sábado, 25 de novembro de 2017

Câmara de Matosinhos desliga rega automática dos jardins


21/11/2017, 23:27191
Câmara Municipal de Matosinhos, no distrito do Porto, decidiu desligar a rega automática dos jardins para poupar água e fazer face à situação de seca que se vive no país, anunciou a presidente.

A Câmara Municipal de Matosinhos, no distrito do Porto, decidiu desligar a rega automática dos jardins para poupar água e fazer face à situação de seca que se vive no país, anunciou nesta terça-feira a presidente. Durante a reunião pública do executivo municipal, Luísa Salgueiro referiu que nos locais onde a rega é imprescindível essa está a ser feita com recurso à água de um riacho subterrâneo, ou seja, sem recurso ao abastecimento público.

Além disso, a autarca socialista adiantou que as fontes funcionam em circuito fechado, não consumindo água de consumo público. Luísa Salgueiro vincou que, "felizmente", o concelho não tem sentido os efeitos da seca, mas poupar água é uma tarefa de todos e é para o bem de todos, daí estas primeiras medidas.

"Apelo à população que faça poupança de água e que nos acompanhe nesta campanha", afirmou. De acordo com o índice meteorológico de seca do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), a 15 de novembro, verificou-se um aumento da área em situação de seca extrema em todo o território de Portugal Continental. Segundo o IPMA, a 15 de novembro cerca de 6% do território estava em seca severa e 94% em seca extrema.

“É uma tolice achar que o problema da seca se resolve no dia em que começar a chover”, diz ministro do Ambiente


21/11/2017, 23:33

Ministro do Ambiente diz que são preciso dois ou três meses chuvosos para resolver parte do problema da seca. E diz que situação é "grave" e que no Alentejo há reservas para apenas dez meses.


O ministro do Ambiente avisa que a situação de seca "é grave" e alerta para a necessidade de "poupar água", quando os principais sistemas de abastecimentos do país já dão sinais alarmantes: a barragem de Fagilde está a ser abastecida por camiões-cisterna, tendo reservas para um mês e "em todos os outros sistemas abastecidos por águas superficiais, existe água mais ou menos para dez meses". Só os sistemas como o do Alqueva, Castelo do Bode e Douro e Paiva é que a situação "não é preocupante", apesar de já existirem alguns sinais de alerta, avisa João Pedro Matos Fernandes.


Numa entrevista à TVI24, o ministro do Ambiente disse que perante este quadro de seca, há "uma dupla tolice: achar que no dia em que começar a chover o problema da seca se resolve e, mesmo quando se resolver, continuará a ser uma tolice não se fazer um uso muito cuidadoso da água". A situação mais grave é em Fagilde, a barragem perto de Viseu, mas Matos Fernandes diz que há problemas noutros sistemas "abastecidos por águas superficiais — sobre águas subterrâneas existe informação menos fina e é só para abastecer pequenos aglomerados" — e faz um balanço, tendo em conta os níveis de chuva que existem até agora:

Em Fagilde há água para mais um mês;
Na Estação de Tratamento de "Água do Monte da Rocha, no Alentejo, existe para dez meses", exemplifica o ministro;
"Em sistemas como o Alqueva, Castelo do Bode ou Douro e Paiva, a situação não é preocupante, apesar de já começarem a aparecer azimutes", que comprometem a qualidade da água.
Estas reservas, admite Matos Fernandes, "podem ser prolongadas se se conseguir reduzir os consumos" e apesar de não querer "alarmar" — até porque "está a chegar o Inverno e vem aí uma semana de chuva" –, o ministro também diz que "o passo seguinte" para responder à situação de seca severa e a problemas específicos de abastecimento de água passar pela "sugestão muito concreta" às autarquias para que reduzam a pressão na rede: "Perde-se menos agua, o débito é menor, o consumo também é menor e a maior parte das pessoas não sente".



De manhã, o ministro tinha dito que o racionamento de água seria o "fim de linha" e na entrevista televisiva acabou por afirmar que acredita que o país "vai ultrapassar" a situação "sem alarme, nem racionamento", apontando "dois problemas" desta medida: "Provoca o encher de banheiras e só pode ser pensado pontualmente, para situações muito graves, em que se reduza o consumo durante alguma horas e em alguns sítios".

Quanto tem de chover para a situação ficar resolvida? "Se tivermos 2 ou 3 meses chuvosos a partir daqui, o problema fica sanado em boa parte", responde o ministro que logo a seguir diz que se chover uma semana "não se resolvem os problemas, mas a chuva é suficiente para imediatamente baixar os consumos, haver mais humidade e as pessoas gastarem menos água".

Para minimizar seca vão 100 litros de água por segundo de Alqueva à Vigia



21 nov, 2017 - 10:38 • Rosário Silva

Agricultores já reduziram os consumos e toneladas de peixes foram retirados de albufeiras.

No Alentejo, o reduzido volume de armazenamento de água na barragem da Vigia, concelho de Redondo (Évora), foi nos últimos meses uma das situações que mais preocupou as autoridades. No final de Setembro, estava preenchida, apenas, 10% da sua capacidade.

Foi a primeira a ser alvo de uma operação de remoção de 150 toneladas de peixe decidida para quatro albufeiras da região, no final do mês de Agosto, e os agricultores do perímetro de rega foram forçados a reduzir os consumos de água nas suas culturas, devido à seca, para acautelar o abastecimento público.

Em 2015, o Perímetro de Rega da Vigia ficou ligado ao Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva através da albufeira do Monte Novo (Évora), beneficiando várias centenas de parcelas agrícolas.

Em ano de seca extrema e severa, houve necessidade de salvaguardar o abastecimento público dos sete mil habitantes do concelho de Redondo e há dois meses que a água da "barragem mãe de todas as barragens" passa, também, pela Estação de Tratamento de Água (ETA) da Vigia.

"A solução que encontrámos para minimizar os efeitos da seca no abastecimento público, passou pela ligação directa de Alqueva à ETA da Vigia", conta à Renascença o presidente da Câmara de Redondo, numa intervenção que envolveu a empresa Águas de Lisboa e Vale do Tejo, a Associação de Beneficiários da Obra da Vigia e o próprio município.

"Estão a chegar à ETA 105 litros de água por segundo", revela António Recto. O autarca explica que a população consome "cerca de 60 a 70% dessa água", o excedente segue a céu aberto para a barragem. "Neste momento deve estar a armazenar ainda muito pouco, entre 10 a 12% da sua capacidade, que é, no total, de 15 milhões 725 metros cúbicos", acrescenta.

Mas se a questão do abastecimento público à população está resolvida, o mesmo não se pode dizer das incertezas que se colocam ao sector agrícola, motor da economia do concelho. António Recto alude, também, aos problemas que já se colocam ao abeberamento do gado: "É outra das dificuldades que estamos a ter, e a própria câmara já transporta água, que tira de alguns poços, para fazer chegar a algumas explorações pecuárias."

Desde Maio que o presidente da Câmara de Redondo tem a seca no topo da sua agenda. Garante que por parte de todas as entidades com quem tem trabalhado, Governo incluído, "tem existido um empenho total". Só falta mesmo, desabafa, "uma ajuda divina".

Foto: Rosário Silva/RR
Foto: Rosário Silva/RR
Produtores com despesas acrescidas

Na Herdade do Carapetal, a quatro quilómetros da vila de Redondo, há cerca de quatro centenas de bovinos que é preciso cuidar. O proprietário, Olaf Maat, holandês há 30 anos no Alentejo, gere a exploração pecuária de bovinos de leite, com 110 hectares.

"Já tivemos anos de seca, mas como este ano ainda não tínhamos tido", confessa à Renascença o empresário.

Juntamente com a mulher, Teresa, dedicam-se à actividade de produção leiteira e, paralelamente, à produção forrageira para alimentação do efectivo da exploração.

"Produzimos forragens que armazenamos sob a forma de silagem para alimentação das nossas vacas e, desse ponto de vista, não temos problemas este ano, mas se não chover, o próximo ano vai ser complicado", diz Olaf Maat.

Dar de beber aos animais torna-se, neste ano de seca, a maior preocupação do casal: "Habitualmente é através de furos e poços, mas por causa da seca, estamos a utilizar a água da rede pública, que é muito cara e encarece muito a nossa actividade."

São despesas acrescidas para os agricultores numa região à espera que chova. "Precisamos muito de chuva pois sem chuva não conseguimos fazer nada", murmura o empresário.

Maioria dos consumidores compra frequentemente produtos portugueses - estudo


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A maioria dos consumidores (65,6%) compra produtos portugueses frequentemente e quase metade (48,4%) gasta entre 51% e 75% da sua despesa total mensal em produtos nacionais, segundo um estudo apresentado hoje.

A conclusão consta do "estudo de notoriedade da marca", elaborado pelo ISEG -- Lisbon School of Economics & Management (CEGE), apresentado hoje durante o II Fórum Portugal Sou Eu, no Centro de Congressos de Lisboa.

O estudo, realizado junto de 1.200 consumidores e apresentado por Helena Martins Gonçalves, do ISEG, revela que 84,5% dos consumidores procuram a origem do produto e, destes, 76% procuram a indicação da origem do produto ou um selo (42,8%).

"Os resultados são claros e apontam para um aumento, em comparação com o estudo feito em 2014, dos consumidores que compram produtos portugueses frequentemente (65,6% em 2017 e 62,4% em 2014) e dos que tentam comprar produtos portugueses sempre que existam (68,6% em 2017 e 58,7% em 2014", avança o estudo.

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De acordo com o documento, a preocupação do consumidor em relação à origem continua a ser maior nos produtos alimentares, com 94,6% para os azeites e vinhos e mais de 80% nas frutas, legumes, pão, pastelaria, peixe, carne e derivados e queijos.

A satisfação com os produtos portugueses registou um aumento, com 92,8% dos consumidores inquiridos a manifestarem-se satisfeitos.

O estudo diz ainda que a qualidade prevalece sobre o preço em quase todas as categorias, com destaque para os bens alimentares.

Em relação aos gastos, 48,4% dos consumidores inquiridos afirma que gasta entre 51% a 75% da sua despesa mensal total em produtos portugueses, contra 41,6% em 2014.

Os motivos que conduzem à compra da produção nacional revelam que 89% acreditam que estão a criar emprego, 87% a ajudar Portugal a ser uma economia forte, 78% a apoiar as empresas nacionais e 77% a ajudar a melhorar o défice.

O programa "Portugal Sou Eu", lançado em 2012 pelo Governo, conta com a adesão de cerca de 1.700 empresas, que qualificaram mais de 5.700 produtos, representando um volume de negócios agregado superior a 6,5 mil milhões de euros e mais de 46 mil postos de trabalho.

Cerca de 68% dos produtos aos quais foi atribuído o selo "Portugal Sou Eu" pertencem aos setores da alimentação, bebidas, agricultura e pescas.

