sexta-feira, 8 de setembro de 2017

O outro Douro


Por Pedro Garcias
02.09.2017

O Douro é triste, um quase espelho do mundo, dividido entre uns quantos ricos e uma legião de pobres.
Na vindima, o verdadeiro Douro ressuma com a mesma força do vinho a ferver nos lagares e nos tonéis. Surge como uma ferida aberta de que uns fogem por repulsa e outros ignoram, convencidos que a região é mesmo aquela que aparece nos cartazes publicitários: um rio imenso ziguezagueando por entre montanhas cobertas de vinhas, quintas com nomes históricos nos lugares mais panorâmicos do vale, barcos deslizando sobre as águas calmas das albufeiras, miradouros sem fim à vista.

Este Douro idílico, que nem precisava de ser tão bonito para nos deixar assombrados, existe mesmo. É uma das mais belas regiões vinhateiras do mundo. Mas, por debaixo do que se vê, vive um outro Douro, habitado por gente que passou a vida inteira a ganhar a geira, que chega ao fim do mês a contar os tostões, que esquece a tristeza nas tabernas e gasta o pouco que ganha em raspadinhas. Um Douro que, num passado recente, começou por falar ucraniano, romeno e búlgaro e que qualquer dia volta só a falar português, porque, depois de os ucranianos perceberem que estavam na terra errada, incompreendidos e explorados, até os romenos e os búlgaros já começam a fugir ou a regressar a casa, porque sempre é melhor ser pobre em casa do que miserável e maltratado na terra dos outros. Vale a pena ir para o Douro ganhar 28 euros por dia, que é quanto as empresas agrícolas pagam às mulheres (e 30 aos homens), em muitos casos com meses de atraso?

O Douro é mesmo triste. Na terra do vinho do Porto, dos grandes grupos, das grandes quintas, dos vinhos que as revistas da especialidade colocam nos píncaros, das famílias ricas ou com algumas posses que vivem no Porto ou em Lisboa e só vêm à vindima matar saudades e colher o "benefício" (autorização para produzir vinho do Porto), nessa pequena extensão da Foz e de Cascais, o grosso da população rural vive pobre e habitualmente. Basta um dia na vindima para se conhecer esse outro Douro, pobre e tacanho, para ver a miséria de comida que trazem de casa para o almoço, para ouvir as suas conversas de queixume mas também de cusquice e má língua permanentes, para constatar a eterna subserviência perante o patrão e agora até a crescente xenofobia perante os estrangeiros que vão substituindo as rogas de antigamente — gente ainda mais pobre.

Nos últimos 30 anos, o Douro mudou muito. À fama secular do vinho do Porto somou-se a erupção dos vinhos tranquilos, cobertos de prémios e distinções sucessivas, e o boom do turismo. Mas o eterno paradoxo duriense continua imutável. O grosso da riqueza do Douro está concentrado em apenas uns poucos e é para estes que uma boa parte dos restantes trabalha. No Douro, quase todas as famílias têm uns pés de vinha, mas mesmo aqueles que produzem algumas pipas de vinho, mesmo que seja para Porto, pouco ganham. As uvas continuam a ser pagas aos preços de há 20 anos e, desde então, os custos de produção, já de si altos, pelo perfil montanhoso da região, mais do que duplicaram. O que se passa no sector do vinho do Porto, que, apesar de estar em queda, continua a ser o abono de família dos durienses,  é sintomático. Já quase não há empresas familiares, foram absorvidas pelos cinco grupos dominantes; e a concentração vai continuar, porque só há lugar para as grandes companhias e para aqueles que trabalham para elas,  como os ajuntadores de uvas e os intermediários "barrigas de aluguer" que fazem vinho do Porto para lhes vender logo em Dezembro. As empresas médias não têm forma de competir no preço e os pequenos viticultores ainda menos, para além de estarem amarrados às absurdas exigências legais que a Alfândega e o IVDP colocam a quem quer produzir vinhos fortificados.

No Douro, o número de viticultores diminui de ano para ano. No final de 2016 já só eram 21.432 e destes, na sua maioria velhos e reformados, apenas umas escassas centenas conseguem viver dignamente da vinha. Claro que já não há gente descalça e faminta a vaguear pelas ruas e a trabalhar pela côdea e a sopa. Foi gente dessa que ajudou a erguer muitas quintas do Douro. Quando D. Antónia, "A Ferreirinha", construiu a sua última quinta, Vale Meão, chegou a empregar cerca de 1000 pessoas, a maioria, de certeza, só a troco de comida. Era assim, naquele tempo. Hoje, não é de miséria que estamos a falar, é de pobreza. O que choca no Douro actual, perante a riqueza da região, é haver ainda tanta gente pobre e iletrada. O que choca é o Douro não ser como a Borgonha, Bordéus ou Champanhe, onde se pode ter uma vida boa sendo viticultor, onde a terra tem valor e as novas gerações querem ficar. Infelizmente, o Douro das grandes quintas e dos grandes vinhos continua a ser uma terra de emigrantes — e isso diz tudo.

Governo convoca reunião extraordinária com agentes das fileiras florestais


Objetivo é discutir a venda da madeira das áreas afetadas pelos incêndios

O Governo vai reunir-se extraordinariamente, ainda este mês, com os agentes das fileiras florestais para discutir a venda do material lenhoso das áreas afetadas pelos incêndios, avançou hoje fonte do gabinete do ministro do Planeamento e das Infraestruturas.

De acordo com a mesma fonte, o executivo tem vindo a desenvolver contactos com as associações e empresas dos sectores energético e florestal, no sentido de incentivar iniciativas que respondam ao objetivo de criar "uma espécie de central de compras" da matéria ardida para garantir que não há especulação.

Numa resolução do Conselho de Ministros de 06 de julho, a Governo comprometeu-se a "articular as iniciativas de empresas do setor energético, em coordenação com os municípios dos territórios afetados, para a criação de parques de receção de biomassa florestal residual, com o objetivo de assegurar aos produtores florestais o valor de mercado do material lenhoso das áreas afetadas".


"O Governo decidiu ainda convocar uma reunião extraordinária da PARF (que integra todos os agentes do setor), a qual terá lugar em setembro, para análise da situação e discussão da necessidade de encontrar mecanismos de transparência e de aprofundar o diálogo ao nível interprofissional", adiantou à Lusa fonte do gabinete do ministro do Planeamento e das Infraestruturas.

Segundo a tutela, a PARF reuniu-se em julho, já depois de incêndios rurais de grandes dimensões, "altura em que os agentes do setor tiveram oportunidade de expor a questão em sede própria".

Criada em 2014 pelos Ministérios da Economia e da Agricultura e do Mar, a PARF tem como missão "acompanhar as relações entre os agentes das fileiras florestais", pretendendo-se com esta plataforma desenvolver a competitividade da economia portuguesa, através da valorização da produção nacional, e contribuir para o aumento da competitividade das empresas portuguesas e para o emprego.

A 03 de julho, em visita a Figueiró dos Vinhos, no distrito de Leiria, o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, anunciou que o Governo pretendia criar "uma espécie de central de compras" da matéria ardida para garantir que não há especulação.

"Estamos a tentar diligenciar com as grandes empresas que adquirem este tipo de matéria-prima", disse Pedro Marques, referindo que os contactos feitos vão no sentido de se ter "uma espécie de central de compras da matéria ardida".

A iniciativa justifica-se pela necessidade de que os valores de transação de matéria ardida sejam adequados, valores dignos e não especulativos de aproveitamento da situação dos produtores locais", explicou o governante, que falava durante a apresentação do relatório sobre os incêndios que afetaram a região Centro.

A apresentação decorreu na Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos com a presença dos sete municípios que foram afetados pelos grandes incêndios de junho: Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos, Castanheira de Pera, Penela, Sertã, Pampilhosa da Serra e Góis.

Dois grandes fogos deflagram em 17 de junho nos concelhos de Pedrógão Grande e de Góis, tendo o primeiro deles provocado 64 mortos e mais de 200 feridos. As chamas foram extintas uma semana depois.

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Empresa canadiana investe 20 milhões para produzir canábis medicinal em Cantanhede



EPA/DANIEL DAL ZENNARO
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Canadianos escolhem Portugal devido ao clima e pelos trabalhadores altamente qualificados na área da biotecnologia

A empresa canadiana Tilray estima investir, até 2020, 20 milhões de euros em Portugal na produção de canábis medicinal com que abastecerá o mercado europeu, tendo o país sido escolhido pelo clima favorável à produção desta planta.

A escolha de Portugal para o investimento na Europa desta empresa líder mundial na produção de canábis deveu-se, segundo o seu presidente executivo, ao facto de o país ter acesso ao mercado comum e aos trabalhadores altamente qualificados na área da biotecnologia.

Contudo, destacou, o principal fator foi mesmo o clima, favorável ao desenvolvimento da planta canábis.


"Portugal tem o clima ideal (...). O clima foi extremamente importante [na escolha], porque podemos produzir produtos [de canábis] mais amigos do ambiente", disse à Lusa Brendan Kennedy, presidente executivo da Tilray.

Os campos de cultivo, unidades fabris e laboratórios da Tilray em Cantanhede empregarão 100 pessoas e o volume de produção deverá superar as 60 toneladas anuais, até final de 2018.

