quarta-feira, 20 de março de 2019

Incêndios, abandono dos campos e cultivo intensivo provocaram a praga de javalis


Caçadores estão a recorrer a soluções mais drásticas como a "caça clandestina". Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo diz que prejuízos nas culturas já ultrapassam 1 milhão de euros pelo menos.

Carlos Dias 18 de Março de 2019, 7:00 Partilhar notícia

A acção do homem está a forçar os javalis a aproximarem-se dos espaços dominados pelo ser humano. Já vão à praia e frequentam a vizinhança das aldeias à procura de alimento que desapareceu dos seus habitats tradicionais.

As queixas e os protestos dos agricultores contra o aumento desmesurado das populações de javalis, multiplicam-se à medida que os estragos nas explorações agrícolas, sobretudo nas culturas de milho, se avolumam.  

A pressão que um número crescente de animais desta espécie cinegética causa no mundo rural, está a "empurrar" os agricultores para a aplicação de soluções "mais drásticas como o abate e a caça clandestina", adiantou ao PÚBLICO João Diniz, dirigente da Confederação Nacional de Agricultores (CNA).

O grande afluxo destes predadores para regiões longe do seu habitat tradicional deve-se, em primeiro lugar, às "consequências dos incêndios" que nos últimos anos flagelaram sobretudo a zona interior do centro e norte do país, "reduzindo substancialmente as áreas de alimento dos animais". Este constrangimento força a deslocação dos javalis para locais onde nunca foram observados, "junto a vilas e aldeias", assinala o dirigente da CNA.

Um levantamento feito durante uma semana pela Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo (Anpromis), destaca que os estragos provocados pelos javalis, em 2018, em todo o território nacional, permitiu apurar que os prejuízos já ultrapassam 1 milhão de euros, em mais de 8000 hectares de cultura de milho.


Para além da destruição causada "em culturas, vinhas e pastagens", a Anpromis regista ainda a que se estendeu a "jardins e logradouros privados e públicos" e até áreas arrelvadas que foram "literalmente eliminados em poucas horas".

Situação de "descontrole"
A associação pede que as entidades governamentais actuem de forma "firme, célere e concertada", para debelar a actual situação de "descontrole que se vive em certas regiões do país, que penaliza muito seriamente os agricultores locais".

O aumento das populações desta espécie cinegética está igualmente associado ao abandono do interior do país. "Vejo cada vez menos gente nos campos ao mesmo tempo que aumentam as populações de javalis, raposas, texugos, saca-rabos, ginetas que atacam e aterrorizam os rebanhos de ovelhas" destaca José da Luz, dirigente da Associação de Agricultores do Campo Branco, que abrange os concelhos de Castro Verde, Mértola, Aljustrel e Ourique.

Perante ao aumento do número de javalis que algumas organizações admitem poder já ter ultrapassado os 100 mil animais, tem multiplicado a realização de montarias em todo o país. E a quantidade de exemplares abatidos surpreende os caçadores. Numa montaria realizada no Campo Branco foram mortos 25 animais, um número que José da Luz considera " muito elevado" comparando com abates anteriores e noutras montarias.

Em Arraiolos, numa montaria que decorreu recentemente, abateram-se 140 javalis, quando os seus organizadores não estavam à espera de metade. E no Ciborro, em Montemor-o-Novo,  foram abatidos cerca de 40 javalis, números "impressionantes que nunca estiveram nas contas de ninguém", adiantou ao PÚBLICO Jacinto Amaro, presidente da Federação Nacional de Caça (Fencaça).

A fuga deste tipo de predador em busca de alimento provocou a transumância da espécie das regiões de Trás-os-Montes, da zona centro e da Raia em direcção ao Ribatejo, Alto e Baixo Alentejo, fenómeno que explica "o aumento exponencial de animais" nestas regiões, esclarece Jacinto Amaro. Nos últimos dias tem sido relatada a presença de javalis nas praias do Portinho da Arrábida e dos Galapinhos, no concelho de Setúbal.

