sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Governo vai avançar com medidas especiais para a seca


12 out, 2017 - 13:13

O ministro da Agricultura espera contar com o apoio de Bruxelas, que "tem sido excepcional" com Portugal.

De uma margem à outra sem molhar os pés. A seca levou a água do Rabaçal
O Governo vai avançar, já na próxima semana, com medidas adicionais de combate à seca no que diz respeito aos animais.

Sem querer enumerar quais, o ministro da Agricultura anunciou esta segunda-feira que "no início da próxima semana, estaremos em condições para anunciar alguns apoios especialmente direccionados quer para a questão da garantia do abeberamento dos animais quer para a alimentação animal".

Capoulas Santos falava aos jornalistas à margem da primeira Cimeira de Inovação na Agricultura (Agri Innovation Summit 2007), que decorreu em Oeiras, e afirmou que, apesar de estas medidas irem avançar já, espera continuar a conta com o apoio da Comissão Europeia.

"Naturalmente, o senhor comissário não veio aqui para fechar qualquer negociação, mas a Comissão está suficientemente sensibilizada, temos contado sempre com o seu apoio nestes últimos dois anos e tenho a certeza de que vamos continuar a contar", afirmou ao lado do comissário europeu com a pasta da Agricultura, Phil Hogan, que participou na cimeira.

O ministro da Agricultura considerou que a Comissão "tem sido excepcional" com Portugal nas últimas crises relacionadas com o leite, os suínos e com os incêndios florestais e recordou que autorizou, em Agosto, o Governo português "a antecipar 70% dos pagamentos, o que será feito antes do final do mês e permitirá transferir para os agricultores cerca de 400 milhões de euros de apoio".

"Mas obviamente que a situação tem vindo progressivamente a agravar-se e o problema que se coloca agora com mais premência é a questão da alimentação animal, uma vez que parte dos 'stocks' que tinham sido reservados para o inverno estão a esgotar-se, houve perda de pastagens nas áreas ardidas e a seca tem sido inclemente", disse ainda.

Da parte de Bruxelas, o comissário Phil Hogan disse aos jornalistas que, "enquanto a chuva não chega", Bruxelas está disponível "para trabalhar com o Governo português da melhor forma possível".

Isso pode incluir "encontrar recursos financeiros adicionais no orçamento europeu para ajudar as populações nas zonas rurais", que podem ser direcionados para a alimentação animal no Inverno.

Além disso, acrescentou o comissário europeu, Bruxelas tem trabalhado conjuntamente para "aumentar as medidas de desenvolvimento rural e o adiantamento de pagamentos a pessoas afetadas pela seca e pelos fogos florestais".

No início desta semana, o ministro da Agricultura pediu aos parceiros europeus no Luxemburgo uma ajuda para a seca em Portugal.

Presidente angolano quer acabar com importações


João Lourenço, exortou esta quarta-feira o sector agrícola a colocar Angola "produzir a comida que precisa".

11 de outubro de 2017 às 15:54

O Presidente angolano, João Lourenço, exortou esta quarta-feira o sector agrícola a colocar o país a "produzir a comida que precisa", estimulando a produção em grande escala, para acabar com a importação de alimentos e produtos agrícolas.
 
O chefe de Estado discursava no município do Cachiungo, na província do Huambo, na abertura da campanha agrícola 2017/2018, a primeira deslocação oficial desde que assumiu as funções, a 26 de Setembro, tendo pedido aos angolanos para regressarem aos campos.
 
"Vamos fazer tudo que está ao nosso alcance para não importar alimentos, porque temos capacidade de produzir comida, temos de ser nós a produzir a comida que precisamos, bem como exportar e angariar divisas com o excedente", afirmou João Lourenço.
 
De acordo com dados recentes do Instituto Nacional de Estatística angolano, consultado pela Lusa, Angola importou só no primeiro trimestre deste ano o equivalente a 69.806 milhões de kwanzas (356 milhões de euros) em produtos agrícolas, além de 30.271 milhões de kwanzas (155 milhões de euros) em alimentos.
 
Na intervenção desta quarta-feira, João Lourenço enfatizou que é chegada a hora de "semear para depois colher", de forma a tirar maior proveito da terra, ao ponto de produzir bens alimentares não só para o próprio consumo, mas também para exportação.
 
João Lourenço garantiu que o Governo angolano vai manter a aposta na agricultura como uma das principais apostas como alternativa ao setor petrolífero no processo de diversificação da economia nacional, apesar de dificuldades como a escassez de sementes, adubo e de instrumentos de trabalho.
 
Nesse sentido, a prioridade vai para a captação de investimento para o país, que permita a produção nacional de insumos agrícolas, mas também para o aumento da produção de cereais como milho, soja, feijão, de forma a potenciar igualmente a pecuária, com a auto-suficiência alimentar para o gado.
 
Números governamentais recentes indicam que mais de dois milhões de famílias angolanas vivem da agricultura, sector que emprega no país 2,4 milhões de pessoas e que conta com 13.000 explorações empresariais.

Imposto sobre a cerveja, licores e bebidas espirituosas sobe 1,5% em 2018

O imposto sobre a cerveja, as bebidas espirituosas e os vinhos licorosos vai voltar a subir em 2018, em torno de 1,5%, segundo uma proposta preliminar do OE2018.Este ano o aumento foi de 3%

LUSA 11 de Outubro de 2017

Cervejas vão passar a pagar um imposto entre 8,34 euros por hectolitro até a 29,30 euros 

De acordo com uma versão preliminar da proposta de Orçamento do Estado para 2018 (OE2018) e datada de 10 de Outubro, a que a agência Lusa teve acesso esta quarta-feira, as cervejas vão passar a pagar um imposto que começa nos 8,34 euros por hectolitro para os volumes de álcool mais baixos e que vai até aos 29,30 euros por hectolitro no caso dos volumes de álcool mais elevados.

Com a entrada em vigor do Orçamento do Estado de 2017, o imposto aplicado às cervejas começava nos 8,22 euros e ia até aos 28,90 euros por hectolitro, o que significa que, no próximo ano, o Governo quer aumentar imposto sobre a cerveja em cerca de 1,5%.

No caso das bebidas espirituosas, nas quais se inclui gin e vodka, por exemplo, a taxa de imposto aplicável também vai sofrer um aumento, mas de 1,4%, passando dos 1.367,78 euros por hectolitro actualmente em vigor para os 1.386,93 euros por hectolitro em 2018.

Também a taxa de imposto aplicável aos produtos intermédios, ou seja, os vinhos licorosos, aumenta de 75,05 euros por hectolitro para 76,1 euros, uma subida de 1,4%.

Por sua vez, as bebidas fermentadas, como os espumantes, vão pagar um imposto de 10,44 euros por hectolitro, um aumento de 1,4% face aos 10,30 euros por hectolitro durante 2017.

Não estão previstas alterações no imposto que incide sobre o teor alcoólico do vinho, de acordo com a proposta a que a Lusa teve acesso.

Já no OE2017, o Governo decidiu aumentar em 3% o imposto aplicado à cerveja, às bebidas espirituosas e aos vinhos licorosos, prevendo arrecadar 187 milhões de euros com este imposto este ano.

Seca: "Os Verdes" propõem audição no parlamento dos ministros de Agricultura e Ambiente


O partido ecologista "Os Verdes" propôs hoje a audição parlamentar dos ministros do Ambiente e da Agricultura a propósito das alterações climáticas e da seca que se verifica em Portugal, considerando que é necessário discutir soluções.

"'Os Verdes' tomaram hoje a iniciativa de dirigir uma proposta para a vinda dos ministros da Agricultura e do Ambiente às comissões parlamentares respetivas para prestarem esclarecimentos devidos e podermos, todos em conjunto, discutir soluções que se impõem a um país que já vive, na pele, as consequências concretas das alterações climáticas", disse a líder parlamentar de "Os Verdes", Heloísa Apolónia, numa declaração política no plenário da Assembleia da República.

A deputada do PEV defendeu a necessidade de "apostar numa boa rede de transportes coletivos e não em ofertas de transportes que deixem as pessoas apeadas", acusando o anterior Governo PSD/CDS de desinvestimento e "cortes substanciais" em "pessoal, material e reparação", exemplificando com as empresas fluviais do rio Tejo, contribuindo para o uso de transportes individuais e consequentes emissões de gases e o efeito de estufa.

"Também na área da eletroprodução, 'Os Verdes' vão batalhar neste próximo Orçamento do Estado para que neste país, ao nível energético, a microprodução - solar e eólica - seja incentivada. Temos de deixar de depender do carvão para gerar eletricidade, especialmente quando a componente hídrica, por razões de falta de água, não consegue dar respostas", afirmou.

Na resposta à declaração de Heloísa Apolónia, a deputada do CDS-PP Cecília Meireles declarou ser prioritário atender às consequências do problema no imediato, nomeadamente na agricultura e pecuária e salientou que o seu partido já apresentou atempadamente medidas como a "criação de um fundo urgente para colmatar os problemas de abastecimento de água a populações e explorações agrícolas".

O social-democrata José Carlos Barros criticou a atuação do atual executivo socialista, acusando-o de "fracasso na ação governativa" de um elenco "a que 'Os Verdes' dão apoio", referindo-se igualmente às faltas no abastecimento de água e às deficientes condições das empresas de transportes públicos.

"Há um grande consenso na sociedade portuguesa e nesta câmara sobre necessidade de se fazer um verdadeiro combate às alterações climáticas. Portugal e seus governos estiveram sempre na linha da frente. Hoje os ciclos são mais pequenos e curtos. Há uma grande necessidade de constituir reservas de água para acudir aos momentos extremos", afirmou o socialista Renato Sampaio, destacando que o Governo já investiu 500 milhões de euros em camiões cisterna para suprir falhas de abastecimento de água.

O comunista João Ramos e a bloquista Maria Manuel Rola, além das iniciativas imediatas, propuseram ainda reflexões sobre o plano nacional de regadio, a estratégia nacional para a agricultura de sequeiro e a hipótese de reestruturar as espécies exploradas para estarem mais de acordo com os recursos disponíveis.

