quinta-feira, 26 de julho de 2018

Produção de cereais

15.07.2018 às 20h00

Portugal está cada vez mais dependente de outros países para pôr pão na mesa. Há 100 anos que não se semeavam tão poucos cereais. O Governo e os agricultores querem inverter essa tendência e esta quinta-feira foi aprovada em Conselho de Ministros a Estratégia Nacional para os Cereais. Porém, com uma certeza: Portugal nunca será autossuficiente neste sector

Sempre que come um papo-seco (ou uma carcaça, consoante a zona do país) provavelmente está longe de imaginar que apenas 6% do que acabou de ingerir é produzido em Portugal.

Mas é exatamente esse o grau de autoaprovisionamento nacional para o trigo que serve de base ao fabrico do dito papo-seco. Curiosamente, nesta matéria, o país está pior que há 10 anos, quando a produção nacional de cereais garantia 14% do trigo panificável.
A boa notícia é que, para a produção de cereais em geral, Portugal apresenta um grau de autossuficiência da ordem dos 20,5%, embora abaixo do registado em 2007, que se situava nos 24,3%.

"Isto de viver num país que tem de andar a importar pão revolta-me profundamente, mas agora estamos a assistir a uma mudança de atitude perante o sector, o que acaba por ser um sinal de esperança", dizia há poucos dias ao Expresso Fernando Carpinteiro Albino, gestor da marca Cereais do Alentejo e, também ele, um dos resistentes nesta área de atividade, com uma sementeira da ordem dos 1000 hectares na zona de Elvas.

Ao falar de "esperança", Carpinteiro Albino referia-se à Estratégia Nacional para a Promoção da Produção Cerealífera, que o Governo e as associações do sector tinham acabado de publicar. O que o gestor alentejano não sabia era que este dia 12 de julho o documento seria aprovado em Conselho de Ministros.

Portugal nunca será um grande produtor de cereais
Mas foi isso que aconteceu e Capoulas Santos, ministro da Agricultura, mostra-se confiante na recuperação do sector. "Temos a perfeita noção de que Portugal nunca será um grande produtor de cereais e que jamais se aproximará das quantidades necessárias para o consumo próprio (o que significa estar dependente das importações) mas também sabemos que é possível fazer muito mais", sublinha o ministro.
Em comunicado emitido no final do Conselho de Ministros desta quinta-feira, pode ler-se que, "considerando o potencial da produção cerealífera em termos territoriais, prevê-se com esta Estratégia atingir, num horizonte de 5 anos, um grau de autoaprovisionamento em cereais de 38%, correspondendo 80% ao arroz, 50% ao milho e 20% aos cereais praganosos".

No mesmo documento o Governo diz ainda que pretende, deste modo, "contribuir para um sector mais forte e mais eficiente, com maior capacidade de resistência à volatilidade dos mercados, com maior capacidade de oferta de um produto de elevada qualidade e mais adaptado às alterações climáticas".

PRODUÇÃO EM MÍNIMOS DE 100 ANOS
Portugal nunca foi autossuficiente em cereais, sempre teve de comprar a maioria do que consome para se alimentar. Como se isso não bastasse, há já cinco anos consecutivos que Portugal regista uma diminuição da área semeada de cereais, prevendo-se que na campanha em curso se atinja um mínimo histórico de 121 mil hectares, a menor área dos últimos cem anos — desde que existem registos sistemáticos, compilados pelo Instituto Nacional de Estatística.

No caso do trigo, como já foi dito, Portugal apenas produz 6% das suas necessidades anuais. A compra a terceiros é cada vez mais uma opção inevitável para conseguir alimentar o país.

A superfície cultivada com cereais ocupava, no final dos anos 80, cerca de 900 mil hectares, aproximadamente 10% do território nacional. Essa área tem vindo gradualmente a diminuir, a maior parte convertida em pastagens, sendo, em 2016, de 257 mil hectares. A produção também diminuiu, embora de modo menos pronunciado: de 1,65 milhões de toneladas para 1,1 milhões no mesmo período, segundo dados apurados pelas associações do sector.

HISTORICAMENTE DEPENDENTES DAS IMPORTAÇÕES
No documento da Estratégia Nacional para os Cereais, esta quinta-feira aprovada, pode ler-se que "Portugal é, historicamente, dependente da importação de cereais, mas, se os níveis de autoaprovisionamento eram de 60% em 1989, a diminuição da produção e o aumento das necessidades conduziram a um valor atual particularmente baixo (cerca de 20% em 2017), constituindo uma singularidade no contexto europeu e mundial".

Os produtores de cereais garantem que, apesar de tudo, existem elementos positivos a aproveitar e a potenciar como é o caso da capacidade de organização da produção, "com qualificações técnicas elevadas, dos vários aproveitamentos que podem ser dados aos cereais, da elevada qualidade sanitária da produção nacional, da existência de unidades industriais instaladas em Portugal com capacidade para escoar a produção e do investimento em tecnologias relacionadas com a agricultura de precisão".

PLANTAR CEREAIS COMO 'TAMPÃO' CONTRA INCÊNDIOS
Confiantes no seu desempenho, asseguram ainda que o setor está igualmente bem posicionado para contribuir para a manutenção da atividade agrícola em todo o território, "com evidentes benefícios ao nível do fomento do desenvolvimento económico, da paisagem e da promoção e preservação da biodiversidade, bem como para a preservação de áreas agrícolas regadas no seio de manchas florestais, criando zonas de descontinuidade que contrariem a progressão dos incêndios".
Outra área de oportunidade relaciona-se com a maior valorização, por parte do consumidor, da 'Origem Portugal', "observando-se uma tendência crescente da indústria, distribuição e consumidores por compras de proximidade e com rastreabilidade definida", notam ainda os produtores. E é neste contexto que surgem novos mercados de que são exemplos o milho pipoca, o milho para broa, o pão de cereais regionais ou os cereais com baixos teores em pesticidas.

OLIVAL 'ROUBA' 30 MIL HECTARES ÀS SEARAS
Por fim, segundo os agricultores, o Plano Nacional de Regadios, recentemente apresentado pelo Governo, acaba por ser um forte impulso e cria condições para a expansão da cultura de cereais.

Há que recordar, porém, que foi a água (de Alqueva) que acabou por ditar a sentença de morte de muita da produção cerealífera daquele que era conhecido como o 'celeiro de Portugal' — o Baixo Alentejo. Devido à disponibilidade do regadio de Alqueva, nos últimos dez anos a zona de Ferreira, Beja e Serpa viu 30 mil hectares de terra migrarem do cereal de sequeiro para o olival regado.
Portugal perdeu na produção de cereais mas acabou por ganhar, com esta transição, um nível de autossuficiência da ordem dos 104,1% (2017) no azeite, contra apenas 63,8%, há dez anos.

Empresas já podem produzir e vender vinagre de vinho do Porto

O Instituto do Vinhos do Douro e do Porto aprovou a nova categoria de produto reclamada pelo sector e já registou a marca colectiva, assegurando a análise quantitativa e qualitativa do produto e a aprovação dos rótulos.

António  Larguesa António Larguesa alarguesa@negocios.pt
24 de julho de 2018 às 11:50

Era uma exigência antiga dos comerciantes e produtores engarrafadores de vinho do Porto e acaba de ter luz verde oficial por parte do Estado. O Instituto do Vinhos do Douro e do Porto (IVDP) anunciou esta terça-feira, 24 de Julho, ter efectuado o registo da marca colectiva "Vinagre de Vinho do Porto".

Tendo em conta "o potencial qualitativo do vinagre elaborado exclusivamente a partir de vinho do Porto" e após "vários meses de estudos, pesquisas de mercado e avaliação da metodologia a seguir", o instituto público decidiu avançar com este registo e oficializar a nova categoria de vinagre, que já era permitida noutras reputadas regiões demarcadas europeias, como Champanhe ou Jerez.