A canábis medicinal e as substâncias derivadas de canabinoides produzidos em Portugal terão como destino os países europeus, sobretudo a Alemanha, onde no início deste ano foi legalizada a canábis para fins terapêuticos, disse Brendan Kennedy.

O responsável explicou ainda que a empresa quer levar a cabo, em Portugal, investigação sobre a eficácia da canábis em várias doenças, como stress pós-traumático (PTSD), doença pulmonar obstrutiva crónica, epilepsia pediátrica e náuseas provocadas pela quimioterapia, através de parcerias com investigadores académicos e hospitalares, como já faz noutros países.

O uso de canábis para fins medicinais é proibido em Portugal. No início do ano, foi noticiado que o Bloco de Esquerda pretendia avançar ainda este ano com iniciativas para legalizar a canábis para uso terapêutico, bem como para recreativo, mas até agora ainda não entrou qualquer legislação no Parlamento.

Fonte oficial do Bloco de Esquerda disse hoje à Lusa que o partido está a preparar o diploma.

Os contactos para a Tilray ter unidades em Portugal de plantação e produção de canábis começaram em 2015, tendo em 2016 feito um acordo com a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) com vista a esse investimento.

Em novembro do ano passado, durante a Web Summit, em Lisboa, Brendan Kennedy já tinha admitido que estava "em conversações" com o Governo português.

A Tilray Portugal foi criada já em março deste ano.

As instalações da Tilray para a produção de canábis situam-se perto do parque biotecnológico BIOCANT em Cantanhede, distrito de Coimbra.

Ainda este mês, a empresa prevê que arranque a construção de instalações para cultivo e processamento da canábis, incluindo campos de cultivo, estufa de 10.000 m2 (metros quadrados), instalação de processamento de 1.500 m2, laboratório interno e banco genético. O objetivo é estas infraestruturas estarem concluídas até à primavera de 2018.

De futuro, e até 2020, é esperada a outra fase do projeto, com mais 15 mil m2 de espaço de cultivo em estufa, 1.500 m2 destinados de área de processamento.

No total, a Tilray espera ter na unidade de produção e processamento de canábis medicinal em Cantanhede estufas de 25.000 m2 e instalações de 3.000 m2.

Apenas com a primeira fase do projeto concretizada, a Tilray prevê aumentar a sua "capacidade de produção global em 62 toneladas anuais, até ao final de 2018".

A Tilray tem operações no Canadá, na Alemanha, na Austrália e na Nova Zelândia e o investimento em Portugal, através da subsidiária Tilray Portugal, visa responder ao aumento da procura de canábis para fins medicinais.

A empresa exporta os seus produtos para seis países e, até o final de 2017, a Tilray estima exportar produtos de canábis com fins medicinais para mais cinco países.

"Entre ter má floresta e não ter floresta, é preferível não ter floresta"


Miguel Freitas, secretário de Estado das Florestas, afirma que as limitações à plantação de eucaliptos não vão ter impactes económicos na indústria. E afirma que o debate ideológico sobre a reforma da floresta acabou.

 Manuel Carvalho

O Secretário de Estado acredita no regresso da floresta ao "centro das atenções políticas" e afirma que a operacionalização da reforma florestal exige um "compromisso" que abarca não apenas as forças partidárias mas toda a sociedade.

O ministro da Agricultura diz que a reforma florestal é a maior desde o tempo de D. Dinis. Não é uma apreciação algo exagerada?

O importante é que temos uma reforma que é uma grande reforma florestal. A mim cabe-me acima de tudo responder em articulação com o ministro à operacionalização dessa reforma. O ministro está convicto que esta é uma grande reforma. O primeiro-ministro está absolutamente convicto que esta é uma grande reforma. Portanto, com o apoio de todo do Governo e com o empenho do ministro, eu tenho a certeza que é possível pela primeira vez olhar de uma forma diferente para as questões florestais. Estamos a assistir à possibilidade de colocar a floresta no centro das atenções políticas em termos nacionais. E isso deve-se muito ao trabalho que foi desenvolvido pelo ministro na reforma florestal…

E também por causa dos incêndios…

Naturalmente. Estou de acordo com isso. É claro que o país desperta normalmente para estas questões com os incêndios. Mas temos de olhar para a frente e procurar compromissos. A ideia do compromisso é chave.

Compromissos partidários?


Em primeiro lugar de um compromisso político. E fundamental perceber que a questão política e ideológica fechou-se com a reforma florestal. Temos agora de passar à sua operacionalização e essa operacionalização passa por compromissos alargados na Assembleia da República. Mas o compromisso deve ser também social. Com os proprietários florestais, que têm deveres e obrigações. Têm de perceber que têm de cumprir as suas obrigações. Naturalmente muitos não são capazes de o fazer e têm de recorre a modelos de organização que façam a gestão da sua parcela melhor e mais barato. Depois, temos de ter compromissos com os outros agentes do espaço rural. Com os pastores, com os agricultores. Muito do fogo acontece por algumas más práticas da sua actividade. Tem de haver também um compromisso com os autarcas. Os autarcas têm de perceber o valor que tem o espaço rural, particularmente o espaço florestal.

Até agora não têm percebido?

O que eu digo é que têm de perceber melhor. Não tem havido investimento municipal também neste domínio. Queremos trabalhar com os autarcas no sentido de um compromisso para melhorar aquilo que é a gestão do espaço rural.

O diploma para a criação do Banco de Terras foi chumbado pelo PCP. Sem o Banco de Terras, uma peça fundamental, a coerência da reforma da floresta não fica em causa?

O Banco de Terras era um instrumento importante para a política que queríamos implementar. Mas é evidente que, não tendo sido aprovado, temos de encontrar outras soluções. Vamos trabalhar no quadro da bolsa de terra que existe e no quadro da margem de manobra que nos permite o Código Civil…

O regime legal para a plantação de eucaliptos foi muito para lá da proposta do Governo por força do Bloco de Esquerda. Já não está apenas em causa o congelamento da área actual da espécie, mas a sua redução a prazo. Essa alteração não é mais ideológica do que ecológica ou económica?

Há aí um sinal. E o sinal político claro é a necessidade de percebermos que as espécies devem estar essencialmente onde têm elevada ou média aptidão.

Mas isso implicava uma redução da área plantada?

Já vou lá. Essa é uma questão que deve ser rigorosamente estudada. Temos cerca de 100 mil hectares de eucalipto neste momento em áreas marginais, que não têm produtividade suficiente, e que estão no fim de vida útil – já tiveram mais de três cortes. O que nós queremos fazer é passar dessa área para novas áreas com elevada ou média aptidão. Isto é: a ideia-chave desta legislação é acima de tudo melhorar a produtividade do eucalipto. Portanto, diria que há aqui uma questão política, mas não há uma questão económica e é isso que vale a pena discutir. Passando o eucalipto de zonas marginais para zonas de maior aptidão, nós vamos recuperar rapidamente a produção necessária para a nossa indústria.

A Navigator Company, ex-Portucel, admite deixar de investir na floresta em Portugal e apostar na Galiza.

Essas declarações são feitas num quadro psicológico que rapidamente se ultrapassará.

Mas acha que alguém vai deixar uma área de 100 hectares numa zona do interior para plantar apenas 50 no Litoral. Isso tem racionalidade económica?

Tem de pensar desta maneira: essa empresa tem hoje 100 hectares improdutivos, não tem lá nada. Se necessário e possível, queremos que eles façam a reconversão dessa área noutras espécies.

Essa medida vai penalizar o interior, onde estão as plantações menos produtivas de eucalipto?

Temos de começar a olhar para estas questões com a ideia que o país não é todo para florestar. Isso não é assim. Entre ter má floresta e não ter floresta, é preferível não ter floresta.

Sempre se disse que os matos e incultos eram espaços florestais em potência.

Os matos têm a sua função ecológica. Temos de ser claros. Não podemos admitir que haja floresta em todos os espaços. Estamos a fazer a revisão dos PROF (Planos Regionais de Ordenamento Florestal). Esses planos definem o que são as boas zonas para a floresta. É nesse quadro que temos de ter coragem para tomar as decisões. Temos de fazer as escolhas certas para não termos de chegar todos os anos ao Verão e ver o país a arder. A questão é esta: pensámos que podíamos ter todo o país submetido a uma monocultura florestal. Temos de alterar esse pensamento. Há escolhas, estamos a fazer um caminho para quebrar ciclos. Se a ideia é mantermos este modelo, vamos continuar a ter fogos florestais.

Empresas portuguesas do setor alimentar usam prémios para entrar no mercado britânico

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Algumas marcas portuguesas vão usar os prémios recebidos a nível internacional para procurar entrar no mercado britânico do setor alimentar, através da participação na feira Speciality and Fine Food Fair.

Vencedora de duas distinções 'Great Taste' no Reino Unido atribuídas a dois produtos da gama de aperitivos, 'Nuts Original Gin & Tonic' e 'Nuts Original Wine & Champagne', a Líder Partner quer encontrar um distribuidor que faça chegar os seus artigos aos consumidores britânicos.

As embalagens incluem o selo atribuído após a votação de uma série de especialistas e que dão prestígio ao produto, o que motivou o presidente-executivo da empresa, António Guterre, a fazer uma primeira participação nesta feira.

"Queríamos aproveitar que temos os prémios para tentar entrar neste mercado através de um grande distribuidor", explicou à agência Lusa.