Comissão Técnica culpa Proteção Civil pelas mortes de Pedrógão

Os responsáveis pelo comando do ataque ao incêndio de Pedrógão Grande - que, a 17 de junho, matou pelo menos 64 pessoas - tiveram culpa na dimensão que as chamas tomaram. E, algumas das escolhas feitas por quem estava a mandar no teatro de operações podem ter contribuído para o desfecho trágico do fogo. As conclusões são da Comissão Técnica nomeada pelo Parlamento e pelo Conselho de Reitores para averiguar o que correu mal em Pedrógão Grande, cujo relatório final foi entregue na manhã desta quinta-feira na Assembleia da República.

As consequências catastróficas do incêndio não são alheias às opções táticas e estratégicas que foram tomadas", acusa o documento de 296 páginas. E tudo falhou, segundo os especialistas. A começar pelo preposicionando de meios de combate na região, que não foi o adequado apesar dos avisos meteorológicos. "Era possível que na região ocorressem fogos simultâneos, causados direta ou indiretamente por trovoada seca", recorda o relatório. Mesmo assim, os postos de vigia da região não estava ativos e "a vigilância móvel" limitava-se à presença de Sapadores Florestais.

PGR DIVULGA LISTA DE VÍTIMAS DO FOGO EM PEDRÓGÃO GRANDE

Ainda assim, e apesar destas falhas, os especialistas reconhecem que o incêndio teve características "excecionais" devido à seca e à grande acumulação de combustíveis - uma vez que aquela zona não ardia há 20 anos.

SIRESP assenta em "tecnologia ultrapassada"
Por outro lado, o SIRESP também dificultou as operações. O sistema, avisam os especialistas, assenta em "tecnologia ultrapassada".

O presidente da Comissão Técnica - que na tarde desta quinta-feira tem um encontro marcado com o primeiro-ministro - falou aos jornalistas a seguir à entrega do relatório ao presidente da Assembleia da República. "Se houvesse um sistema de sensibilização e informação, se o comando na altura, entre as 15 horas e as 16 horas tivesse dado instruções à população [designadamente que se mantivessem em casa], provavelmente muitas das mortes não teriam ocorrido", afirmou João Guerreiro, acrescentando que o atual sistema de escolha dos comandantes da Proteção Civil não é o mais adequado, uma vez que as nomeações são "recorrentes". João Guerreiro defende a criação de uma carreira de Proteção Civil e que os responsáveis sejam escolhidos por concurso público.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

15 meses de prisão por esmagarem 79 leitões vivos



Um tribunal espanhol condenou, esta quarta-feira, dois homens a 15 meses de prisão, por terem matado 79 leitões, filmado o momento e divulgado as imagens no WhatsApp.

Os dois homens, com 19 e 22 anos à altura dos factos, foram também condenados a pagar 60 euros por cada leitão morto ao dono da exploração pecuária onde trabalhavam e impedidos de exercer qualquer atividade relacionada com animais, durante três anos e seis meses.

SALTAVAM SOBRE LEITÕES PARA OS MATAR

No início de 2016, os trabalhadores agrícolas mataram 79 leitões "ao saltarem e ao caírem sobre eles", quando estavam a transferir os animais para outro lugar, indicaram as autoridades espanholas,

"Quando os leitões estavam num corredor, os jovens fecharam os acessos da entrada e da saída do corredor, deixando os animais encurralados, sem hipóteses de fuga", explicou a polícia sobre o caso ocorrido na província de Almería, no sul de Espanha.

Em tribunal, ficou provado com o suspeito identificado como D.A.A. agiu de "maneira injustificada e cruel", ao saltar para cima dos animais "como se fosse uma piscina". O outro funcionário da exploração, identificado como M.R., "em vez de impedir a ação de D.A.A. e velar pela integridade do animais, gravou a cena com o telemóvel do outro acusado", revela ainda o tribunal de Almería.

O veterinário da exploração afirmou, durante o julgamento, que verificou a morte de 19 leitões devido a traumatismos no dia seguinte à gravação do vídeo - sete de janeiro de 2016 - e que, a 18 de janeiro, confirmou que mais 60 animais do mesmo grupo tinham morrido.


Produtos hortícolas podem faltar nos mercados devido à seca

11/10/2017, 18:14

Os produtos hortícolas podem vir a escassear, alertou a Associação Interprofissional de Horticultura do Oeste, a maior região produtora onde se estão a atrasar as culturas pela falta de chuva.

O setor hortofrutícola teme vir a ter elevados prejuízos

Os produtos hortícolas podem vir a escassear nos mercados, alertou esta quarta-feira a Associação Interprofissional de Horticultura do Oeste (AIHO), a maior região produtora do país onde os agricultores estão a atrasar as culturas pela falta de chuva.

"Este tempo seco está a atrasar as plantações das culturas hortícolas e os hortícolas podem vir a faltar no mercado", afirmou à agência Lusa o presidente da AIHO, António Gomes, acrescentando que os viveiros "estão cheios de plantas" que não são vendidas.

Os agricultores têm receio de produzir, se não chover", disse.
O dirigente agrícola estimou que, dos cerca de cinco mil hectares de culturas ao ar livre e de estufa que nesta altura costumavam, em anos anteriores, estar ocupados com as produções de couves, tomate, alfaces, espinafres ou outras leguminosas, este ano só existem dois mil.

As culturas que existem estão em risco, se não chover", alertou.
O setor hortofrutícola teme vir a ter elevados prejuízos, decorrentes da falta de produção no mercado nacional e da eventual quebra nas exportações.

Estima-se que mais de metade da produção nacional de hortícolas é produzida na região Oeste.

Algumas pragas adaptaram-se rapidamente a culturas transgénicas

Estudo feito em culturas com a proteína do Bacilus thuringiensis que mata os insectos.
LUSA 10 de Outubro de 2017

 A proteína Bt usada em culturas geneticamente modificadas evita o uso de pesticidasFoto

A proteína Bt usada em culturas geneticamente modificadas evita o uso de pesticidas JIM YOUNG/REUTERS

Algumas pragas estão a adaptar-se rapidamente às culturas que foram geneticamente modificadas para lhes resistir, tendo essa adaptação aumentado em mais de cinco vezes na última década, segundo um estudo de investigadores norte-americanos divulgado nesta terça-feira.

Investigadores da Universidade do Arizona, em Tucson, Estados Unidos, descobriram que há pragas que se adaptam rapidamente a essas culturas, havendo, no entanto, outros casos em que isso não acontece. Os responsáveis, Bruce Tabashnik e Yves Carriere, da Faculdade de Agricultura e Ciências da Vida, analisaram dados globais sobre o uso de culturas geneticamente modificadas e a resposta a pragas.

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Na investigação publicada na revista Nature Biotechnology afirma-se que em 2016 foram plantados pelos agricultores de todo o mundo 98 milhões de hectares de milho, algodão e soja geneticamente modificados, que produzem uma proteína (da bactéria Bacilus thuringiensis, ou BT) que mata os insectos, mas que é inofensiva para o ser humano e considerada "amiga do ambiente".

Embora usadas com sucesso há muitos anos, investigadores têm alertado que o uso generalizado dessas proteínas, as toxinas Bt, em culturas geneticamente modificadas iria estimular a rápida evolução da resistência por parte das lagartas e besouros.

"Quando as culturas BT foram introduzidas pela primeira vez, em 1996, ninguém sabia com que rapidez as pragas se iriam adaptar", afirmou Tabashnik, acrescentando que os milhões de hectares plantados nas últimas décadas permitem construir um conhecimento científico sobre como as pragas desenvolvem resistência e porquê.


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Os investigadores analisaram dados de 36 casos, representando respostas a tipos de pragas em dez países de todos os continentes, excepto a Antárctida. E descobriram que a eficácia das culturas BT reduziu-se significativamente em 16 casos em 2016, muito mais do que os três casos detectados em 2005.

Naqueles 16 casos, as pragas adquiriram resistência às culturas geneticamente modificadas em pouco mais de cinco anos. Tabashnik notou, no entanto, que noutros 17 casos as pragas não desenvolveram resistência às culturas BT, havendo casos em que permanecem imunes há 20 anos (os outros três casos foram classificados como intermédios).

Seca: Capoulas Santos em busca de apoios adicionais da União Europeia


09.10.2017 às 14h11
 
NUNO VEIGA / LUSA
Ministro da Agricultura pretende sensibilizar os seus parceiros europeus para o impacto da seca em Portugal, sobretudo no setor da pecuária

O ministro da Agricultura vai tentar esta segunda-feira, no Luxemburgo, sensibilizar os seus parceiros europeus para a necessidade de mais "apoio solidário da União Europeia" para Portugal enfrentar o problema da seca, que atinge particularmente os produtores pecuários.

Em declarações aos jornalistas à entrada para o Conselho de Agricultura, Luís Capoulas Santos indicou que um dos principais pontos em agenda será a "avaliação das crises de mercado que têm atingido a UE nos últimos tempos", no contexto da qual aproveitará a "oportunidade para introduzir um novo tema, que é a questão da seca", que muito preocupa o Governo português, e naturalmente todos os portugueses," porque a situação que se vive é uma situação cada vez mais difícil, particularmente para a pecuária".

"Temos dado algumas respostas e apoios financeiros, designadamente para a captação e transporte de água, mas coloca-se cada vez com mais premência o problema da alimentação animal", indicou.

Apontando que já foram conseguidas "algumas derrogações importantes, a mais importante delas a possibilidade de, este mês ainda, adiantar pagamentos de cerca de 400 milhões de euros, para desta forma dar algum alívio de tesouraria aos agricultores e aos produtores pecuários em particular", o ministro disse que o seu objetivo hoje "é sensibilizar a Comissão e o Conselho da necessidade de ir um pouco mais além no apoio solidário da UE".

"Eu gostaria muito que a União Europeia pudesse avançar com um apoio para a alimentação animal, que neste momento é o problema que mais preocupa o Governo, e, mais que o Governo ainda certamente, os produtores que vivem duramente esta situação", disse.

Recordando que o comissário europeu da Agricultura, Phil Hogan, estará na próxima quinta-feira em Portugal, Capoulas Santos acrescentou que também aproveitará essa oportunidade "para o sensibilizar ainda mais para algumas medidas de apoio aos produtores pecuários".

O ministro disse ainda ser sua intenção "introduzir no sistema de seguros português a questão da seca, que deles está excluída".