Quem quiser produzir e vender este produto deve firmar um protocolo com o IVDP, que alerta que o uso desta marca registada está sujeita às regras do Código da Propriedade Industrial. Incluindo a prévia certificação do vinho do Porto, a análise quantitativa e qualitativa do vinagre produzido ou a aprovação dos rótulos por parte deste organismo certificador e promotor das Denominações de Origem Porto e Douro e Indicação Geográfica Duriense, integrado no Ministério da Agricultura.

O Vinagre de Vinho do Porto surge do interesse do sector em apresentar um produto premium proveniente do vinho do Porto.
MANUEL CABRAL, PRESIDENTE DO IVDP

Citado numa nota de imprensa, o presidente do IVDP frisa que este vinagre de vinho do Porto "surge do interesse do sector, que aprovou a medida por unanimidade, em apresentar um roduto 'premium' proveniente do vinho do Porto", cuja produção total vai cair em 2018 após seis aumentos anuais consecutivos por decisão do chamado conselho interprofissional, que junta representantes da produção e do comércio.

Prestes a abandonar o cargo, que ocupa desde 2011, Manuel Cabral argumenta ainda que "a experimentação já desenvolvida e a procura de novos produtos de elevada qualidade, que possam acrescentar valor ao sector vitivinícola, fazem parte do posicionamento do IVDP que salvaguarda sempre a imagem de prestígio internacional de que beneficia a Denominação de Origem Protegida Porto". 

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Procuram-se voluntários para testar contaminação por glifosato


Em Portugal é permitida a utilização do glifosato na agricultura


Zulay Costa
15 Julho 2018 às 14:37


A Plataforma Transgénicos Fora está a promover, até dia 21, a recolha de amostras de urina para testar o nível de contaminação por glifosato, um herbicida considerado potencialmente cancerígeno e utilizado em Portugal.

Análises realizadas em 2016, noutra ação daquela plataforma, revelaram "níveis de contaminação 20 vezes superiores à média de outros países da União Europeia (UE)", refere Margarida Silva, uma das coordenadoras do grupo.

As análises serão enviadas para um laboratório em Bremen, na Alemanha, e os resultados deverão ser conhecidos até final de setembro. Cada análise custa 73,20 euros, a que acrescem cinco euros para custos de envio. "É caro, mas a Plataforma não tem como suportar os custos", por isso, apela a que as pessoas façam um esforço ou se juntem em grupos, associações, bairros e comunidades, para suportar as despesas de mandar testar uma amostra de cada região. Para já estão inscritas 23 pessoas, mas a Plataforma Transgénicos Fora gostaria de chegar às 50, tocando todas as regiões do continente e arquipélagos.

A intenção é conseguir "um grupo alargado e o mais representativo possível do país, para termos uma espécie de mapa da contaminação em Portugal" e, dessa forma, a comprovarem-se elevados valores de contaminação, "exigir junto de autarquias e governo que o uso de glifosato seja drasticamente reduzido e progressivamente substituído por alternativas que não prejudiquem a saúde e o ambiente", explica Margarida Silva. Este será, diz, "o primeiro estudo científico sobre um problema invisível e silencioso de saúde pública".

Em 2016, a Plataforma Transgénicos Fora conseguiu reunir donativos para pagar as análises. Na ocasião foram analisados 26 voluntários (22 da região do Porto e quatro de Tomar). Os resultados acusaram uma contaminação 20 vezes superior à média de outros países da UE, mas não se encontraram explicações para os valores. "Ninguém sabe porque estamos tão contaminados, pode ser dos alimentos, da água ou outra coisa. Mas também não parece haver pressa e interesse em saber", estranha Margarida Silva.

Os interessados em participar devem preencher o formulário online. O resultado de cada análise será comunicado individualmente, juntamente com uma explicação e sugestões de descontaminação.

Pesticida para agricultura é legal

O glifosato é um pesticida que pode ser utilizado legalmente na agricultura e também para pulverizar passeios e arruamentos, se outras ações se revelarem infrutíferas para eliminar as ervas. Já foi, no entanto, proibido junto a escolas e outros espaços considerados sensíveis.

Em 2015 foi classificado como "carcinogéneo provável para o ser humano e carcinogéneo provado para animais de laboratório" pela International Agency for Research on Cancer, entidade que integra a Organização Mundial de Saúde. No entanto, há quem questione o estudo.

A discussão sobre o seu uso é longa. Em novembro de 2017, a licença do uso do glifosato foi renovada por mais cinco anos na União Europeia. Portugal absteve-se na discussão.

A Plataforma Transgénicos Fora e outros ambientalistas dizem que Portugal é o país europeu que mais utiliza glifosato. Um estudo realizado há poucos anos e publicado na revista académica "Science of the Total Environment" encontrou níveis elevados de glifosato em amostras de solos agrícolas em Portugal. 53% das 17 amostras tinham o herbicida, valores que ultrapassam largamente o segundo país mais contaminado (a França).

Os campos da morte

Maxwell Gomera | Edward Mabaya
15 de julho de 2018 às 14:00

Por todo o mundo em desenvolvimento, os agricultores estão a expandir áreas de cultivo numa busca interminável por solo fértil. Nesse processo, importantes habitats de vida selvagem estão a ser destruídos a um ritmo alarmante.


No passado dia 3 de Abril, o Reino Unido anunciou uma proibição de venda de marfim que se tornou "uma das mais rígidas do mundo". Ao restringir o comércio de marfim, o Reino Unido juntou-se a outros países – incluindo a China e os Estados Unidos – que recorrem a mecanismos de mercado dissuasores para desencorajar a caça furtiva e proteger uma espécie em vias de extinção. Tal como referiu o ministro britânico do Ambiente, Michael Gove, o objectivo é "proteger os elefantes para as gerações futuras".

Estes são, sem dúvida, gestos louváveis ao serviço de um objectivo nobre. Mas acabar com a venda de marfim, por si só, não irá reverter a diminuição nas populações de elefantes. Com efeito, a maior ameaça com que se deparam esta e muitas outras espécies reside numa actividade humana bastante mais comum: a agricultura.

Por todo o mundo em desenvolvimento, os agricultores estão a expandir áreas de cultivo numa busca interminável por solo fértil. Nesse processo, importantes habitats de vida selvagem estão a ser destruídos a um ritmo alarmante. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), se a actual tendência se mantiver, em 2050 o solo cultivável de todo o mundo terá aumentado em cerca de 70 milhões de hectares e grande parte das novas terras aráveis estará localizada em zonas que estão actualmente florestadas. O risco é maior na América do Sul e na África Subsaariana, onde o crescimento da população e a procura de alimentos afectarão mais intensamente as zonas de floresta tropical.

A pobreza está na raiz desta crise ecológica, mas as más práticas agrícolas perpetuam o ciclo da fome e da perda de habitats. Em África, por exemplo, o rendimento persistentemente baixo das culturas – muitas vezes correspondem a apenas 20% das médias globais – está relacionado com a fraca qualidade das sementes, a indisponibilidade de fertilizantes e a falta de irrigação. À medida que a saúde dos solos se vai deteriorando e a produção agrícola vai diminuindo, muitos agricultores não vêem outra alternativa a não ser procurar novos terrenos de cultivo.

Felizmente, existe uma forma de acabar com este ciclo vicioso. Estudos recentes revelam que a tecnologia e melhores práticas agrícolas podem aumentar a produtividade agrícola, ao mesmo tempo que reduzem a perda de habitats e protegem a vida selvagem. Esta abordagem, conhecida como "intensificação sustentável", visa impulsionar a produção das terras existentes recorrendo a técnicas como a gestão integrada de colheitas e o controlo avançado de pragas. Se aplicada amplamente, a intensificação sustentável pode até mesmo reduzir o a quantidade total de terras actualmente cultivadas.

