que é fatal para as vespas.

Até agora, as equipas da companhia incineraram os ninhos com ajuda de um maçarico. Só que os animais que ficam no exterior fundam geralmente novas comunidades, acabando por multiplicar a sua proliferação.

Em apenas oito meses já foram destruídos 120 ninhos

Em 2017, os sapadores de Coimbra eliminaram 150 ninhos de vespa velutina, enquanto este ano, em apenas oito meses, já foram destruídos 120, segundo o comandante.

"Temos notado este ano, com o calor, que há um crescimento exponencial do número de ninhos", adiantou. Em média, "eram queimados dois ou três", mas o recurso à cana de pesca adaptada permitirá mais do que duplicar esse resultado.

Quarenta e oito horas após a aplicação do veneno em sete ninhos, no concelho de Coimbra, o presidente da Associação de Modelismo do Centro, Carlos Filipe, acompanhou os bombeiros municipais na verificação dos primeiros ensaios efetuados.

"Estavam todos destruídos, vendo-se milhares de vespas mortas", congratulou-se Carlos Filipe, no final de mais um trabalho em que colabora a AMCP, com sede em Coimbra.

Para Paulo Palrilha, trata-se de "um método bastante mais eficaz" no combate ao inseto, que tem dizimado apiários em várias zonas de Portugal e Espanha.

No processo de queima com maçarico, é preciso fazer duas visitas aos locais, sendo a primeira durante o dia e para avaliar a situação. A destruição é feita durante a noite, a fim de garantir que todas as vespas estão recolhidas e morrem.

O comandante dos sapadores de Coimbra disse que a injeção do veneno com apoio da vara de carbono, para aceder aos sítios mais altos, exige apenas uma deslocação, em pleno dia, e que o inseticida, associado a uma substância adocicada, é aplicado de imediato. O ninho não é desmantelado e todos os animais sucumbem à medida que entram no vespeiro.

Este ano há um aumento exponencial do número de ninhos

"Temos aqui um surto. Este ano há um aumento exponencial do número de ninhos", confirmou à Lusa José Carlos Marques, coordenador municipal da Proteção Civil de Oliveira do Hospital.

José Carlos Marques, que é também presidente da Junta de Freguesia de Lourosa, revelou que, em colaboração com os bombeiros voluntários deste município do interior do distrito de Coimbra, "foram destruídos 30 e tal ninhos" nos últimos três meses.

A Proteção Civil local combate a vespa velutina através da queima, aplicação de pesticida e colocação de armadilhas.

"Tem havido queixas dos apicultores e de que maneira", declarou, por sua vez, o presidente da Cooperativa Lousãmel, António Carvalho. Alguns associados "até dizem que desistem" da atividade apícola, acrescentou à Lusa.

"Muitas colmeias vão ao ar", segundo António Carvalho, que, depois dos incêndios e da instabilidade climática, lamentou mais esta ameaça à produção do mel com denominação de origem protegida (DOP) da Serra da Lousã.

A vespa velutina "veio trazer transtornos muito grandes" ao setor, o que obrigará a "alterações no maneio" das colmeias, referiu.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Ferrugem-do-trigo ameaça culturas na Europa e no Norte de África

Doença fúngica destruiu as culturas na Sicília no ano passado, num dos piores surtos na Europa em mais de 50 anos.

Uma nova estirpe altamente destrutiva que arrasou as colheitas de trigo no ano passado na Sicília, Itália, poderá espalhar-se pelo Mediterrâneo durante 2017, ameaçando as colheitas e os meios de subsistência de pequenos agricultores – alertaram os cientistas esta sexta-feira, que elaboraram estudos em colaboração com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
 
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A FAO pediu assim aos países da Europa e do Norte de África para ficarem vigilantes, de forma a evitar que eventuais surtos da ferrugem-do-trigo se transformem numa epidemia que diminua a produção de alimentos.


Em 2016, milhares de hectares de culturas de trigo foram destruídos na Sicília num dos maiores surtos de ferrugem-do-trigo que atingiu a Europa em mais de 50 anos, sublinham os investigadores. "Há cinco ou seis décadas que não víamos nada assim", diz David Hodson, do Centro de Melhoramento do Milho e do Trigo (CIMMYT).