Governo decreta "catástrofe natural" nos incêndios de Julho e Agosto e reserva mais 10 milhões em apoios


Além dos incêndios de Junho, que já estavam classificados nesta categoria, também os dos meses seguintes no Norte e Centro do país beneficiam de incentivos para a reposição do potencial produtivo. Investimento mínimo elegível baixa para 100 euros.
Governo decreta "catástrofe natural" nos incêndios de Julho e Agosto e reserva mais 10 milhões em apoios

Paulo Zacarias Gomes Paulo Zacarias Gomes paulozgomes@negocios.pt
06 de outubro de 2017 às 12:13

Depois de os incêndios de Junho já terem sido reconhecidos pelo Executivo como "catástrofe natural" e de os danos causados nas explorações agrícolas terem sido alvo de um apoio de 10 milhões de euros, o Governo decidiu agora classificar na mesma ordem os fogos deflagrados em Julho e Agosto nas regiões Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo e Alentejo.

Segundo um despacho publicado esta sexta-feira, 6 de Outubro, em Diário da República, é accionada a aplicação de um apoio em valor semelhante – mais 10 milhões de euros - para restabelecimento do potencial produtivo, ao abrigo do Programa de Desenvolvimento Rural do Continente (PDR 2020), para 30 concelhos do país.

O apoio é concedido a título não reembolsável. Para despesas inferiores ou iguais a 5.000 euros o apoio abrange 100% do total da despesa elegível "e, sucessivamente, 50 % da restante despesa total, no caso de beneficiários que tenham recebido pagamentos directos de valor igual ou inferior a 5.000 euros no ano anterior à catástrofe natural e que tenham tido prejuízos superiores a 80 % do potencial agrícola".

"No caso das restantes explorações agrícolas" o apoio concedido corresponderá a 50% da despesa elegível, acrescenta o documento. Em ambos os casos, o mínimo de investimento elegível é de 100 euros.

A atribuição de apoios está sujeita a apresentação de candidatura, cujos prejuízos têm de ser verificados e validados localmente pelas Direcções Regionais de Agricultura e Pescas.

"Os beneficiários podem, porém, iniciar os investimentos antes da verificação e validação referida no número anterior, desde que comuniquem o início dos trabalhos à Direcção Regional de Agricultura e Pescas, com uma antecedência mínima de 72 horas," especifica o diploma.

Os pedidos devem ser apresentados a partir da próxima quarta-feira (11 de Outubro) e até 30 de Novembro "através de formulário electrónico disponível no Portal do Portugal 2020, em www.portugal2020.pt ou do PDR 2020, em www.pdr-2020.pt", lê-se no despacho.

Os 30 concelhos abrangidos por este apoio são Alijó, Abrantes, Almeida, Cantanhede, Castelo Branco, Coimbra, Covilhã, Ferreira do Zêzere, Freixo de Espada à Cinta, Fundão, Gavião, Gouveia, Guarda, Mação, Macedo de Cavaleiros, Mangualde, Mealhada, Melgaço, Nisa, Oleiros, Penedono, Proença-a-Nova, Resende, Sabrosa, Sabugal, Sardoal, Sertã, Torre de Moncorvo, Vila de Rei e Vila Velha de Ródão.

A 25 de Julho o Governo tinha feito publicar um outro despacho em que concedia também 10 milhões de euros de apoio para o sector agrícola prejudicado pelos incêndios de Junho, como os de Pedrógão Grande. Neste caso, o montante mínimo de investimento era de mil euros (contra os 100 euros do despacho desta sexta-feira) e eram abrangidos os concelhos de Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos, Góis, Pampilhosa da Serra, Pedrógão Grande, Penela e Sertã.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Seca extrema dispara preço da eletricidade

Queda para metade na produção das barragens obrigou a maior dependência do gás natural e do carvão. 

Por João Saramago|09.10.17

Produção de eletricidade a partir das barragens caiu de 36% do total produzido para 15% entre janeiro e agosto João Nuno Pepino 320 0A seca severa que atinge o País agravou os custos no mercado grossista da eletricidade na ordem dos 672 milhões de euros. Perante a redução do volume de armazenamento das barragens e consequente menor produção de energia, houve necessidade de recorrer a uma maior produção a partir do gás natural e do carvão. 

Uma alteração que influenciou o aumento do preço do megawatt-hora (MWh). Nos primeiros oito meses deste ano "verificou-se um preço médio do mercado de 50,46 €/MWh, um valor 55% superior ao período homólogo de 2016 (32,46 €/MWh)", divulgou a Associação das Energias Renováveis (APREN). Ao preço de mercado de 50,46 €/MWh, os 37 351 Gigawatt-hora (GWh) produzidos nos primeiros oito meses do ano valeram 1884 milhões de euros. Um valor superior em 672 milhões de euros aos 1212 milhões que seriam de esperar, caso o MWh fosse pago ao mesmo preço médio dos primeiros oito meses de 2016, quando foi fixado nos 32,46 euros. 

O preço mais baixo verificado em 2016 ocorreu num período em que a eletricidade obtida a partir das energias renováveis representou 64% do total. Bem diferente é a realidade dos primeiros oito meses deste ano, nos quais a produção a partir das energias hídrica, eólica, solar e da bioenergia ficou pelos 43%. A maior queda foi observada na eletricidade obtida a partir das barragens. Entre janeiro e agosto de 2016, valia 36% do total e em igual período deste ano não ultrapassou os 15%. 

A produção da eletricidade a partir da energia eólica é agora a mais representativa no setor das renováveis, com 21%. Também a procura de gás natural para a produção de eletricidade tem estado em destaque durante este ano. O uso deste combustível teve um crescimento de 344% em agosto e foi responsável por 42% da eletricidade produzida nesse mês. Zero classifica subida de poluição como "dramática" A Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável defende que a maior produção de eletricidade a partir de carvão e gás natural teve "consequências em termos de emissões de gases de efeito de estufa verdadeiramente dramáticas".

 A Zero quantificou as emissões associadas à eletricidade entre janeiro e setembro de 2017 em 24 milhões de toneladas de dióxido de carbono, mais 5,7 milhões de toneladas face a 2016. 

 A maior produção de eletricidade a partir de carvão e gás natural visa também responder à procura externa. Os dados da REN - Redes Energéticas Nacionais revelam que entre janeiro e setembro foram exportados 4986 GWh, valor que representa 249 milhões de euros. As importações foram de 1793 GWh (89 milhões de euros). A procura é explicada pela seca que atinge todo o Sul da Europa e pela redução da produção de energia nuclear em França. 

Aguaceiros fracos para 17 As previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera apontam para a ocorrência de aguaceiros fracos no litoral a norte de Lisboa no dia 17. Custos da seca em 2015 O ano de 2015 foi também marcado pela seca, com um acréscimo nos custos de aquisição de eletricidade de 470 milhões de euros entre janeiro e agosto. Carvão mais poluente As centrais a carvão, por cada quilowatt-hora de eletricidade, emitem 2,5 vezes mais dióxido de carbono que as centrais de ciclo combinado a gás natural. 23 albufeiras a 40% A Agência Portuguesa do Ambiente revelou que no final de setembro das 60 albufeiras monitorizadas, 23 estavam abaixo dos 40% no volume de água.

Seca persistente e dura reclama apoio excepcionais

COMUNICADO

CNA

Mas Ministério da Agricultura e Governo apenas definem apoios rotineiros e insuficientes.

CNA reafirma que são rotineiros e muito insuficientes os apoios destinados à Agricultura e uma vez mais divulgados pelo Ministério da Agricultura, a pretexto dos prejuízos provocados pela Seca persistente. 

De facto, trata-se já de pura demagogia (concreta), o Ministro da Agricultura vir falar outra vez, e a "seco", em proporcionar 400 milhões de Euros através da antecipação, aliás já rotineira, do pagamento (até 31 de Outubro) de 70% das Ajudas da PAC, sobretudo dentro do chamado regime de pagamento base. Além do mais, quem agora receber essas verbas "adiantadas" já não as virá a receber, mais à frente, dentro do prazo dito normal...

Portanto, na situação muito complicada que já se vive na Lavoura Nacional e perante as más perspectivas climáticas – falta de chuva e calor – para os próximos tempos, a CNA reafirma também que são necessários apoios públicos realmente excepcionais para acudir à calamidade da Seca, por exemplo e para o imediato:

--- Medidas concretas para ajuda à compra ou ao abastecimento de alimentação animal nas pequenas e médias Explorações Pecuárias.

--- A reposição do reembolso aos Agricultores pelo menos de parte do valor do consumo de Energia Eléctrica nas explorações agrícolas (e no Sector Cooperativo).

--- A isenção (temporária) do pagamento de Taxas Hídricas.

--- A criação de Linhas de Crédito Bonificado à Lavoura mas a longo prazo – a 20 anos – que as Linhas de Crédito a curto prazo (5 anos) acabam por servir mais a Banca e não tanto os Agricultores que a elas recorrem…
--- A candidatura do nosso País ao "Fundo Europeu de Solidariedade" da UE, em especial para nele enquadrar apoios excepcionais, práticos, às pequenas e médias Explorações Familiares e para medidas estruturais de combate à erosão e à desflorestação. 
No médio e longo prazos e prevendo-se que se vão manter 
as alterações climáticas e a falta de água:

--- A atribuição de apoios excepcionais direccionados à produção de Sementes e a Culturas de espécies autóctones e tradicionais mais adaptadas à "falta" de Água.
--- A dotação orçamental – em Orçamento de Estado -- necessária para a criação sustentável e controlada de novos Regadios, particularmente em regiões mais carenciadas.
--- Definição e financiamento de Medidas integradas para dar combate à erosão e à desertificação "naturais", e também à desflorestação, de vastas regiões.

Coimbra, 9 de Outubro de 2017
A Direcção da CNA

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Incêndios: Secretário de Estado diz que fogos têm origem criminosa

LUSA 7 de Outubro de 2017, 19:20 Partilhar notícia

O secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, não tem "forma de provar", mas considera que vários dos incêndios florestais que têm deflagrado nas últimas horas no país têm "origem criminosa".

Trata-se de incêndios que "alguém quer realmente provocar", sustentou neste sábado o governante, em declarações à agência Lusa, quando visitava a Pampilhosa da Serra, concelho onde, desde as 23h20 de sexta-feira lavra um fogo, que, então, progredia em cinco frentes.

"É a vontade de fazer arder que continua a imperar e a criar esta instabilidade no país e nas pessoas", afirmou Jorge Gomes, salientando que, "de forma nenhuma, isto é perdoável".