Não se trata de um objectivo impossível. Nos últimos 25 anos, os agricultores de mais de 20 países de todo o mundo melhoraram a segurança alimentar, ao mesmo tempo que mantiveram ou aumentaram o coberto florestal. Segundo um estudo, entre 1965 e 2004 os agricultores dos países em desenvolvimento que plantaram sementes de elevada qualidade conseguiram reduzir os terrenos aráveis em perto de 30 milhões de hectares – uma área que é praticamente do tamanho de Itália. Estes ganhos poderiam ser ainda mais expressivos se os pequenos agricultores tivessem acesso a equipamento moderno, a uma melhor recolha e análise de dados, e a mais financiamento.

Os críticos argumentam que o aumento da produtividade das pequenas explorações agrícolas pode ser contraproducente, especialmente se isso incentivar os agricultores mais pobres a expandirem as suas áreas cultiváveis na esperança de aumentarem os lucros. Para evitar este cenário, as estratégias de intensificação devem fazer-se acompanhar por um sólido planeamento de conservação.

Ao mesmo tempo, contudo, não se pode simplesmente pedir aos agricultores dos países em desenvolvimento que deixem de usar os recursos não-agrícolas adjacentes aos seus terrenos. Muitas pessoas que vivem nas comunidades pobres dependem dos produtos florestais para terem combustível e materiais de construção, pelo que as políticas governamentais que proíbam o uso desses recursos sem oferecerem alternativas adequadas estarão provavelmente condenadas ao fracasso. Em vez disso, a abordagem ideal para a conservação nos países em desenvolvimento deverá associar o apoio agrícola e económico a limites rígidos à expansão das terras de cultivo.

Isso está longe de ser o que hoje acontece. Em todo o mundo, são investidos milhares de milhões de dólares anualmente na tentativa de resolução da degradação ambiental e da pobreza; muitos dos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU estão de algum modo relacionados com estas duas preocupações. E, ainda assim, a maioria dos programas destinados a lidarem com estes problemas operam isoladamente. Isto é um erro: as soluções para a insegurança alimentar e para a perda de habitats devem estar mais bem integradas se quisermos que estes problemas sejam resolvidos.

Ninguém duvida que medidas bem intencionadas como a proibição do comércio de marfim possam reduzir o impacto ecológico da actividade humana. Mas, neste momento, a agricultura – a actividade com mais responsabilidade nos danos ao bem-estar de muitas espécies – não está a conseguir atrair a devida atenção dos decisores políticos. Enquanto isso não mudar, é bem provável que as estratégias governamentais de protecção da vida selvagem "para as gerações futuras" não sejam suficientes.

Maxwell Gomera é director do Departamento de Biodiversidade e Ecossistemas no Programa do Ambiente das Nações Unidas. Edward Mabaya é investigador senior na Universidade de Cornell.

Municípios têm de incorporar orientações regionais para a floresta até 2020

"A floresta não pode ser caótica, onde cada um planta o que quer sem nenhuma preocupação de ordenamento", defendeu o ministro da agricultura. 


Os municípios vão ter de incorporar as novas orientações para os Programas Regionais de Ordenamento Florestal (PROF) até ao final de 2020, afirmou este sábado o ministro da Agricultura, Capoulas Santos. O Governo aprovou este sábado a resolução do Conselho de Ministros que define uma nova orientação estratégica para os programas regionais, com a criação de uma segunda geração de PROF, que se traduz na passagem de 21 programas regionais para sete (Trás-os-Montes e Alto Douro, Entre Douro e Minho, Centro Litoral, Centro Interior, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve). Segundo o ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, os municípios vão ter de integrar nos seus planos diretores municipais (PDM) as novas orientações contidas nos programas regionais, "até 31 de dezembro de 2020". Para o membro do executivo, esta medida é "uma peça fundamental na reforma da floresta", resultado de um trabalho que começou há dois anos, envolvendo consórcios com universidades e empresas. "São um instrumento fundamental, já que o pilar básico desta reforma da floresta que estamos a executar é o ordenamento - definir o mosaico desta nova floresta", sublinhou, referindo que os novos PROF estabelecem "uma projeção até 2050 sobre aquilo que deve ser" a floresta no território nacional. As regras, vincou, serão transpostas para os PDM "por forma a que se passe a suceder aos espaços florestais aquilo que acontece nos espaços urbanos".

Municípios vão passar a ter regras sobre o que plantam e onde plantam


14 jul, 2018 - 09:22 • Isabel Pacheco

Um passo "gigantesco" para a reforma da floresta, considera o ministro da Agricultura.

 
Os municípios vão passar ter regras sobre o que plantam e onde plantam. São os planos regionais de reordenamento florestal, com regras em tudo semelhantes às do urbanismo, mas para a floresta. A medida deverá ser aprovada pelo Conselho de Ministros extraordinário dedicado à revitalização do interior e à reforma da Floresta, que decorre este sábado, na Pampilhosa da Serra.

O objetivo é "redesenhar" o mapa das florestas em Portugal. "Ninguém poderá plantar o que quer, onde quer. Naturalmente as decisões sobre esta matéria nunca ficarão ao arbítrio de cada município", afirma à Renascença o ministro da Agricultura, Capoulas Santos.

Os planos regionais de reordenamento florestal são as "'macro-regras' que depois os municípios, no plano intermunicipal, vão aplicar. Vão determinar as regras de aplicação de cada espécie, onde deve ser plantada, quais as dimensões máximas, etc.", explica o ministro.

Um passo "gigantesco" para a reforma da floresta, sublinha Capoulas Santos, que terá de ser dado por todos os municípios até 2020. "Passaremos do desordenamento total ou quase total, que infelizmente existe há muitas décadas, para um ordenamento progressivo. O primeiro passo vai ser esta macro-orientação que o governo vai decidir. De seguida, até 31 dezembro de 2020, todos os municípios têm de ter integradas nos seus planos municipais regras consonantes com estas orientações".


Dos sete programas regionais de ordenamento florestal, cinco deverão entrar já em vigor - os restantes dois em outubro. "Foi necessário conceder mais algum tempo para a conclusão de dois deles, os da região centro litoral e centro interior, que ficarão concluídos depois da consulta pública, até ao final de setembro deste ano", explica o ministro da Agricultura.

A partir de outubro, ficam então definidas as regras, que os municípios deverão incorporar nos seus planos municipais. O prazo máximo que têm para o fazer é 31 de dezembro de 2020.

terça-feira, 24 de julho de 2018

Agricultura: Presidente da CAP critica discurso redutor sobre uso da água

O presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) criticou hoje o "discurso redutor" do ministro do Ambiente relativamente ao uso da água na agricultura e pediu ao ministro da Agricultura uma "política agrícola para a água".

17:02 - 10/07/18 POR LUSA
 
Eduardo Oliveira e Sousa falava durante o Dia de Campo InovMilho, na Estação Experimental António Teixeira, em Coruche, durante o qual foi inaugurado um Centro de Formação para produtores e técnicos e apresentada a Agenda de Inovação para as Culturas do Milho e Sorgo na presença do ministro da Agricultura, Capoulas Santos.

Realçando o facto de esta estação se encontrar no Vale do Sorraia, "no cerne do regadio", com elevado contributo para a economia do país e a fixação de populações, o presidente da CAP afirmou ter ouvido "com espanto" o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, afirmar que "se pretende diminuir os títulos de utilização, diminuir as suas autorizações, dando a entender que se está a usar água a mais".