Atualmente, a Líder Partner já faz 90% das vendas no estrangeiro, sobretudo na Europa, onde a Bélgica é o principal mercado, e Médio Oriente, tanto para hotéis, cafés e restaurantes como para lojas.

O volume de vendas em 2016 ficou abaixo dos 500 mil euros, porém este ano já cresceu mais de 75%, revelou António Guterre.

Também o Azeite Angélica quis aproveitar os prémios recebidos nos últimos meses em Espanha e no Reino Unido para estimular o interesse de potenciais clientes.

O produtor, Gonçalo Rosa da Silva, realça o facto de o azeite, feito com variedades exclusivamente portuguesas, ter, por enquanto, uma produção anual de 6.000 garrafas, da qual 20% é exportada para Suécia e Polónia.

"O objetivo é aproveitar os prémios para aumentar a internacionalização para o Reino Unido e EUA", vincou.

Ao contrário da Líder Partner, que se apresentou individualmente, o Azeite Angélica apresentou-se no espaço da Associação para a Promoção da Gastronomia e Vinhos, Produtos Regionais e Biodiversidade (Agavi).

O espaço de 35 metros quadrados foi organizado pelo projeto Tasting Portugal, que promove produtos de gastronomia portuguesa no estrangeiro e é financiado por fundos europeus e nacionais, nomeadamente o programa Compete 2020.

A Speciality and Fine Food Fair, que começou no domingo e terminou hoje, atrai anualmente cerca de 700 expositores internacionais e centenas de visitantes profissionais.

Ao todo, participaram 13 empresas portuguesas: A Tarte, Azeite Angélica, Cacao di Vine, Casa do Vale, Chocolates dom Jose, Meethink (que representou cinco marcas), Instaclean, Jose Gourmet, Likori & Aromatikus, Nuts Original, Papaolive, Pinhais & Companhia e Prisca.

As exportações de produtos alimentares para o Reino Unido atingiram no ano passado o valor de 220,3 milhões de euros, cerca de 6,2% do total vendido por Portugal, tendo registado uma subida marginal de 0,3% relativamente a 2015.

Metade da fruta vendida nos supermercados vem do estrangeiro

07 DE SETEMBRO DE 2017 - 08:05

Ambientalistas foram ver a origem das frutas e legumes e dizem que supermercados não fazem tudo para apoiar a produção nacional.


A associação ambientalista Zero fez um estudo para perceber de onde vêm os legumes e frutas vendidos nas grandes superfícies e concluiu que, afinal, há muito caminho a fazer para apoiar a produção agrícola portuguesa.

Além da questão económica, o sítio de onde vêm estes produtos e a distância que percorrem até chegarem às nossas mesas é também importante para avaliar a sua "pegada ecológica" e a Zero diz que há muito a fazer.

Fazendo as contas, metade das frutas vendidas em Portugal vem de fora. Nos legumes esse valor desce para um terço. No entanto, mesmo nos legumes, mais de 50% de produtos como o pimento, a curgete, a cebola e a batata à venda nos supermercados vêm do estrangeiro.



Nas frutas, a Zero fala num "cenário preocupante", mesmo em frutas da época. "Os dois únicos casos em que se atingem os 100% de origem nacional encontram-se nos morangos e amoras, sendo que apenas as ameixas (82%), o figo (77%), a cereja (64%) e o pêssego (60%) se encontram com valores acima dos 50% nos diferentes locais amostrados".


Pelo contrário, nos limões apenas 24% são "made in Portugal", enquanto nas uvas o número desce para 23%, algo que segundo os ambientalistas "não poderá ser facilmente explicado, atendendo a que as principais origens destes produtos são países próximos, com climas similares, como a Espanha e Marrocos".

Pior ano de incêndios da década. 10% da floresta ardida é área protegida


5/9/2017, 10:10151

Ainda só existem as contas até final de agosto, mas 2017 já é o ano com mais área florestal ardida da década. Quase 10% da floresta afetada estava em área protegida.


As contas ainda só vão até ao final de agosto, mas 2017 é já o ano com mais área florestal ardida da última década. O relatório provisório do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) aponta para uma área florestal ardida de 213.986 hectares, o que corresponde ao valor mais elevado desde 2007 e representa 234% mais do que a área média ardida nos últimos dez anos.

Os povoamentos florestais equivalem a mais de metade da área florestal ardida, com 115.187 hectares. Os outros 98.799 hectares afetados pelos incêndios eram mato.

Entre o espaço florestal que ardeu, quase 21 hectares (20.781 hectares), pertenciam à Rede Nacional de Áreas Protegidas, o que corresponde a quase 10% — especificamente 9,7% — da área total ardida. As zonas mais atingidas foram o Parque Natural do Douro Internacional, com 6.685 hectares atingidos, o que equivale a 7,7% da área total. No entanto, em termos relativos a zona protegida mais afetada foram o Monumento Natural das Portas de Ródão, que foi afetado em 60% da sua área) e a paisagem protegida da Serra da Gardunha, com 53% da sua área comprometida.

O distrito de Castelo Branco foi o mais afetado em área florestal ardida, com 37.234 hectares, o que representa cerca de 17% do total. O incêndio no concelho da Sertã foi o que atingiu maior espaço florestal, 29.752 hectares, o que corresponde a 80% do total ardido no distrito. O segundo fogo com maior área florestal foi o de Pedrógão Grande, em Leiria, atingindo 27.354 hectares. O terceiro maior fogo em área foi o de Góis (distrito de Coimbra), com 17.521 hectares.

Para este quadro negro, contribuíram as condições meteorológicas adversas especialmente favoráveis à propagação de fogos. No índice de severidade diário de seca 2017 é o segundo ano mais severo desde 2003, depois de 2005. Nestas condições, a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) decretou 66 dias de alerta especial de nível amarelo ou superior, dos quais 28 dias em agosto. A maior área ardida foi registada em agosto apesar do número de ocorrências ter sido inferior ao valor médio para este mês.

O grosso da área florestal ardeu nos chamados grandes incêndios que afetam mais de cem hectares. Até 31 de agosto, houve o registo de 123 grandes incêndios que foram responsáveis por cerca de 90% do total do espaço florestal que ardeu. 28 fogos afetaram uma área superior a mil hectares.

A defesa da floresta nos programas autárquicos

José Martino
05 de setembro de 2017 às 21:10

A um mês das eleições autárquicas, aguardo com expectativa e curiosidade ver quais os candidatos que colocam nos seus programas medidas de prevenção e combate aos fogos florestais.

E esta minha curiosidade não se esgota nos concelhos onde os fogos foram mais mediatizados e intensos este verão, a começar pela tragédia de Pedrógão Grande, passando por diversos concelhos do Norte, centro e Sul do país.
 
Como está à vista de todos, este não é um problema de um concelho ou de uma região. É um problema nacional, porque todos estão sob a ameaça de poderem ser confrontados com um fogo florestal de proporções mais ou menos dramáticas.
 
Isso acontece porque Portugal negligencia há décadas a defesa da florestal. Os fogos florestais não são uma inevitabilidade todos os verões. É preciso, por isso, elaborar um plano estratégico para a floresta em cada concelho do nosso país.
 
Lanço agora este alerta não só porque quero ver a preocupação de cada um dos candidatos autárquicos, mas porque é agora que se tem de atuar para começar a prevenir os fogos do próximo verão.
 
Nos últimos dias, tenho sido abordado por muitos candidatos autárquicos de diversos concelhos para os ajudar a formular um programa de ação neste sentido. A todos respondo que as minhas ideias e propostas estão há muito no espaço público e estão a serviço de todos. Utilizem-nas!
 
Para já, deixo aqui um conselho aos próximos presidentes de câmara eleitos: apliquem já a legislação em vigor para, em conjunto com as entidades competentes na matéria, proteção civil, bombeiros, forças de segurança, técnicos municipais e florestais, proprietários de terras, etc., elaborem um plano de "fogo controlado", a concretizar neste inverno, com o objetivo de prevenir os fogos do próximo verão.
 
O "fogo controlado" garante a preservação da floresta, diminui a massa combustível, compartimenta as parcelas de terreno florestal e garante a descontinuidade na propagação dos fogos.
 
Esta medida de prevenção e combate dos fogos é o único instrumento de curto prazo para a defesa da floresta contra os incêndios, pois os demais instrumentos da reforma florestal têm efeitos a médio e longo prazo.
 
Outra das medidas que gostaria que constasse dos programas autárquicos era a promoção do arrendamento de terras florestais por parte da câmara municipal, o chamado Banco de Terras Municipal, garantindo ao proprietário a sua renda (juros do capital fundiário, terra) e a devolução em estado de uso melhor. Assim se colocam terras sem gestão florestal ao serviço da riqueza de um concelho, colocando-as através de aviso público de atribuição de subarrendamento, nas mãos de quem tem vocação para a exploração florestal (e.g. Banco de Terras de Guimarães) Aqui chegado, proponho uma medida de que pouco ou nada se tem falado: a escola de pastores. Para diminuir a massa combustível instalada na floresta, deve-se tirar partido dos pequenos ruminantes, ovinos e caprinos. Para a sua gestão pecuária é preciso "players" com competências para os explorarem. Preconizo que sejam as autarquias a avançarem com escolas municipais de pastores para dentro de um ano as ovelhas e as cabras estarem no terreno a controlar a vegetação rasteira florestal.
 