Não é a primeira vez que tal acontece. Em 2017, os banhistas foram surpreendidos pela presença deste predador em pleno areal das praias, banhando-se nas águas do oceano ou revolvendo a areia e os caixotes do lixo à procura de alimentos deixados pelas pessoas. Nos últimos quatro anos, foram abatidos, na serra da Arrábida, mais de 1600 javalis, por caçadores e moradores que viram as suas explorações agrícolas ameaçadas pelo excessivo número de animais. Mais de 2000 permanecerão no interior do parque natural.


"Estamos perante uma praga" refere Francisco Palma, presidente da Associação de Agricultores do Baixo Alentejo (AABA), salientando que o aumento no número de javalis está a ser exponenciado "pelo crescimento das áreas regadas" típicas do cultivo intensivo.

Nos campos de sequeiro "os bichos não se aguentam muito tempo". E o instinto leva-os a procurar territórios onde há água e comida como Francisco Palma constatou, há poucas semanas: "Quando ceifava uma seara de milho vi saírem para aí duas dezenas de javalis". O presidente da AABA salienta um outro pormenor que estará a potenciar o aumento e a concentração de javalis: sobretudo no Alentejo e nas zonas regadas por Alqueva, um número crescente de "zonas de caça foram ocupadas por culturas permanentes (olival, amendoal, vinha) e deixou de haver caça" potenciando desta forma o aumento da população de uma espécie cinegética. 

Com a nova agricultura regada "os javalis passaram a ter uma dieta alimentar melhorada o que lhes permite mais saúde e um aumento das crias. Enquanto há 20 anos uma fêmea alimentava duas crias, agora o seu número sobe para as seis ou sete. Qualquer seara de milho, trigo ou cevada, pode concentrar javalis dada a disponibilidade de alimento", realça Jacinto Amaro.

O PÚBLICO solicitou esclarecimentos ao Ministério da Agricultura e ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas mas até ao fecho da nossa edição não obtivemos resposta.

Açores e Madeira assinam texto sobre Política Agrícola Comum no pós-2020


AGÊNCIA LUSA / AÇORES / 19 MAR 2019 / 14:14 H.

 Açores e Madeira assinam texto sobre Política Agrícola Comum no pós-2020

Os Governos dos Açores e da Madeira assinarão "em breve" uma declaração conjunta com "propostas concretas para a reforma da Política Agrícola Comum (PAC)" no pós-2020, com o intuito de "responder aos desafios da agricultura nas Regiões Ultraperiféricas".

De acordo com uma nota enviada à imprensa pelo executivo açoriano, o texto será também assinado pelo executivo das Canárias e surgirá após "contactos estreitos e muito produtivos para articular e definir uma posição comum sobre a reforma da PAC, tanto mais que estão em causa matérias com implicações comuns nas três Regiões Ultraperiféricas (RUP)".

Os secretários regionais da Agricultura dos executivos dos Açores e da Madeira, João Ponte e Humberto Vasconcelos, estiveram hoje reunidos em Lisboa com o vice-conselheiro do setor primário do Governo das Canárias, Abel Morales, e todos pedem que a dotação orçamental do programa POSEI "se mantenha ao nível atual" e possa, inclusivamente, "ser ajustada para responder a desafios atuais e futuros das produções agrícolas nas RUP".

"Quando a Comissão Europeia prevê um corte de 3,9% nos fundos do POSEI não tem em consideração as especificidades das RUP. Diminuir o financiamento implicará reduzir as produções, com o perigo acrescido de promover o abandono das explorações, dada a dificuldade de os produtores alcançarem um nível de competitividade similar ao da agricultura continental", frisou o governante açoriano, citado em nota de imprensa do seu gabinete.

Quanto ao corte de 15% no segundo pilar da PAC, proposto pela Comissão Europeia, João Ponte diz que se trata de "algo preocupante", dada a importância deste financiamento para a implementação de medidas de caráter ambiental e de investimento, que contribuem para a melhoria da competitividade do setor e para a proteção do ambiente.