"E sobre mais barragens? Nem pensar, governem-se com o que há. Foram as palavras que ouvi. Querem mais regadio? Reguem com menos água. Senhor ministro, este discurso redutor tem de ser contrariado, a começar pelo seu. O regadio, como aqui se vê, é a única forma de enfrentarmos as alterações climáticas e permanecermos nos campos", afirmou, dirigindo-se a Capoulas Santos.

O presidente da CAP referiu ainda que "já começaram os rumores, através do Ministério do Ambiente ou da APA (Agência Portuguesa do Ambiente), de que o custo de utilização" de águas recicladas "será cobrado aos agricultores e que será até obrigatório o seu uso, caso ela seja uma alternativa mesmo que outra origem esteja disponível e a preço mais reduzido".

"Espero não ter ouvido bem. Mais não digo porque mais não sei", declarou.

Oliveira e Sousa pediu "ação" e que o Estado dê a conhecer a visão que tem para a água e a agricultura, quais as estratégias, por regiões e por culturas e para criação de mais reservas, considerando o plano nacional do regadio "curto".

"Precisamos de uma política agrícola interna, de uma política agrícola para a água, políticas que têm de vir de si", afirmou, dirigindo-se ao ministro da Agricultura.

Na resposta, Capoulas Santos comprometeu-se a "transmitir o recado" a Matos Fernandes e pediu que, a par da ambição de "desejar muito e mais", haja também o reconhecimento sobre o que tem sido feito.

Em concreto, apontou o financiamento adicional conseguido para o plano nacional de regadio, de 540 milhões de euros para projetos a concretizar até 2022, dos quais estão já aprovados 300 milhões de euros, em 95.000 hectares de regadio, "entre beneficiações e novos", com a criação de 10.000 postos de trabalho.

"Portanto, senhor presidente da CAP, estamos a fazer alguma coisa, certamente menos do que desejaríamos, mas não vislumbro qualquer outro momento da nossa história recente em que, em quatro anos, se tenham feito quase 100.000 hectares de regadio", afirmou.

"Nunca se executou tanta beneficiação de regadio e queremos ir mais longe", frisou, referindo as negociações em curso para o próximo quadro comunitário de apoio.

O InovMilho - Centro Nacional de Competências das Culturas do Milho e Sorgo, foi criado em 2015, envolvendo 34 entidades parceiras comprometidas em implementar uma estratégia de desenvolvimento e inovação destas culturas, depois de em 2013 ter sido assinado o protocolo de revitalização da Estação Experimental António Teixeira, pela Anpromis (Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo) e o INIAV (Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária).

O diretor do INIAV, Nuno Canada, afirmou que um dos objetivos da estratégia para o setor é aumentar o grau de autoaprovisonamento de cereais dos atuais 23% para 38% em cinco anos, sendo que, no milho, o objetivo é passar dos 35% para os 50%, reduzindo a dependência externa, criando valor na fileira e viabilizando a atividade agrícola em todo o território nacional.

Atrasos no pagamento do prémio para jovens agricultores devem-se a "imbróglio jurídico" - IFAP


O presidente do Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP) defendeu hoje que os atrasos verificados no pagamento do prémio para os jovens agricultores, no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural, se devem a um "imbróglio jurídico".

10 Julho 2018 — 18:50

"No PRODER [Programa de Desenvolvimento Rural em vigor até 2013] as regras e a burocracia levaram a um plano de ação específico [...] e foi criado um imbróglio jurídico, que levou a que a maioria dos jovens que chegavam ao fim dos processos, não os conseguissem concluir", disse Pedro Ribeiro, durante uma audição Parlamentar na Comissão de Agricultura e Mar.

De acordo com o responsável, foi necessário retirar, no início deste ano, uma grelha específica para o prémio, que estava dependente do jovem agricultor cumprir ou não os investimentos a que se tinha proposto.

O jovem agricultor "não vai assumir compromissos de caráter económico que não estão na sua mão. Procedemos à alteração da portaria e tivemos de reformular o programa informático, o que levou a atrasos nos processos", explicou.

O presidente do conselho diretivo do IFAP disse ainda que, devido à complexidade dos processos, o instituto tem pedidos de pagamento do PRODER que já têm entre 300 e 500 dias.

"São processos burocráticos que demoram uma infinidade de tempo e que só não foram deitados ao chão, porque não seguimos os decretos e portarias [que definiam os prazos do processo]", concluiu.

Tempestade comercial atira índice agrícola para mínimo histórico

A escalada das tensões comerciais entre os EUA e a China, que atingem directamente muitas matérias-primas, está a penalizar este sector. O subíndice da Bloomberg para a agricultura está no nível mais baixo de sempre.

11 de julho de 2018 às 21:52

O anúncio, por parte dos EUA, de novas tarifas alfandegárias sobre produtos chineses que entrem no país – desta vez no equivalente a 200 mil milhões de dólares, valor que se junta aos primeiros 50 mil milhões anunciados em Junho – levou a que a China respondesse na mesma moeda.

Resultado: com muitas matérias-primas no meio desta guerra, alvo de tarifas comerciais de parte a parte, crescem os receios de que a procura dessas "commodities" diminua. É o caso do petróleo, que levou os preços do "ouro negro" a afundarem hoje nos principais mercados.

Em Londres, o Brent do Mar do Norte, que serve de referência às importações europeias, segue a cair 5,92% para 74,19 dólares por barril, depois de já ter estado a afundar mais de 7%. No mercado nova-iorquino, o "benchmark" West Texas Intermediate recua 4,32% para 70,91 dólares, tendo estado já a perder mais de 5%.

Mas, no reino das matérias-primas, além do subsector da energia também o dos produtos agrícolas está a ser fortemente penalizado. A China, por exemplo, impôs tarifas adicionais sobre o principal produto agrícola que os EUA exportam para aquele país: a soja. Já a Administração Trump decidiu taxar adicionalmente produtos como aço e alumínio.

Assim, o "castigo" de Trump está a fazer ricochete, uma vez que muitas "commodities" que os EUA exportam para Pequim estão a ser apanhadas nesta guerra. Hoje, os preços do trigo caíram perto de 4%, ao passo que os do algodão, café, soja e milho recuam cerca de 2% e mais.

Com esta guerra, o subíndice da Bloomberg para a agricultura atingiu, também hoje, um mínimo histórico, sendo um sector que os investidores vão continuar a acompanhar de perto – e para o qual não se esperam dias felizes num futuro próximo.

Portugal vai duplicar produção de cereais


12 DE JULHO DE 2018 - 09:31

Governo acertou com produtores estratégia para país ficar menos dependente dos cereais vindos do estrangeiro.


O Ministério da Agricultura leva, esta quinta-feira, a Conselho de Ministros uma estratégia para aumentar a autossuficiência portuguesa de cereais, quase duplicando a produção nacional nos próximos cinco anos.

Nas últimas décadas, o país tem perdido capacidade de produção de cereais, estando altamente dependente do estrangeiro, algo que preocupa o Governo e vários especialistas.

A estratégia que vai agora ser aprovada pelo Conselho de Ministros foi acertada no último ano em reuniões com os produtores, num grupo de trabalho.

Fonte do ministério adianta à TSF que a meta é levar os níveis de produção atuais, que apenas chegam para cobrir 23% dos cereais que os portugueses consomem, para 40% de autossuficiência em cinco anos, ou seja, até 2023.

Recorde-se que, em fevereiro, o Instituto Nacional de Estatística (INE) avisou que Portugal devia ter, em 2018, pelo quinto ano consecutivo, uma diminuição de área cultivada de cereais, prevendo-se que seja mesmo a menor produção dos últimos 100 anos, ou seja, desde que existem registos históricos.

Em declarações à TSF, o ministro da Agricultura, Florestas e do Desenvolvimento, Luís Capoulas Santos, revelou que o Governo tem cerca de 20 medidas preparadas para aumentar a produção.