Pedrógão: Governo divulga pontos do capítulo 6 autorizados pela Comissão de Dados


Jornal Económico com Lusa
01:42

Apesar do veto, a Comissão Nacional de Proteção Dados autorizou a publicação de alguns pontos do capítulo 6, desde que previamente sejam colocados no anonimato "alguns elementos que podem permitir indiretamente a identificação dos intervenientes" e que "cada um dos intervenientes der o consentimento".


O governo divulgou hoje alguns pontos do capítulo 6 do relatório sobre os incêndios de Pedrógão Grande, que fazem uma análise detalhada a casos de sobrevivência, a vítimas mortais encontradas e a problemas nas comunicações.

Os pontos em causa no relatório elaborado pelo Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra, analisam várias situações, entre elas casos de sobrevivência por as pessoas terem permanecido em casa ou em tanques de água, alguns feridos que foram socorridos, as pessoas que foram encontradas já sem vida, mas salvaguardam a identidade dos envolvidos, bem como alguns dos locais onde ocorreram as situações.

A Comissão Nacional de Proteção Dados (CNPD) vetou a publicação integral do capítulo 6 do relatório elaborado por Domingos Xavier Viegas sobre os incêndios de Pedrógão Grande, permitindo apenas que os familiares das vítimas tenham acesso à informação.

Apesar do veto, a Comissão Nacional de Proteção Dados autorizou a publicação de alguns pontos do capítulo 6, desde que previamente sejam colocados no anonimato "alguns elementos que podem permitir indiretamente a identificação dos intervenientes" e que "cada um dos intervenientes der o consentimento".

Especialista dos EUA que previu os grandes fogos avisa: “Pode haver mais duas a três temporadas de incêndios como este ano”


24 Novembro 2017885

Vera Novais
Em 2009, Mark Beighley previu que os incêndios de 2017 podiam acontecer. Agora volta a dizer que podem repetir-se. Critica os bombeiros, as leis contra incendiários e as políticas. E já avisou Costa.

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Quando em maio deste ano, Mark Beighley veio de férias a Portugal, estava longe de imaginar o que estava para acontecer. Os incêndios graves de junho e outubro criaram as condições para o especialista em fogos florestais voltar ao país como consultor na área. Afinal, tinha sido ele a prever, em 2009, que um incêndio devastador podia acontecer em Portugal no prazo de dez anos.

A previsão tinha sido feita por Mark Beighley e o coautor A. C. Hyde no relatório pedido pelo grupo Portucel-Soporcel – Avaliação da Gestão e Capacidade de Resposta aos Incêndios Florestais. Os autores identificaram, com uma probabilidade de 5%, que num ano de seca extrema os fogos florestais em Portugal podiam queimar mais de 500 mil hectares. Era um cenário extremo, que muitas pessoas julgaram exagerado. Mas aconteceu. Aconteceu este ano e o especialista não descarta que possa voltar a acontecer nos próximos anos.

"Em muitas zonas de Portugal, encontram-se já reunidos os principais ingredientes de um incêndio devastador, exceto um: o próximo episódio provocado pelas condições meteorológicas", escreveram os autores do relatório em 2009.


Previsão de risco de incêndio para os dez anos depois da elaboração do relatório (2009). A verde, os anos benignos de incêndios (como tinha acontecido em 2007 e 2008); a amarelo, um cenário de incêndios extremos (como os de 2003 e 2005); a vermelho, um cenário que nunca tinha acontecido e cuja probabilidade era de 5% (aconteceu em 2017) – Beighley&Hyde (2009) Relatório Portucel-Soporcel

Afocelca

A Afocelca é um agrupamento complementar de empresas do grupo The Navigator Company e do grupo Altri que tem como missão apoiar o combate aos incêndios florestais nas propriedades das empresas agrupadas. A Afocelca trabalha em coordenação e colaboração com a Autoridade Nacional de Proteção Civil.

Durante as férias, Mark Beighley ligou ao amigo Tiago Oliveira para combinarem um jantar, mas o resultado foi que o então Gestor da Proteção Florestal da empresa The Navigator Company (antiga Portucel-Soporcel) lhe pediu que atualizasse o relatório que tinha produzido em 2009. Tiago Oliveira considerava que tudo o que estava no relatório era ainda relevante, mas a data marcada na capa não ajudava. Além disso, era preciso juntar os dados dos incêndios até 2016 e voltar a avaliar o desempenho da Afocelca (uma empresa privada de combate a incêndios).

Antes mesmo de conseguirem acordar uma data para começarem a fazer o trabalho de campo, chegou junho e os incêndios de Pedrógão Grande e Góis. A extensão dos incêndios e a morte de 64 pessoas obrigaram a que a ideia ficasse suspensa até que o ambiente estivesse mais sereno para se tocar no assunto. Com os incêndios de outubro, Mark Beighley, que trabalhou nos Serviços Florestais dos Estados Unidos, sentiu que era imperativo o regresso a Portugal como consultor.

"Eu quero mesmo que isto funcione. Se pagarem as minhas despesas, volto de borla e fazemos isto", disse o especialista a Tiago Oliveira, agora presidente da recém-criada Estrutura de Missão para a Instalação do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais.


Durante três semanas, Mark Beighley voltou a correr o país e tentou entrevistar muitas das pessoas com quem tinha falado para elaborar o relatório de 2009. A resposta foi comum a muitas delas: "Basta mudar esta data para 2017, porque está tudo na mesma". Mas o especialista norte-americano não concorda: "Não é bem verdade, porque na realidade está tudo um bocadinho pior".

Muito do que faltava em 2009 continua a faltar

Quando Mark Beighley esteve em Portugal em 2009, para elaborar o relatório para a Portucel-Soporcel, "a ideia era fazer uma revisão completa do sistema de combate a incêndios em Portugal". Uma questão particularmente importante para a empresa, que queria reduzir o dinheiro gasto com os serviços da Afocelca. Mas, para isso, precisava de ter garantias de que os meios disponibilizados pelo Estado para o combate a incêndios era suficiente.

Para conseguir uma imagem o mais abrangente possível, Mark Beighley percorreu o país e entrevistou quase 60 pessoas das áreas relacionadas com o assunto: das associações florestais aos professores universitários, dos bombeiros, à ANPC e à GNR. O que mais o irritou foi o facto de José Honório, o então presidente da Portucel-Soporcel, não ter facilitado a divulgação do documento. "As pessoas entrevistadas nunca tiveram oportunidade de ver este relatório — o que me deixou aborrecido. Sempre que fazemos um relatório queremos receber um feedback das pessoas."


No relatório de 2009, Mark Beighley, com mais de 40 anos de experiência em gestão de fogos florestais, apresentou os três pilares essenciais para lidar com este problema: a prevenção — especificamente, a redução ou eliminação das ignições (início dos incêndios); a redução de combustíveis (como ervas e matos secos, lenha e excesso de árvores); e o combate aos incêndios, propriamente dito.

"Tentei enfatizar que só quando os dois primeiros pilares falham é que é preciso recorrer ao último. Mas, em Portugal, tudo o que se tem feito é no último pilar." Um problema que, segundo o especialista, é típico dos países que têm problemas com incêndios. "É mais fácil investir em mais helicópteros e aviões de combate a incêndios, atirar dinheiro para o problema e ver se, com sorte, ele se resolve sozinho."

Foi isso que o Governo fez depois dos incêndios de 2003 e 2005. E quando Mark Beighley voltou, em 2009, o Governo reclamava sucesso, porque as épocas de incêndios de 2007 e 2008 não tinham sido muito graves. Para o especialista era cedo para cantar vitória: os verões desses dois anos tinham sido amenos e húmidos. Os anos críticos em termos de incêndios em 2013, 2016 e 2017, mostraram que tinha razão.

Portugal precisa de apostar na prevenção das ignições

Quando se encontrou com o primeiro-ministro António Costa, no dia 10 de novembro, Mark Beighley alertou que o foco devia estar na prevenção e no tratamento de combustíveis. Ideias que já estavam na proposta técnica do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios que ajudou a elaborar. Ideias que têm sido repetidas e reforçadas por muitos engenheiros florestais e especialistas em incêndios em Portugal. Mas, como o próprio Mark Beighley lembrou, grande parte das propostas acabaram por não ser integradas no plano final de defesa da floresta.


"Não há soluções milagrosas. Não vão resolver este problema num ano ou dois ou mesmo dez. Precisam de uma solução sustentável de longo prazo." E uma solução que considere as múltiplas facetas do problema identificadas pelos autores do relatório. Uma delas é a desertificação do interior e, como resultado, terrenos agrícolas que não estão a ser tratados. Quando um terreno fica abandonado, as árvores estabelecem-se e formam-se áreas florestadas selvagens, que "contribuem para este oceano imenso de combustível".

O interior não está só a ficar sem pessoas, as pessoas que têm abandonado a região são as mais jovens. Quem fica não tem capacidade para fazer uma gestão adequada. Mais, os proprietários dos terrenos têm, normalmente, parcelas de terra muito pequenas que não justificam o investimento na gestão de combustíveis. A solução poderia ser a criação de Zonas de Intervenção Florestal (ZIF) — a agregação de todas as pequenas propriedades num mesmo corpo de decisão —, mas, além do processo de constituição das ZIF ser moroso e burocrático, "os proprietários não estão disponíveis para abdicar da gestão do seu pequeno pedaço de terra".



"Poucas ou nenhumas ZIF realizam tratamentos de combustível que reduzam o risco de incêndio", referem os autores nas conclusões do relatório. "É preciso garantir mais especialização, apoio e incentivos aos proprietários, de forma a que concluam os tratamentos de combustível. O conceito das ZIF é inútil, se não obtiver resultados significativos de prevenção dos incêndios florestais."

"Há uma ocorrência anormalmente elevada de fogo posto em Portugal. Outros países implementaram sanções penais graves para este tipo de crime. Em junho deste ano [2009], a Califórnia condenou à morte uma pessoa que causou um incêndio, no qual faleceram cinco bombeiros, que tentavam salvar uma casa."
Outro problema é o número de ignições, que Mark Beighley atribui às pessoas, por negligência ou acidentes. "Disse ao primeiro-ministro: não é terrorismo, não são os aviões de combate a incêndios, são os seus vizinhos." As pessoas continuam a ter comportamentos de risco, a fazer queimadas quando a recomendação é para que não o façam. Depois vem uma rajada de vento e a pequena fogueira para queimar os restos da poda transforma-se num incêndio de grandes dimensões. E isto aconteceu este ano.

"Muitas destas pessoas fazem isto há décadas: chega o outono, cortam as folhas, podam as árvores e queimam tudo. Parece-me que não lhes faz muita diferença que esteja calor ou tempo seco ou vento. Vão fazê-lo na mesma", disse. "Depois ouvi comentários do tipo: vinha aí o furacão Ophelia, que iria fazer chover muito, como faz nos Estados Unidos, e que tinham de se despachar a queimar as coisas antes que chovesse." Muitas das queimadas foram feitas nos dias 13 e 14 de outubro. Depois vieram os ventos fortes. Sem falar que setembro e outubro foram dos meses mais quentes de que há registo.