Uma investigação científica do CIMMYT e da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, publicada na revista Nature desta semana, descobriu que aquele surto foi causado por uma nova estirpe de ferrugem-do-trigo, uma infecção fúngica que, se for deixada sem tratamento, pode destruir totalmente as colheitas em semanas. "É muito agressiva", disse Biagio Randazzo, um engenheiro agrónomo que detectou a doença, acrescentando que na Sicília diferentes tipos de trigo duro, usados para fazer massas, bem como pão de trigo, e algumas variedades de aveia foram afectados.

Os esporos da ferrugem-do-trigo espalham-se através do vento, e em 2017 o fungo pode vir a afectar as culturas de países vizinhos da Itália, como a Grécia, a Albânia, a Líbia e a Tunísia, alertaram os investigadores.

Fazil Dusunceli, fitopatologista da FAO, explicou que a doença é particularmente preocupante para os pequenos agricultores no Norte de África, que, em conjunto, contribuem para uma grande parte da produção de trigo na região.

Segundo as investigações científicas, a aplicação desde muito cedo de fungicidas é fundamental para conter os surtos, mas os pequenos agricultores muitas vezes têm falta de dinheiro ou de conhecimentos para os usarem de forma eficaz, referiu ainda Fazil Dusunceli. "Eles estão mais vulneráveis."  

Mais de mil milhões de pessoas de países em desenvolvimento dependem do trigo como fonte de alimento e de rendimentos, segundo a FAO. Também surgiu uma outra ameaça nalgumas zonas da Europa, África e da Ásia com o aparecimento de duas novas estirpes de outra doença – a ferrugem amarela –, embora ainda não seja claro o seu impacto potencial.

"É mais importante do que nunca que especialistas de instituições internacionais e países produtores de trigo trabalhem juntos para parar o rasto desta doença", disse ainda Fazil Dusunceli, referindo-se à ferrugem-do-trigo. "Temos de ser rápidos e rigorosos na forma como lidamos com isto."

Um terço dos frutos e vegetais produzidos na Europa vai para o lixo. São feios


Ativistas consideram que é preciso trabalhar na aceitação de alimentos com formas e aspetos diferentes, bem como no reaproveitamento de produtos agrícolas que não chegam às prateleiras da grande distribuição.

Feios, pequenos, grandes ou tortos. Mais de um terço dos frutos e legumes produzidos na Europa não chegam a ser comercializados por razões estéticas, de acordo com um estudo da Universidade de Edimburgo, publicado no Journal of Cleaner Production.

Segundo a mesma investigação, que fez uma estimativa sobre os alimentos descartados no Espaço Económico Europeu, 50 milhões de toneladas de frutos e vegetais produzidos na Europa não chegam às prateleiras dos supermercados, porque não correspondem às exigências.

Em causa estão os elevados padrões estéticos impostos pelos hipermercados e as expectativas dos consumidores sobre a forma como os alimentos devem apresentar-se.

"Os dados sobre desperdício alimentar são normalmente bastante chocantes, na produção, distribuição ou consumo. Os números são assustadores", diz Susana Fonseca, da direção da ZERO (Associação Sistema Terrestre Sustentável). Do ponto de vista ambiental, a ativista lembra que "quando produzimos alguma coisa, precisamos de recursos - solo, água, energia, pesticidas, fertilizantes - que têm impacto ambiental".

Há casos, lembra Susana Fonseca, em que a fruta e os legumes que não são integrados no mercado são canalizados para conservas, papas, aproveitados para processamento na indústria ou para alimentação animal. "Mas, em muitas situações, nem para compostagem são usados." Por isso, alerta, "ainda há muita coisa a fazer, quer na aceitação social de todas as formas e aspetos quer no que pode ser aproveitado e integrado na economia de outras formas".

Um milhão de toneladas por ano

Por cá, o PERDA - Projeto de Estudo e Reflexão sobre o Desperdício Alimentar concluiu, em 2012, que é desperdiçado um milhão de toneladas de alimentos por ano - 17% do que é produzido pelo país.

Relativamente aos produtos agrícolas, Iva Pires, uma das autoras do estudo, diz que "o grande problema é que há uma triagem muito grande entre os produtores e a distribuição, que tem critérios de estética muito apertados. Diz que não consegue vender os alimentos se forem feios, o que faz que haja um desperdício muito grande logo na primeira fase".

Na opinião da docente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Nova de Lisboa, "foi-se longe de mais no critério estético, mas, felizmente, estamos a dar alguns passos atrás. Já começa a dar-se mais atenção à qualidade, e percebe-se que qualidade e estética não estão necessariamente ligadas".