Este plano de ação municipal de combate aos fogos deve ainda prever medidas de identificação das infraestruturas existentes ao nível da rede primária e secundária de combate aos incêndios. Isto passa, ainda, pela formação dos munícipes para esta atuação, da colocação no terreno dos kits de 1.º combate em viaturas 4x4, pertencentes a instituições públicas (e.g. Juntas de Freguesia, Câmara Municipal, etc.) e privadas (associações florestais, particulares, etc.) os quais disponibilizam os veículos na época de maiores riscos. A implementação deste plano garante a 1.ª intervenção no tempo máximo de 10 minutos após a deteção da ignição e o controlo do fogo na meia hora seguinte.
 
Outra das medidas será avançar com um sistema de vigilância humana e tecnológica que garanta a deteção imediatamente após a ignição, bem como o alerta rápido e atempado das ignições e a respetiva comunicação aos meios operacionais.
 
Este é o meu contributo com medidas concretas para os programas eleitorais autárquicos, com o objetivo de defender,  preservar e valorizar a floresta, como recurso nacional de valor económico único, produzido em Portugal sem recurso a importações, que tem valias nas vertentes turística, ambiental e paisagística, que garante qualidade de vida das populações das regiões mais deprimidas.
 
Consultor e empresário agrícola

África terá 234 milhões de euros para revolucionar setor da agricultura


6/9/2017, 20:57

Vários países africanos, incluindo Moçambique, vão ter acesso a um financiamento internacional de 234 milhões de euros para modernizar o setor da agricultura.


Vários países africanos, incluindo Moçambique, vão ter acesso a um financiamento internacional de 234 milhões de euros (280 milhões de dólares) para modernizar o setor da agricultura, a principal base da economia daquele continente, foi hoje divulgado.

O financiamento surge no âmbito da Parceria para a Transformação Agrícola Inclusiva em África (PIATA), projeto financiado principalmente pela Fundação Bill Gates (fundador da Microsoft) e Melinda Gates, a Fundação Rockefeller e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).

A verba, que vai permitir a pelo menos 11 países do continente africano lançar uma "revolução verde", segundo os doadores internacionais, foi hoje divulgada em Abidjan, na Costa do Marfim.

O objetivo deste apoio é "catalisar e apoiar a transformação agrícola inclusiva em pelo menos 11 países africanos, o que vai aumentar os rendimentos e melhorar a segurança alimentar de 30 milhões de pequenas explorações agrícolas familiares", sublinharam os doadores, à margem de um fórum promovido pela Aliança para uma Revolução Verde em África (AGRA), a decorrer naquela cidade costa-marfinense e que conta com vários Presidentes e ex-Presidentes africanos.

"África precisa de uma revolução agrícola que seja original e que ligue as milhões de pequenas explorações agrícolas às redes agroalimentares, criando extensas cadeias de fornecimento alimentar, emprego e oportunidades económicas para largos segmentos da população", sublinhou um relatório relativo ao atual estado da agricultura em África que foi divulgado no fórum.

"Tal transformação vai exigir compromissos políticos e financeiros, bem como políticas mais importantes por parte dos setores público e privado", reforçou o documento.

Apesar de mais de 50% da população africana estar ligada ao sector da agricultura, menos de 1% dos empréstimos bancários estão direcionados para este segmento de atividade, segundo dados referidos no fórum.

Para os participantes do fórum em Abidjan, "a injeção de recursos financeiros na transformação da cadeia de valor agroalimentar pode relançar uma nova fase de industrialização para a agricultura africana".

"A agricultura ainda é o melhor meio para um crescimento económico africano inclusivo e para a redução da pobreza", frisou ainda o relatório, destacando que os sistemas alimentares do continente funcionam graças aos pequenos proprietários que rondam os 41 milhões.

A AGRA vai ser a instituição que terá a responsabilidade de concretizar esta parceria com pelo menos 11 países considerados como prioritários: Gana, Nigéria, Mali, Burkina Faso, Ruanda, Uganda, Quénia, Etiópia, Tanzânia, Malawi e Moçambique.

O fórum em Abidjan vai decorrer até sexta-feira.

Governo garante que ovos contaminados com pesticida não estão à venda em Portugal

5/9/2017

Portugal consta da lista de países afetados pelos ovos contaminados, mas Governo garante que se tratou de um caso pontual e que esses ovos não estão à venda.



A contaminação foi detetada em ovos de casca branca, produzidos e comercializados por outros Estados-Membros da União Europeia
FILIP SINGER/EPA


Portugal consta da lista de 26 Estados-membros afetados pelo comércio ou distribuição de ovos contaminados com o pesticida tóxico fipronil, segundo a mais recente lista da Comissão Europeia, a que a Lusa teve acesso, esta terça-feira. Porém, à TSF, o Ministério da Agricultura garantiu, de imediato, que estes ovos não estão à venda em Portugal.

Entretanto a Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) veio esclarecer o que aconteceu para Portugal integrar a lista da Comissão Europeia e, ainda assim, não haver ovos destes à venda, nem, por sua vez, perigo para a população.

Os serviços dos RASFF (Rapid Alert System for Food and Feed) comunicaram às autoridades portugueses o envio de uma remessa de ovos para um consumidor final em Portugal. Os ovos pertenciam a um lote proveniente da Bélgica sobre o qual recai a suspeita de contaminação por Fipronil", lê-se no comunicado enviado esta terça-feira às redações.
Como os ditos ovos estavam na posse do consumidor final, explica a DGAV, "o controle da recolha do produto ficou a cargo da ASAE". E, por se tratar de "uma situação pontual, que está detetada, as autoridades portuguesas estão a tomar todas as diligências e a prestar informação às autoridades europeias a fim de retirar Portugal da lista de países afetados pela contaminação".

A DGAV adianta ainda que mal souberam da existência destes produtos contaminados na União Europeia, "as autoridades portuguesas desencadearam uma operação de fiscalização das explorações nacionais e de recolha de amostras para análise. Todos os resultados foram negativos".

Os ovos consumidos em Portugal são essencialmente provenientes da produção nacional e são de casca castanha. A contaminação por Fipronil foi detetada em ovos de casca branca, produzidos e comercializados por outros Estados-Membros da União Europeia."
Na União Europeia só na Croácia e a Lituânia não foram ainda detetados ovos contaminados, uma crise que atinge também a Noruega, o Liechtenstein, a Suíça e a Rússia.



Crise "rebentou" em julho com alerta na Bélgica

A "crise" dos ovos contaminados rebentou em julho deste ano, quando a Bélgica alertou as autoridades comunitárias que tinha detetado ovos afetados com um pesticida tóxico.

Oito dias depois, a Holanda lançou um alerta alimentar por suspeita de contaminação, mas só a 3 de agosto é que as autoridades holandesas advertiram de que, em alguns lotes de ovos, a quantidade do pesticida era superior aos limites e poderia representar um perigo para a saúde dos consumidores. Na altura em que os casos de contaminação foram conhecidos, a Direção-Geral da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural (DGAV), informou que os ovos em causa não estão à venda em Portugal.

Desde então têm-se multiplicado as acusações mútuas, sobretudo entre Bélgica e Holanda. A Bélgica acusou a Holanda de ter conhecimento desta contaminação desde novembro de 2016 e ter falhado na notificação aos outros países, uma informação negada pelas autoridades holandesas. Por sua vez, a própria Bélgica teve de admitir, segundo a France 24, que sabia desta contaminação desde junho mas que manteve tudo em segredo durante quase dois meses porque estavam a decorrer investigações criminais.

Mas no início de agosto os dois países decidiram unir-se e criaram uma força de trabalho conjunta, tendo visitado de surpresa oito quintas de aves de capoeira na Holanda, tendo resultado em duas detenções.

Milhões de ovos foram retirados das prateleiras dos supermercados em toda a Europa desde que o escândalo foi relatado em julho deste ano.

Consumo em excesso pode ser "moderadamente tóxico"

Em grandes quantidades, o pesticida fipronil — usado normalmente em animais domésticos como cães e gatos para eliminar parasitas externos — é considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como "moderadamente tóxico" para o homem, podendo causar efeitos perigosos nos rins, fígado e tiroide.

Segundo as autoridades de saúde holandesas, o consumo deste pesticida pode causar "náuseas, vómitos, dor abdominal, tonturas e convulsões epiléticas". E a direção geral de alimentação alemã veio já esclarecer, segundo a BBC, que um consumo excessivo de fipronil no curto prazo "não significa automaticamente que o consumo dos alimentos em questão envolva um risco para a saúde".

O uso deste pesticida é expressamente proibido em animais destinados ao consumo humano, como as galinhas.

Governo "sempre disponível" para esclarecer gestão dos donativos



HENRIQUES DA CUNHA / GLOBAL IMAGENS
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Marcelo Rebelo de Sousa aconselhou que sejam dadas explicações aos portugueses sobre como e quem está a gerir as verbas para apoiar as vítimas dos incêndios de Pedrógão Grande

O Governo disse esta terça-feira estar "sempre disponível" para esclarecer a aplicação do Fundo Revita, criado para gerir os donativos para apoiar as vítimas do incêndio de Pedrógão Grande, reiterando que apenas responde pela gestão deste fundo.