As RUP, precisou ainda, devem ter planos estratégicos próprios e distintos dos nacionais, que proporcionem programas de desenvolvimento rural específicos para as regiões, "contemplando um conjunto de medidas que vão ao encontro das reais necessidades e das suas especificidades".

Depois de um Sobreiro Assobiador, uma azinheira secular do Monte Barbeiro: a corrida à árvore europeia do ano


19.03.2019 às 18h40
 
A copa desta azinheira com mais de 150 anos estende-se por 487 metros quadrados e 23 metros de diâmetro

D.R.

A azinheira secular do Monte Barbeiro concorreu com 15 outras espécies de árvores da Europa à oitava edição do concurso Árvore Europeia do Ano, organizado pela Associação Europeia para a Parceria Ambiental. O vencedor do ano passado foi o Sobreiro Assobiador de águas de Mouro, em Palmela. O deste ano será revelado depois das 20 horas em Bruxelas


À sombra de uma azinheira dá sempre vontade de estar, sobretudo numa tarde quente de verão no coração do Alentejo. E sob a copa da "Azinheira Secular do Monte Barbeiro" o prazer é ainda maior. Debaixo dos seus ramos e folhas, que formam uma majestosa copa de 487 metros quadrados e 23 metros de diâmetro, "contempla-se a vastidão da planície envolvente e respira-se a sua tranquilidade", descrevem. E pelos seus braços longos e resilientes, a poucos metros do chão, dá vontade de ser criança e trepar.

Classificada como a Árvore Portuguesa do Ano, pelas suas "características invulgares", este 'Quercus Rotundifolia Lam' disputava esta terça-feira o prémio de Árvore Europeia de 2019 com 15 exemplares de diferentes espécies com as idades e formas mais variadas e erguidas nos locais mais diversos de 15 países europeus. A vencedora é a que tiver a melhor história para contar. E esta majestosa azinheira terá muitas ao longo dos seus mais de 150 anos.

Odemira já mal respira sob o plástico das estufas


A ocupação do concelho por culturas intensivas está a exercer pressão, não só sobre os recursos naturais, mas também sobre as infra-estruturas, incapazes de dar resposta a tantos migrantes.

Carlos Dias  17 de Março de 2019, 7:51

Passados que estão 30 anos do início da implantação do modelo agrícola projectado pelo empresário francês Thierry Roussel, o debate sobre o impacto ambiental e social das culturas em estufa, no concelho de Odemira, mantém-se. Movimentos cívicos, associações de defesa do ambiente, o cidadão comum e a autarquia persistem em manifestar publicamente a sua preocupação pelas consequências que são manifestas na preservação da biodiversidade no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV) e na comunidade local. A pressão é crescente e o concelho não está a conseguir dar resposta à vaga de imigrantes, assim como receia as consequências deste modelo agrícola na água, ar, solo e biodiversidade.

Entre 1988 e 1994, Thierry Roussel cobriu de plástico 550 hectares para a produção em estufa de frutos vermelhos e de outras hortícolas, recorrendo à utilização maciça de fertilizantes químicos e pesticidas. O resultado final deste modelo agrícola, que foi apresentado como inovador e que prometia trazer trabalho e riqueza à população local, acabou por deixar um passivo ambiental que foi difícil de superar. Além disso, foram despedidos cerca de 600 trabalhadores quando a empresa faliu e ficou por cobrar uma dívida de milhões de euros ao erário público. O fantasma desta experiência agrícola, instalada no Perímetro de Rega do Mira (PRM), prevalece no presente, mas com outros protagonistas.

Nos dias de hoje, o receio de ver o concelho de Odemira transformado na Almería (zona espanhola de agricultura intensiva) do Alentejo permanece, como ficou patente na reunião da Assembleia Municipal (AM) extraordinária de Odemira, realizada no final do ano, para debater um ponto único na ordem de trabalhos: "Actividade agrícola na área do perímetro de rega do Mira e no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.