O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, entrevistado pelo jornalista Miguel Videira
"Existe um apoio que é um pagamento por hectare que é igual para todas as culturas e para todos os agricultores. Uma das medidas que estamos a equacionar é introduzir um pagamento direcionado para os cereais e adequar os custos energéticos da produção", exemplifica Capoulas Santos.

Há uma “epidemia escondida” na carne de frango em todo o mundo


JORNAL I
23/07/2018 19:10


De acordo com um estudo norte-americano, há uma "epidemia escondida" na carne de frango há várias décadas. Ao que tudo indica, este tipo de carne tem sido contagiada por suplementos antibióticos que perdem efeito na proteção de bactérias que infetam o organismo.

O estudo revela que a utilização de antibióticos em demasia na produção de carnes que se destinam ao consumo humano retira as propriedades para combater, de forma eficaz, as bactérias que se tornam "resistentes".

Quem lançou o alerta foi a jornalista norte-americana Maryn McKenna no seu livro intitulado "Plucked! The Truth About Chicken", que foi publicado há cerca de um ano, sendo que o livro resulta de uma investigação sobre a utilização de antibióticos na indústria agro-alimentar. O estudo diz respeito ao frango que é produzido nos Estados Unidos e no Reino Unido, mas ainda assim o alerta serve para todo o mundo.

No livro, a autora explica que as bactérias se tornam resistentes ao tratamento antibiótico e continuam a multiplicar-se dentro do organismo do ser humano que consome este tipo de carne.

Em algumas partes do livro, publicadas no jornal britânico The Guardian, pode ler-se que em 2017, "quase todos os animais, em muitas partes do globo, são criados com recurso a doses diárias de antibióticos, num total de 63.151 toneladas de antibióticos por ano".

Portanto, em consequência disso, o preço dos frangos diminuiu drasticamente, tornando-se no tipo de carne mais consumido nos Estados Unidos.

Segundo vários dados investigados pela jornalista, a resistência a antibióticos é responsável por cerca de 700.000 mortes todos os anos em todo o mundo, uma vez que cerca de 25.000 europeus, 23.000 norte-americanos e cerca de 63.000 bebés na Índia morrem, todos os anos, devido a esta mesma "epidemia escondida".

Além disso, a autora do livro refere ainda na sua publicação que a resistência a antibióticos causa inúmeras doenças, que até 2050 poderão custar à economia mundial cerca de 100 biliões de dólares.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Governo atualiza zonas de intervenção prioritárias para controlo de doença na vinha


O Governo atualizou a lista de freguesias que fazem parte das zonas de intervenção prioritárias (ZIP) para a proteção e erradicação da doença flavescência dourada, que afeta a vinha, segundo um despacho publicado hoje em Diário da República.


Lusa
16 Julho 2018 — 14:40

"Em resultado dos trabalhos de prospeção entretanto desenvolvidos em 2017, de acordo com o plano nacional para o controlo da doença, verificou-se a necessidade de atualização das listas, pelo que se impõe proceder à publicação de novo despacho com a listagem das freguesias que constituem as zonas de intervenção prioritária", lê-se no diploma.

Desta forma, as ZIP da Região Norte abrangem freguesias que fazem parte dos municípios de Melgaço, Monção, Valença, Amarante, Amares, Arcos de Valdevez, Barcelos, Braga, Cabeceiras de Baixo, Celorico de Baixo, Esposende, Fafe, Felgueiras, Guimarães, Lousada, Maia, Mondim de Baixo, Paços de Ferreira, Ponte da Barca, Ponte de Lima, Póvoa de Lanhoso, Ribeira da Pena e Santo Tirso.

Fazem ainda parte das ZIP da Região Norte freguesias dos municípios de Terras de Bouro, Valongo, Viana do Castelo, Vieira do Minho, Vila Nova de Famalicão, Via Verde, Vizela, Castelo de Paiva, Cinfães, Marco de Canaveses, Paredes, Penafiel, Vila Real, Santa Marta de Penaguião e São João da Pesqueira.

Por sua vez, fazem parte das ZIP da Região Centro freguesias dos municípios de Mealhada, Anadia e Cantanhede.

Da mesma forma, o Governo atualizou a listagem das freguesias onde foi detetada a presença do inseto 'Scaphoideus Titanus Ball', responsável pela flavescência dourada.

Na Região Norte, encontram-se freguesias dos concelhos de Alijó, Amarante, Amares, Armamar, Arcos de Valdevez, Arouca, Baião, Barcelos, Braga, Cabeceiras de Baixo, Caminha, Castelo de Paiva, Celorico de Basto, Chaves, Cinfães, Esposende, Fafe, Felgueiras, Gondomar, Guimarães, Lamego, Lousada, Maia, Marco de Canavezes, Matosinhos, Melgaço, Mesão Frio, Monção, Mondim de Bastos, Murça, Oliveira de Azeméis, Paços de Ferreira, Paredes, Paredes de Coura, Penafiel, Peso da Régua, Ponte da Barca e Ponte de Lima.

Fazem igualmente parte da listagem, na Região Norte, freguesias dos concelhos de Póvoa de Lanhoso, Póvoa de Varzim, Resende, Ribeira de Pena, Sabrosa, Santo Tirso, Santa Maria de Penaguião, Terras de Bouro, Trofa, Valença, Vale de Cambra, Valongo, Viana do Castelo, Vieira do Minho, Vila do Conde, Vila Nova de Cerdeira, Vila Nova de Famalicão, Vila Real, Vila Verde e Vizela.

Na Região Centro, verificou-se a presença do inseto em causa em freguesias dos concelhos de Anadia, Cantanhede, Coimbra, Mangualde, Mealhada, Nelas, Pinhel, São Pedro do Sul, Tondela, Viseu e Vizela.

Já na Região Autónoma da Madeira, encontram-se freguesias dos concelhos de Machico, Porto Moniz, Santana e São Vicente.

De acordo com o despacho, as zonas definidas correspondem a "áreas do território nacional constituídas pelas freguesias onde são detetas cepas contaminadas com o fitoplasma de quarentena 'Flavescence dorée phytoplasma' e pelas respetivas freguesias limítrofes e não limítrofes que foram abrangidas pelo perímetro definido em informação obtida através do sistema de informação da Vinha e do Vinho".

A listagem completa das freguesias afetadas pela doença ou onde foi detetada a presença do inseto está disponível na página do Diário da República Eletrónico (DRE).

Máximos históricos na produção de pomares e olival marcam campanha agrícola 2016/17

20/7/2018, 18:40

O Valor Acrescentado Bruto da agricultura cresceu 6,5%, em termos nominais, em 2017, após uma redução de 1,5% em 2016, com os pomares a apresentarem "excelentes produções".

O Valor Acrescentado Bruto (VAB) da agricultura cresceu 6,5%, em termos nominais, em 2017, após uma redução de 1,5% em 2016, com os pomares a apresentarem "excelentes produções", com registos recordes de maçã, cereja, kiwi, laranja e amêndoa.

De acordo com dados esta sexta-feira divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), os pomares de macieiras registaram um máximo histórico de produção, cerca de 330 mil toneladas (uma subida de 36,3% face a 2016), com os frutos a apresentarem "bons calibres".

A variação do VAB reflete fundamentalmente, segundo o instituto, o acréscimo de 4,4% na produção do ramo agrícola (contra uma descida de 2,4% em 2016), em resultado de um acréscimo em volume (de 3,8%) e da estabilização dos preços base (0,6%).

O consumo intermédio registou um acréscimo de 3,1%. As produções de cereja e laranja foram as maiores das últimas décadas, beneficiando das boas florações e de desenvolvimentos vegetativos adequados.