"Isto é algo de anormal, não só pelo tempo", caracterizado por um longo período de seca e com elevadas temperaturas, mas também porque muitos destes incêndios "começaram à noite", sublinhou.

O secretário de Estado deslocou-se a Pampilhosa da Serra onde continua a arder com intensidade o fogo que teve início na noite de sexta-feira e que é dos 88 incêndios florestais que lavram no território do continente, mobilizando pelas 18h20, perto de três mil operacionais, mais de 800 viaturas e 11 meios aéreos. 

Ponte romana e sítios arqueológicos destruídos para plantar amendoal

Direcção Regional da Cultura do Alentejo pediu ao Ministério Público e à Direcção Geral do Património Cultural a suspensão dos trabalhos em Beja, mas a movimentação de terras prossegue.

CARLOS DIAS 9 de Outubro de 2017

Sucedem-se quase diariamente os alertas que dão conta da destruição de património arqueológico que está a ser sacrificado ao plantio de diversas monoculturas de olival, amendoal, vinha, eucaliptos e até pinheiros no Alentejo. Agora foi uma empresa espanhola que arrasou vários sítios arqueológicos perto de Beja para ali colocar amendoeiras. Já foram feitas queixas à justiça.

Os arqueológos contestam este tipo de práticas e queixam-se junto da tutela, mas o silêncio e a inacção tem sido a resposta que sistematicamente recebem. "Por este andar, ficarão apenas os testemunhos que se encontram nas vitrinas dos museus ou nas salas de exposição. O resto vai desaparecendo da face da Terra", protesta o arqueólogo Miguel Serra, que ao longo dos últimos anos tem o seu centro de pesquisa nos campos da região de Beja.

"Tesouro de Baleizão" rendeu 40 mil euros a António Lamas
As destruições de património associadas às novas culturas "não são de agora" mas as que estão a ser instaladas ao longo da última década "são muito mais agressivas". E se fosse possível contabilizar o que já foi arrasado todos ficariam perplexos, assinala o investigador.

O caso mais recente que se conhece, entre vários que têm tido lugar, foi denunciado pela Direcção Regional da Cultura do Alentejo (DRCA) junto do Ministério Público (MP) em Beja e da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC). A empresa de capitais espanhóis De Prado Portugal S. A. arrasou, entre Abril e Agosto, quase duas dezenas de sítios arqueológicos, que estavam devidamente assinalados no Plano Director Municipal de Beja. Uma área com cerca de 3 mil hectares onde será plantado amendoal, situada a seis quilómetros da capital do Baixo Alentejo, mesmo junto ao IP8.

A maior parte dos sítios estava identificada como sendo dos períodos do calcolítico, Idade do Ferro, período romano, medieval e moderno, com destaque para as referências arqueológicas da presença romana. As informações facultadas ao PÚBLICO referem que os trabalhos de ripagem do terreno foram executados com maquinaria pesada e envolveu a extracção de pedra (despedrega) que existia em grande quantidade no espaço intervencionado.

As operações de movimentação de terra destruíram, entre outros vestígios, uma ponte, um aqueduto e uma villa da época romana. Nos esclarecimentos que prestou ao PÚBLICO, Ana Paula Amendoeira, directora Regional da Cultura do Alentejo, disse que os serviços intervieram logo que tomaram conhecimento da operação de ripagem numa parte de território de grande sensibilidade arqueológica. Os promotores do projecto agrícola foram notificados pela DGPC para pararem os trabalhos mas o pedido não foi respeitado.

Ao mesmo tempo, foi dado conhecimento à autarquia e ao Ministério Público de Beja para que fossem "suspensos de imediato os trabalhos em curso", para que pudessem ser aplicadas "medidas cautelares de avaliação dos impactos no património arqueológico existente no local e o estabelecimento de consequentes medidas de minimização dos mesmos".

O PÚBLICO procurou obter informações junto do Ministério Público mas este apenas avançou que dera entrada no dia 31 de Agosto uma "queixa-crime" contra a empresa visada pela DRCA e que "continuavam a decorrer as investigações" sobre este caso.

No terreno intervencionado observam-se abundantes fragmentos cerâmicos e pedras trabalhadas, presumivelmente do período romano. E as intervenções no terreno prosseguem. O espaço, tal como noutros que foram lavrados e abertas valas para a colocação da tubagem do sistema de rega, são o El Dorado para indivíduos munidos de detectores de metais para a apanha de moedas antigas ou outro tipo de vestígios metálicos. Há muita gente a sonhar com novos tesouros, à semelhança do que foi descoberto em Baleizão em 2004.

Foi isso que se passou na villa romana de Represas, próximo de Beja, depois desta ter sido destruída para plantar olival, conta Miguel Serra. Centenas de moedas, sobretudo do período romano, foram recolhidas no local por indivíduos que depois negoceiam os achados.

Também o arqueólogo Monge Soares não esconde a sua indignação pelo que se está a passar, sobretudo na área de influência do Alqueva. E dá exemplos dos estragos que já presenciou por causa da plantação de olival e amendoal intensivo e superintensivo: há dois anos, na freguesia de Baleizão, tinha encontrado dois pequenos fragmentos de uma lápide e vestígios de ocupação desde o calcolítico até à idade moderna. "Caterpílares envolvidos na limpeza e tratamento do terreno para a plantação de amendoal destruíram tudo. Queixei-me à tutela que superintende o património, mas nada foi feito".

Ainda em Baleizão, para a construção de um lagar de azeite, "destruíram um sítio do período calcolítico e uma villa romana. E continuam alegremente a destruir tudo sem qualquer critério ou preocupação de salvaguarda patrimonial", protesta o investigador, agastado com a apatia do Ministério da Cultura.

Lembra os vultuosos encargos (cerca de 20 milhões de euros) que a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA) assumiu para financiar os trabalhos de levantamento arqueológico que foram realizados no âmbito do projecto do Alqueva para a instalação da rede primária. No entanto, as "explorações agrícolas que instalam olival, amendoal, vinha etc, abrem barrancos de drenagem das águas que atingem profundidades equivalentes às que foram abertas para a instalação da rede primária de rega mas não necessitam de acompanhamento arqueológico", observa Monge Soares, frisando que há uns anos, quando exercia funções de responsabilidades no Ministério da Cultura, "sempre que havia revolvimento de terras era necessário acompanhamento arqueológico". Hoje, qualquer agricultor que pretenda plantar as novas monoculturas de olival, amendoal, vinha, montado, eucaliptos e pinheiros está dispensado desta exigência.

"O problema está do lado da tutela que não previne a salvaguarda do património arqueológico", acusa o arqueólogo Rui Mataloto, admitindo que é "quase impossível plantar vinha sem destruir os achados". Na sua opinião, "o olival é, das novas culturas, a que provoca menos impacto" porque a técnica de plantio "não implica intervenções profundas no solo" a não ser na abertura de valas para a colocação das redes de rega. "Mas sei de villas romanas profundamente afectadas pela ripagem [operação de limpar e sulcar o solo], do terreno", acentua.

A experiência diz-lhe que é possível "conciliar o desenvolvimento económico com a defesa do património" pelo que considera "inacreditável" que "nunca se tenha acordado um protocolo que articule as acções do Ministério da Agricultura e as diversas instituições do património" de modo a acautelar as intervenções nos territórios de maior sensibilidade patrimonial.

Outra das lacunas referidas por Rui Mataloto reside na informação que não chega aos proprietários das terras, que muitas intervêm com pleno "desconhecimento" dos sítios arqueológicos que se encontram nas suas explorações. Nos últimos 15 anos as instituições que têm por função a salvaguarda do património "navegam à vista" e os problemas subsistem.

Contactada pelo PÚBLICO, a De Prado escusou-se a prestar declarações.  

Seca coloca "em causa a água para o consumo humano"



 
A forte seca que tem atingido Portugal fez descer, em setembro, a quantidade de água armazenada em todas as bacias hidrográficas de Portugal continental, na comparação com agosto, segundo o Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH).

Das 60 albufeiras monitorizadas pelo Sistema, três apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e 23 têm disponibilidades inferiores a 40% do total.

A Associação Sistema Terrestre Sustentável Zero alerta que "esta situação pode vir a durar muitos meses" e a falta de água está já a colocar "em causa a água para consumo humano".

"Esta situação pode vir a durar muitos meses e as medidas tem de ser tomadas com uma grande antecipação o que, em nosso entender, não aconteceu nos últimos meses. As questões associadas à gestão entre as aguas subterrâneas e as águas superficiais, os preços da água, tudo isto exige uma ação preventiva que a partir de agora deve ser ainda muito mais intensa porque não sabemos se não vamos ter um 2018 infelizmente dramático. Estamos numa situação que é efetivamente cada vez mais grave em que já não se fala do evitar da água para uso agrícola já está em causa a água para consumo humano", afirmou Francisco Ferreira, da Zero, à TSF.

Efeito dramático nas emissões de gases
A seca levou a uma redução da eletricidade produzida a partir das barragens e à necessidade de recorrer às centrais térmicas, com efeito "dramático" nas emissões de gases com efeito de estufa, alertou a Zero.

"A seca está a ter um efeito dramático nas emissões de dióxido de carbono associadas à produção de eletricidade", afirma a Associação Sistema Terrestre Sustentável Zero, em comunicado.

A associação quantificou as emissões associadas à produção de eletricidade entre janeiro e setembro de 2017, concluindo que se atingiu "cerca de 24 milhões de toneladas de dióxido de carbono, um aumento de 5,7 milhões de toneladas em relação ao mesmo período do ano passado (+31%)".

Perante esta situação, os ambientalistas defendem ser essencial o investimento em eficiência energética, o encerramento próximo das centrais térmicas a carvão, e a aposta nos recursos renováveis para produção de eletricidade, principalmente solar e eólico.

A Zero analisou dados da Redes Energéticas Nacionais (REN) para a produção de eletricidade em Portugal continental entre janeiro e setembro deste ano e as suas consequências para a sustentabilidade no uso de recursos e emissões de gases com efeito de estufa, que contribuem para as alterações climáticas.

A produção de eletricidade através das grandes barragens desceu 59% na comparação com o mesmo período do ano passado e o recurso a centrais térmicas aumentou 61%.