A acta desta reunião, recentemente aprovada e a que o PÚBLICO teve acesso, é um extenso repositório de preocupações quanto aos impactos que a ocupação do território de Odemira com base na produção em estufa causa no ambiente do PNSACV e na qualidade de vida das pessoas que ali residem.

O presidente da Câmara de Odemira, José Alberto Guerreiro (PS), começou o debate enumerando os constrangimentos que mais se acentuam na comunidade: "O território não tem capacidade para acompanhar as exigências da nova agricultura na oferta de habitação aos imigrantes, de infra-estruturas, de desenvolvimento social, de articulação cultural, de aumento populacional em tão curto espaço temporal."

ICNF não sabe qual a área ocupada por estufas e túneis no Sudoeste Alentejano
ICNF não sabe qual a área ocupada por estufas e túneis no Sudoeste Alentejano
E destacou que a situação pode descambar para o insustentável se os agricultores continuarem a pretender trazer para o território "mais pessoas" sem que sejam "criadas condições para que possam permanecer". Referindo-se aos problemas relacionados com a saúde, lembrou que o acesso aos cuidados médicos "já se torna difícil para a população residente". E, no actual quadro de dificuldades, o aumento no fluxo de migrantes "irá agudizar o problema", adverte o autarca, dando como exemplo o elevado número de "processos de aborto no Centro de Saúde de Odemira, maioritariamente de cidadãs migrantes".

A pressão sobre as infra-estruturas potenciada pela cada vez maior população migrante estende-se à educação. As escolas do concelho "não estão adaptadas para receber tantas crianças e jovens, com outras nacionalidades, línguas, culturas e currículos diferentes", sublinhou o autarca, realçando as "dificuldades de integração" de milhares de pessoas, o que coloca a nu um "claro problema social que urge resolver". No Plano Municipal para a Integração de Imigrantes no Município de Odemira reconhece-se um outro problema: "Pouco se conhece sobre a imigração a nível local. Sabemos que existe, mas não a conseguimos quantificar."

Na faixa do território de Odemira onde incidem as culturas intensivas em estufas, abrigos, estufins ou túneis elevados e ao ar livre, "já existem cerca de 16.000 habitantes", alertou José Alberto Guerreiro, preocupado com a pressão das empresas agrícolas para contratar mais imigrantes, superando "os limites actuais de residentes."

As preocupações expressas pelo presidente da Câmara de Odemira foram corroboradas por Francisco Lampreia, presidente da Junta de Freguesia de Vila Nova de Milfontes que manifestou na AM a sua discordância em relação à posição da Associação dos Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos Concelhos de Odemira e Aljezur (AHSA) por pretender alargar a área de produção "de 1600 hectares para 3600 hectares". Se vier a consumar-se um tal propósito, "aumentará quase para o triplo também a necessidade de mão-de-obra". As consequências do descontrolo populacional já se revelam em Milfontes, onde "é impossível encontrar habitações para alugar" porque as casas encontram-se "ocupadas por migrantes", em condições por vezes chocantes, e sem que haja "fiscalização por parte das entidades" competentes, critica o autarca.

Pressão sobre o ambiente
Também o Relatório do Grupo de Trabalho do Mira (GTM), constituído em Agosto de 2018, para avaliar a compatibilização da actividade agrícola no Perímetro de Rega do Mira com a biodiversidade, os recursos hídricos, a gestão do território e o ordenamento do PNSACV, revela o mesmo tipo de preocupações.

Plásticos das estufas e químicos cobrem o Sudoeste e não há nada que o impeça
Plásticos das estufas e químicos cobrem o Sudoeste e não há nada que o impeça
Essa avaliação conclui que ocupação actual, com todo o tipo de culturas cobertas no PRM, foi "estimada" em cerca de 1200 hectares, cerca de um terço face à potencial área de 30% daquele perímetro de rega que está destinada às culturas intensivas — 3600 hectares nos 12.000 que ocupa a zona agrícola do Mira.