Também o kiwi, com uma produção de 35,4 mil toneladas (mais 68% face a 2016), alcançou a campanha mais produtiva de sempre, devido à entrada em plena produção de plantações recentes. Nos frutos secos destacam-se os amendoais com uma produção de 20 mil toneladas (mais 131,1% face a 2016), a maior deste século.

O INE destaca ainda a produção de azeite, que ultrapassou 1,47 milhões de hectolitros (mais 94,1% face a 2016), em grande parte justificada pelas condições meteorológicas favoráveis, correspondendo à campanha mais produtiva desde que há registos sistemáticos.

O ano agrícola 2016/2017 caracterizou-se meteorologicamente como muito quente (2017 foi o segundo ano mais quente desde 1931) e muito seco (2017 foi o terceiro ano mais seco), o que permitiu a realização dos trabalhos agrícolas da época.

A escassa pluviosidade manteve-se no inverno, encontrando-se no final de dezembro 78% do território em seca meteorológica fraca, agravando-se no final de janeiro para os 95%, com 3% do território já em seca moderada. Ainda assim as sementeiras dos cereais de inverno foram concluídas em condições agronomicamente aceitáveis, refere.

A primavera foi a terceira mais quente desde 1931, com valores de precipitação 25% abaixo da normal.

Este cenário permitiu a normal realização dos trabalhos agrícolas da época, mas condicionou o desenvolvimento das culturas de sequeiro e contribuiu para a diminuição do nível de armazenamento de água na maioria das bacias hidrográficas, o que obrigou ao ajustamento das áreas planeadas para as culturas de primavera/verão", indica.

O verão de 2017 foi o sexto mais quente e o terceiro mais seco desde 2000, sendo classificado meteorologicamente como quente e extremamente seco.

"Ao longo deste período foi frequente a secagem completa de charcas e a acentuada diminuição do nível dos lençóis freáticos dos furos e poços, com implicações na capacidade de satisfazer as necessidades hídricas das culturas e na disponibilidade de água para abeberamento dos efetivos", acrescenta.

Regantes criam Associação


18 Julho, 2018

Os regantes de Alqueva constituíram a Associação de Proprietários e Beneficiários do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (APBA). A associação assume a missão de "representar os interesses legítimos dos proprietários e beneficiários do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva junto de todas as entidades oficiais".

De acordo com os promotores da Associação, "até hoje, os proprietários e beneficiários do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva não tinham nenhuma entidade juridicamente constituída que representasse os seus legítimos interesses, as suas expectativas" e as suas preocupações.

A APBA apresenta como objectivo da sua existência "colaborar e cooperar com o Governo, as autarquias, a administração pública, a EDIA, a EDP, as Infraestruturas de Portugal, as operadoras de telecomunicações, entre outras entidades, de forma a desenvolver uma estratégia e um plano de longo prazo que assegure a conservação, a manutenção, a sustentabilidade e a competitividade do Alqueva para as próximas gerações".

Campanha de azeite foi a mais produtiva desde que há registo


O ano agrícola 2016/2017 foi marcado por máximos históricos nas produções de olival e pomares, revelou esta sexta-feira o Instituto Nacional de Estatísticas. O Alentejo foi a região com melhores resultados. Pomares também com produções recorde.
Campanha de azeite foi a mais produtiva desde que há registo

20 de julho de 2018 às 12:32

A produção de azeite na campanha de 2016/2017 ultrapassou os 1,47 milhões de hectolitros, revelou esta sexta-feira, 20 de Julho, o Instituto Nacional de Estatísticas (INE). Trata-se de um aumento de 94,1% face ao ano agrícola anterior e o melhor resultado desde que se dispõe de registos sistemáticos. Além do azeite, também os pomares apresentaram excelentes produções, com registos recordes de maçã, cereja, kiwi, laranja e amêndoa.

No caso da azeitona, o aumento é explicado sobretudo "pelas condições meteorológicas favoráveis na fase da floração e vingamento, que originaram uma carga inicial de azeitona muito elevada", refere o INE, que sublinha igualmente "a gestão criteriosa das regas dos modernos olivais intensivos, que permitiram a maturação em boas condições de grande parte dos frutos".

O Alentejo foi a principal região produtora com quase três quartos da produção em 2017. Os números espelham o grande investimento que tem vindo a ser efectuado na zona pelo sector do olival, principalmente no perímetro de rega do Alqueva. Aliás, desde 2009 que o Alentejo passou a produzir mais de metade do azeite nacional.

Pomares de macieiras com máximos históricos

Também nos pomares de macieiras se registaram máximos históricos, com a produção a atingir cerca de 330 mil toneladas (+36,3% face a 2016) com frutos com bons calibres. As produções de cereja e laranja foram as maiores das últimas décadas, beneficiando das boas florações e de desenvolvimentos vegetativos adequados e também o kiwi, com uma produção de 35,4 mil toneladas (+68,0% face a 2016), alcançou a campanha mais produtiva de sempre, devido à entrada em plena produção de plantações recentes, revela o INE.

 

Nos frutos secos destacam-se os amendoais com uma produção de 20 mil toneladas (+131,1% face a 2016), a maior deste século.

O ano agrícola 2016/2017 foi muito quente e seco – 2017, lembra o INE, foi o segundo ano mais quente desde 1931 e o terceiro mais seco – e no final de 2017 78% do território estava em situação de seca meteorológica. Ainda assim, sublinha o INE,  as sementeiras dos cereais de inverno foram concluídas em condições agronomicamente aceitáveis.

Para a campanha de 2017/2018 o INE  antecipa um aumento generalizado da produtividade dos cereais de outono/inverno (5% no centeio, 15% no trigo e aveia e 20% no triticale e cevada).

Quanto às culturas de primavera/verão, que, devido à saturação dos solos, registaram atrasos nos trabalhos de instalação, estima-se uma superfície de milho semelhante à da campanha anterior, e rendimentos unitários próximos dos alcançados em 2017 no arroz, tomate para a indústria e girassol. Na batata de regadio, espera-se uma redução de 5% na produtividade.

Nas árvores de fruto, perspectiva-se uma boa campanha no pêssego, com frutos de boa qualidade. Na cereja, e após uma campanha de 2017 que foi historicamente elevada, antecipa-se uma redução de 10% na produção, com frutos de baixo calibre e reduzido teor de açúcar. Para as pomóideas, também se deverá registar uma diminuição de 10% no rendimento, para valores próximos da média do último quinquénio.

Angola diz estar empenhada na valorização da agricultura familiar

O ministro da Agricultura de Angola disse hoje, em Lisboa, que o seu país está empenhado em valorizar a agricultura familiar, nomeadamente através de créditos, da facilitação do escoamento da produção e da promoção da mecanização neste setor.

20 Julho 2018 — 16:00

"Temos que realçar que Angola está a fazer um intenso trabalho, principalmente, (...) a estruturar o crédito a nível dos camponeses, aumentar os fatores de produção, buscar esquemas de comercialização que facilitam a extração da produção. Essa é uma produção pequena e muitas vezes tem dificuldades para colocar a sua produção nas grandes superfícies", afirmou Marcos Alexandre Nhunga.

Para Nhunga, os governos têm a necessidade de estabelecer mecanismos para que esta produção possa ser extrativa e, no caso de Angola, "é muito importante porque (a agricultura familiar) são os responsáveis pela maior produção do nosso país".

O ministro da Agricultura e Florestas de Angola falou hoje à agência Lusa após um encontro como o seu homólogo português, Luís Capoulas Santos, ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural.

O responsável angolano esclareceu que o reforço do empenho no apoio à agricultura familiar no seu país está ligado à assinatura da "Carta de Lisboa".

O representante angolano assinou hoje a "Carta de Lisboa pelo Fortalecimento da Agricultura Familiar", um documento cuja cerimónia de assinatura teve lugar durante a Reunião de Alto Nível sobre a Agricultura Familiar que decorreu em Lisboa, em fevereiro, envolvendo todos os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), mas na qual Angola não participou naquela oportunidade.