Ao mesmo tempo, a contribuição das fontes renováveis para a produção de eletricidade recuou 23,3% - 71% para 47,7% -, ou seja, "até final de setembro, menos de metade do consumo de eletricidade foi assegurado por fontes renováveis", realça a Zero.

Em 2016, recorda, a produtibilidade hidroelétrica foi 66% acima da média, enquanto 2017 está com valores 43% abaixo.

As consequências em termos de emissões de gases de efeito de estufa "são verdadeiramente dramáticas", alertam os ambientalistas, já que a produção de eletricidade tem de ser garantida em grande parte pela queima de combustíveis fósseis, em particular nas centrais a carvão, de Sines e do Pego, e nas de ciclo combinado a gás natural (que mais que duplicaram o total da sua produção: +225% em relação ao mesmo período de 2016).

Tendo em conta a continuação e agravamento da situação de seca, "as emissões tenderão a aumentar", conclui a Zero.

Numa análise realizada há dois meses pela associação, é referido que, 2017, "com os efeitos da seca na produção de eletricidade e com grandes áreas ardidas, muito provavelmente este será um dos anos com maiores emissões em Portugal desde o início da década".

Seca provoca quebra na produção de azeite



06 out, 2017 - 14:00 • Olímpia Mairos

A azeitona não cresceu devido à falta de chuva e os olivicultores vão ter que antecipar a colheita. A próxima campanha também pode estar comprometida.

Quebra na produção de azeitona este ano. Foto: Olímpia Mairos/RR
A seca extrema e severa que se regista no país pode provocar grandes quebras na produção de azeite em Trás-os-Montes. A Azeitona não cresceu devido à falta de chuva e os olivicultores antevêem já uma má campanha.

"Neste momento a produção está muito mal, a azeitona não cresceu, vamos ter uma

produção muito reduzida", lamenta Emanuel Batista, técnico da Associação de Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro (AOTAD).

Ainda que venha a chover, segundo o técnico, o cenário não vai alterar-se nem vai ter consequências no calibre do produto, porque "a azeitona, neste momento, está a mudar de cor. Se vier a chuva ela vai engordar a nível de água e não a nível de gordura/azeite".

Devido ao tempo quente, a maturação acontece, este ano, também mais cedo e prevê-se que a apanha comece duas semanas antes do habitual, ainda antes do final deste mês Outubro.

A qualidade, em princípio, "será boa, porque a pouca azeitona que há nas oliveiras está sã".

O técnico da AOTAD alerta também para as consequências da seca na campanha do próximo ano.

"Estamos a pôr em perigo a produção do ano seguinte, porque não houve crescimentos, não houve diferenciação floral nas próprias oliveiras, o que quer dizer que, para o ano, a floração vai ser reduzida e a colheita também", alerta Emanuel Batista.

Para evitar problemas relacionados com a falta de água, como o que este ano os agricultores enfrentam, o técnico da AOTAD considera que é fundamental apostar no regadio, alertando para o facto de "90% dos olivais transmontanos não terem sistema de rega".

"É necessário criar bolsas de água e fomentar o regadio junto dos produtores para, no futuro, não entrarmos num stress hídrico, como estamos nesta altura, no olival", defende.

Mas, para isso, é necessária uma aposta do Governo Central e a intervenção do Ministério da Agricultura, "porque sem essas condições, o produtor não tem fundo de maneio suficiente para manter o regadio".

A Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca prevê que nos próximos três meses se estenda a propensão de pouca chuva e temperaturas altas.

Com a seca, agricultores podem ter de evitar o cultivo de algumas espécies


Até dezembro previsões apontam para pouca chuva e temperaturas elevadas. Próxima época de cultivo pode ter mudanças

Os agricultores vão ter de planear e antecipar as necessidades de água para as suas culturas de forma a ser possível gerir as reservas ainda existentes. Que são cada vez menos em muitas zonas do país que está, em cerca de 60%, num período de seca prolongada excecional. Situação que até pode levar a que na próxima época de cultivo sejam feitas recomendações para que não se cultive espécies que necessitam de muita água.

Para já, numa tentativa de diminuir o desperdício, a Agência Portuguesa do Ambiente vai lançar uma campanha a nível nacional de sensibilização para a necessidade de se fazer um melhor uso da água.

Entre os exemplos de zonas que podem ficar numa situação crítica no espaço de um mês estão os concelhos de Viseu, Mangualde, Nelas e Penalva do Castelo devido ao pouco armazenamento existente na Barragem do Fagilde.


Um cenário provável pois as previsões meteorológicas apontam para que outubro seja um mês de "pouca precipitação e de temperaturas mais elevadas do que a média", como adiantou ao DN o secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins. O governante participou na reunião da Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca, encontro onde se ficou a saber que, além de outubro, os dados científicos conhecidos apontam para a forte possibilidade de novembro e dezembro também serem meses de pouca chuva.

No final de setembro só três bacias hidrográficas - Cávado/Ribeiras Costeiras, Ave e Arade - tinham um nível de água armazenada superior à média para o mês de setembro desde 1990/91. Das 60 barragens monitorizadas pela Agência Portuguesa do Ambiente 23 apresentavam menos de 40 % do volume total. E a bacia do Sado estava com 18,2% do volume quando a média dos últimos ano para o mês de setembro era de 42,6%.

"Neste momento há 17 albufeiras em situação crítica e aumentamos o número das que estão sob vigilância", salientou Carlos Martins. O secretário de Estado alertou para um outro problema: "As reservas subterrâneas estão a reduzir."

Reconheceu também que se não fosse a Barragem do Alqueva (Alentejo), Portugal "estaria numa situação drástica sem poder minimizar os efeitos da seca".

Preocupada com a falta de água e a sua qualidade está a associação ambientalista Quercus como frisa o seu presidente João Branco. "Quanto mais diminui a quantidade das reservas pior fica a água em termos de qualidade. Isto é uma situação muito grave mesmo."

Confirmando que este está a ser um dos piores anos de seca - as médias de armazenamento estão a níveis de 1990/91 - o presidente da Quercus alerta para o que as previsões mostram: "O pior é que nos outros anos nesta altura começa a chover e este ano não há previsão de chuva tão cedo."

Agricultura pode mudar

Uma das consequências da atual falta de água sentir-se-á, muito provavelmente, no próximo ciclo agrícola. Uma possibilidade que está a ser analisada pelas autoridades, como disse ao DN Carlos Martins. "Podemos chegar ao ponto de recomendar aos agricultores que não cultivem algumas espécies na próxima época. Para esta não haverá problemas, mas na que se segue e no que diz respeito às espécies que precisam de mais água pode haver algumas recomendações", explicou.

Por outro lado, os fluxos de água libertados por Espanha estão a ser cumpridos, segundo o governante. Que lembrou uma outra medida que está a ser colocada em prática para manter caudais mínimos. "O regime de exploração da EDP tem assegurado esses caudais. A produção de eletricidade também está a ter restrições", lembrou.

A questão dos compromissos com Espanha não é essencial nesta situação, disse ao DN o presidente da Quercus: "Não é a água do rio Tejo que tem as reservas para abastecer o país, isso são reservatórios, pequenas barragens que existem por todo o território continental e todas elas, mesmo no norte que é a região mais chuvosa, estão num estado critico."

Temperaturas continuam altas

Durante esta semana as temperaturas vão continuar a manter-se elevadas, com os termómetros a marcarem entre os 32 graus desta terça-feira e os 28 do próximo domingo (dia 8). Segundo as previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera o calor vai manter-se com as temperaturas mínimas a não descerem dos 15 graus previstos para sexta-feira, o valor mais baixo até ao fim de semana.

Comissão parlamentar de Agricultura e Mar "impressionada" com visita aos Açores


O presidente da Comissão de Agricultura e Mar da Assembleia da República, Joaquim Barreto, disse hoje estar "muito impressionado" com os investimentos que estão a ser desenvolvidos nos Açores, naquelas duas áreas de atividade.

O parlamentar socialista, que falava na Horta, no final de uma visita de cinco dias que os membros da Comissão Parlamentar de Agricultura e Mar estão a realizar ao arquipélago, realçou a "curiosidade" e o "interesse" que alguns setores de atividade, ligados à agricultura, às florestas, à vinha e às pescas, suscitaram junto dos parlamentares nacionais.

"Estou muito impressionado e muito sensibilizado com todo o trabalho que estão a fazer, procurando potenciar aquilo que são as capacidades e potencialidades do território, a favor das pessoas que cá vivem e de outras que poderão para cá vir viver", destacou Joaquim Barreto.

No seu entender, os Açores revelaram mesmo estar "à frente" em algumas áreas, como por exemplo na área da formação marítima, com o investimento que está a ser desenvolvido pelo Governo dos Açores, na construção da Escola do Mar, que os membros da Comissão de Agricultura e Mar tiveram oportunidade de visitar.


"Esta escola representa um investimento educativo, formativo e cultural que se irá traduzir em resultados económicos no futuro", sublinhou Joaquim Barreto, recordando que este é um "bom exemplo" da aposta numa "área importantíssima para a economia do país e da região".

Na sua opinião, para além da importância de se manter as "artes artesanais" ligadas ao setor das pescas, é também fundamental que se alargue o "conhecimento" sobre o mar, potenciando as novas tecnologias, como a região está a tentar fazer com a Escola do Mar.

"Portugal e os Açores têm uma grande área marítima por explorar. Penso que podemos dar passos significativos na exploração dessa área marítima, mas para isso é preciso conhecimento, é preciso formação, e esta escola vai responder a essa necessidade", insistiu.

A Escola do Mar dos Açores, que será construída na ilha do Faial, representa um investimento de cerca de 4,5 milhões de euros e pretende garantir uma formação profissional de qualidade e certificada em várias áreas da economia do mar, a nível internacional.

A infraestrutura está a ser construída nos terrenos onde estava instalada a Estação Rádio Naval da Horta, entretanto encerrada, e será preparada para formar profissionais em áreas tradicionais, como as pescas e os transportes marítimos, mas também em áreas emergentes, como as atividades marítimo turísticas, o turismo de cruzeiros ou a aquacultura, além do mergulho profissional, da inspeção, da fiscalização e da segurança marítima.

Durante esta deslocação de cinco dias aos Açores, os deputados da Comissão de Agricultura e Mar da Assembleia da República visitaram cinco ilhas (São Miguel, Terceira, São Jorge, Pico e Faial) e reuniram com instituições e profissionais ligados aos setores agrícola, vitivinícola, conserveiro e de investigação científica.