Segundo a docente, não existem estudos mais recentes sobre o desperdício alimentar em Portugal. E, ressalva, o que há normalmente são estimativas, porque é muito difícil ter estatísticas nesta área. O mesmo confirma o Ministério da Agricultura em respostas enviadas ao DN. À espera de arrancar estão também várias das medidas previstas na Estratégia Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar (ENCDA), nomeadamente aquela que prevê a criação de locais específicos para venda de produtos em risco de desperdício. Segundo o Ministério, "pelo seu impacto mediático, o processo de diálogo entre a CNCDA [Comissão Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar] e os representantes do retalho agroalimentar está em curso, com o objetivo de estabelecer, até ao final do ano, um compromisso voluntário para a criação de pontos de venda" que tenham este tipo de produtos, embora neste caso se esteja a falar mais de bens alimentares próximos da data de fim de validade e não de hortofrutículas "feios".

Em Portugal, há projetos, como o Fruta Feia, que visam combater o desperdício ao nível da produção, colocando no mercado fruta e hortaliça "feias", mas que respeitam a segurança e a qualidade alimentar. Atualmente, lê-se no site da cooperativa, conta com a participação de 162 produtores, 11 delegações e 4679 consumidores.

O Governo destaca exatamente o projeto Fruta Feia como um bom exemplo e esclarece que "estes produtos 'feios' não têm qualquer impedimento de comercialização, desde que estejam em condições sanitárias para o consumo humano". E sublinha: "Contrariamente ao que habitualmente é referido, as normas de comercialização da UE não são o motivo desse desperdício, pois apenas definem padrões para garantir que os consumidores são defendidos nos seus interesses, pagando um preço justo e adequado ao standard que está a adquirir, e garantem a respetiva normalização. Para combater esta tendência, há que primeiro esclarecer o consumidor, e por outro lado, desenvolver iniciativas que promovam e valorizem o consumo dos produtos que não reúnem tais critérios."

Em declarações à BBC, Stephen Porter, do Departamento de Geociências da Universidade de Edimburgo, diz que "encorajar as pessoas a serem menos exigentes relativamente à aparência da fruta e dos vegetais podia ajudar a reduzir o desperdício alimentar, diminuindo o impacto da produção de alimentos no clima".

domingo, 2 de setembro de 2018

Trigo atinge preço mais elevado dos últimos três anos


As colheitas de cereais da Alemanha e Suécia já têm previsões e não são boas. A seca deverá levar entre 20% e 40% da produção de trigo. Os mercados internacionais já estão a antecipar redução da oferta

ISABEL AVEIRO e AGÊNCIAS 1 de Agosto de 2018, 14:15 actualizado a 2 de Agosto de 2018, 13:07 Partilhar notícia


Esta terça-feira, o valor de referência para o trigo de moagem atingiu máximos de três anos e meio, cotando durante a manhã nos 208,5 euros por tonelada na Euronext Paris.

Dependência de Portugal ao exterior é quase total

Desde Fevereiro já era sabido que Portugal atingira, no arranque da campanha cerealífera de Inverno, a área cultivada mais baixa dos últimos cem anos. Mas convém pormenorizar o grau de dependência externa entre grãos. As últimas Estatísticas Agrícolas, referentes a 2017, emitidas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), situam a campanha de 2016/2017 (iniciada em Julho e terminada em Junho do ano seguinte) com um grau de aprovisionamento total de cereais de 20,5%. É "o valor mais baixo das últimas quatro campanhas", afirma o gabinete oficial de estatística. O trigo, contudo, é o que tem a taxa mais baixa — total de 6%, com 5% para o trigo duro (sobretudo usado em massas, mas também em alguns pães regionais) e 6,1% no trigo mole (farinha para pão mais branco e pastelaria em geral). Compara, por exemplo, com um grau de aprovisionamento português de 25,9% para o milho, 38,1% para o centeio e 82,5% para a aveia. Na Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais, apresentada pela tutela em Maio, recordava-se que o grau de aprovisionamento, em 1989, era de 60% para o total dos cereais e de 49% no caso do trigo. No caso do milho — responsável ao largo de Alqueva pelo abandono do trigo por aquela cultura, mais rentável —, o grau de aprovisionamento recuou "apenas" 14 pontos percentuais desde 1989. Tomando os últimos dados do INE, para recursos disponíveis de 1,55 milhões de toneladas de trigo (somando uma "produção utilizável" de 90 mil toneladas a importações de 1,82 milhões de toneladas e descontando 363 mil toneladas de exportações), o país consumiu 1,51 milhões de toneladas do cereal-base do pão. Não foram todos para a mesa, contudo, já que as rações para animais utilizaram 22% do trigo disponível. Por comparação, o milho teve uma produção de 711 mil toneladas no país, que importou mais 2,19 milhões de toneladas. Mas, neste caso, 83% do milho disponível foi para alimentação animal.