Esta realidade, prossegue o relatório, "representa hoje a existência entre 6000 a 8000 trabalhadores agrícolas no concelho de Odemira", na sua esmagadora maioria imigrantes. Tomando em linha de conta a pretensão da AHSA, o GTM adverte para a necessidade de "estabilizar regras, que salvaguardem a compatibilização dos valores naturais com a actividade agrícola", frisando que os "efeitos territoriais e sociológicos não podem ser ignorados".

Colocando como eventual limiar teórico de 10 trabalhadores agrícolas por hectare, para assegurar a actividade agrícola em 3600 hectares de área coberta terão de ir para Odemira um total de 36.000 imigrantes, "número que manifestamente o território não comporta", conclui o relatório do GTM. 

Nuno Simões, presidente da AHSA, reagiu a estas chamadas de atenção, com uma pergunta: "Fará sentido limitar, directa ou indirectamente, o acesso de pessoas que venham para o território realizar trabalho, contribuir para o desenvolvimento e para a criação de riqueza, bem como para a qualidade de vida das pessoas que cá estão?". E comentando as conclusões do grupo de trabalho e o teor das intervenções críticas que iam sendo feitas no decorrer da assembleia municipal, o presidente da AHSA assumiu que os associados da organização a que preside, "não concordam com os limites que venham a ser impostos" à contratação de imigrantes, considerando que as entidades públicas "tinham de ser mais ambiciosas" na promoção e desenvolvimento das culturas baseadas dos frutos vermelhos (framboesas, mirtilos e amoras).

Referiu ainda que tinha consciência de que não se devia transformar o concelho de Odemira "numa Almería", mas também "não concorda que se restrinja a actividade agrícola numa zona onde existem os melhores valores agrícolas do mundo para a prática de culturas modernas".


Na resposta, o presidente da câmara disse que os representantes da AHSA se "contradizem" quando referem que não pretendem transformar o concelho numa "Almería" mas "solicitam o alargamento da área de ocupação da actividade agrícola."

Receios com a poluição
Outra das críticas feitas por José Alberto Guerreiro visava as preocupações da autarquia pela ausência de monitorização da água, do solo e do ar, conforme estabelece o Plano de Ordenamento do PNSACV. Valentina Calixto directora de departamento do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) reconheceu ter havido "um conjunto de obrigações que não foram cumpridas por parte de várias entidades, incluindo o ICNF". E acrescentou um outro dado: Não entendia o porquê "de ainda não se ter efectuado a cartografia necessária dos habitats e das espécies a salvaguardar quando esta deveria ter sido concluída há vinte e cinco anos". Relembrou ainda que os actuais produtores de culturas intensivas "estavam a fazer o que já tinha sido efectuado há muitos anos por Thierry Roussel", frisando que o ICNF constatou que a partir do ano de 2015 a "pressão da ocupação do território (no PNSACV) foi muito significativa".

O autarca de Odemira, em função do cenário descrito e do seu contacto diário como o modelo cultural que estava a ser questionado, disse ter "dúvidas" que aquele tipo de agricultura "fosse sustentável" no futuro, sublinhando que "a procura dos produtos variava muito". Daí que não concorde que no concelho de Odemira "venham a existir doze mil hectares de estufas" apesar de reconhecer que as condições do território são "as melhores do mundo" para a produção de berries (frutos vermelhos). Contudo, esta mais-valia não deveria implicar que fosse necessário "evacuar a população para se fazer apenas produção."


Empresa holandesa só emprega trabalhadores portugueses nas suas estufas em Odemira
Um estudo sobre os "Efeitos económicos da hortofruticultura no Perímetro de Rega do Mira", elaborado por João Confraria investigador do Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica, apresentado em 2017, refere que a produção em Odemira, com destaque para os pequenos frutos, ascendeu, em 2015, aos quase 100 milhões de euros. E que o efeito total, directo e indirecto, no Valor Acrescentado Bruto (VAB) nacional foi de 71 milhões de euros.