"Nós estamos completamente disponíveis para esclarecer sempre. Os números que o ministério sempre avançou no âmbito do Conselho do Revita e do Conselho de Gestão são estes. Não há aqui nenhuma confusão de números. Existem estes números, estes dados, que são concretos e fomos tornando públicos", disse a secretária de Estado da Segurança Social, Cláudia Joaquim, em declarações aos jornalistas, em Lisboa.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, aconselhou esta terça-feira que sejam dadas explicações aos portugueses sobre como e quem está a gerir as verbas para apoiar as vítimas dos incêndios de Pedrógão Grande, que deflagraram em junho.


Também a vice-presidente do PSD Teresa Morais exigiu esta terça-feira esclarecimentos adicionais ao Governo sobre estes donativos privados, considerando o valor apurado "ridiculamente baixo", dando conta de que "circulou na opinião pública e publicada" a existência de donativos na ordem dos 13/14 milhões de euros.

"No Fundo Revita temos dois milhões de transferências concretizadas de donativos em dinheiro, existem adesões no valor de 3,3 milhões e existem, também, outros termos de adesão que são em espécie ou são em prestação de serviços. Estamos a falar, por exemplo, de empresas que apetrecham vinte habitações com eletrodomésticos ou imobiliário. E o Fundo Revita, no seu final, terá um valor que será superior aos donativos em dinheiro", explicou a governante.

A secretária de Estado da Segurança Social reiterou que o Governo apenas gere o Fundo Revita, o qual está a ser executado "com as regras públicas de transparência e de prestação de contas".

Cláudia Joaquim explicou que o ministério tem atuado em articulação com a Cáritas Diocesana de Coimbra, com a União das Misericórdias Portuguesas e com a Fundação Calouste Gulbenkian, que agregaram e gerem outros donativos privados.

"O Governo vai gerir todos os donativos que aderirem ao Fundo Revita e irá continuar a colaborar com as entidades que estão também a gerir donativos, num esforço de coordenação", frisou Cláudia Joaquim, acrescentando que o Governo tem um conjunto de outras medidas implementadas ou a implementar nas zonas afetadas pelo incêndio.

A secretária de Estado da Segurança Social sublinhou que são essas três entidades que gerem os donativos por si recolhidos, mas conta que existe um trabalho e um esforço comuns.

"Naturalmente são estas entidades [que gerem os seus donativos]. Daquilo que o Governo conhece existe uma parceria entre a União das Misericórdias, Fundação Calouste Gulbenkian, Cáritas Diocesana de Coimbra e o Governo através do Fundo Revita. O levantamento que foi efetuado logo nas primeiras semanas, por exemplo, as intervenções nas primeiras habitações e o seu apetrechamento, é essa coordenação no terreno que está a ser feita", refere Cláudia Joaquim.

Um dos objetivos, segundo a governante, é que não haja duplicação das ajudas e, caso sejam detetadas situações dessas, possam ser "rapidamente" corrigidas.

Na segunda-feira, em declarações à RTP, o presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, exortou o Ministério Público a abrir uma investigação às contas bancárias que foram abertas para receber donativos que seriam encaminhados para as vítimas dos incêndios de junho, sem referir nenhum caso concreto.

A Lusa contactou a Procuradoria-Geral da República (PGR), que disse que até ao momento "não foi recebida pelo Ministério Público competente qualquer participação relacionada com a matéria".

"Sendo certo que o Ministério Público não deixará de investigar todas as situações concretas que cheguem ao seu conhecimento", adianta a PGR.

O incêndio que começou em junho em Pedrógão Grande provocou 64 mortos e mais de 200 feridos, sendo apenas extinto uma semana depois. Alastrou a Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Pampilhosa da Serra, Penela e Sertã.

Faltam mãos para apanhar maçãs no Douro

Os fruticultores do Interior Norte queixam-se ao JN da escassez de pessoas para trabalhar na época das colheitas. Este ano houve menos imigrantes do Leste a chegar à região e restam centenas de vagas por preencher.

04 de setembro de 2017 às 11:32

Os fruticultores da região do Douro dramatizam a escassez de mão-de-obra para a apanha da maçã, falando em centenas de oportunidades de trabalho que não conseguem preencher nesta época de colheitas em vários concelhos do Interior Norte do país.
 
Moimenta da Beira, Armamar e Carrazeda de Ansiães, concelhos que produzem várias centenas de toneladas de maçãs, são alguns dos mais afectados pela falta de trabalhadores. Citados pelo JN esta segunda-feira, 4 de Setembro, as organizações do sector apontam como causas o despovoamento, a coincidência com as vindimas e o menor número de imigrantes da Bulgária ou do Cazaquistão que chegaram este ano à região.
 
Só em Carrazeda de Ansiães seriam necessárias mais 500 pessoas para apanhar cerca de 20 mil toneladas de maçã, que é a estimativa de produção neste concelho do distrito de Bragança. 

O autarca local, José Luís Correia, desafia os desempregados a participar nestes trabalhos, que em diferentes funções e culturas podem durar perto de três meses, calculando que a jorna é paga a uma média de 30 euros por oito horas de trabalho.

Animais fogem de feira e andam à solta em Vila do Conde




06/09Animais fogem de feira e andam à solta em Vila do Conde
As autoridades estão a tentar capturar vários animais que iriam participar no evento "Portugal Rural" mas que se soltaram e fugiram pela cidade, esta quarta-feira à tarde.

Segundo os Bombeiros de Vila do Conde, alguns dos animais fugiram pela praia, junto à Avenida Brasil.

Há bombeiros por toda a cidade para tentar capturar os animais em fuga. A GNR também está no local e a veterinária municipal já foi chamada.



quarta-feira, 6 de setembro de 2017

"Sei bem como se podem mandar amostras para concursos. Às vezes o que lá está dentro não é exatamente igual ao que vai para o mercado"



ENTREVISTAS VISÃO 04.09.2017 às 8h30


 
José Carlos Carvalho
Em entrevista à VISÃO, o enólogo e produtor de vinhos João Portugal Ramos defende que "o concurso faz-se todos os dias, quando um consumidor abre uma garrafa nossa, gosta e repete"

Inês Rapazote
INÊS RAPAZOTE
Jornalista

Tivesse herdado a veia arquitetónica da família e não se estariam a comemorar os 25 anos do grupo João Portugal Ramos, onde o enólogo já tem dois dos seus cinco filhos a trabalhar. Falámos com ele numa manhã de sol, num momento de (relativo) descanso, antes da partida para a sua 37ª vindima. Com vista para o mar, percorremos os seus 600 hectares de vinha distribuídos pelo Alentejo (onde passa a maior parte do tempo), Douro (numa parceria com José Maria Soares Franco), Tejo, Verdes e Beiras e falámos dos 6 milhões de litros de vinho que produz e vende para os quatro cantos do mundo. E ainda do que gosta de beber, claro.

O vinho tinto bebe-se à temperatura ambiente ou frio, como se prega agora?

(Pausa prolongada, sorriso) O vinho deve beber-se à temperatura que nos souber melhor. Há alturas em que nos sabe melhor mais frio, às vezes sabe melhor à temperatura ambiente. Na dúvida, bebe-se mais para o frio.

Mas branco com gelo já é uma heresia, não?

É melhor beber vinho branco com gelo do que não beber vinho. Cada um tem os seus gostos. 
Também é liberal em relação às comidas ou carne é com tinto, peixe com branco e por aí fora? 
Hoje são tantos os perfis diferentes de vinhos que conseguimos encontrar um bom branco para comer com uma carne e, no limite, um bom tinto que se adapte melhor a um peixe. Não sou nada fundamentalista. Gosto de beber brancos na altura de beber brancos e tintos quando me apetece.

E rosés?

Menos. O rosé tem menos momentos de consumo. Os brancos e os tintos encurralam-no. Conseguem-se arranjar brancos e tintos que façam o papel do rosé.

Há consumidores (europeus? Americanos? Chineses?) mais sensíveis aos vinhos portugueses ou isso é uma coisa que se educa?

Pergunta difícil! (Silêncio). Há uma grande diferença entre o que é um vinho português ou um vinho feito por portugueses para o consumo mundial. Para nós, enólogos, é a noção de terroir que define as características de um país e de uma região. Mas o produtor tenta adaptar os vinhos ao gosto do consumidor. Acho que temos de adaptar o vinho ao gosto do consumidor porque é ele quem manda, mas nunca descurando aquilo que a terra dá nem adulterando a génese que é uma videira num determinado ambiente.

Faz vinho propositadamente para um mercado, como acontece com algumas marcas de roupa?

Continuo a fazer ao meu gosto, mas para tentar penetrar em alguns mercados, tenho de me adaptar um bocadinho. Mas não são os vinhos que me agrada fazer nem consumir.

Quais são as suas apostas, em termos de mercado externo?

O grande potencial está no mercado dos Estados Unidos. São muitos, ainda consomem pouco e estão abertos a qualquer produto, desde que seja bom e tenha um bom preço. A América é um país que produz muito e importa muito, que está a despertar para a cultura do vinho, tem poder de compra e um consumo que está nos 
3 ou 4 litros per capita (nós estamos nos 40 e tal).

E a China?

São ambos grandes mercados. 
É agradável vender uns contentores para a China, mas temos sempre a sensação de que é um mercado muito volátil, sem fidelização. Acho que a China, quando produzir vinho e achar que produz bem, não há de querer mais vinho nenhum. Os americanos vão estar sempre abertos ao diálogo.

O branco demorou mais a afirmar-
-se. É mais difícil de fazer, não teve tanto investimento, não se deu tanto em Portugal...?