A "Carta de Lisboa", que resultou da reunião ministerial da CPLP em fevereiro, é um conjunto de diretrizes políticas para a aplicação prática nos Estados-membros da pequena agricultura familiar.

"Tomado o conhecimento da Carta de Lisboa, volto a afirmar a posição do Executivo angolano e transmitir que, em Angola, a agricultura familiar é a nossa base, que é responsável pela produção de mais de 80% daquilo que se consome em Angola".

"O que nós vamos fazer é trabalhar no sentido de cumprir com os 17 compromissos assumidos (na Carta). O que estamos a fazer para cumprir estes compromissos? Estamos a fazer mais debates para relevar o papel da agricultura familiar a nível do nosso país e da CPLP", sublinhou ainda.

Para Nhunga, a agricultura familiar tem também um papel fundamental na agenda 2030 das Nações Unidas.

"Queremos trabalhar no sentido que, na base deste debate, se possa promover ações que possam criar uma agricultura muito mais sustentável a nível deste grupo importante na produção agrícola", adiantou o político angolano.

"Angola está muito empenhado nisso, introduzindo também alguma componente forte de mecanização na agricultura angolana, porque não podemos continuar a trabalhar e a pensar nas enxadas. Temos que introduzir a mecanização na agricultura familiar para aliviar o trabalho das mulheres, que são fundamentalmente as que trabalham (neste setor) e maior tempo para cuidar das suas crianças", indicou ainda o ministro angolano.

O ministro Capoulas Santos referiu que já existem "alguns projetos em fase adiantada de cooperação" neste âmbito entre Portugal e Angola e que "uma cooperação só é produtiva quando funcionam nos dois sentidos".

"Nós estamos interessados, naturalmente, que empresários portugueses possam instalar-se em Angola, como estamos interessados que empresários angolanos se instalem em Portugal, assim como estamos interessados em estimular o comércio agrícola nos dois sentidos", disse Capoulas Santos.

Para o ministro português, a curto prazo, Angola será um fornecedor de bens agrícolas para Portugal e os portugueses continuarão a ser fornecedores de Angola, pois o país africano já é um dos principais clientes de Portugal neste setor.

"É uma cooperação que temos vindo a estabelecer e que agora temos condições políticas fantásticas para expandir, porque penso que isso é do interesse dos dois países", sublinhou Capoulas Santos.

Verão atípico na Europa com aviões enviados para combater fogos na Escandinávia

Vários países do Norte têm registado temperaturas muito mais elevadas que as observadas em Portugal. Em resultado, a Escandinávia sofre uma rara vaga de incêndios.

LUSA 21 de Julho de 2018, 9:03 Partilhar notícia

A mobilização do mecanismo europeu de protecção civil para combater incêndios florestais na Escandinávia ilustra bem o verão atípico que a União Europeia tem conhecido este ano, com a "capital" Bruxelas a bater Lisboa em calor e seca.

Na sequência dos incêndios florestais de 2017 no sul da Europa, e em particular em Portugal, onde morreram mas de 100 pessoas, a Comissão Europeia apresentou propostas - actualmente a serem negociadas com o Conselho (Estados-membros) - para reforçar o mecanismo de protecção civil, de modo a melhorar a sua capacidade de resposta a catástrofes naturais como os fogos, e, já em pleno verão de 2018, os pedidos de ajuda vieram da improvável Suécia.

Já por duas vezes este verão a Suécia pediu assistência a Bruxelas para fazer face às dezenas de incêndios florestais que continuam activos no país, onde só nos últimos dias arderam mais de 20.000 hectares, tendo os primeiros aviões de combate às chamas (oriundos de Itália) começado a operar na passada quarta-feira.

Na sexta-feira, o Governo português também se disponibilizou para ajudar a Suécia a combater os incêndios florestais, tendo informado o Mecanismo Europeu de Protecção Civil dos meios prontos a enviar - dois aviões médios anfíbios e um módulo de combate a incêndios com capacidade de análise de comportamento de fogo e reconhecimento e avaliação, num total de 31 elementos e quatro veículos.

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Paralelamente, Bruxelas activou o sistema de emergência da UE de navegação por satélite "Copernicus", para auxiliar as autoridades de protecção civil suecas, o Estado-membro da UE que até agora tem tido mais problemas face à vaga de calor e seca que tem atingido os países escandinavos e bálticos - na Letónia e Lituânia, os agricultores queixam-se da seca mais grave das últimas décadas.

Na própria capital da União Europeia, os responsáveis europeus também têm sentido "na pele" os efeitos de um verão atípico, em que, desde meados de Junho, Bruxelas tem registado temperaturas mais altas e menos precipitação do que, por exemplo, Lisboa.

Até agora, o verão na Bélgica tem sido o terceiro mais quente e seco desde que há registos - superado apenas pelos verões de 1976 e 2010 -, com os termómetros desde meados de Junho a superarem quase diariamente os 25 graus e períodos de insolação invulgarmente longos (Bruxelas apenas tinha tido tantas horas de sol em 1987). Isto depois de um inverno invulgarmente rigoroso, com o mês de Dezembro (de 2017) mais escuro de que há memória, com apenas 10 horas e 31 minutos de sol para todo o mês.

Douro tenderá a deslocar vinha para zonas altas devido às alterações climáticas


19.07.2018 às 16h50

Na região já se notam alterações a nível do clima. No ano passado foi a seca extrema e, este ano, as chuvas fora de tempo em junho e julho estão a criar condições para a propagação de doenças que afetam a vinha

As alterações climáticas vão afetar o Douro, que tenderá a deslocar as vinhas para zonas mais elevadas e a apostar em castas mais resilientes à falta de água e ao aumento da temperatura, segundo o plano intermunicipal apresentado esta quinta-feira.

O Plano de Ação Intermunicipal para as Alterações Climáticas no Douro (PAIAC Douro) foi apresentado em Tabuaço, distrito de Viseu, quer contribuir para o aumento da resiliência e a mitigação dos riscos neste território da Comunidade Intermunicipal do Douro (CIM Douro), que junta 19 municípios.

Na região já se notam alterações a nível do clima. No ano passado foi a seca extrema e, este ano, as chuvas fora de tempo em junho e julho estão a criar condições para a propagação de doenças que afetam a vinha.

As projeções climáticas apontam para uma diminuição da precipitação média anual no final do século XXI nos países do Sul da Europa, para secas mais frequentes e intensas, para ondas de calor e o aumento de fenómenos extremos, em particular de precipitação muito intensa e, logo, mais episódios de cheias e inundações.

Os impactos futuros das alterações climáticas tenderão a afetar de forma transversal todo o Douro, realçando-se os prejuízos para as atividades económicas, como a agricultura, o aumento dos custos de produção de bens e de serviços e o aumento dos custos com seguros.
Por isso, a agricultura, nomeadamente a viticultura, que é a principal atividade económica da região, é destacada neste plano de ação, que aborda ainda outros setores importantes como o turismo, a segurança e a saúde das populações.

Na área da viticultura prevê-se que as alterações climáticas, por causa do aumento da temperatura e as secas mais intensas e frequentes, provoquem quebras na produção, o aparecimento de novas doenças e pragas e o aumento dos riscos com acidentes climáticos associados à frequência e intensidade das vagas de calor, como é o caso do escaldão das uvas.

Uma das medidas previstas no PAIAC é a elaboração de um plano de ação para as alterações climáticas do Alto Douro Vinhateiro.
De acordo com o já estipulado no plano de ação, as principais medidas de adaptação passam pela deslocalização das vinhas para latitudes mais elevadas, ou seja, para zonas mais altas e frescas, o que poderá transformar parte da atual paisagem classificada pela UNESCO.