O alerta já vinha nas páginas do Financial Times de ontem: o preço do trigo, como matéria-prima agrícola cotada nos mercados internacionais está de volta à curva ascendente. Segundo o jornal britânico, a produção de trigo para moagem na Europa deverá recuar para um volume inferior a 130 milhões de toneladas, o que, a concretizar-se, é o nível mais baixo desde 2012.

Só na Alemanha - segundo maior produtor europeu e um dos sete maiores do mundo – avançou ontem o FT citando dados da consultora Stratégie Grains, a próxima colheita deverá cair para 20 milhões toneladas de trigo, o nível mais baixo dos últimos 15 anos.

Hoje, a Reuters avança com mais dados: a queda estimada na produção de todos os cereais de grão, na Alemanha, deverá ser de 20%. Segundo a associação de produtores alemães DBV, a seca e a onda de calor que está a varrer o Norte da Europa este Verão deverá deixar apenas 36 milhões de toneladas de cereais de grão nos campos para serem colhidos. E, no caso do trigo, os produtores só conseguirão colher 18 milhões de toneladas – o que representará, caso se materialize a previsão feita pela DBV – num corte de um quarto (25%) da campanha de 2017. Mais pessimista, portanto, que a previsão da Stratégie Grains para o FT.

De exportador a importador
Mais a Norte, a mistura entre falta de chuva e de humidade e as altas temperaturas vividas desde Junho deverá reduzir a produção de trigo na Suécia em 40% na próxima colheita – ou seja, explicou Mikael Jeppsson à Reuters, a evolução, negativa, poderá ser de 3,2 milhões de toneladas de trigo em 2017 para um intervalo entre 1,7 para 1,9 milhões de toneladas este ano.

Se as previsões de Mikael Jeppsson – director-geral da divisão de grãos da cooperativa agrícola sueca Lantmännen – acabarem por verificar-se, aquele país, tradicionalmente exportador de trigo, poderá transformar-se num importador. E se no caso da Alemanha a produção ainda não está preocupada com o trigo destinado a alimentos (principalmente pão), mas sim com as necessidades de cereais para as rações animais, na Suécia, a escassez desta matéria-prima agrícola poderá igualmente afectar a produção de biocombustíveis.  

A Suécia, contextualize-se, não é um grande produtor, em quantidade, de trigo – a oferta mundial é dominada pela Rússia, pelos EUA e Austrália no pódio dos exportadores. A Ucrânia, França, Argentina, Alemanha e Roménia – por esta ordem – são os restantes cinco maiores contribuintes para as exportações mundiais - que ascenderam a 173 milhões de toneladas em 2017, segundo o FT. E se actual campanha – que se iniciou na Suécia há 10 dias – está a ser pouco generosa na quantidade de trigo, também é a verdade, reconheceu Mikael Jeppsson à Reuters, que a qualidade do trigo já colhido é genericamente boa.

Mas as previsões pessimistas do gigante agrícola Lantmännen são extensíveis a outras culturas. A colheita de todos os cereais de grão e oleaginosas irão cair, previsivelmente, para o valor mais baixo dos últimos 25 anos - face a uma produção de 6,5 milhões de toneladas em 2017, e uma média do quinquénio de 6,2 milhões de toneladas, a estimativa deste ano é de 4,2 milhões de toneladas.


Na Suécia, o Governo avançou já que irá orçamentar cerca de 1,2 milhões de coroas suecas (cerca de 116,86 mil euros ao câmbio actual) para financiar medidas de apoio aos agricultores atingidos pela seca, este ano e no próximo. O que a ministra das Finanças sueca, Magdalena Andersson, chamou esta semana de "pacote nacional de crise para os agricultores suecos", de acordo com a Reuters, visa sobretudo subsidiar primeiro os encargos com a alimentação animal e só depois a perda de rendimento dos produtores agrícolas.