É de tudo um pouco. É mais simples fazer um bom tinto do que um bom branco. Mas a tecnologia veio mostrar que temos um país extraordinário até para a produção de brancos. Eu bebo muito branco. E consigo arranjar muitos mais brancos para adaptar a quase todo o tipo de refeições do que tinto. Sou capaz de beber um branco com carne, mas custa-me beber um tinto com peixe grelhado.

Anda há quase 40 anos nisto e o seu grupo faz em setembro 25 anos. Numa lógica de balanço... o que é que o distingue?

Talvez tenha sido a minha geração que deu o grande pontapé de saída para o reconhecimento do papel do enólogo no setor dos vinhos. 
O enólogo tinha um papel de segunda; hoje é impensável entrar neste negócio sem ter um enólogo a participar nas decisões importantes da empresa, a definir estratégias. Porque há dois caminhos: ou é a enologia a comandar o negócio ou é o negócio a comandar a enologia. Eu sou dos que acha que deve ser a enologia a comandar o negócio.

Portanto, prefere fazer grandes vinhos para umas poucas carteiras do que vinhos de grande consumo a um preço acessível?

Prefiro vender aquilo onde damos o nosso melhor e com o que nos identificamos mais. Mas tenho de olhar para o mercado...

Os grandes produtores, em Portugal, têm um cariz muito regional. Mas a JPR conseguiu vingar em cinco regiões. Qual é o segredo?

Tudo nasceu no Alentejo e é onde eu estou. No resto, vi o que aconteceu com outras empresas e fiz parcerias. No Douro, com o José Maria Soares Franco, que é o enólogo com mais experiência na região. Quando lá vou é de férias, porque é ele o responsável pelo projeto. Segui o mesmo princípio nos Verdes. São as três regiões onde estamos mais bem implantados. Depois, temos uma pequena operação na Foz do Arouce, na quinta dos meus sogros, e no Tejo.

Falta-lhe alguma coisa?

Fiz muito em pouco tempo e estamos numa fase de arrumar a casa. É tempo de integrar a geração dos meus filhos, um passo muito importante para mim, mas que me preocupa. No ano passado comprámos a CRF, que faz 125 anos em 2018. Fico satisfeito por devolver a Portugal uma empresa histórica, que estava em mãos estrangeiras, mas é uma responsabilidade acrescida.

Está a arrumar a casa... para se reformar? Tem quase 40 anos de serviço.

(Risos) Ao serviço da Pátria! As reformas abruptas não dão bom resultado. Há de haver uma desaceleração gradual, porque a vida assim o conta. Vou-me afastando, mas estando presente.

Os franceses estão a transplantar a Touriga Nacional?

A Touriga Nacional até para a Austrália foi. O problema deste negócio é que o raio da vinha se dá em todo o lado. Depois, é engraçado: a casta adapta-
-se ao ambiente e transforma-se, dá origem a outro vinho. Alvarinho também foi um pouco para todo o lado.

Não nos estão a canibalizar?

Não. É bom sinal, é o reconhecimento das castas portuguesas.

Touriga Nacional não devia, então, passar a chamar-se Touriga Portuguesa?

(Risos) Nunca tinha pensado nisso. Há países que se afirmaram pela diferenciação de terroir, outros por uma casta emblemática que se adaptou melhor ao país. Portugal tem a Touriga Nacional. É a mais badalada e a que se adapta melhor a todas as regiões do País. Mas além da Touriga Nacional, há a Touriga Franca, que antes era chamada Touriga Francesa. Também quisemos abolir o termo "Francesa"...

Temos mesmo bons vinhos ou é o nosso ego a falar?

Temos muito bons vinhos. Numa prova cega com vinhos espanhóis e italianos, os portugueses não sei se ganham, mas ficam de certeza ao mesmo nível.

E isso já é reconhecido internacionalmente?

Hoje os críticos já dão 90 pontos a um vinho português com facilidade. Há uns anos era impensável. Olhe a lista da Wine Spectator há três anos: três vinhos portugueses nos primeiros quatro. Portanto, começa a ser, mas demora mais do que desejávamos.

Porquê? O que falta?

Falta o consumidor agarrar na garrafa; falta apagar a imagem de muitos anos a vender vinhos menos bons e baratos. É uma questão de tempo.

Vem de uma família de arquitetos e já tem dois filhos no negócio. Isto do vinho educa-se?

Desde miúdo que via vinha, o meu avô a sair para ver as uvas... Aos 14 já era eu que escolhia o vinho, lá em casa. Os meus filhos foram criados em Estremoz e assistiram a tudo. Dou-
-lhes a cheirar o vinho desde os 10 e a provar desde os 12.

Tem algum vinho, um sonho por concretizar?

Tinha e concretizei: fiz um Porto Vintage.

E um Madeira, não?

Adoro um bom vinho Madeira!

Mas não tem tanta projeção. Porquê?

Durante muito tempo, o grande volume do Madeira ia para França, para cozinhar. Conheço pouco, mas há vinho Madeira extraordinário. Os bons Madeiras velhos são das bebidas que mais aprecio.

Está de férias... come uvas?

Costumo dizer que comer uvas é beber vinho em pílulas (risos). Mas não é uma fruta que coma muito.

Uma pessoa revela-se pelo vinho que bebe?

(Silêncio) Acho que sim. Penso muitas vezes porque é que na mesa ao lado se está a beber aquele vinho. Mas sabe, a partir de um certo patamar de vinho, o preço associado está dependente de como foi promovido, a imprensa, as pontuações que dizem que teve e não da qualidade.

Manda muitos vinhos para concurso?

Mando o menos possível. É uma farsa. As pessoas quando veem uma medalha de ouro não sabem se é um concurso conceituado.

Mas tem muitos prémios.

Em 17 anos na Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz devo ter tido mais de mil prémios. Mas é uma coisa que não me diz nada. Acho que o concurso se faz todos os dias, quando um consumidor abre uma garrafa nossa, gosta e repete. Sei muito bem como se podem mandar amostras para concursos. Às vezes, o que lá está dentro não é exatamente igual ao que vai para o mercado.

Qual é o seu vinho preferido?

Um grande Bordéus. É um vinho que nos transporta para um lugar, faz-
-nos sentir a região. A minha casta favorita é o Cabernet Sauvignon e o de Bordéus é o melhor.

E cá dentro?

É difícil dizer... seria ou o O. Leocura, do Douro, ou o Marquês de Borba Reserva, do Alentejo. Também gosto de uma boa garrafa de Colares velho. E é engraçado, só consigo beber vinho de Colares em Colares. Os vinhos às vezes têm de ser bebidos no seu sítio.

Com que vinho celebrou os seus 50 anos?

(Risos) Quando fiz 50, fui para o Brasil e pedi ao meu importador para mandar uma série de vinhos bons para o resort para onde ia com a família – Marquês de Borba, Vila Santa... Quando chegámos lá, eles tinham trocado os vinhos. Beberam o meu vinho bom e deixaram-nos o vinho de serviço! Portanto não é um bom exemplo, mas no casamento da minha filha mais velha foi um Marquês de Borba Reserva 2009 em magno.

E o primeiro neto?

Estava em Londres. Bebi Sauvignon Blanc da Nova Zelândia, um vinho que bebo muito quando estou fora.

Qual é a sua garrafa mas antiga?

Tenho algumas de 53, o meu ano de nascimento, alguns Colares dos anos 40, uma de Vega Sicília de 63.

E seus?

Tenho uma garrafa duplo magno. Foi talvez o vinho que, em novo, me tenha enchido mais as medidas, tenha sido mais diferente – um vinho que fiz para o José Maria Almodôvar, o responsável por eu ter ido para o Alentejo, em 1980. O vinho era um José Maria Almodôvar, de Moura, 1982.

E seus do princípio ao fim, do grupo João Portugal Ramos?

Extremos 2012 ou 2011, O. Leocura 2011... o ano 2011 foi um ano que ficará para a história como um ano extraordinário. O 2015 está lá quase, mas 2011 foi o melhor ano da minha vida. Tudo correu bem.

(Entrevista publicada na VISÃO 1277, de 24 de agosto de 2017)


terça-feira, 5 de setembro de 2017

2017 será “ano de qualidade” para o vinho português, diz presidente do IVV


José Macário
 29 Ago 2017

O calor e seca fizeram antecipar, como nunca, as vindimas. Apesar disso, o presidente do Instituto da Vinha e do Vinho, Frederico Falcão, reconhece a antecipa um ano de qualidade para o setor.


Ainda longe do fim, a época de vindimas está a correr de feição para os produtores portugueses, com Frederico Falcão, presidente do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) a declarar à TSF que os vinhos portugueses de 2017 serão de excelência. "Os vinhos brancos já estão colhidos e a qualidade é excelente. A produção é das melhores dos últimos anos. Quanto aos tintos ainda é cedo, mas tudo indica que também será um ano de qualidade", fiz Falcão.

O Presidente do IVV fala num ano "anormal", com mais qualidade e mais quantidade. No início do verão, o instituto estimava que a produção aumentasse na razão dos 10%, mas a seca pode alterar as expectativas, com Frederico Falcão a sublinhar que a singularidade de cada região contribuirá para as contas finais. "Na região centro, na Bairrada e no Dão, a estimativa é de um crescimento de entre 17 e 20% e achamos que se vai concretizar. No Alentejo, devido à seca, a produção deverá ficar abaixo das previsões".