Ministro da Agricultura defende que "é necessário agir muito" sobre criminosos

No âmbito de uma reunião de ministros da Agricultura da União Europeia, Capoulas Santos mostrou indignação com a "multiplicidade inusitada de incêndios" que ocorreram em Portugal, no fim-de-semana, afirmando que "é necessário agir muito sobre a componente criminal".
Ministro da Agricultura defende que "é necessário agir muito" sobre criminosos

O ministro da Agricultura lamentou esta segunda-feira, 9 de Outubro, a "multiplicidade inusitada de incêndios" em Portugal no último fim de semana e comentou que "é necessário agir muito sobre a componente criminal", pois senão de nada serve o sistema de ordenamento.

Ressalvando por diversas vezes que os meios de combate aos incêndios não são uma matéria da competência do seu Ministério, Luís Capoulas Santos, que participa, no Luxemburgo, numa reunião de ministros da Agricultura da União Europeia (UE), observou que, mesmo apesar do contexto pouco habitual de "temperaturas de 35 graus em pleno mês de Outubro", haverá certamente mão criminosa na origem de muitos fogos.

"Tive oportunidade de ver na comunicação social uma multiplicidade inusitada de incêndios e, ao que parece, uma boa parte deles deflagrados durante a madrugada, que é precisamente quando não podem ser combatidos e quando dão a garantia de que só várias horas depois, com o amanhecer, é que não podem ser combatidos", apontou.

Para Capoulas Santos, há que "responder às alterações climáticas, se é disso que se trata", mas também encontrar uma resposta mais eficaz para "a componente criminal" dos incêndios.

"Se se autuam e são punidos condutores que vão em excesso de velocidade, temos que encontrar, por mais difícil que seja detectar e identificar, responsáveis", defendeu, considerando que, "apesar das mais de 130 detenções que já foram efectuadas este ano", é "necessário agir muito sobre a componente criminal, porque se esta não for eliminada, pode haver o melhor sistema de ordenamento, pode haver o melhor sistema de combate, mas obviamente o crime exige também uma resposta".

Produtores de castanha de Bragança falam em calamidade e pedem ajuda ao Governo


9/10/2017, 21:04

Associação de Produtores de Castanha Transbaceiro, no concelho de Bragança, vai pedir a ajuda do Governo para o que descreveu como "a calamidade" que se abateu sobre a produção devido à seca.

Concelho de Bragança é dos maiores produtores nacionais de castanha

A Associação de Produtores de Castanha Transbaceiro, no concelho de Bragança, anunciou nesta segunda-feira que vai pedir a ajuda do Governo para o que descreveu como "a calamidade" que se abateu sobre a produção devido à seca extrema. O concelho de Bragança é dos maiores produtores nacionais de castanha e a associação representa quatro aldeias, onde 160 agregados familiares contavam com o rendimento de mil toneladas deste fruto seco, que num ano normal rondaria 1,5 milhões de euros.

"Esta campanha será uma calamidade para os produtores de castanha e uma tragédia para a economia da região ", afirmou hoje, numa conferência de imprensa, Carlos Fernandes, presidente da associação de produtores, que vai pedir uma reunião urgente ao Ministério da Agricultura e medidas ao Governo para minimizar a situação.


Entre as medidas, a associação quer que o Governo pondere declarar situação de calamidade pública na produção do distrito de Bragança, criar uma linha de crédito para os produtores, isenção do pagamento de contribuições à Segurança Social e antecipação de subsídios.

A situação de seca extrema é a causa do problema, que não tem a ver com a falta de castanha, mas de condições para se desenvolver. "A castanha não tem calibre, não se conserva", afirmou Calos Fernandes, acrescentando que, se não chover na próxima semana, nem a castanha mais tardia, a Longal, irá salvar-se.

O maior problema é na conservação, como observou o presidente da junta de freguesia do Parâmio, Nuno Diz, "porque a castanha cai, já não tem humidade e, se não for logo apanhada, fica pilada (seca) e é impossível comê-la". A comercialização é outra preocupação dos produtores como Humberto Vaz que disse ter aparecido, na zona, um comerciante que dava 80 cêntimos por quilo, quando, num ano normal, a castanha nunca é paga a menos de um euro e meio. Segundo este produtor, não há intermediários à procura da castanha como nos anos anteriores e mesmo aquela que tem alguma qualidade, não a conseguem escoar.

Para evitar as consequências maiores da seca, Humberto apanha todos os dias a castanha que vai caindo e tem mil quilos para vender, à espera de comprador. Maria Pilar Afonso, outra produtora, disse que o que lhe querem pagar não dá para as jeiras (salário diário) das cinco pessoas que trabalham diariamente para ela.

"Queremos que, perante esta situação real de calamidade para os produtores, o Governo encontre medidas dentro das possibilidades orçamentais do Estado para atenuar os efeitos negativos desta situação perante os produtores", reiterou o presidente da associação. Carlos Fernandes pediu também aos intervenientes no circuito da comercialização da castanha "ética, respeito e honradez", que "respeitem os produtores e que não se aproveitem para pagar a preços baixos a boa castanha que ainda vai parecendo".

Se não chover, o presidente da associação arriscou dizer que "é a perda total da produção da castanha", com o risco acrescido de no próximo ano muitos dos castanheiros nem sequer rebentarem na floração.

Seca: Ministro do Ambiente acredita que não faltará água nas torneiras Por

O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, disse hoje à Lusa que a seca severa que se vive Portugal é "muito preocupante", mas acredita que não faltará água em nenhuma torneira do país. 

"É obviamente um dado preocupante e mais preocupante ainda é o que se lhe associa, e que é resultado dela, que é haver um conjunto de albufeiras do país que são usadas para consumo humano e para um conjunto de outros usos, nomeadamente de rega, onde neste momento a disponibilidade hídrica é inferior ao comum, nalguns casos é mesmo bastante preocupante", afirmou, na Maia, no distrito do Porto. 

À margem da cerimónia de assinatura dos contratos de financiamento de projetos de educação ambiental, o governante referiu que enquanto não chover e, mesmo depois de chover, é necessário que as pessoas sejam "muito cautelosas" na utilização da água.

Seca. Um país à espera que chova

IPMA revelou ontem que o mês de setembro de 2017 foi o mais seco dos últimos 87 anos e quase 90% do território está em seca severa ou extrema. Maioria das barragens em níveis críticos são usadas para rega


A seca está a afetar o país de norte a sul. E de região para região, as reações das populações são as mesmas. Ao i, vários comerciantes de cafés, restaurantes e cabeleireiros nas zonas das barragens mais afetadas disseram que a seca ainda não afetou o negócio, mas mostraram-se preocupados com o futuro. Alguns falam sobre os planos dos municípios, mas todos apontam para um problema maior: os efeitos da seca na agricultura e na produção de gado.

"Para não haver gastos de água desnecessários, a câmara emitiu um comunicado para a própria população", explica Lina Ramos, proprietária do restaurante O Mirante, situado na zona da Barragem do Roxo – cuja capacidade está nos 17,8% –, no concelho de Aljustrel, Baixo Alentejo. Entre as medidas, "foi proibido lavar carros e, por vezes, quintais", explica. Contudo, apesar de a população estar consciente do que a seca pode vir a significar, ninguém está preocupado. "Não é tema de conversa entre nós", diz Lina. "E não estamos a sentir efeitos da seca", pelo menos no que diz respeito ao abastecimento de água ao público.

Um pouco mais a norte, na região da Barragem de Vale do Gaio, em Alcácer do Sal – atualmente a 18,4% da capacidade – Sara Alves, do restaurante O Tordo, diz que a nível de restauração e de habitação ainda não houve dificuldades. O problema está, na agricultura, defende. Sara Alves tem uma herdade junto à barragem e explica que a situação está tão complicada que já não está "a dar água aos animais daí". Agora vem toda do Alqueva, porque a água nesta barragem já está imprópria para consumo devido ao baixo nível. Quanto a planos, "não está a haver, ainda não tivemos conhecimento de nada", apontando o facto de, por exemplo, as fontes continuarem a funcionar.

Em Viseu, o discurso é o mesmo, mas a população parece mais preocupada com as possíveis consequências da seca no quotidiano. Ana Coelho, proprietária do cabeleireiro, diz-se assustada. "Sem água nas torneiras não podemos trabalhar". A preocupação deve-se ao facto de Barragem de Fagilde ser uma das principais fontes de abastecimento de água do concelho e atualmente estar a apenas 22% da capacidade total, indicou ao i a câmara municipal de Viseu. "Esperemos que deus nos venha a acudir e nos mande uma chuvinha", remata Ana.

 

Os números

As barragens do Roxo, Vale do Gaio e Fragilde são três das 26 mais afetadas pela seca. Ao i, no entanto, Nuno Nascimento, chefe de gabinete do presidente da Câmara Municipal de Viseu, assegura que, apesar de se estar a viver uma "situação especial", está controlada. "Os valores deste ano ainda não ultrapassaram os valores do pior ano de sempre em termos de seca, que foi 2005 e em que a barragem chegou a ter apenas 8% da sua capacidade total", nota, acrescentando que "neste momento temos água para cerca de um mês e meio".

Já Elídio Martins, diretor da Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado, traça um cenário mais dramático, mas ainda assim contido. A entidade explora as barragens de Campilhas, Fonte Serne, Monte Gato e Monte Miguéis, que têm presentemente 3.7%, 29.2%, 9.6% e 12.1% da capacidade total de água e têm como principal uso a irrigação dos campos. Apesar de valores à primeira vista alarmantes – Elídio Martins diz mesmo que as quatro barragens estão neste momento "esgotas" –, a verdade é que "já foram feitas todas as culturas e neste momento já não há mais culturas para fazer e não houve prejuízos para ninguém", explica.

A tónica, agora, volta-se para o próximo ano. "Não temos qualquer água para o próximo ano", alerta. Na prática isso significa que, no improvável cenário de não chover entretanto, este inverno, "não se poderá cultivar nada", afirma Elídio Martins. "Agora só temos de esperar que venha a chuva", conclui. Cenário idêntico encontra-se entre os agricultores que dependem da barragem de Pego do Altar, em Alcácer do Sal, que está a 8% da capacidade. "A questão das culturas neste momento não é grave porque já acabaram", diz Gonçalo Lynce de Faria, da Associação de Beneficiários do Vale do Sado. O problema é o próximo ano, "mas até lá temos esperança de que chova. Agora, a grande preocupação é o gado, porque temos de manter alguma água nos canais".