E as outras pessoas permitem que isto aconteça. Quando visitou as zonas afetadas pelos incêndios de Oliveira do Hospital, Mark Beighley perguntou às pessoas se denunciariam à GNR um vizinho que estivesse a fazer uma queimada numa altura de risco elevado de incêndio. E a resposta que obteve foi que não, porque tinham de continuar a conviver com essa pessoa. "Esta é uma parte do problema, a tolerância para a quebra de regras, ou como me disseram: 'Não são leis, são meramente sugestões'."

Em Mortágua encontrou um exemplo diferente. Como a maioria das pessoas depende de alguma forma da indústria do papel, todos têm um papel de vigilante, as próprias equipas de futebol fazem patrulhas. E quando vêem algo suspeito, ou um estranho a rondar a área, ligam ao comandante dos bombeiros. "Eles consideram a floresta como um banco, é o seu investimento, e está a crescer."

Os autores do relatório mostraram-se surpresos com a "ocorrência anormalmente elevada de fogo posto em Portugal" e perceberam que muitos destes resultam de políticas públicas contraditórias e dos consequentes conflitos de interesse. "Outros países implementaram sanções penais graves para este tipo de crime", referem os autores. "Em junho deste ano [2009], a Califórnia condenou à morte uma pessoa que causou um incêndio, no qual faleceram cinco bombeiros, que tentavam salvar uma casa."

Criticam ainda a atuação das equipas de bombeiros por não protegerem os locais dos incêndios como uma potencial cena de crime até à chegada do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA), da GNR, ou dos agentes da Polícia Judiciária. "Na ansiedade de extinguirem os incêndios, destroem os indicadores da origem dos mesmos e as provas essenciais, tornando quase impossível determinar a origem do incêndio e instaurar uma ação penal."

"Na ansiedade de extinguirem os incêndios, destroem os indicadores da origem dos mesmos e as provas essenciais, tornando quase impossível determinar a origem do incêndio e instaurar uma ação penal."
Os reacendimentos são outro problema a considerar. "Este ano, alguns distritos tiveram uma taxa de reacendimento de 30%", disse o especialista, lembrando que é uma taxa muito alta. "Quando temos 500 fogos por dia, o que acontece é que a primeira força de intervenção fica assoberbada e não consegue extinguir completamente um fogo antes de ter de ir combater o próximo." A sugestão é que, depois de os bombeiros apagarem o fogo, entre outra equipa para garantir que todos os pontos quentes são eliminados.

Este trabalho pode ser feito pelo Exército. "Portugal tem muitos pelotões de militares que precisam de fazer exercícios de orientação e que não precisam de conhecimento sobre combate a incêndios para isso." Para Mark Beighley o exercício pode ser dar uma localização aos militares para treinarem essas competências e, quando chegarem ao local, podem detetar se existem pontos de calor. "O que é preciso é um processo de verificação dos incêndios em contínuo, precisam de alguém que tenha a responsabilidade de o fazer, porque agora é aleatório, na melhor das hipóteses: alguns fogos são verificados, outros não."

Os bombeiros precisam de usar mais ferramentas, defendeu o especialista. E não só na deteção dos pontos quentes, também no combate aos incêndios. "Uma das coisas que fazemos nos Estados Unidos é que criamos um trilho à volta de todos os incêndios, onde acabamos com os combustíveis e ficamos só com o solo mineral", explicou. "E vocês aqui não fazem isso. Esta é uma das críticas do relatório."

Para se conseguir criar este trilho é preciso resfriar o fogo primeiro. É para isso que servem os helicópteros e aviões de combate a incêndio. Estes meios não apagam incêndios, os bombeiros é que fazem esse trabalho, mas têm de conseguir lá chegar. Claro que quando as chamas estão muito altas, os bombeiros não conseguem lá chegar e as chamas saltam os trilhos como saltam as estradas. A solução para ter chamas mais baixas é fazer a gestão dos matos e arbustos juntos destes trilhos e estradas, que pode ser feita com corte ou com fogo controlado.

Mas, muitas vezes, na opinião de Mark Beighley, não haveria gestão de combustíveis, nem número de bombeiros ou de viaturas, que pudesse ter alterado o desfecho do incêndio. "O que podia alterar o desfecho? Não ter um incêndio à partida." E os reacendimentos são preveníveis, como reforçou o especialista várias vezes durante a entrevista. "São este tipo de incêndios que estão a queimar casas, que estão a matar pessoas."

É preciso uma unidade específica dedicada aos fogos florestais

Mark Beighley, que conhece vários comandantes e corporações de bombeiros em Portugal, defendeu que estes são parte da solução no combate aos incêndios, mas é preciso fazer mais. "Os bombeiros são muito bons em algumas coisas: fogos em habitações, em empresas ou em estruturas, mas precisam de mais conhecimentos em fogos rurais, em fogos florestais, em gestão de fogo florestal." O especialista defende que os comandantes das corporações maiores, assim como todos os líderes envolvidos no combate aos incêndios devem ter formação, competências e experiência na área. O relatório da comissão técnica independente, elaborado depois dos incêndios de Pedrógão Grande e Góis, defendia o mesmo.



Para o especialista, um fogo rural ou florestal não pode ser encarado como um fogo urbano. Além do equipamento necessário ser completamente diferente, as competências que devem ter os bombeiros também o são. O mesmo para a coordenação das equipas. Por isso, Mark Beighley defende que seja criada uma estrutura, paralela à Autoridade Nacional de Proteção Civil [ANPC], que se dedique aos fogos rurais. "Criar outra organização que não substitua [a ANPC], mas que certamente a suplementa e complementa."

"A estrutura existente é boa para fogos em habitações, para emergências, para as ambulâncias, mas não é boa para fogos florestais", disse o especialista norte-americano. "O que normalmente acontece [em fogos florestais] quando têm alguns arbustos a arder e têm uma casa que está ameaçada é pôr toda a água na casa para evitar que arda. O fogo [nos arbustos] pode avançar para outros locais e depois ameaça outra casa. E o que fazem? Vão proteger a outra casa e o fogo continua em movimento, a espalhar-se e a ameaçar mais casas. Ninguém está a combater os fogos, toda a gente está em modo defensivo, a defender as estruturas, não há ninguém em modo ofensivo."

"O que normalmente acontece [em fogos florestais] quando têm alguns arbustos a arder e têm uma casa que está ameaçada é pôr toda a água na casa para evitar que arda. O fogo [nos arbustos] pode avançar para outros locais e depois ameaça outra casa. E o que fazem? Vão proteger a outra casa e o fogo continua em movimento, a espalhar-se e a ameaçar mais casas. Ninguém está a combater os fogos, toda a gente está em modo defensivo, a defender as estruturas, não há ninguém em modo ofensivo."
O especialista, que também já foi bombeiro e comandante, criticou que não haja requisitos mínimos nas qualificações dos bombeiros em Portugal. "Estabelecer um padrão de competências para todas as pessoas com cargos de chefia na proteção civil, saúde pública, resposta de emergência, é do interesse público, tem a ver com segurança." Ainda assim, Mark Beighley referiu que se começam a ver muito bons profissionais, com boas competências técnicas, como o Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS), da GNR, ou a Força Especial de Bombeiros Canarinhos, mas falta a coordenação com os outros meios no terreno.

Outra das estruturas com potencial para ajudar a resolver o problema são os Gabinetes Técnicos Florestais (GTF). Mas, segundo Mark Beighley, estes técnicos queixam-se "que não podem fazer aquilo para que foram criados, tornaram-se escravos dos presidentes de Câmara e dos municípios". O objetivo dos GTF era "fazerem tratamento dos combustíveis ou fogo controlado ou mapeamento de risco". Em vez disso, "estão a podar as árvores e a garantir que as árvores do parque têm bom aspeto e esse tipo de coisas".

Um problema que Mark Beighley atribui, em parte, à extinção dos Governos Civis. Não existe um nível de governação intermédio entre o Governo central e as autarquias. "E os presidentes de Câmara tem mais poder do que deviam." Aqui, a solução pode ser a criação e organização de Comunidades Intermunicipais. Os GTF podem ser "libertados dos presidentes de Câmara, colocados neste outro patamar em que trabalham para três ou quatro municípios".

O que precisamos fazer mais?

Depois dos grandes incêndios de 2017, o Governo já criou nova legislação relacionada com os incêndios. Sem ter tido oportunidade de a ler, porque estava em português, e conhecendo apenas o que lhe contaram, Mark Beighley considera que não é suficiente. "Acho que a legislação que é criada imediatamente depois de uma emergência é provavelmente insuficiente, provavelmente não é bem pensada." O especialista sabe que os órgãos eleitos "têm de responder rápido e, muitas vezes, não é a melhor resposta".

Na reunião com o primeiro-ministro deixou-lhe dois conselhos. Em primeiro lugar, a mudança tem de ser significativa para que a população perceba que há algo a ser feito. "Tem de ser diferente do passado, não pode ser apenas mais helicópteros e aviões de combate a incêndio, precisam de concentrar-se nos outros componentes." Depois, é preciso gerir expectativas. "Se fizer promessas que não consiga cumprir, as pessoas vão perder a confiança em si. E se não tiver a confiança do público, não vai chegar a lado nenhum."

Nos próximos anos, o número de incêndios e a área ardida até podem ser menores, mas isso não será necessariamente resultado das políticas do Governo. No relatório de 2009, os autores perceberam que existe um ciclo de verões amenos e húmidos, com menos expressão dos fogos florestais, seguidos de um ou dois anos de verões secos e quentes, em que os incêndios podem tomar proporções catastróficas. E são estes "anos benignos" de incêndios que conduzem aos anos extremos. Porquê? "Primeiro, as zonas não ardidas nos anos amenos tornam-se mais propensas a arder nos anos seguintes com verões quentes e/ou secos. Segundo, nos verões amenos, há um aceleramento do crescimento vegetal, devido a um menor stress da humidade, que fornece mais combustível para a ocorrência futura de incêndios, em verões quentes e/ou secos", escreveram os autores no relatório.

Mas se acha que este ano ardeu tudo o que havia para arder, Mark Beighley desfaz a ilusão: "Ainda há muito para arder. Há combustível suficiente — em diferentes partes de Portugal — para termos mais duas ou três temporadas de incêndio como este ano".


O especialista deixa ainda uma crítica à calendarização da época dos incêndios (fases Bravo, Charlie e Delta). "O calendário é ótimo para a proteção civil, mas é péssimo para o combate aos fogos florestais." E dá o exemplo deste ano: "A fase Charlie, quando acontecem a maior parte dos incêndios, começa a 1 de julho e vai até 30 de setembro, mas os dois incêndios mais significativos deste ano aconteceram fora deste período, um antes e outro depois." Para Mark Beighley, a média faz pouco sentido quando o que se verifica são "temporadas de incêndios assimétricas". "Ou se tem uma época de incêndios muito severa ou muito branda."