Com o esperado aumento das exportações, prevê-se que a produção hortofrutícola no PRM atinja, dentro de cinco anos, os cerca de 200 milhões de euros. No entanto, João Confraria reconhece que em Odemira "pode estar-se perante uma situação de incompatibilidade de objectivos" entre a política agrícola e a política ambiental, admitindo que o problema "não tem solução fácil."

Galinhas lavadas com cloro? Hormonas no gado? Não, obrigado, diz o Reino Unido


07.03.2019 às 23h46

 
PAULA BRONSTEIN/GETTY

Embaixador dos EUA no Reino Unido chama "museu da agricultura" aos métodos e padrões europeus na matéria
LUÍS M. FARIA
O embaixador dos EUA na capital britânica, Woody Johnson, voltou a defender os métodos agrícolas do seu país em relação aos da União Europeia e do Reino Unido. Perante a resistência a certas práticas americanas que tornam difícil consumir determinados produtos na Europa, Johnson insistiu, numa entrevista à BBC, que qualquer acordo comercial pós-Brexit entre os dois países tem de incluir as questões agrícolas.

Em causa estão práticas como a utilização de hormonas no gado e a lavagem de carcaças de galinha com produtos de cloro. O ex-ministro da Agricultura britânica, George Eustice (que se demitiu em protesto contra o curso que as negociações sobre o Brexit estão a tomar), explicou que, "se os americanos querem ter acesso privilegiado ao mercado britânico, têm de aprender a cumprir a lei britânica e os padrões britânicos. Ou então podem dizer adeus a qualquer acordo comercial e voltar para o fim da fila".

Devolvendo a Johnson as críticas sobre a incapacidade de adotar métodos modernos, o ex-ministro explicou que a agricultura norte-americana, em muitos aspetos, permanece retrógrada, e que as suas prioridades nem sempre correspondem às europeias.

"No tribunal da opinião pública, se a escolha é entre os interesses comerciais dos bancos ou o bem-estar das galinhas, as galinhas vencerão sempre", disse. Acrescentou que nos EUA "há uma resistência geral a reconhecer sequer a existência de sensibilidade nos animais das quintas, o que é extraordinário".

Pela sua parte, o embaixador garante que os agricultores do seu país se preocupam tanto com os animais como os seus congéneres no Reino Unido. Na semana passada, garantiu a superioridade da agricultura norte-americana no "Daily Telegraph", um dos maiores jornais britânicos.

"Nos Estamos Unidos, temos uma perspetiva mais ampla", justificou. "Não é sustentável que o mundo todo siga a abordagem 'museu da agricultura' da União Europeia. Temos de olhar para o futuro da agricultura, não para o passado". E sugeriu que a UE usava os seus padrões alegadamente mais exigentes com o objetivo real de criar barreiras aos produtos americanos.

O facto de ter acabado de se saber que o défice comercial americano atingiu o nível mais elevado dos últimos dez anos poderá enfraquecer a posição americana. Reduzir esse défice foi uma promessa central da campanha de Donald Trump. Se o efeito das guerras comerciais que o Presidente dos Estados Unidos lançou tem sido exatamente o oposto - ou, no mínimo, se Trump não conseguiu minorar esse efeito - a eficácia da estratégia parece ficar em causa. E, afinal, os agricultores são um dos principais blocos de apoiantes do atual Presidente.

terça-feira, 19 de março de 2019

Vários setores procuram especialistas

Calçado, têxteis, metalurgia, engenharias ou agricultura procuram colaboradores qualificados.

Organizações e empresas ficam a ganhar quando contratam mestres e pós-graduados, passando a dispor de técnicos e gestores melhor preparados profissionalmente. "Tendo em conta que uma grande maioria das empresas portuguesas (PME) ainda são geridas por quadros sem qualificação universitária, o recrutamento de um colaborador com níveis de formação superior tende a constituir um upgrade significativo", afirma Amândio da Fonseca, chairman do Grupo Egor, especialista em recrutamento, seleção, formação e muito mais, no mercado nacional.