Gonçalo Lynce de Faria admite, no entanto, que "os 8% de água que existe na barragem já não dão para nada, porque é necessário manter o volume de água para os peixes".

De acordo com um levantamento feito pelo i no Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos, das 26 barragens que estão abaixo de 50% de capacidade (ver mapa ao lado), 12 são usadas para irrigação, cinco para abastecimento da população e as restantes para produção de energia. Em alguns casos, a água não está muito abaixo do ano passado, mas noutros houve quebras de mais de metade face às reservas em setembro de 2016.

Em julho, a REN chegou a admitir que o facto de as barragens estarem abaixo dos valores normais prejudica a produção de energia hidroelétrica, o que o sistema tem compensado com mais produção térmica.

Já ontem, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera fez um balanço do mês de setembro: foi o mais seco dos últimos 87 anos. Aumentou a área em situação de seca severa e extrema, que abrange 88,4% do território. O solo está cada vez mais seco, em particular no interior e no Sul do país. Para os próximos dias, há alertas redobrados. A Proteção Civil emitiu um aviso de perigo de incêndio: as temperaturas vão subir até domingo.

Perigo de incêndio

• A Autoridade Nacional de Proteção Civil emitiu ontem um aviso à população sobre o perigo de incêndio. As temperaturas vão subir até domingo, com uma redução da humidade no ar.

• A Proteção Civil destaca o risco muito elevado e máximo de incêndio na região do Algarve e regiões do Interior

• A fase Charlie foi prolongada até dia 15 por isso mantém-se a proibição de queimadas, fogueiras ou qualquer lume em espaços florestais

 

Atenção aos banhos

• A maioria das praias já está sem vigilância mas a temperatura continua a pedir mergulhos. A Autoridade Marítima Nacional recomenda cuidados redonrados, até porque o mar pode enganar e já não há bandeiras vermelhas a avisar os banhistas.

• Este ano morreram 11 pessoas nas praias portuguesas: três em praias vigiadas, seis em praias sem vigilância e duas em praias fluviais vigiadas.

• Este ano apenas Albufeira antecipou que a estação podia não mudar tão rápido e previu desde o início manter vigilância nas praias até dia 15 de outubro. Entretanto Cascais também prolongou a época balnear até à mesma data.

 

Beatriz Dias Coelho e Marta F. Reis      

OE 2018: Agricultores querem medidas contra a seca



Presidente da Confederação dos Agricultores acusa Governo de incapacidade financeira para reforçar a componente nacional no âmbito das ajudas comunitárias

2017-10-06 19:25

O presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) solicitou esta sexta-feira que no Orçamento do Estado para 2018 (OE2018) estejam consagradas medidas para fazer face ao período de "seca fora do vulgar".

É fundamental que o Governo olhe também para as consequências dessa seca e sejam criadas medidas que permitam enfrentá-la", dotando o setor agrícola de "instrumentos financeiros que possam levar o setor a cumprir a sua missão", afirmou Eduardo Oliveira e Sousa, após ser recebido pelo Presidente da República, no Palácio de Belém, em Lisboa.

O president da CAP indicou ainda que as consequências da seca são diversas, e relacionam-se com ocorrências como os fogos florestais, mas também com a redução da capacidade produtiva, com implicações na criação do gado, com a diminuição de água no regadio e ainda com a antecipação das colheitas.

Temos de criar quase um ministério contra a seca para sabermos como vamos lidar com esta ausência de queda pluviométrica, com calor de 30 e tal graus em outubro, com oito meses sem chuva… É tudo novo", elencou.

"Incapacidade financeira"
Eduardo Oliveira e Sousa precisou também que a comparticipação nacional no apoio aos agricultores é de 16%, defendendo que "era bom que fosse 20% ou 25% no horizonte de alguns anos", criticando a falta de dinheiro para aplicar pelo Governo.

A CAP manifestou ao senhor Presidente [da República] uma enorme apreensão face à incapacidade financeira que o Governo tem demonstrado no sentido de reforçar a componente nacional no âmbito das ajudas comunitárias diretamente relacionadas com o investimento na agricultura", disse o responsável, que falava aos jornalistas no Palácio de Belém depois de ter sido recebido pelo chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa.ositivo nos últimos anos, [mas] se não houver um reforço das verbas que complementam as ajudas que vêm da União Europeia o setor sofrerá com essa diminuição", alertou.

Produtores de leite querem aumento do preço para acompanhar "evolução positiva" do mercado


Os produtores de leite reafirmam hoje a necessidade de aumentar o preço do leite ao produtor para um valor base de 35 cêntimos por litro de leite, valor que consideram necessário para remunerar o custo atual de produção.

Em comunicado, a Associação dos Produtores de Leite de Portugal (APROLEP), citando os últimos dados revelados pela Comissão Europeia, recorda que Portugal tinha em julho "o terceiro pior preço entre os 28 estados da União Europeia".

"Nos últimos sete anos, Portugal esteve 6 anos e 8 meses abaixo da média comunitária", sublinha a APROLEP, acrescentando que o preço médio pago em julho ao produtor foi de 28,7 cêntimos/kg de leite português, face a um preço médio de 34,2 cêntimos/kg na Europa, o que significava uma diferença de 5,5 cêntimos em cada kg produzido.

Os produtores consideram ainda que os aumentos entre um a dois cêntimos/kg entretanto anunciados por algumas indústrias para agosto e setembro "são claramente insuficientes para atingir o custo de produção e o preço médio da Europa" e lembram que as principais indústrias do norte da Europa anunciaram aumentos que colocam os seus produtores com preços a rondar ou ultrapassar os 40 cêntimos/kg.


"Essa evolução é a consequência natural do mercado de produtos lácteos, nomeadamente da valorização da manteiga, cujo preço aumentou 74% no último ano, segundo dados também divulgados pela Comissão Europeia", sustenta a APROLEP.

A associação considera que "a indústria do norte da Europa valoriza o leite e partilha esse valor com os seus produtores", enquanto em Portugal produtores e indústrias se preparam para "acumular mais uma vez resultados elevados".

Enquanto isso, insiste a APROLEP, "o setor produtivo vai morrendo, com vacarias a fechar ou a arrastar-se penosamente, sem poder aproveitar a onda positiva da produção de leite na Europa".

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Até quando vai durar este outubro de verão? Pelo menos mais uma semana

7/10/2017, 13:431.043


"Outubro quente traz o diabo no ventre", mas para os banhistas fora de época o tempo bom veio a calhar. Até quando vai durar este outubro solarengo?

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O tempo quente deve-se a uma massa de ar quente e seco transportada por um anticiclone a sudoeste das ilhas britânicas.
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Diz a sabedoria popular que "outubro quente traz o diabo no ventre", mas para os banhistas fora de época o tempo quente veio a calhar — e pelo menos mais uma semana de praia (para quem pode) espera os portugueses. Segundo declarações do IPMA ao Observador, "tudo aponta para que durante a próxima semana se irá manter este tempo quente e seco".

"As temperaturas altas neste mês já de outono não são um fenómeno incomum", explicou Ângela Lourenço, meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), ao Observador. Não é raro haver bom tempo em outubro, mas há vários dias consecutivos que os termómetros superam os 30ºC. E pelo menos até dia 14 deste mês "não se vislumbra precipitação", adiantou-nos a meteorologista.


Durante este fim de semana as temperaturas em todo o país devem subir, com valores a variar entre os 28 e os 32 graus de máximas. As temperaturas mais altas vão sentir-se no interior do Alentejo, com valores a chegar aos 35º. No sul, a temperatura da água rondará os 21ºC.

Seca "começa a ser preocupante"

No entanto, o diabo no ventre de outubro pode estar na seca que se regista em todo o território. "Começa a ser preocupante", explica o IPMA ao Observador.

A meteorologista admite que o tempo poderá mudar na segunda quinzena. Não é invulgar haver meses de outubro quentes, principalmente até ao final da primeira quizena — por vezes, a segunda quinzena é o período em que se dá verdadeira transição de estação. O que preocupa o instituto é a expectativa de falta de chuva continuar até ao final do mês.

As previsões de longo prazo são "muito falíveis", mas o tempo seco de outubro não está a ajudar a evitar as secas depois de o mês de setembro ter sido o mais seco dos últimos 87 anos.

As temperaturas altas conjugadas com a seca têm levado à propagação de alguns incêndios no território nacional, ainda a serem controlados pelos bombeiros.

domingo, 8 de outubro de 2017

Seca é "muito preocupante", mas não vai faltar água nas torneiras de ninguém


06 DE OUTUBRO DE 2017 - 22:09
João Matos Fernandes apelou à cautela na utilização da água, mesmo depois de chover.

O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, disse à Lusa que a seca severa que se vive Portugal é "muito preocupante", mas acredita que não faltará água em nenhuma torneira do país.

"É obviamente um dado preocupante e mais preocupante ainda é o que se lhe associa, e que é resultado dela, que é haver um conjunto de albufeiras do país que são usadas para consumo humano e para um conjunto de outros usos, nomeadamente de rega, onde neste momento a disponibilidade hídrica é inferior ao comum, nalguns casos é mesmo bastante preocupante", afirmou, na Maia, no distrito do Porto.

À margem da cerimónia de assinatura dos contratos de financiamento de projetos de educação ambiental, o governante referiu que enquanto não chover e, mesmo depois de chover, é necessário que as pessoas sejam "muito cautelosas" na utilização da água.


João Matos Fernandes lembrou que, desde o início e sem imaginar a dimensão do problema, garantiu que a água não ia faltar nas torneiras de ninguém e, até à data, sublinhou, é verdade.

"Vamos acreditar firmemente que este mês vamos encontrar uma solução provisória que obviara ao problema tão complexo que é o de não ter água na torneira, continuamos a acreditar que isso não vai acontecer no país, tendo naturalmente a expectativa que se cumpra o ciclo natural", salientou.

O ministro sustentou que proibir não é solução, o que é importante é partilhar com as pessoas a informação disponível, tendo recebido das autarquias, cujo grau de preocupação é tão grande como o do Governo, e das associações de regantes uma "grande solidariedade".