A sugestão é que se crie um índice meteorológico com foco nos incêndios, que tenha em consideração, por exemplo, o clima presente, as previsões futuras, o nível de secura dos combustíveis ou o nível de aridez dos solos. Mais uma vez, o especialista disse que o país já tem capacidade para fazer isto e enalteceu o trabalho feito pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

"As nações e estados não podem controlar a meteorologia, as secas e ondas de calor. No entanto, podem controlar a quantidade de combustível pronto a arder e a sua distribuição no terreno." 
Mas os autores deixam claro que a prevenção é o mais importante. "As nações e estados não podem controlar a meteorologia, as secas e ondas de calor. No entanto, podem controlar a quantidade de combustível pronto a arder e a sua distribuição no terreno." Só reduzindo a quantidade de combustíveis se consegue reduzir a intensidade dos incêndios e, aí sim, os meios de combate serão eficazes. Os autores dão ainda o exemplo da Califórnia, que tem "o sistema de combate aos incêndios florestais mais sofisticado e caro do mundo", mas que mesmo assim tem dificuldade em combater incêndios extremos.

Correcção: Mark Beighley visitou as zonas afetadas pelos incêndios de outubro, nomeadamente a zona de Oliveira do Hospital

Há cinco anos que a agricultura cresce mais que o resto da economia



23.03.2017 às 14h57

 
MARCOS BORGA
Entre 2011 e 2015 o sector da agricultura, cresceu 2,4%, contra -0,9 no conjunto da economia. A produtividade aumentou 12% (0,3% na economia no seu todo). Ficou mal na fotografia no domínio do emprego, variável que caiu 8,3%, contra 1% no conjunto da atividade económica. As conclusões foram hoje apresentadas em Lisboa pelo Forum para a Competitividade.

Vítor Andrade
VÍTOR ANDRADE
O sector da agricultura "portou-se melhor do que a economia nacional como um todo", nos últimos cinco anos.

A conclusão consta de um estudo hoje apresentado em Lisboa pelo Forum para a Competitividade, onde se destaca ainda que, excetuando a variável do emprego (com uma quebra de 8,3% contra 1% no total da economia), é de assinalar o crescimento da produtividade (em certa medida por partir de uma base baixa) e a subida em 13 pontos percentuais na taxa de cobertura das importações.

Há, no entanto, na agricultura, um conjunto significativo de áreas que precisam de reformas, das quais o Forum para a Competitividade destaca: "a excessiva fragmentação da propriedade; a insuficiência do regadio, quando o nosso clima o torna essencial; o elevado custo de factores; a morosidade do licenciamento e burocracia; a insuficiente valorização dos bens públicos produzidos pelo sector; demasiadas condicionantes ambientais, sobretudo pela rigidez com que são geridas; e ainda mão-de-obra com qualificações muito baixas", para além de uma notória necessidade de reforçar as exportações e expandir fortemente o turismo rural.

APOSTA EM MARCAS PRÓPRIAS
A aposta no desenvolvimento de marcas próprias, bem como o aumento da incorporação de valor acrescentado aos produtos agrícolas são igualmente fatores de importância estrutural segundo aquela entidade.

No documento hoje divulgado, é ainda reforçada a ideia de que, para ser competitiva, a agricultura necessita de uma redução no custo dos factores de produção "como seja a energia e a água, mas esta redução não pode ser apenas do lado do preço, mas cada vez mais pelo aumento da eficiência no seu uso".

O Forum para a Competitividade sublinha também que é essencial "atualizar e desenvolver um Plano para a Internacionalização do Agroalimentar, integrando as diferentes estruturas representativas do sector, articulando as diferentes entidades públicas, associativas e privadas nos mercados externos". Por outro lado, importa igualmente reforçar a presença em mercados externos, com investimento no conhecimento dos mercados e dos consumidores finais.

Para o subsetor da floresta é sugerida a criação de uma "fiscalidade que incentive e promova a gestão agregada", o reforço das estruturas já existentes (Ex: Associações e Zonas de intervenção Florestal) e propor novos modelos, como é o caso das Sociedades de Gestão Florestal previstas no âmbito da reforma agora proposta pelo Governo.

INVESTIMENTO NA FLORESTA PASSA PELO EUCALIPTO E PELO PINHO
É necessário, segundo o documento hoje apresentado, que as Sociedades de Gestão Florestal possam apresentar retornos aos seus investidores, "com um portfólio de investimentos com níveis equilibrados de liquidez e rentabilidade, sendo essencial haver apoios claros à floresta de produção (eucalipto, pinho, etc.)".

Numa crítica à intenção do Governo em descentralizar competências em matéria de gestão florestal para as câmaras municipais, o Forum para a Competitividade conclui que "a floresta não pode ser vista como mais um pelouro em cada autarquia. O Estado não pode abdicar das competências que lhe são conferidas pela Lei de Bases da Política Florestal e pela Estratégia Nacional para as Florestas, com um modelo de governança único e coerente em todo o território que garanta a "Melhoria Geral da Eficiência e Competitividade do Sector".

Do gabinete para o campo para ensinar a tratar das áreas ardidas


24 nov, 2017 - 19:59 • Olímpia Mairos

Academia transmontana parte para o terreno e vai demonstrar técnicas de prevenção de processos erosivos e de reposição da camada vegetal em Alvadia, no concelho de Ribeira de Pena. A área foi fustigada pelas chamas e serve de laboratório vivo para estudantes de engenharia florestal.

Para evitar prejuízos maiores para as populações, os alunos e professores do Departamento de Ciências Florestais e Arquitectura Paisagista da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) decidiram sair dos gabinetes e ir para o terreno ajudar a encontrar soluções.

O local escolhido é o baldio de Alvadia, no concelho de Ribeira de Pena, onde, em Outubro passado, foram perdidos mais de mil hectares para o fogo.

Este sábado, os estudantes e professores vão estar no terreno para aplicar técnicas várias de engenharia natural, como a hidrossementeira ou a criação de barreiras físicas a partir de material queimado, como árvores.

"São acções de demonstração de prevenção de processos erosivos em áreas que foram identificadas pelos seus gestores. A academia apenas se oferece, quer com conhecimento quer com mão-de-obra, para ir responder a solicitações que os seus habitantes ou os representantes nos colocam", explica o professor e investigador da UTAD, Domingos Lopes.

O investigador esclarece que "a hidrossementeira é uma técnica que é utilizada em situações extremas, onde o perigo de erosão pode ser grande. Mistura água e sementes para criar um tapete verde, que se espalha nos terrenos com o objectivo de acelerar o aparecimento de vegetação", conta Domingos Lopes.

Os trabalhos vão incidir "numa área já com erosão de solo visível, mas contígua a um lameiro". Em simultâneo vão "tentar expandir a área de potencial para a silvo pastorícia e, ao mesmo tempo, demonstrar que é possível proteger a natureza e o solo".

Numa outra área florestal ardida e onde o risco de erosão é grande, que tem algum solo e uma inclinação acentuada, serão introduzidas sementes de espécies que fazem parte da vegetação natural, desde os arbustos de pequeno porte, como os medronheiros, às árvores, como as bétulas.

Também o material queimado que possui menos valor económico vai ser aproveitado para criar barreiras físicas que vão ajudar a "diminuir níveis de escorrência" e "a natureza a recuperar-se".

Segundo o professor Domingos Lopes, esta iniciativa servirá ainda para criar em Alvadia, uma espécie de laboratório vivo e de aprendizagem para os alunos da UTAD.

"Os alunos de engenharia florestal vão ter aqui, próximo de nós, um laboratório vivo de algumas destas técnicas de engenharia natural e esta é uma estrutura que está aberta a que outras áreas de conhecimento a possam utilizar como fonte de inspiração e de aprendizagem", diz o investigador Domingos Lopes.

A acção em Avadia faz parte do programa "O inverno está a chegar", promovido por um movimento de alunos de engenharia florestal da UTAD que visa encontrar "um conjunto de actividades que desperte consciências".

Os alunos vão recolher ideias e contributos e querem apresentar em Março, um documento com 10 propostas e estratégias para "tornar a floresta portuguesa mais acarinhada, segura e mais eficiente".

Incêndios. "Todos somos parte da solução e do problema"

RTP
23 Nov, 2017, 22:59 | País

O presidente da Estrutura de Missão para a instalação do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais alerta que é preciso alterar a paisagem florestal portuguesa para evitar novas tragédias. Para Tiago Martins de Oliveira, um novo modelo de gestão sincronizada mais eficaz para prevenir e combater fogos será insuficiente caso não seja reduzida a carga de combustível na floresta.

"Sem uma paisagem mais aberta, menos contínua, com mais pastorícia e agroflorestal é difícil suportar eventos extremos comos os de 15 de outubro", explica o escolhido de António Costa para liderar a unidade de missão criada na sequência dos incêndios deste verão.

Em entrevista ao 360 da RTP3, Tiago Martins de Oliveira sublinha ainda que a sua missão é difícil: "somos porta-vozes para fazer, num a dois anos, aquilo que demorou 40 anos a ser destruído".

Tiago Martins de Oliveira assinala ainda que o problema da floresta portuguesa tem vários culpados, incluindo os cidadãos, e que todos têm de fazer parte da solução. "Não é um herói ou um mágico que tira um coelho da cartola. Todos somos parte da solução por que, em parte, todos somos parte do problema", afirma.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Bióloga defende que reflorestação não pode ignorar espécies invasoras




 21.11.2017 10h33
As acácias já começam a germinar nas zonas ardidas pelos incêndios de 15 e 16 de outubro, notou uma bióloga de Coimbra, que alerta que o controlo das espécies invasoras não pode ser ignorado no processo de reflorestação.

Nas zonas litorais, como o Pinhal de Leiria, Quiaios (Figueira da Foz) e Tocha (Cantanhede), já se começam a observar várias acácias a germinar, um mês após os incêndios, e o mesmo acontece no interior da região Centro, onde as acácias mimosa e austrália são predominantes, contou à agência Lusa a especialista da Universidade de Coimbra em espécies invasoras Elizabete Marchante, prevendo que a situação da invasão destas plantas se agrave após os grandes fogos de outubro.

Para a investigadora, tanto as acácias como as háqueas têm a possibilidade de aumentar a sua presença na região, por serem "pirófitas" - plantas adaptadas ao fogo e que beneficiam do mesmo: "Cada planta pode chegar a ter 20 mil sementes por metro quadrado e são viáveis nos solos durante muitos anos. Quando passa o fogo, as sementes podem ser estimuladas e facilita a germinação das sementes" em áreas que já estavam invadidas por estas espécies, sublinhou Elizabete Marchante.