Na Alemanha, o movimento é semelhante, mas mais cauteloso por parte do executivo. Face ao pedido - de mil milhões de euros - feito pelas associações de agricultores como forma de apoio para enfrentar a diminuição previsível da próxima colheita cerealífera, Berlim espera para ver. Especificamente, espera para ler o próximo diagnóstico de previsões agrícolas deste mês de Agosto.

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Perda de culturas para pragas de insectos irá agravar-se com o aumento das temperaturas


A quebra de produtividade devido a pragas de insectos no milho, no trigo e no arroz pode aumentar entre 10 a 25% por cada grau a mais .

RITA MARQUES COSTA 31 de Agosto de 2018, 16:35 Partilhar notícia

As regiões temperadas serão as mais atingidas, diz o estudo REUTERS/TODD KOROL
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É certo que a produtividade das culturas agrícolas diminui à medida que as temperaturas aumentam com as alterações climáticas. Agora, um grupo de investigadores norte-americanos provou que essa perda pode vir a ser agravada entre 10 a 25% pelas pragas de insectos (que já são responsáveis por quebras na ordem dos 5 a 20%), por cada grau a mais em relação à temperatura média.

Os cientistas estimam que, com o aumento das temperaturas em 2 graus Celsius, as perdas relacionadas com as pragas aumentem 49%, 19% e 31% para o trigo, o arroz e o milho (as três culturas estudadas), respectivamente. O que corresponde a perdas de 59, 92 e 62 megatoneladas por ano.

O trabalho dos investigadores norte-americanos das universidades de Washington, Colorado, Vermont e Stanford foi publicado na revista Science, esta sexta-feira. O trabalho baseia-se em dados sobre 38 espécies de insectos diferentes.

"Usámos as relações estabelecidas entre a temperatura, o crescimento populacional e as taxas metabólicas dos insectos para estimar como e onde o aquecimento global provocará o aumento das perdas de produtividade", explicam os investigadores no artigo.

Outra das conclusões a que chegaram é que "as perdas serão mais agudas em áreas onde o aquecimento provoca um maior crescimento populacional e aumento das taxas metabólicas dos insectos". Estas condições existem nas zonas temperadas, onde a maioria destes cereais é produzida. 

Aquilo que os agricultores tentam fazer actualmente para controlar estas pragas será infrutífero. "A aplicação de mais pesticidas, o uso de culturas geneticamente modificadas e práticas como a rotação de culturas ajudarão a controlar as perdas de insectos. Mas ainda parece que em praticamente todos os cenários de mudança, as pragas serão as vencedoras", diz ao jornal britânico The Guardian Rosamond Naylor, investigador na Universidade de Stanford e um dos membros da equipa.


Perdas para os grandes produtores
Entre os cinco principais produtores destes cereais estimam-se perdas adicionais significativas. No caso do arroz, cuja produção é dominada pela China, as quebras oscilam entre os 3,4% (China) e 1,7% (Bangladesh). Quanto ao milho, também é a China que perderá mais (2,9%). O maior produtor do mundo — os EUA — deve perder 2,1% só por causa do aumento das populações de insectos. O trigo é a cultura para a qual se prevêem quebras adicionais mais significativas, com a Rússia a perder mais (5,9%).

"O quadro geral é que quem está a produzir muita comida numa região temperada, será mais atingido", disse Scott Merrill, da Universidade de Vermont, outro membro da equipa, ao The Guardian.

Mesmo assim, este trabalho não tem em conta alguns cenários, diz Markus Riegler do Instituto do Ambiente de Hawkesbury, da Western University of Sidney, num comentário ao estudo também publicado na revista Science.

É que, por exemplo, "muitos insectos são vectores de doenças que também causam perdas em colheitas. As previsões baseadas no crescimento populacional e nas taxas metabólicas podem, assim, subestimar os danos nas culturas provocados pelos insectos vectores".

Outro dos aspectos a ter em conta, diz o especialista, é o "impacto das expansões de alcance geográfico, introduções de insectos que acontecem pela mão humana e invasões de espécies propiciadas pelo aquecimento global".

Mesmo assim, "a previsão de um aumento substancial dos danos causados nas culturas é uma chamada à acção para a mitigação e adaptação às alterações climáticas. Todos devem estar envolvidos: agricultores, indústria, políticos e a sociedade civil no geral. Algumas comunidades de agricultores já estão a adaptar-se, por exemplo, na selecção de determinadas variedades, bem como onde e quando vão cultivá-las", conclui o cientista.