"Nós sentimos que o Governo fez o que tinha a fazer em face deste problema natural que existe e, pela primeira vez, Portugal tem um plano de combate à seca, aprovado no início do verão, e tem feito através da comissão de albufeiras um acompanhamento, em alguns casos, diário, nomeadamente no Alentejo e na Bacia do Sado", sustentou.

Mais de 80% de Portugal continental encontrava-se em setembro em seca severa, segundo o Boletim Climatológico do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que caracterizou aquele mês como "extremamente quente".

De acordo com os dados mais recentes, a quantidade de água armazenada em setembro voltou a descer em todas as bacias hidrográficas de Portugal continental monitorizadas.

No início da semana, o secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, admitiu no final da reunião da Comissão de Gestão de Albufeiras o risco iminente de escassez de água nos concelhos servidos pela Barragem de Fagilde, no distrito de Viseu, se continuar a não chover.

A seca já levou o Governo a decretar apoios excecionais aos agricultores para captação de água, nomeadamente nos distritos alentejanos de Évora, Beja e Portalegre e nos concelhos de Alcácer do Sal, Grândola e Santiago do Cacém, banhados pelo Sado.

A próxima reunião da Comissão de Gestão de Albufeiras será realizada dentro de duas semanas, na Administração da Região Hidrográfica do Centro, para "ver que medidas podem ser tomadas para tentar minimizar os problemas".

O setor pecuário é o mais afetado pela falta de chuva

Seca. Agricultores do Alto Alentejo vivem situação "dramática"
6/10/2017, 12:33
A presidente da Associação de Agricultores do Distrito de Portalegre descreve a situação como "dramática" e diz que o governo tem de "atribuir uma ajuda por animal". 81% do país está em seca severa.

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LUSA


A presidente da Associação de Agricultores do Distrito de Portalegre, Fermelinda Carvalho, considerou esta sexta-feira "dramática" a situação que se vive nos campos do Alto Alentejo devido à falta de chuva, sendo o setor pecuário o mais afetado.

A situação é dramática, as reservas de água particulares de muitos agricultores não têm quase nada, existem charcas completamente vazias, existem também furos com o mínimo de água e os terrenos estão completamente em pó", lamentou a dirigente, em declarações à agência Lusa.

A presidente da Associação de Agricultores do Distrito de Portalegre (AADP) acrescentou que se está a atravessar um ano "muito mau" para os produtores de gado, uma vez que estão a alimentar há vários meses os animais com forragens e rações, adquirindo essa alimentação a preços "bastante elevados".

"Os agricultores estão muito preocupados com aquilo que já estamos a viver, com aquilo que não temos, mas também muito preocupados porque não sabemos quando vai chover. Em cada semana que não chove a situação agrava-se muitíssimo mais", alertou.

Fermelinda Carvalho relatou ainda que os agricultores estão nesta altura a iniciar os trabalhos de campo para desenvolver as culturas de outono/inverno, "sem saber o que está para acontecer" em relação ao estado do tempo nos próximos dias.

Para minimizar os prejuízos já causados pela falta de chuva, a presidente da AADP defende que o Estado deverá atribuir "uma ajuda por animal", para apoiar o investimento que está a ser feito pelos agricultores na compra de forragens e rações.

As associações têm que pressionar e fazer sentir ao Ministério da Agricultura que não é estar a pedir mais [dinheiro], é um apoio que faz sentido porque vivemos um ano excecional, um ano péssimo, um ano horrível e que os agricultores precisam de ajuda", disse.
Mais de 80% de Portugal continental encontrava-se em setembro em seca severa, segundo o Boletim Climatológico do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que caracterizou aquele mês como "extremamente quente".

De acordo com o boletim, disponível na página do IPMA na Internet, em setembro registou-se um aumento da área em situação de seca severa e extrema.

Segundo o IPMA, a 30 de setembro cerca de 81% do território estava em seca severa, 7,4% em seca extrema, 10,7% em seca moderada e 0,8% em seca fraca.

No final de agosto, 58,9% do território estava em seca severa e 0,7% em seca extrema.

No documento, o instituto realça que a 30 de setembro se verificou que em grande parte das regiões do interior e no sul de Portugal continental os valores de água no solo eram inferiores a 20%.

O IPMA informa também que o dia 30 de setembro correspondeu ao final do ano hidrológico 2016/2017 (01 de outubro de 2016 a 30 de setembro de 2017).

"Neste período, o total de precipitação acumulado foi de 621,8 milímetros (70% do normal), sendo o 9.º valor mais baixo desde 1931″, é referido no documento.

No início da semana, o secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, admitiu no final da reunião da Comissão de Gestão de Albufeiras o risco iminente de escassez de água nos concelhos servidos pela Barragem de Fagilde, no distrito de Viseu, se continuar a não chover.

A seca já levou o Governo a decretar apoios excecionais aos agricultores para captação de água, nomeadamente nos distritos alentejanos de Évora, Beja e Portalegre e nos concelhos de Alcácer do Sal, Grândola e Santiago do Cacém, banhados pelo Sado.

A próxima reunião da Comissão de Gestão de Albufeiras será realizada, dentro de duas semanas, na Administração da Região Hidrográfica do Centro para "ver que medidas podem ser tomadas para tentar minimizar os problemas".

CAP quer reforço do investimento na agricultura

O presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Eduardo Oliveira e Sousa, defende que a proposta de Orçamento do Estado para 2018 (OE2018) deve ter em atenção as infraestruturas hidráulicas e reforçar as verbas destinadas ao setor.

"Partindo do princípio que as condições climáticas se alteraram, temos que infraestruturar melhor o país para promover ainda mais a distribuição de água aos agricultores. (...) Outro assunto muito importante é o reforço das verbas destinadas ao setor", disse à Lusa, quando questionado sobre o que gostaria de ver inscrito na proposta de OE2018.

Eduardo Oliveira e Sousa referiu ainda que a barragem do Alqueva é um modelo que deve ser replicado, de modo a promover a distribuição de água.

Porém, o responsável alertou para que o país não tem condições para outra infraestrutura daquela dimensão, por isso o assunto deve ser estudado, tendo em atenção as alterações do clima.

"O Alqueva hoje é um exemplo emblemático, não é necessário fazer mais 'alquevas' daquele tamanho, porque não temos território para isso, mas temos aquele modelo e precisa de ser replicado", sublinhou.

No que concerte à atribuição de verbas aos agricultores, o presidente da CAP defende que o Governo deve pressionar as instituições comunitárias, de modo a reforçar o pacote financeiro de promoção de investimento na área agrícola, dando especial destaque aos jovens produtores.

A proposta de OE2018 será entregue pelo Governo no parlamento no dia 13 de outubro.

Seca: "Os terrenos estão completamente em pó"



Produtores de gado estão a atravessar um "ano muito mau" e há vários meses que estão a alimentar os animais com forragens e rações, adquirindo essa alimentação a preços "bastante elevados"

2017-10-06 12:33 / AM
 
A presidente da Associação de Agricultores do Distrito de Portalegre, Fermelinda Carvalho, considerou "dramática" a situação que se vive nos campos do Alto Alentejo devido à falta de chuva, sendo o setor pecuário o mais afetado.

A situação é dramática, as reservas de água particulares de muitos agricultores não têm quase nada, existem charcas completamente vazias, existem também furos com o mínimo de água e os terrenos estão completamente em pó", lamentou a dirigente, em declarações à agência Lusa.

A presidente da Associação de Agricultores do Distrito de Portalegre (AADP) acrescentou que se está a atravessar um ano "muito mau" para os produtores de gado, uma vez que estão a alimentar há vários meses os animais com forragens e rações, adquirindo essa alimentação a preços "bastante elevados".

Os agricultores estão muito preocupados com aquilo que já estamos a viver, com aquilo que não temos, mas também muito preocupados porque não sabemos quando vai chover. Em cada semana que não chove a situação agrava-se muitíssimo mais", alertou.

Fermelinda Carvalho relatou ainda que os agricultores estão nesta altura a iniciar os trabalhos de campo para desenvolver as culturas de outono/inverno, "sem saber o que está para acontecer" em relação ao estado do tempo nos próximos dias.

Para minimizar os prejuízos já causados pela falta de chuva, a presidente da AADP defende que o Estado deverá atribuir "uma ajuda por animal", para apoiar o investimento que está a ser feito pelos agricultores na compra de forragens e rações.

As associações têm que pressionar e fazer sentir ao Ministério da Agricultura que não é estar a pedir mais [dinheiro], é um apoio que faz sentido porque vivemos um ano excecional, um ano péssimo, um ano horrível e que os agricultores precisam de ajuda", disse.

Mais de 80% de Portugal continental encontrava-se em setembro em seca severa, segundo o Boletim Climatológico do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que caracterizou aquele mês como "extremamente quente".

De acordo com o boletim, em setembro registou-se um aumento da área em situação de seca severa e extrema.

Segundo o IPMA, a 30 de setembro cerca de 81% do território estava em seca severa, 7,4% em seca extrema, 10,7% em seca moderada e 0,8% em seca fraca.

No final de agosto, 58,9% do território estava em seca severa e 0,7% em seca extrema.

No documento, o instituto realça que a 30 de setembro se verificou que em grande parte das regiões do interior e no sul de Portugal continental os valores de água no solo eram inferiores a 20%.

O IPMA informa também que o dia 30 de setembro correspondeu ao final do ano hidrológico 2016/2017 (01 de outubro de 2016 a 30 de setembro de 2017).

"Neste período, o total de precipitação acumulado foi de 621,8 milímetros (70% do normal), sendo o 9.º valor mais baixo desde 1931", é referido no documento.

No início da semana, o secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, admitiu no final da reunião da Comissão de Gestão de Albufeiras o risco iminente de escassez de água nos concelhos servidos pela Barragem de Fagilde, no distrito de Viseu, se continuar a não chover.

A seca já levou o Governo a decretar apoios excecionais aos agricultores para captação de água, nomeadamente nos distritos alentejanos de Évora, Beja e Portalegre e nos concelhos de Alcácer do Sal, Grândola e Santiago do Cacém, banhados pelo Sado.

A próxima reunião da Comissão de Gestão de Albufeiras será realizada, dentro de duas semanas, na Administração da Região Hidrográfica do Centro para "ver que medidas podem ser tomadas para tentar minimizar os problemas".