Sendo assim, se nada for feito, "as áreas que tinham acácias antes vão ter em maior número", explicou."É preciso ajudar essas áreas a não serem ultrapassadas pelas invasoras. Não acho que se podem fazer planos só para o controlo das invasoras, mas os planos de reflorestação devem ter em conta e não ignorarem as invasoras", alertou Elizabete Marchante.

No entanto, a especialista acha que para já não se deve "fazer nada", até pelos cuidados que tem de haver neste momento com a erosão dos solos "seria mais prejudicial do que benéfico". Para além disso, "não vale a pena arrancar acácias com dois centímetros. É preciso esperar algum tempo para as que não vinguem, morrerem. Quando tiverem 10 a 15 centímetros, podem-se cortar com motorroçadora, que não rebentam.

Nas zonas de costa, com areia, pode-se recorrer a voluntários para as arrancar", recomendou. É nessa altura - quando as plantas ainda não têm reservas de sementes - que se tem de aproveitar para controlar as invasoras, frisou.

Segundo Elizabete Marchante, caso se desaproveite a janela de oportunidade, as acácias "vão crescer mais rápido e em maior número", inviabilizando o crescimento das outras espécies.Apesar disso, "não há recursos para controlar todas as invasoras" e a investigadora defende que têm de ser definidas "zonas prioritárias para agir, antes de se tornar difícil de controlar as acácias. Há que atuar enquanto têm uma dimensão reduzida", defendeu a especialista da Universidade de Coimbra.

A equipa do invasoras.pt, que Elizabete Marchante coordena, disponibilizou um formulário no seu 'site', para que os cidadãos interessados ajudem a reportar zonas queimadas que tinham plantas invasoras ou onde estas voltaram a germinar (o formulário pode ser consultado em https://tinyurl.com/yc7esa7p).

Lusa

Multas em dobro para quem não limpar mato à volta das casas


Para 2018 será estabelecido um regime excepcional segundo o qual as limpezas têm de ser feitas até 15 de Março. As câmaras deverão substituir-se aos proprietários que não actuem e as coimas serão aplicadas em dobro. Autarquias também poderão ser penalizadas.

Filomena  Lança Filomena Lança filomenalanca@negocios.pt
18 de novembro de 2017 às 09:00

No ano que vem as regras serão mais apertadas para quem não efectue operações de limpezas de terreno próximos de habitações. De acordo com uma proposta de alteração à proposta de Orçamento do Estado para 2018, apresentada pelo PS, durante 2018 os trabalhos de limpeza terão de ser efectuados até 15 de Março, por forma a assegurar que estarão concluídos antes da época mais propícia a incêndios florestais
 
Em causa está a chamada gestão de combustíveis, que implica que sejam retirados materiais lenhosos, leia-se, mato ou arbustos que estejam em excesso e que possam facilitar a propagação de fogos. A ideia, portanto, é a aposta na prevenção de incêndios e quem não cumpra as novas regras arrisca ser condenado ao pagamento de coimas a duplicar, sendo que o valor previsto na lei para estas contra-ordenações vai dos 140 aos cinco mil euros.
 
De acordo com a proposta apresentada pelo PS, até 31 de Maio as câmaras municipais terão de ter garantida a realização de todos os trabalhos de limpeza. Nesse sentido, deverão elas próprias substituir-se aos proprietários ou produtores florestais que esteja a explorar os terrenos em causa. Para tal, apenas terão que fazer um aviso prévio e poderão avançar desde que não obtenham uma resposta no prazo de cinco dias úteis.
 
Esta é uma forma de agilizar este tipo de procedimentos, que já hoje são possíveis por parte das autarquias, mas que são burocráticos e morosos, tendo sempre por base a defesa da propriedade privada.
 
O que aqui se está agora a prever é que as câmaras façam as limpezas e depois exijam aos proprietários o pagamento das despesas que tenham sido efectuadas. Para a realização coerciva dos trabalhos, os proprietários são obrigados a permitir o acesso aos terrenos. Se necessário, as câmaras poderão recorrer à intervenção das forças de segurança.
 
Refira-se que, por lei, as limpezas têm de ser feitas numa faixa de pelo menos 50 metros em redor das habitações e de 100 metros à volta das povoações.
 
Câmaras também podem ser penalizadas
 
As regras que o PS agora quer impor prevêem também que as câmaras municipais terão de ter prontos até 31 de Março de 2018 os seus Planos Municipais de Defesa da Floresta contra Incêndios.
 
Caso não cumpram, as autarquias verão retido no mês seguinte o equivalente a 20% do duodécimo das transferências correntes do Fundo de Equilíbrio Financeiro.
 
Por outro lado, as câmaras poderão recorrer às medidas excepcionais de contratação publica por ajuste directo para realizarem os trabalhos de limpeza dos terrenos. Poderão também recorrer a linhas de crédito que serão disponibilizadas para o efeito e ficarão dispensados da fiecalização prévia do Tribunal de Contas.
 
Tal como Eduardo Cabrita anunciou esta quinta-feira, 16 de Novembro, no Parlamento, as câmaras vão dispor uma linha de financiamento de 46 milhões de euros para limparem os terrenos florestais que os proprietários deixarem ao abandono.
 
100 milhões para empresas atingidas pelo fogo

Ainda no âmbito da prevenção e combate aos incêndios florestais, o PS pretende que uma verba de 100 milhões de euros do IAPMEI, que resulta de reembolsos de incentivos comunitários, transite para 2018 e seja aplicada no financiamento do sistema das empresas atingidas pelos incêndios florestais.

Essa verba, até 100 milhões de euros, segundo a estimativa apresentada pelo PS, deve ser aplicada "no financiamento do Sistema de Apoio à Reposição da Competitividade e Capacidades Produtivas" - entidade que resulta do decreto do executivo do passado dia 3 deste mês e que visa apoiar as empresas afectadas pelos incêndios, assim como financiar os custos da linha de crédito de apoio à tesouraria dessas firmas atingidas.
 
No âmbito das suas propostas de alteração ao Orçamento do próximo ano, o PS pretende também que o executivo assuma o compromisso de abrir concursos no âmbito do Portugal 2020, "com dotação até 80 milhões de euros", para apoiar projectos de investimento produtivo empresarial geradores de emprego nas regiões afectadas pelos incêndios.

Os socialista pretendem, ainda, que as indemnizações dos danos causados pelos incêndios de Junho e de Outubro não sejam tributadas como mais-valias em sede de IRS e de IRC, desde que sejam reinvestidas. A ideia é, desta forma, apoiar as famílias e as empresas afectadas pelos fogos.         

O PS considera, desta forma, que se justifica "a exclusão de tributação das mais-valias resultantes de indemnizações auferidas, no âmbito de contratos de seguro, como compensação dos danos causados por incêndios florestais, condicionando-se a exclusão desta tributação ao reinvestimento em equipamentos de idêntica natureza". Haverá exclusão da tributação acontece desde que esse reinvestimento aconteça "até ao final do terceiro período de tributação seguinte ao da realização da mais-valia".

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Incêndios: Politécnico de Portalegre lança campanha para angariar árvores de fruto


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O Instituto Politécnico de Portalegre (IPP) desafiou hoje a comunidade escolar e a população da região a doar árvores de fruto para ajudar na reflorestação dos concelhos afetados pelos incêndios, na zona do Pinhal Interior Sul.

Intitulada "Plantar para colher", a iniciativa, que termina no dia 27 deste mês, é promovida pela coordenação interdisciplinar para a investigação e inovação, em parceria com o Centro de Cultura e Desporto do Pessoal do Politécnico de Portalegre.

A porta-voz da campanha, Paula Reis, explicou hoje à agência Lusa que a ação pretende angariar de árvores de fruto, uma vez que "boa parte" dos residentes da zona do Pinhal Interior Sul, sobretudo nos concelhos de Oleiros e Sertã, distrito de Castelo Branco, vive da pequena agricultura.

"Estamos a falar de uma zona em que existe pequena agricultura, em que uma boa parte das pessoas tem como base de alimentação, devido aos seus baixos rendimentos, o cultivo de pequenas hortas e foi nesse sentido que nasceu esta campanha", disse.

Além das árvores de fruto, o IPP vai também entregar sementes de ervas aromáticas, oriundas de um viveiro instalado na Escola Superior Agrária de Elvas.

A campanha "Plantar para colher" inclui ainda com uma caminhada de sete quilómetros, que vai decorrer no dia 27 deste mês, data em que é assinalado o "Dia do IPP".

A inscrição para a caminhada é gratuita, mas a organização apela aos participantes a entregar uma árvore de fruto, preferencialmente macieiras, pereiras, laranjeiras, pessegueiros, ameixoeiras, diospireiros e castanheiros.

Os incêndios que a 15 e 16 de outubro atingiram particularmente 27 concelhos da região Centro provocaram 45 mortos e cerca de 70 feridos, destruíram total ou parcialmente cerca de 800 habitações permanentes e cerca de outras tantas casas, quase 500 empresas e extensas áreas de floresta.

Culturas de regadio com boas previsões de produção apesar do clima


Apesar das condições meteorológicas, o INE aponta para aumentos de produção de fruta, amêndoas bem como na vinha e olival, em outubro de 2017. A seguir Plano de Regadios é "grande aposta" na competitividade da agricultura portuguesa -- ministro 

O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou hoje os dados das previsões agrícolas de outubro de 2017, que apontam para aumentos de produção de fruta, amêndoas bem como na vinha e olival, apesar das condições meteorológicas. De acordo com o documento, as condições climáticas não comprometeram a campanha nos pomares de pomóideas (maçãs e peras). 

A produção da maçã deverá fixar-se em 300 mil toneladas, enquanto a da pera deve rondar as 165 mil toneladas, o que corresponde a aumentos respetivos de 25% e 20%, face a 2016. O kiwi deverá atingir um valor recorde de 31 mil toneladas, potenciado pela entrada em produção de novos pomares, o que se traduz numa previsão de subida de 10 mil toneladas, face ao ano anterior. "A produção de amêndoa também deverá atingir níveis que já não eram alcançados há muitos anos, mais 282% quando comparada com a média dos últimos cinco anos", lê-se no documento. 

Em 2017, a produção de amêndoa deve fixar-se em 22 mil toneladas, face às nove mil toneladas verificadas em 2016. De acordo com as previsões do INE, deverá registar-se também um aumento de 10% da produção de vinho, face a 2016 para 6,39 mil hectolitros, que, conforme indica o instituto, deverá ser de qualidade superior, tendo em conta o estado das uvas vindimadas. No que se refere aos olivais, "a produção deverá ser próxima do normal, com os olivais intensivos a compensarem a menor produtividade dos tradicionais", refere o INE. No olival para azeite prevê-se um aumento de 1%, o que aponta para produtividades globais próximas da média dos últimos cinco anos. 