O ano fica ainda marcado pela antecipação das vindimas, algo de que Frederico Falcão não se lembra ter antes vivido. "As vindimas começaram muito mais cedo. Nesta altura todas as regiões do país estão a vindimar. Não me lembro de um ano assim. As vindimas começaram com duas a três semanas de antecedência".

Para Falcão, a antecipação dependeu do calor: "A primavera foi muito quente, sobretudo o mês de maio. Depois veio o calor e a seca. O ciclo das plantas adiantou com estas condições". Tal fez com que, em algumas regiões do país, as vindimas tivessem começado logo nos primeiros dias de agosto, o que leva o presidente do IVV a falar num "ano fora do normal" para o setor do vinho em Portugal.

Danone envia 5 mil vacas para a Sibéria para reduzir preço do leite

O grupo francês investiu num terreno de 60 hectares na Sibéria para onde vai transportar cerca de 5 mil vacas. O objectivo é reduzir o preço da produção de leite que disparou 14% no último ano na Rússia.
Danone envia 5 mil vacas para a Sibéria para reduzir preço do leite 

28 de agosto de 2017 às 13:43

A Danone investiu numa quinta na Sibéria de 60 hectares para tentar reduzir o preço da produção de leite, que nos últimos anos tem disparado na Rússia devido à proibição da importação produtos lácteos da União Europeia.

A empresa francesa está a transportar a partir da Holanda e da Alemanha cerca de 5 mil vacas para a Sibéria, para a quinta que se situa perda da cidade de Tyumen, disse à Bloomberg Charlie Cappetti, responsável da subsidiária russa da Danone.

Com a medida implementada pelo presidente russo Vladimir Putin em 2014, "os preços do leite têm aumentado constantemente", o que "coloca produtos como iogurtes sob pressão", lamentou o responsável. Segundo Charlie Cappetti só este ano os preços cresceram 14%.

Apesar da Danone não ter por regra investir em agricultura, decidiu abrir uma excepção na Rússia. Isto porque depois da proibição da importação de produtos lácteos da União Europeia, a procura por leite disparou com os produtores locais a serem obrigados a substituir o queijo francês camembert e o italiano pecorino. O que exacerbou os efeitos inflacionistas da fraqueza do rublo.

O investimento na Sibéria, em parceria com um produtor local, já permitiu o fornecimento de leite à Danone desde Maio deste ano, estando previsto que as restantes cinco mil vacas cheguem em Setembro à quinta. "Esperamos que a inflação do leite na Rússia diminua no próximo ano", apontou o executivo da Danone.

A diferença entre a oferta e a procura já está á diminuir à medida que o novo leite está a chegar ao mercado, incluindo o da quinta siberiana da Danone. No entanto, apesar de poder ajudar a indústria láctea russa a recuperar em termos de volume, a Danone não espera uma rápida retoma económica no país, sublinhou Charlie Cappetti, citado pela Bloomberg.
 
"As vendas na Rússia têm crescido em linha com a inflação no primeiro semestre e devem aumentar em 2018", acrescentou, sem avançar com números.

Incêndios florestais: 2017 o pior ano da última década



05.09.2017 às 9h21

 
PAULO NOVAIS/LUSA
Este ano o fogo já dizimou 213 mil hectares de área florestal, duas vezes mais do que no mesmo período dos últimos 10 anos. Relatório provisório do Instituto da Conservação da Natureza aponta para 12.377 ocorrências até 31 de agosto

Isabel Paulo
ISABEL PAULO
Os incêndios florestais já consumiram até 31 de agosto mais de 213 mil hectares de área florestal, o segundo ano mais severo ano mais severo desde 2013 (425.839) e superado apenas pelo ano de 2005 (339.089). Segundo o relatório provisório do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), registaram-se nos primeiros oito meses do ano 12.377 ocorrências de fogo, 2.652 incêndios florestais e 9.725 fogos de pequena dimensão.

O distrito com mais área ardida é Castelo Branco, com 37.234 hectares, o que representa quase 17% da área total consumida pelas chamas em Portugal continental ao longo do ano, seguindo-se os distritos de Santarém e Coimbra. O incêndio com maior espaço ardido foi no distrito de Castelo Branco, deflagrado na freguesia de Várzea dos Cavaleiros, na Sertã, tendo as chamas lavrado cerca de 30.000 hectares de zonas florestais.

O distrito do Porto foi aquele em que se registou maior número de ocorrências (2.969), mais do dobro do que em Braga e quase o triplo de Viseu. De acordo com o documento do INCF, tratou-se, nestes casos, maioritariamente de fogachos, fogos que não ultrapassaram 1 hectare de área afetada.

Segundo o levantamento efetuado pelo ICNF, face às condições meteorológicas suscetíveis à propagação de incêndios, este ano a Autoridade Nacional de Proteção Civil já decretou 66 dias de alerta de nível amarelo ou superior, 28 dos quais em agosto, mês que bateu o recorde de ocorrências (3.921) e com maior área ardida (81.313, o equivalente a 38% da área total consumida).

Até ao início de setembro, o país registou 123 grandes incêndios (área igual ou superior a 100 hectares), que queimaram cerca de 90% da área total dizimada. Apesar de o Instituto Português do Mar e da Atmosfera apontar um ligeiro desagravamento da seca severa, cinco concelhos de Santarém, Castelo branco e Portalegre mantêm-se esta terça-feira em risco máximo de incêndio, enquanto várias concelhos de 18 distritos registam riscos considerados elevados e muito elevados, tipificação feita em função da temperatura, humidade relativa, velocidade do vento e precipitação nas últimas 24 horas.

Este ano a PJ já identificou e deteve 80 pessoas por crime de fogo posto, a última uma mulher em Celorico de Bosto, cinco dias depois de ter ateado um incêndio perto da casa onde vivia com a família.

Portugal afetado por crise dos ovos contaminados com pesticida


RTP0 5 Set, 2017,

Portugal afetado por crise dos ovos contaminados com pesticidaOvos armazenados num aviário em Wortel, Bélgica | Francois Lenoir - Reuters

Portugal é um dos 26 Estados-membros afetados pelo comércio ou distribuição de ovos contaminados com o pesticida tóxico fipronil, segundo a mais recente lista da Comissão Europeia. Contactado pela RTP, o Ministério da Agricultura esclarece que um cidadão português, em viagem pela Bélgica, decidiu comprar ovos e trouxe-os para Portugal.

Segundo os dados mais recentes, a que a agência Lusa teve acesso, na União Europeia só na Croácia e na Lituânia não foram ainda detetados ovos contaminados, uma crise que atinge ainda a Noruega, o Liechtenstein, a Suíça e a Rússia.

A fraude que conduziu à contaminação de ovos pelo inseticida fipronil remonta a setembro de 2016, disse há uma semana a Comissão Europeia, precisando na altura que 34 países, a maioria na Europa, foram atingidos pela situação.

A contaminação de dezenas de milhões de ovos, resultante da desinfestação de explorações de galinhas poedeiras por um produto contendo fipronil, um antiparasitário forte estritamente proibido na cadeia alimentar, foi divulgada em agosto.
Cidadão português comprou ovos na Bélgica
Contactado pela RTP, o Ministério da Agricultura esclarece que um cidadão português, em viagem pela Bélgica, decidiu comprar ovos e trouxe-os para Portugal. O Governo garante que não há ovos contaminados à venda em Portugal.

As autoridades têm conhecimento da situação através do sistema de alerta europeu e estão a tentar localizar o cidadão em causa.

O Ministério não esclarece se os ovos comprados foram para consumo próprio ou para venda.

c/Lusa

domingo, 3 de setembro de 2017

Ministro da Agricultura na Estónia para defender e discutir futuro da PAC


3 set 2017 

O ministro Capoulas Santos participa na segunda-feira na reunião informal dos ministros da Agricultura na Estónia, onde defenderá a importância da Política Agrícola Comum (PAC) e a necessidade de não haver redução do financiamento após 2020.

 
Segundo disse à Lusa Luís Capoulas Santos, no encontro em Tallin, capital da Estónia, haverá um "debate preliminar sobre o futuro da PAC", sobretudo como esta enquadrará "as questões das crises e riscos na agricultura", como as secas ou crises de mercado (como do leite), para ir conhecendo o posicionamento de cada país.

Os ministros dos 28 Estados-membros estão já a começar a debater o futuro da PAC pós-2020, nomeadamente o envelope financeiro e o novo quadro de regras, sendo esperado que a Comissão Europeia apresente até final do ano o primeiro documento de orientação.

O Governo português já mostrou publicamente que se opõe a uma redução do orçamento da PAC e, em declarações à Lusa, o ministro voltou a referir que o dinheiro destinado a esta política europeia tem de se "manter adequado às necessidades do setor".



O ministro irá ainda defender, na reunião em Tallin, a continuação do mecanismo de convergência das ajudas, uma vez que ainda ahá discrepâncias entre Estados-membros, e a necessidade de a PAC apoiar a modernização do setor e o apoio ao regadio.

O Governo constituiu, já este ano, um grupo de acompanhamento para ajudar a definir as posições de Portugal na negociação sobre o futuro da PAC, que conta com peritos do meio académico. Há ainda uma comissão constituída pela estruturas mais representativas do setor.