As atividades que mais estão a apostar ou a procurar colaboradores mestres ou pós-graduados são os setores que, nos últimos anos, "ultrapassaram a crise" e, em muitos casos, se tornaram referências de desenvolvimento: calçado, têxteis, metalurgia, agricultura, sistemas de informação, retalho e não só. "São a demonstração clara de que a aposta na inovação se faz sobretudo através da qualificação das pessoas".

Maior fluidez

Por sua vez, Marisa Duarte, responsável da S&You, uma marca do Grupo Synergie Portugal, multinacional de recursos humanos, refere que, usualmente, ao contratar um profissional com determinado nível académico, "o encontro entre o know how técnico, académico, teórico e prático e as funções exigidas para determinada vaga não só será mais fácil como fluído". Ainda assim - acrescenta a coordenadora de Recrutamento Especializado da S&You - este tipo de conhecimento também poderá ser adquirido "através da experiência que não implica um nível de ensino superior mais avançado". "Contudo, considera-se o primeiro emprego e a especialização em determinadas matérias, cuja informação teórica continua a ser uma base de extrema importância no cumprimento de todos os processos e tarefas".

Sobre os setores de atividade que mais recrutam mestres ou pós-graduados, de forma transversal, indica as "engenharias que, pela sua especificidade, minuciosidade e pelo conhecimento singular de cada procedimento, exigem maior à vontade na matéria em conhecimento teórico por parte dos profissionais procurados".

Parlamento Europeu sem consenso sobre relações comerciais entre UE e EUA


O Parlamento Europeu rejeitou hoje uma recomendação que previa o início das negociações entre a União Europeia e os Estados Unidos para futuras trocas comerciais, sob "certas condições", não havendo um consenso entre os eurodeputados sobre o assunto.

14 Março 2019 — 17:08

Em causa estava um relatório da comissão parlamentar de Comércio Internacional, que vincava que o início das conversações era "do interesse dos cidadãos e das empresas europeias" por permitir "atenuar as atuais tensões nas relações comerciais entre a UE e os EUA", mas que apenas equacionava um acordo comercial se os Estados Unidos aceitassem algumas exigências.

O documento foi rejeitado na sessão plenária, que decorreu em Estrasburgo, França, com 223 votos contra, 198 a favor e 37 abstenções, não permitindo uma posição do Parlamento Europeu sobre o assunto.

No relatório, os eurodeputados daquela comissão parlamentar exigiam que "os EUA levantassem as tarifas sobre alumínio e aço", bem como que houvesse "um processo de consulta abrangente à sociedade civil e uma avaliação de impacto de sustentabilidade".

Pediam também "mais clareza sobre as regras de origem" dos produtos, observando que a União Europeia (UE) "insiste em incluir tarifas de carros e automóveis nas negociações e em excluir a agricultura".

Os eurodeputados alertavam ainda que "as negociações seriam suspensas se os EUA decidirem aplicar outra tarifa".

Esta era uma posição relativa ao anteprojeto apresentado pela Comissão Europeia em meados de janeiro passado e que irá ser proposto aos Estados Unidos, ainda sem data definida.

O documento de Bruxelas visa a eliminação das tarifas aplicadas aos produtos industriais, sem contar com a área agrícola, e a redução das barreiras, no que toca ao cumprimento de requisitos técnicos, para trocas comerciais entre os dois continentes.

Sem o consenso de hoje, a assembleia europeia terá de debater uma nova posição.

Também o Conselho da UE (onde estão representados os Estados-membros) terá de se pronunciar.

A Comissão Europeia só poderá avançar nas negociações com os EUA depois destes passos.

No final de julho do ano passado, reunidos em Washington, os presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e dos Estados Unidos, Donald Trump, divulgaram uma série de medidas na agricultura, indústria e energia, para apaziguar o conflito comercial, mas os respetivos anúncios foram globalmente vagos.