Verifica-se que "nos olivais regados foi possível conduzir à maturação de grande parte da carga das árvores", enquanto nos olivais de sequeiro, que representam três quartos da área total desta cultura, "a escassa precipitação de setembro e outubro, aliada às elevadas temperaturas, conduziu a situações de perda da produtividade e afetou, negativamente, o conteúdo oleico das azeitonas", conforme indicam os dados estatísticos. Prevendo-se assim que a cultura da azeitona para mesa em 2017 seja de 1.900 quilos por hectare e da azeitona para azeite de 1.580 quilos por hectare. Afetados pela falta de precipitação, os soutos devem registar um decréscimo de 15%, face à campanha do ano anterior, com as castanhas a apresentarem menores dimensões. 

Desta forma, em 2017, a cultura de castanhas deve fixar-se em 23 mil toneladas, face às 27 mil toneladas registadas no ano anterior. Já no que se refere às culturas temporárias de primavera e verão, os dados destacam a produção de tomate para indústria, que apresentou uma previsão de subida para 1,68 milhões de toneladas, face aos 1,59 milhões registados em 2016. A falta de água na bacia hidrográfica do Sado e a consequente diminuição da área semeada levaram a que a produção de arroz fosse 10% inferior à média verificada entre 2012 e 2016. Em 2016, a cultura de arroz fixou-se em 169 mil toneladas, em comparação com as 161 mil toneladas previstas para 2017. 

Os dias quentes e secos favoreceram a colheita do milho de regadio, que aumentou 5%, passando de 693 mil toneladas em 2016, para uma previsão de 727 mil toneladas para 2017. "O índice meteorológico de seca PDSI1 ['Palmer Drought Severity Index'] revelava que, no final de outubro, todo o território de Portugal continental se encontrava em situação de seca, aproximadamente 25% em seca severa e 75% em seca extrema (classe de seca mais grave", refere o INE. A mesma fonte conclui que o cenário de seca teve "impactos substanciais", quer sobre as culturas instaladas, quer sobre a programação da ocupação cultural do ano agrícola, que tem agora início.

CNA considera “insatisfatórias” medidas para combater efeitos da seca e dos incêndios


21/11/2017, 21:39
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A Confederação Nacional da Agricultura considerou que as medidas aplicadas pelo Governo para combater os efeitos da seca e dos incêndios são "insatisfatórias e insuficientes".


A Confederação Nacional da Agricultura considerou esta terça-feira que as medidas aplicadas pelo Governo para combater os efeitos da seca e dos incêndios são "insatisfatórias e insuficientes".

"As medidas que até agora estão definidas institucionalmente são, de forma global, insatisfatórias e insuficientes, algumas são mesmo desadequadas", disse o dirigente da CNA, João Dinis, numa audição na comissão parlamentar de Agricultura e Mar.

Para o representante dos agricultores, a situação "é de excecional gravidade" e, por isso, são necessárias medidas que acompanhem as consequências provocadas pela seca e pelos incêndios.


"Na região Centro, tirando em algumas batalhas e guerras declaradas, nunca houve uma catástrofe que levasse tantas vidas em tão curto espaço de tempo. Nem nas estradas", acrescentou João Dinis, referindo-se aos incêndios florestais.

Durante a audição, a deputada do CDS Patrícia Fonseca sublinhou que as verbas do Plano de Desenvolvimento Rural (PDR) não "podem ir todas para estas calamidades", porque significaria um retirar de dinheiro necessário para acudir a outros problemas.

Já o deputado do PSD Maurício Marques solicitou a ajuda da CNA para encontrar medidas que ajudassem a alterar a forma "de ser e de estar da agricultura", tendo em conta os recentes acontecimentos.

"A situação da seca é uma tragédia, vamos caminhar para a falta de abastecimento público das populações e, quando isso vier para cima da mesa, vamos ter que tomar decisões que vão ser um autêntico flagelo", alertou o deputado do PS Pedro do Carmo.

Por sua vez, João Ramos, do PCP, defendeu que para resolver o problema das florestas não são necessárias "alterações legislativas de fundo", mas a criação de condições para que as regras sejam cumpridas.

Em resposta às intervenções dos deputados da comissão parlamentar, a CNA defendeu que é importante refletir sobre a produção da agricultura, no que diz respeito a perceber quais são os tipos de plantações que se adaptam ao clima e que, consequentemente, necessitam de um menor consumo de água.

No que se refere ao PDR, a confederação considerou que, mais importante do que saber se as verbas estão ou não a ser aplicadas, é procurar averiguar quais são os agricultores e as produções que estão a ser apoiadas, sublinhando que as candidaturas aos apoios do Governo devem ser menos burocráticas.

João Dinis considerou ainda que o aumento da rentabilidade florestal "é um fator estruturante", devendo, por isso, surgir medidas que vão ao encontro dessa situação, exemplificando que o preço atual da madeira "não provoca interesse económico".

Moçambique vai deixar de importar sementes para produção agrícola

21/11/2017, 12:01

Moçambique vai deixar de importar sementes básicas para a agricultura. A campanha arrancou há um mês pretende apostar na produção nacional.


Moçambique vai deixar de importar sementes básicas para a agricultura a partir da campanha 2017/2018, que arrancou há um mês, e apostar na produção nacional, noticia esta terça-feira a imprensa moçambicana. Segundo David Mariota, chefe do Departamento da Unidade de Semente Básica do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM), a medida visa garantir que mais produtores tenham acesso a sementes e evitar custos de importação.

Para responder às necessidades, as autoridades moçambicanas vão dar condições a 42 empresas para a produção de sementes certificadas que vão abastecer os pequenos produtores agrícolas do país. Espera-se que, na atual campanha agrícola, as empresas especializadas forneçam cerca de 65 toneladas de sementes, num processo que vai dar prioridade aos cereais e leguminosas.


O IIAM prevê ainda disponibilizar 12 milhões de estacas de mandioca, duas mil ramas de batata-doce e quantidades por definir de sementes de hortícolas. A estratégia para abastecer os pequenos produtores conta com o apoio de vários parceiros, entre os quais a agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) e o Banco Mundial.

No total, de acordo com dados oficiais, Moçambique tem quatro milhões de produtores registados e a maioria está nas províncias da Zambézia e Nampula, centro e norte, respetivamente.

Nos próximos meses terá de chover quase tanto como a média anual



A barragem de Fagilde, em Mangualde, atingiu os mínimos históricos e teve de ser reabastecida por 40 camiões-cisterna dos bombeiros  |  NUNO ANDRÉ FERREIRA/LUSA
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O território do continente tem hoje menos 200 mm de precipitação do que há 50 anos e os cenários de futuro não são animadores

Vem aí chuva, a partir de amanhã, mas as previsões do IPMA também mostram que ela não será suficiente para aliviar a seca extrema (o grau mais grave na escala) que afeta a quase totalidade do território continental (94%) - os 6% restantes estão em seca severa, logo abaixo.

"No mínimo dos mínimos era preciso que nos próximos meses tivéssemos uma precipitação de pelo menos 500 mm [milímetros] para desagravar a seca", estima o físico e especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos. Para se ter uma ideia, isso corresponde a pouco menos do que a precipitação média anual na região de Lisboa, tomando como referência o período 1971-2000, que é da ordem dos 600 a 800 mm. Mas, se isso vai acontecer, ou não, é uma incógnita.




Já se disse: esta é a seca mais grave desde que há registos meteorológicos sistemáticos em Portugal, ou seja, desde 1931. Mas, ao contrário do que aconteceu em todas as secas anteriores, que acabaram por desaparecer com as chuvas de outono, esta tem uma particularidade única: o outono entrou seco e assim se tem mantido. As contas são do IPMA: outubro teve uma precipitação 70% inferior ao normal e, até agora, novembro está a seguir o mesmo padrão, até um pouco agravado, e já vai em menos 76% de precipitação, quando se compara com as médias de novembro para o período de referência 1971-2000.

Os valores médios anuais da chuva em Portugal Continental rondam os 900 mm, considerando o mesmo período de referência, mas a distribuição geográfica da pluviosidade é muito assimétrica. Anda entre os 1800 mm anuais no extremo máximo, na zona mais alta da Serra do Gerês, no Minho, e os 500 mm anuais, no extremo mínimo, na zona de Mértola, no Baixo Alentejo. Já para Lisboa, a média ronda os 600 a 800 mm, e no Porto é um pouco mais: mil a 1100 mm.

Os registos meteorológicos mostram, no entanto, uma tendência de redução da precipitação, que já dura desde 1960, e que tem progredido à razão de 40 mm por década. Ou seja, "no último meio século, Portugal perdeu cerca de 200 mm da sua precipitação anual, o que é um valor significativo", explica Filipe Duarte Santos.

Ou seja, as secas estão a agravar -se. E se continuar a não chover nos próximos meses, esta vai agravar-se mais ainda. "Terá inevitavelmente impacto económico, nomeadamente no aumento do preço dos produtos agrícolas, ou no setor da cortiça, porque já há muitas árvores a morrer no montado", estima o especialista. "É essencial contabilizar os prejuízos desta seca, para se perceber quanto custa ao país, porque sem esses dados é muito difícil fazer a adaptação necessária às alterações climáticas". Essa adaptação também tem custos, mas representam ganhos a prazo. Os prejuízos são apenas isso.

Até mais 11 secas entre 2070 a 2100

Em 2002, quando o grupo de Filipe Duarte Santos publicou os resultados do projeto SIAM, o primeiro estudo sobre as alterações climáticas em Portugal, as estimativas de aumento do número de secas e do agravamento da sua severidade já lá estavam, muito claras, para o final do século. Mas passaram apenas 15 anos e esta seca já se encaixa nessa tendência. "Eu próprio estou surpreendido, porque é muito rápido", confessa o especialista.

Para a bacia mediterrânica, os estudos indicam que a Península Ibérica é uma das regiões mais afetadas pelas alterações climáticas ao longo deste século, com redução da precipitação, aumento da temperatura e secas mais frequentes e mais severas. Num cenário de aumento de três graus da temperatura média do planeta até ao final do século - aquele para o qual caminhamos com as atuais emissões de gases com efeito de estufa - haverá entre mais quatro e sete secas no período 2041-2070 (por comparação com 1971-2000) e mais sete e 11 em 2071-2100.

Gestão da água mais eficiente e agricultura adaptada

Nesse cenário futuro - mesmo cumprindo o Acordo de Paris, com um aumento máximo da temperatura de dois graus, a chuva vai diminuir por cá -, a pergunta impõe-se: como vai ser com a água?

A resposta, essa, terá de passar necessariamente por uma gestão mais eficiente, talvez pela procura de fontes alternativas e, necessariamente, por adaptações na agricultura que é a grande campeã do consumo da água, com uma fatia de cerca de 75% do total.

"É necessária maior eficiência na distribuição da água e equacionar um plano de adaptação às alterações climáticas, que passa também por uma reavaliação dos sistemas existentes, para se planear melhor a distribuição local da água com prioridade ao consumo humano, e para evitar as perdas e desperdícios, que chegam aos 40% atualmente", diz Francisco Ferreira, professor da Universidade Nova de Lisboa e presidente da associação ambientalista Zero.

