domingo, 2 de setembro de 2018

Perda de culturas para pragas de insectos irá agravar-se com o aumento das temperaturas


A quebra de produtividade devido a pragas de insectos no milho, no trigo e no arroz pode aumentar entre 10 a 25% por cada grau a mais .

RITA MARQUES COSTA 31 de Agosto de 2018, 16:35 Partilhar notícia

As regiões temperadas serão as mais atingidas, diz o estudo REUTERS/TODD KOROL
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É certo que a produtividade das culturas agrícolas diminui à medida que as temperaturas aumentam com as alterações climáticas. Agora, um grupo de investigadores norte-americanos provou que essa perda pode vir a ser agravada entre 10 a 25% pelas pragas de insectos (que já são responsáveis por quebras na ordem dos 5 a 20%), por cada grau a mais em relação à temperatura média.

Os cientistas estimam que, com o aumento das temperaturas em 2 graus Celsius, as perdas relacionadas com as pragas aumentem 49%, 19% e 31% para o trigo, o arroz e o milho (as três culturas estudadas), respectivamente. O que corresponde a perdas de 59, 92 e 62 megatoneladas por ano.

O trabalho dos investigadores norte-americanos das universidades de Washington, Colorado, Vermont e Stanford foi publicado na revista Science, esta sexta-feira. O trabalho baseia-se em dados sobre 38 espécies de insectos diferentes.

"Usámos as relações estabelecidas entre a temperatura, o crescimento populacional e as taxas metabólicas dos insectos para estimar como e onde o aquecimento global provocará o aumento das perdas de produtividade", explicam os investigadores no artigo.

Outra das conclusões a que chegaram é que "as perdas serão mais agudas em áreas onde o aquecimento provoca um maior crescimento populacional e aumento das taxas metabólicas dos insectos". Estas condições existem nas zonas temperadas, onde a maioria destes cereais é produzida. 

Aquilo que os agricultores tentam fazer actualmente para controlar estas pragas será infrutífero. "A aplicação de mais pesticidas, o uso de culturas geneticamente modificadas e práticas como a rotação de culturas ajudarão a controlar as perdas de insectos. Mas ainda parece que em praticamente todos os cenários de mudança, as pragas serão as vencedoras", diz ao jornal britânico The Guardian Rosamond Naylor, investigador na Universidade de Stanford e um dos membros da equipa.


Perdas para os grandes produtores
Entre os cinco principais produtores destes cereais estimam-se perdas adicionais significativas. No caso do arroz, cuja produção é dominada pela China, as quebras oscilam entre os 3,4% (China) e 1,7% (Bangladesh). Quanto ao milho, também é a China que perderá mais (2,9%). O maior produtor do mundo — os EUA — deve perder 2,1% só por causa do aumento das populações de insectos. O trigo é a cultura para a qual se prevêem quebras adicionais mais significativas, com a Rússia a perder mais (5,9%).

"O quadro geral é que quem está a produzir muita comida numa região temperada, será mais atingido", disse Scott Merrill, da Universidade de Vermont, outro membro da equipa, ao The Guardian.

Mesmo assim, este trabalho não tem em conta alguns cenários, diz Markus Riegler do Instituto do Ambiente de Hawkesbury, da Western University of Sidney, num comentário ao estudo também publicado na revista Science.

É que, por exemplo, "muitos insectos são vectores de doenças que também causam perdas em colheitas. As previsões baseadas no crescimento populacional e nas taxas metabólicas podem, assim, subestimar os danos nas culturas provocados pelos insectos vectores".

Outro dos aspectos a ter em conta, diz o especialista, é o "impacto das expansões de alcance geográfico, introduções de insectos que acontecem pela mão humana e invasões de espécies propiciadas pelo aquecimento global".

Mesmo assim, "a previsão de um aumento substancial dos danos causados nas culturas é uma chamada à acção para a mitigação e adaptação às alterações climáticas. Todos devem estar envolvidos: agricultores, indústria, políticos e a sociedade civil no geral. Algumas comunidades de agricultores já estão a adaptar-se, por exemplo, na selecção de determinadas variedades, bem como onde e quando vão cultivá-las", conclui o cientista.

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