A reunião dos ministros da Agricultura irá ainda debater a crise dos ovos contaminados com o pesticida tóxico fipronil, nomeadamente as causas e como os Estados-membros afetados estão a lidar com o problema.

"Esta [questão] é mais lateral para Portugal, a indústria comportou-se como deve ser, todos os controlos e análises não nos levam a estar preocupados", disse.

A reunião dos ministros da Agricultura decorre em Tallin, uma vez que é a Estónia que assume transitoriamente a presidência rotativa do Conselho da União Europeia.

Governo desmente Cristas e acusa-a de ter cortado 175 milhões à floresta


02.09.2017 às 17h17


 
NUNO BOTELHO
Em reação à entrevista da ex-ministra da Agricultura e atual presidente do CDS ao Expresso este sábado, o Ministério da Agricultura esclarece os contornos do contrato que foi considerado ilegal pela Inspeção Geral de Agricultura e que Cristas acusa António Costa de ter anulado

Expresso
EXPRESSO

O Governo acusa Assunção Cristas, que foi ministra da Agricultura no anterior Governo PSD/CDS, de tentar "iludir a opinião pública e rejeitar responsabilidades nas consequências da sua própria ação política relativamente à floresta". Num comunicado enviado este sábado às redações, em reação à entrevista da ex-ministra e atual presidente do CDS ao Expresso, o Ministério da Agricultura esclarece os contornos do concurso que Cristas diz ter sido anulado pelo atual primeiro-ministro.

"Em entrevista ao semanário Expresso, publicada na edição de hoje, a anterior Ministra da Agricultura volta a acusar o atual Ministro de ter anulado um concurso no valor de 300 milhões de euros para apoio à floresta, aberto pela própria, para o substituir por um concurso de apenas 36 milhões de euros, reduzindo dessa forma forma os apoios à prevenção", lê-se no comunicado enviado este sábado. "Nessa medida, mais uma vez, se esclarece que esse concurso (de 210 e não de 300 milhões de euros) foi declarado ilegal pela Inspeção Geral de Agricultura por não respeitar a dotação orçamental da medida do PDR2020 ao abrigo da qual foi aberto, cuja dotação inicial era de apenas 36 milhões de euros, valor definido pela própria".

Em causa está o contrato a que Assunção Cristas se refere na entrevista ao Expresso. Questionada sobre o que, no seu entender, está a correr mal no combate aos incêndios este ano, a ex-ministra aponta responsabilidades ao atual primeiro-ministro. "Digo-lhe apenas isto: o atual ministro da Agricultura anulou um concurso de quase 300 milhões de euros para prevenção dos incêndios que eu, enquanto ministra, tinha aberto no final de 2014, em tempo de se poderem usar essas verbas durante o inverno. Nós denunciámos isto há um ano, dissemos que estavam a fazer a opção errada. E porque o fizeram? O ministro confessou há pouco tempo que 300 milhões lhe parecera um valor excessivo para a prevenção dos fogos. Depois abriu outro concurso no valor de 36 milhões."

"Numa tentativa desesperada de iludir a opinião pública e de rejeitar responsabilidades nas consequências da sua própria ação política relativamente à floresta, Assunção Cristas omite o facto de ter levado a cabo uma reprogramação do PRODER em março de 2012 e outra em setembro de 2015, das quais resultou uma redução global de cerca de 175 milhões de euros de apoios públicos à floresta", acrescenta o comunicado, considerando que a ex-ministra "ao mesmo tempo que abria um concurso de 210 milhões de euros para uma dotação inexistente no programa de apoio seguinte, cortava 175 milhões de euros no programa que estava a gerir".

O Ministério da Agricultura considera ainda que a ex-ministra "continua sem explicar por que razão, considerando a prevenção um eixo estruturante e atribuindo-lhe agora uma prioridade extraordinária, programou apenas 36 milhões de euros de apoios à defesa da floresta num pacote de 406 milhões de euros que estão alocados à componente florestal do PDR2020". Ou seja, acrescenta o comunicado, "para Assunção Cristas, a prevenção e defesa da floresta merecem apenas 8,9 % do investimento a fazer, por muitos concursos ilegais de 210 milhões de euros (real valor do concurso) que tenha aberto".

"O desespero eleitoral e o aproveitamento político do flagelo dos incêndios, que tem sido visível perante toda a opinião pública, não justificam o recurso sistemático à mentira como forma de esconder as reais responsabilidades de cada um na situação trágica que o país tem atravessado", conclui o comunicado.

Um vinho que nasceu através de “crowdfunding”


O enólogo Hugo Mendes perseguia um vinho branco da região de Lisboa. Não tinha massa para a aventura, pelo que pediu aos amigos para lhe comprarem parte da produção "en primeur". Enfim, uma espécie de "crowdfunding".

Edgardo Pacheco
19 de agosto de 2017 às 13:00

O "crowdfunding" é aquele sistema de financiamento moderno e alternativo com uma boa dose de romantismo à mistura. Hoje, há projectos suportados por "crowdfunding" para tudo e mais alguma coisa, mas eu não tinha era conhecimento de que alguém tivesse criado um vinho através desta lógica. Resolvo assim a questão, apresentando este Hugo Mendes Lisboa, de 2016.

Na realidade, estamos perante uma modalidade peculiar de "crowdfunding". O enólogo Hugo Mendes, conhecido nuns circuitos mais restritos por fazer excelentes vinhos com a casta Arinto (trabalha na Quinta das Murtas, Quinta das Carrafouchas e Vale das Areias), tinha há anos a ideia de explorar por outras vias a casta Fernão Pires, provavelmente a variedade de uva branca mais plantada em Portugal. Como teria de fazer investimentos consideráveis, lançou no mercado uma espécie de petição para a compra "en primeur" (a malta paga antes de ter o vinho porque confia no produtor) para cerca de 800 garrafas de um vinho já feito. Vendeu-as todas a €9 e, com o dinheiro, custeou o engarrafamento de 2300 garrafas. Dito assim, é fácil, não? Pois, mas fundamental é ter a ideia e colocá-la em prática. 

Por regra, as uvas Fernão Pires destinam-se à produção de vinhos para consumo rápido, sempre com um perfil muito floral e frutado. A casta é amiga do agricultor, os vinhos escoam-se bem e - muito importante - a preços competitivos. 

Agora, a ideia de Hugo Mendes era outra. Como, volta e meia, prova umas garrafas de Fernão Pires que alguém se esqueceu de vender, sabe perfeitamente que, em determinadas circunstâncias, o vinho evoluiu muito bem. Ou seja, em vez de explorar os tais aromas de flores e fruta de polpa branca, caminha para aquele perfil mais cítrico e mineral. 

Com isto no juízo, foi à procura da vinha ideal, encontrando-a na Quinta do Carneiro. Ribatejano de origem, cresceu com o cheiro das uvas Fernão Pires que passavam à frente casa nos reboques dos tractores, pelo que tem sensibilidade para perceber o carácter da casta. E, num determinado terroir da Quinta de Alenquer, encontrou as tais uvas que pretendia. Assim, o que faltava? Acidez daquela que é a casta que melhor conhece: o Arinto. Donde, o que temos nesta garrafa Hugo Mendes Lisboa (em que, com muita esperteza, a designação Lisboa se destaca, e de que maneira, da marca Hugo Mendes) é um lote de Fernão Pires mais sério com a frescura natural do Arinto.

Este vinho branco, pela sua história e pelo seu do seu criador, reavivou-me um pensamento antigo que é a associação didáctica entre um enólogo e uma determinada casta. Eu explico. Se hoje sabemos muito sobre Alvarinho, isso deve-se a Anselmo Mendes e Luís Cerdeira; se hoje percebemos a Baga, isso tem muito que ver com a teimosia de Luís Pato. Mas, perguntemos agora: quem é o senhor Arinto? Ou quem é o senhor Fernão Pires? A questão não é quem trabalha a casta ou quem fez coisas interessantes com a mesma. A questão é quem, assim de repente, identificamos como o enólogo que tem um trabalho estruturado e longo com estas castas. Um enólogo que, quando mencionado, a nossa mente associa de imediato ao Arinto e ao Fernão Pires. 

E, se eu não conheço (poderá ser ignorância minha), não quero dizer que seja Hugo Mendes. O que quero dizer é que, se continuar por este caminho, ele pode fazer destas castas um trunfo pessoal. Pode fazer a diferença. E o mercado precisa mesmo muito dessa diferença.

Tal diferenciação do mundo do vinho faz-se por diferentes caminhos, sendo que um deles é o estudo do comportamento das castas em diferentes micro terroirs. Infelizmente, e retirando a princesa Touriga Nacional, as castas portuguesas não se discutem fora do âmbito académico ou empresarial. As únicas excepções que conheço foram para "as conversas à volta do Alfrocheiro", em 2016, na Quinta de Lemos, e "a tertúlia sobre a Vital", em 2017, na Casa das Gaeiras".

De maneira que, no meu entender, este vinho e o próprio percurso profissional de Hugo Mendes são uma boa justificação para se juntar à volta de uma mesa os interessados em vinhos de Fernão Pires e Arinto. Com vinhos novos e antigos, vinhos do centro, sul e norte, vinhos varietais ou vinhos de lote. 

E, para isso, nem será necessário nenhuma iniciativa de "crowdfunding". Digam onde querem fazer o encontro que a aqui a malta do Negócios aparece e divulga. Pela educação dos leitores enófilos, fazemos tudo.