Luísa Schmidt, investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e coordenadora do Observa-Observatório de Ambiente, Território e Sociedade, concorda com a necessidade de gestão mais eficiente. "É importante regressar ao sistema de gestão de bacias hidrográficas, repondo as Administrações de Região Hidrográfica, que tinham uma gestão de proximidade eficiente, de monitorização em contínuo e era autossustentável, com a taxa de utilizador-pagador", afirma a socióloga.

Construir mais pequenas albufeiras poderá ser uma possibilidade, se a gestão eficiente não chegar num cenário climático mais grave, mas a agricultura é que terá mesmo de adaptar-se, nomeadamente "com novas tecnologias de rega de precisão, para evitar desperdício de água, e com a mudança de culturas para espécies autóctones que precisem de menos água", diz Luísa Schmidt.

André Silva, líder do PAN: “Pecuária e agricultura representam cerca de 75 a 80% do gasto de água” em Portugal


Gustavo Sampaio
Ontem 07:35

"Os ministros do Ambiente e da Agricultura falam unicamente do consumo doméstico, pois é politicamente mais seguro. Mas temos que ir pelo cientificamente mais correto," adverte o líder do PAN, em entrevista ao Jornal Económico. "As culturas em regadio desperdiçam 40% de água" e "todos os aquíferos e massas de água estão contaminados", denuncia.


Cristina Bernardo
O Governo acaba de lançar uma campanha de sensibilização para a poupança de água dirigida aos consumidores domésticos. Mas os setores da indústria e da agricultura são responsáveis por cerca de 80% do total de água doce consumida em Portugal. Como é que se explica este paradoxo de uma campanha que não se dirige aos grandes consumidores de água, onde o combate ao desperdício poderia realmente fazer a diferença e mitigar os efeitos da seca?

Por cegueira ideológica. A pecuária e a agricultura representam cerca de 75 a 80% do gasto de água do país e desconsiderar estes dados é omitir a verdade aos cidadãos. A força destes setores na política nacional é transversal a todos os partidos, da esquerda à direita, e isso vê-se factualmente na votação de subsídios a estas indústrias, em que o PAN é o único partido a votar contra. Somos o único partido em Portugal que é contra o uso de dinheiros públicos para financiar indústrias privadas, que operam numa economia de mercado livre e que têm profundos impactos no ambiente. Os cidadãos, sem saberem, e o Estado, conscientemente, estão a pagar duas vezes para poluir. Uma quando não internalizamos os custos reais dos bens que emanam destas indústrias e outra quando financiamos, privilegiamos ou isentamos fiscalmente estas indústrias com desastrosas políticas públicas. Não podemos esquecer que, recentemente, o Governo anunciou que conseguiu financiamento europeu, cerca de 400 milhões de euros, para concretizar o Plano Nacional de Regadio. Sendo que as culturas em regadio desperdiçam 40% de água, podemos já antever que cerca de 160 milhões de euros irão, diretamente, para o lixo. Em paralelo, também não é dito nestas campanhas que o uso urbano, o que menos gasta, continua a ser o grande financiador da Taxa de Recursos Hídricos, em cerca de 60%. As justificações do ministro da Agricultura centram-se na possível perda de competitividade do setor se aumentarmos as taxas, ou seja, mais uma vez o ambiente está subjugado à economia e não o inverso.

 

Mesmo que essa campanha tenha algum sucesso, levando a uma redução do consumo doméstico de água, o problema da seca vai manter-se ou agravar-se, na medida em que será uma redução ínfima no total de água consumida. Porque é que o ministro do Ambiente insiste em apelar à poupança de água pelos consumidores domésticos, por vezes num tom moralista, como se fossem os principais responsáveis pela escassez de água no país?

Segundo a organização World Wildlife Fund (WWF), Portugal é o 6º país do Mundo com a maior pegada hídrica e, pese embora a importância de todas as ações para mitigar os efeitos da seca no país, cremos que a aposta deveria centrar-se em alertar para os impactos destas indústrias. Não só nas nossas reservas e massas de água, como também na destruição dos nossos solos e da nossa biodiversidade. Os ministros do Ambiente e da Agricultura falam unicamente do consumo doméstico, pois é politicamente mais seguro. Mas temos que ir pelo cientificamente mais correto. No PAN consideramos que os cidadãos devem ter o máximo de informação, pois só assim poderão fazer escolhas mais conscientes. A ciência deve guiar as opções políticas do país e não a demagogia, logo devemos aceitar os factos, compreender estruturalmente os problemas e apresentar soluções viáveis e de longo prazo.

 

"Para compreendermos os impactos da pecuária não a podemos separar da agricultura intensiva, pois uma não subsiste sem a outra. Em Portugal, e segundo a Agência Portuguesa do Ambiente, todos os aquíferos e massas de água estão contaminados. Contaminação esta que decorre do uso intensivo e abusivo de pesticidas e agrotóxicos na nossa agricultura."
 

Fechar a torneira durante um minuto por dia, como se apela na campanha, fará alguma diferença? O problema da seca e da escassez de água poderá alguma vez ser resolvido, ou sequer mitigado, apenas com pequenos atos de poupança dos consumidores domésticos? E como é que a água poupada nos grandes centros urbanos, onde se concentram os consumidores domésticos, poderá depois servir as populações do interior mais afetadas pela seca? Vai ser transportada por camiões ou comboios?

Todos os atos são importantes. A campanha peca por não incluir mais dados. Por exemplo, qual seria o impacto na comunidade se os cidadãos soubessem que para produzir um quilograma de carne de vaca são precisos cerca de 15.000 litros de água potável? Ou seja, um quilograma de carne representa 620 duches de cinco minutos ou o equivalente a 20 meses de duches diários? Esperamos que as próximas infografias do Governo contemplem estes dados. Temos a certeza de que cidadãos informados são cidadãos mais conscientes e, por tal, continuaremos a trabalhar para que haja do Estado uma atitude responsável e realmente estrutural no que concerne à gestão sustentável e a longo prazo dos recursos hídricos em Portugal.

 

Em recentes intervenções no Parlamento apontou o dedo à indústria agropecuária como uma das principais responsáveis pela seca que assola o país. Que dados é que tem sobre o impacto dessa indústria ao nível da seca? Que percentagem de água é que consome? E que efeitos de poluição é que gera?

É difícil separar os dados provenientes meramente do setor da pecuária em Portugal, pois estes estão incluídos na Agricultura. Porém, para termos uma perceção do seu impacto nas emissões com gases de efeito de estufa, tendo em conta o Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas (NIR) de 2016, no setor agrícola verificou-se um aumento de 2.5% das emissões em 2014. Isto deveu-se à componente da produção animal, em especial ao aumento na produtividade das vacas leiteiras nos Açores, mas também ao aumento das populações de suínos e bovinos e ao abate mais tardio dos ovinos. Ao nível internacional, e segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a pecuária é responsável por cerca de 40% das emissões provenientes da agricultura. Se relacionarmos estes dados ao uso generalizado e massivo de água na pecuária percebemos a escala do gasto de água que esta indústria tem. Para compreendermos os impactos da pecuária não a podemos separar da agricultura intensiva, pois uma não subsiste sem a outra. Em Portugal, e segundo a Agência Portuguesa do Ambiente, todos os aquíferos e massas de água estão contaminados. Contaminação esta que decorre do uso intensivo e abusivo de pesticidas e agrotóxicos na nossa agricultura. Esta é maioritariamente para alimentar gado. Em paralelo, as indústrias pecuárias operam numa quase total impunidade no que toca a descargas de poluentes nas massas de água em Portugal, como se pode ver pelos exemplos dos rios, altamente contaminados e poluídos, do Tejo e do Lis. Para contextualizar, na região de Leiria, o setor da suinicultura produz diariamente cerca de 2.500 m3 de efluentes tóxicos e na ETAR Norte são tratados 700 m3 por dia. Aqui, tal como na maioria da economia agrícola e pecuária em Portugal, o racional é o contrário. Primeiro licencia-se e produz-se e só depois nos preocupamos com os impactos ambientais.

 

"O Governo deve ter uma ação mais transparente e informar os cidadãos sobre o enorme impacto que as suas escolhas alimentares podem representar para os ecossistemas, a atual forma de produção de alimentos é insustentável. Envolve também a proteção legal e eficaz de todas as nossas massas de água, nomeadamente os aquíferos e rios de Portugal, através de um controle mais eficaz de indústrias altamente poluentes."
 

Em média, estima-se que um campo de golfe com 18 buracos consome entre 1,5 e 2 milhões de litros de água por dia. Todos os dias. Em Portugal há pelo menos 91 campos de golfe activos. Estimativa global: consomem entre 136 e 182 milhões de litros de água por dia. Todos os dias. Porque é que o Governo não restringe o consumo de água dos campos de golfe, tendo em conta a situação de seca extrema no país? E esse consumo dos campos de golfe é contabilizado como "doméstico", "indústria" ou "agricultura"?

Por motivos ideológicos, mais uma vez. Assistimos mais uma vez à subjugação do ambiente pela economia. O golfe é um ativo turístico muito presente em todos os governos portugueses. Segundo o Ministério da Economia, que tutela o Turismo, o setor cresce anualmente 7%, o que implica mais dormidas, mais viagens, mais consumo interno. Acresce, pelo dados do Conselho Nacional da Indústria de Golfe (CNIG), que esta indústria gera 120 milhões de euros anuais. Estes dados mostram o peso e a importância deste setor no Turismo, na economia nacional. Mesmo sabendo que existe um "Manual de Boas Práticas Ambientais para Campos de Golfe", criado em 2009, não podemos deixar de sublinhar que este desporto traz profundos desequilíbrios na gestão hídrica. Não obstante o setor onde se insere o golfe, cremos que as soluções para este desperdício de água devem partir de uma abordagem multifactorial. E caso não se consiga restringir o uso deste bem neste desporto, poderiam ser usadas águas residuais tratadas para as regas.

 

Na sua perspetiva, quais é que deveriam ser as prioridades do Governo para mitigar os efeitos da seca? E que medidas deveriam ser tomadas, no futuro, para prevenir as situações de seca extrema que deverão tornar-se recorrentes, atendendo aos efeitos do aquecimento global?

A visão tem que ser integrada e a longo prazo. Passa por um reforço da campanha de sensibilização, para o consumo doméstico mas incindindo sobretudo no impacto que a agricultura e a pecuária intensiva têm nos nossos recursos hídricos. O Governo deve ter uma ação mais transparente e informar os cidadãos sobre o enorme impacto que as suas escolhas alimentares podem representar para os ecossistemas, a atual forma de produção de alimentos é insustentável. Envolve também a proteção legal e eficaz de todas as nossas massas de água, nomeadamente os aquíferos e rios de Portugal, através de um controle mais eficaz de indústrias altamente poluentes como a da celulose, de monoculturas agrícolas agrotóxicas, tal como da indústria pecuária. Também é fulcral deixarmos de isentar, subsidiar e investir nestas indústrias, alocando estes recursos para a expansão e implementação do Plano Nacional para a Agricultura Biológica. A balança comercial nesta fileira é deficitária e muitos destes produtos são importados. Esta oportunidade de redirecionamento destes fundos públicos trariam um alavancar das nossas exportações e diminuiriam o peso das importações. Trariam também consideráveis benefícios aos nossos solos e às nossas massas de água. Importa também priorizar a reforma da floresta com uma visão a longo prazo que privilegie espécies florestais autóctones, nomeadamente carvalhos, sobreiros e outras folhosas, em detrimento do eucalipto e do pinheiro, tal como a produção de biomassa, fundamental para a retenção e captação de água.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Nem tudo a seca afetou: teremos bom vinho e kiwi atinge maior produção de sempre


Sónia Bexiga
Ontem 12:22
As mais recentes previsões agrícolas, lançadas agora pelo INE, revelam que as culturas de regadio apresentam bons níveis de produtividade e aumentos de produção nas fruteiras, amendoais, vinha e olival.


As previsões agrícolas do Instituto Nacional de Estatística (INE), agora conhecidas, salientam que o tempo quente e seco não comprometeu a campanha nos pomares de pomóideas: a produção de maçã deverá atingir as 300 mil toneladas, enquanto a de pera rondará as 165 mil toneladas (+25% e +20%, face a 2016, respetivamente).

No kiwi, a floração e o vingamento dos frutos decorreram favoravelmente, e a entrada em plena produção de novos pomares foi decisiva para a produção recorde de 31 mil toneladas.

A produção de amêndoa também deverá atingir níveis que já não eram alcançados há muitos anos (+282%, quando comparada com a média dos últimos cinco anos).

As vindimas decorreram sem incidentes, observando-se um aumento da produção de vinho (+10%, face a 2016) que, a julgar pelo estado das uvas vinificadas, deverá ser de qualidade superior.

Quanto aos olivais, e apesar da seca, a produção deverá ser próxima da normal, com os olivais intensivos a compensarem a menor produtividade dos tradicionais. Em contraciclo encontram-se os soutos, claramente afetados pela falta de precipitação, prevendo-se uma redução de 15% face à campanha anterior, com castanhas de menor calibre.

Nas culturas temporárias de primavera/verão destaca-se o tomate para a indústria, que aumentou a produção para os 1,68 milhões de toneladas, apesar do registo de problemas fitossanitários que dificultaram a maturação.

No arroz, a falta de água disponível na bacia hidrográfica do Sado conduziu a uma diminuição da área semeada, com implicações na produção alcançada (10% inferior à média 2012-2016).

Precipitação escassa compromete disponibilidades forrageiras e adia sementeiras

A falta de chuva continua a atrasar o início de ciclo das pastagens de sequeiro, que apresentam reduzida disponibilidade forrageira, registando-se um aumento significativo da suplementação dos efetivos pecuários. Com efeito, e duma forma generalizada, a alimentação dos efetivos está a ser realizada com recurso a alimentos conservados que, em condições normais, estariam armazenados para fazer face à paragem de crescimento característica das pastagens mediterrânicas durante o inverno.

Este facto, aliado à dificuldade de instalação das culturas forrageiras (que naturalmente implicará um atraso na disponibilização de matéria verde), conduzirá a um prolongamento do período de suplementação, com um acréscimo significativo dos custos para as explorações pecuárias. De notar ainda que nas zonas afetadas pelos incêndios de 15 de outubro (onde morreram mais de 6 mil ovinos e caprinos, mais de mil bovinos e mais de 1,5 mil suínos3 ), a situação é ainda mais grave, dado que uma quantidade significativa de palhas e fenos armazenados foi destruída.

Combate aos incêndios: 2017 é o segundo ano mais severo dos últimos 15


Sónia Bexiga
Ontem 12:41

Na sequência da particular gravidade dos incêndios rurais ocorridos em 2017, o INE avança com uma estimativa da área afetada por ocupação cultural, baseada no cruzamento da cartografia de áreas ardidas.


No âmbito das previsões agrícolas agora avançadas, o Instituto Nacional de Estatística (INE) apresenta ainda uma breve análise sobre a severidade das condições meteorológicas e do estado dos combustíveis. A informação de contexto tem por base a análise do IPMA sobre o indicador "taxa de severidade diária (DSR)".

Numa série de 15 anos (2003-2017), a severidade acumulada desde 1 de janeiro a 31 de outubro, se evidencia o ano de 2005 como o mais gravoso desta série de anos e o ano de 2017 como o segundo mais gravoso.

A taxa de severidade diária (DSR) acumulada ao longo de uma época traduz a severidade das condições meteorológicas e do estado dos combustíveis relativamente ao combate a incêndios florestais nessa época.

Embora esta avaliação desde o início do ano dê uma boa indicação sobre a severidade das condições meteorológicas e do estado dos combustíveis para o combate aos incêndios florestais, os valores acumulados do DSR em períodos mais curtos, por exemplo mensais, é um indicador da intensificação desta severidade.

Os anos com a maior variação mensal, para esta série de anos, foram 2005 para o mês de janeiro, 2012 para fevereiro e março, 2017 para abril, 2006 para maio, 2005 para junho, julho e agosto e 2017 para setembro e outubro, facto que explica o aumento da adversidade para o combate aos incêndios nestes últimos dois meses.

Área ardida por ocupação cultural: olival foi o mais afetado

Na sequência da particular gravidade dos incêndios rurais ocorridos em 2017, o INE avança com uma estimativa da área afetada por ocupação cultural, baseada no cruzamento da cartografia de áreas ardidas produzida pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) em 18 de outubro com o Sistema de Identificação de Parcelas (SIP) do Instituto de Financiamento de Agricultura e Florestas (IFAP) (classificação das ocupações do solo).

A área afetada atingiu um vasto número de parcelas, correspondente a cerca de meio milhão de hectares (507,4 mil hectares). A análise da ocupação cultural das parcelas ardidas aponta para uma área de 8,8 mil hectares de olival, 2,8 mil hectares de vinha e 2,4 mil hectares de culturas frutícolas. De acordo com o ICNF, 47% da área ardida estava ocupada por povoamentos florestais .

Calor e seca não prejudicam maçã e vinho mas trazem castanhas "de menor calibre"


As previsões agrícolas do INE estimam que apesar do calor e da seca registados em 2017, as produções de maçã, amêndoa vinho e azeite não foram afectadas. Já a produção de castanhas e arroz é prejudicada pela seca.


David Santiago David Santiago dsantiago@negocios.pt
20 de novembro de 2017 às 12:42

O calor e a seca que fizeram de Outubro um mês "extremamente seco e excepcionalmente quente", o mais quente dos últimos 87 anos a exemplo do que já havia sucedido com o mês de Setembro, prejudicaram a produção de castanha e arroz mas não impactaram negativamente a produção de frutos e vinho.

O relatório divulgado esta segunda-feira, 20 de Novembro, em que o Instituto Nacional de Estatísticas (INE) faz as mais recentes previsões agrícolas, mostra que houve várias culturas que não foram prejudicadas pelos efeitos climatéricos adversos. Em resumo, em 2017 registam-se aumentos em comparação com o período homólogo na produção de maçã (+25%), pêra (+20%), milho e tomate (+5%), amêndoa (+255%) e vinho (+10%).

Apesar da seca, a produção de frutos está a ter um bom ano. Além da maior produção de sempre de kiwi, a produção de maçã e pêra não foi afectada pela falta de precipitação, uma vez que, por exemplo, quatro quintos da área de produção de maçã é regada, diz o INE.

A apanha de maçã que decorreu essencialmente em Agosto e Setembro deverá levar a um aumento de produção para as 300 mil toneladas, o que corresponde a um aumento de 25% face ao ano passado. O granizo que caiu em Julho e finais de Agosto fez com que, em especial nos pomares situados no Norte do país, parte da produção fosse desviada para a indústria.

Já a produção de pêra (pêra Rocha é a variedade predominante) deve aumentar 20% comparativamente com a última campanha, atingindo "valores próximos da média do quinquénio", embora muito abaixo dos níveis registados em 2013 e 2014, salienta o INE.

O aumento de produtividade nas produções de kiwi face a 2016 bem como a entrada em plena produção de plantações mais recentes, fazem com que este fruto registe a maior produção de sempre, superando pela primeira vez as 30 mil toneladas.

Também a colheita de tomate, que terminou na primeira semana do mês passado, não foi penalizada com a produção a crescer 5% relativamente ao ano passado para os 1,68 milhões de toneladas, o que se verificou apesar dos "fortes ataques de mosca branca e de ácaros" ocorridos na fase final da campanha.

O INE antecipa ainda um "bom ano vinícola", também proporcionado pelo facto de as vindimas terem decorrido com tempo seco, "condição fundamental para a obtenção de vinhos de qualidade".

Apesar de a falta de humidade e das elevadas temperaturas terem provocado "algum engelhamento nos bagos", o "elevado número de cachos e de bagos por cacho" e a reduzida incidência das principais doenças que afectam esta produção, verificou-se um aumento de 10% na produção de vinho comparativamente com o período homólogo.

Já a produção média de azeite aproximou-se da média dos últimos cinco anos, devendo subir ligeiros 1%.
Enquanto a produção de milho beneficiou dos "dias quentes e secos" para garantir um crescimento de 5%, a produção de amêndoa deverá superar as 20 mil toneladas, mais 255% do que em 2016, no que representa uma "situação inédita neste século".
 
Castanha e arroz afectados por calor e seca

Pelo contrário, o clima prejudicou bastante a cultura da castanha, sendo 2017 um ano com "menos castanha e de qualidade inferior" .

"Os castanheiros instalados em solos com menor capacidade de retenção de água apresentam sinais de grande stress hídrico, com situações extremas de morte de árvores. A castanha mais temporã, que já foi colhida, apresentou calibres reduzidos e miolo desidratado, com fraco poder de conservação e por vezes bichado. 

Apesar de ainda existirem muitos ouriços que não abriram, estima-se que o número de frutos que completem o desenvolvimento normal seja inferior ao habitual", explica o INE que assim nota que se estima uma "redução de 15% da produção face à campanha anterior".

Também o arroz foi fortemente prejudicado pela seca, uma vez que "a falta de água disponível na bacia hidrográfica do Sado", o que levou à diminuição da área semeada, contribuindo para uma quebra de 10% na produção face à média do período compreendido entre 2012 e 2016.
 
O INE lembra ainda que "a falta de chuva continua a atrasar o início de ciclo das pastagens de sequeiro, que apresentam reduzida disponibilidade forrageira, registando-se um aumento significativo da suplementação dos efectivos pecuários".