O Douro terá ainda que apostar na seleção de materiais vegetais mais adaptados ao 'stress' térmico e hídrico, e na alteração de práticas culturais e de sistemas de condução, de forma a otimizar e reduzir o consumo de água pela cultura e, assim, aumentar a eficiência do uso da água.

O plano aponta ainda a diversificação da produção para tirar proveito da antecipação da fenologia (uva de mesa ou uva para passa), a instalação de porta enxertos mais resistentes à carência hídrica, pela adequação das estratégias de rega deficitária em vinha, e por um maior controlo das pragas e doenças.

Relativamente à olivicultura, uma produção também importante para o Douro, prevê-se uma antecipação do início do ciclo vegetativo e também perdas de produção, pelo que a alteração das práticas culturais como a rega, fertilização, controlo fitossanitário, pode ajudar a mitigar os efeitos das alterações climáticas.

Os impactos poderão também sentir-se a nível do turismo na região, na medida em que previsivelmente desencadearão algumas modificações, como a perda de biodiversidade ou a degradação da paisagem.

Apesar dos impactos negativos, o plano identifica também oportunidades que se traduzem no desenvolvimento de novas, ou complementares, ações que reduzam a sensibilidade e a exposição da região ao clima, que permitam tirar proveito de alterações nas condições climáticas, ou que possam passar por mudar de atividade ou alterar práticas.

Com o PAIAC pretende-se que a região seja "conhecedora dos potenciais impactos das alterações climáticas e "capaz de transformar os seus desafios em oportunidades para o desenvolvimento social, económico e ambiental do Douro".

ONG moçambicana critica falta de investimentos nos pequenos agricultores


O Observatório do Meio Rural (OMR), rganização não-governamental (ONG) moçambicana, criticou hoje a falta de investimento nos pequenos agricultores, defendendo a necessidade de reformulação de políticas no setor.

"Há uma necessidade de rever e repensar como atingir os pequenos produtores, que deve ser o objetivo principal das políticas na agricultura", afirmou o economista João Mosca, diretor-executivo da OMR, falando hoje em Maputo na Conferência: Políticas Públicas Do Agro-Negócios.

João Mosca criticou ainda o limitado investimento nas infraestruturas com impacto na agricultura, assinalando que os poucos que existem são deficientes.

"Há investimentos desequilibrados. Por exemplo, investe-se em tratores e não em regadios, quando há regadios, não há logística ou não há armazenamento em silos", afirmou Mosca.

O desenvolvimento do setor agrícola impõe uma maior coordenação de meios, para assegurar sinergias e distribuição de benefícios, acrescentou o diretor-executivo do OMR.

"É preciso compatibilizar os diferentes projetos para que, no terreno, em conjunto, se criem sinergias e cada um tire benefício", disse João Mosca, que é também investigador e docente universitário.

Mosca considera que a deficiente rede de infraestruturas impede a ligação entre os produtores e os mercados, resultando em desperdícios na produção agrícola.

Mudança de voto de última hora no PSD salva Governo nas indemnizações com faixas de gestão de combustível


18/7/2018, 22:06785

PSD esteve sempre ao lado do PCP na defesa de indemnizações para proprietários de terras onde fossem criadas faixas de gestão de combustível. À última recuou e ajudou Governo que era contra a medida.

Há uma semana, a comissão de agricultura aprovou um projeto do PCP que pretendia indemnizar proprietários pela limpeza de faixas de combustível e a revogação da passagem para as autarquias da responsabilidade pela limpeza destas faixas. Os comunistas tiveram o apoio social-democrata, numa coligação pouco habitual, que fez avançar os projeto para a votação final com segurança suficiente para passar. Era nisso que acreditava o PCP e os deputados do PSD na comissão de agricultura, que aprovaram os projetos comunistas na especialidade. Mas, mesmo antes da votação desta quarta-feira, o líder do PSD, Rui Rio, deu indicações noutro sentido. O PSD absteve-se e acabou por inviabilizar os projetos.

"A proposta do PCP contou com o apoio da bancada parlamentar do PSD deste o início do processo legislativo bem como nas votações na especialidade na Comissão de Agricultura e Mar". Quem o sublinhou, logo depois da votação, foi um grupo de deputados do próprio PSD que apresentou uma declaração de voto escrita, depois de ter assistido ao volte-face da direção da bancada. Duarte Marques, Nuno Serra (que faz parte da comissão de agricultura), Teresa Leal Coelho, Ulisses Pereira e Nilza Sena concordam com os comunistas e dizem que "esta iniciativa visava corrigir uma enorme injustiça criada pelo Governo" e que "não é de todo admissível que o Governo torne responsabilidade exclusiva dos proprietários e das autarquias uma missão que é de todos e na qual o Governo não cumpre a sua parte", referindo-se à limpeza das faixas.



A bancada do PSD mudou de posição à última hora, por indicação do líder do partido, Rui Rio. Ao Observador, a vice da bancada social-democrata e coordenadora do partido na comissão de agricultura explicou que a mudança do voto na votação final global se deveu "a um processo evolutivo. Nós abstivemo-nos, foi o PS que votou contra", frisou para atirar a responsabilidade do chumbo para os socialistas. Mas a mudança de voto a favor para a abstenção por parte do PSD é que deitou por terra o projeto comunista. Questionada sobre se foi a direção do partido que deu esta indicação para mudar o voto, Rubina Berardo respondeu que "estas questões são coordenadas com a direção do partido".

No PCP, o deputado João Dias falou no fim da maratona de votações para se insurgir, num registo muito irritado, contra o PSD que acusou de "falta de seriedade", de estar "comprometido com o PS" e de ter "cedido às exigências do PS e do Governo". O comunista diz que o chumbo das indemnizações "pode inviabilizar a produção aos proprietário florestais em minifúndio e vão contribuir para o abandono do mundo rural".

Durante o debate na especialidade sobre estes projetos — e concretamente sobre a questão das indemnizações — o PS colocou sempre o foco nos custos da medida, que estimava rondarem os 900 milhões de euros. Uma conta que o PCP contestava dizendo que diz que as indemnizações seriam só para casos em que há perda comprovada de potencial produtivo nas propriedades onde tenham de ser criadas estas faixas de gestão de combustível .

Questionada sobre se o PSD foi sensível a este argumento do PS e do Governo, Rubina Berardo preferiu atirar ao PCP que diz "não ter moral para falar, basta olhar para as mudanças de posição esta semana, como aconteceu com a posição sobre a alteração ao Imposto sobre Produtos Petrolíferos."

Descoberta de pão com mais de 14 mil anos pode obrigar-nos a rever os manuais de história


18/7/2018, 6:52484

Os vestígios de pão carbonizado encontrados na Jordânia têm cerca de 14.400 anos e antecedem em quatro mil anos o período no qual se acredita ter surgido a agricultura.

Escavação de Shubayqa 1 onde é visível uma das fogueiras (imagem retirada do artigo científico divulgado na PNAS)
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Uma equipa de arqueólogos descobriu vestígios de pão carbonizado num acampamento de caçadores recoletores natufianos que viveram há cerca de 14 400 anos. A descoberta prova que já se confecionava pão quatro mil anos antes do período em que se acredita ter surgido a agricultura.

Os vestígios são os indícios mais antigos da confeção de pão de que há conhecimento. As 24 amostras foram encontradas entre centenas de vestígios de comida em duas fogueiras numa escavação conhecida por Shubayqa 1, no nordeste do Deserto Negro da Jordânia.


"A descoberta de restos de comida carbonizada em Shubayqa 1 fornece dados empíricos diretos sobre a produção de alimentos semelhantes a pão quatro mil anos antes de a agricultura ter emergido no sudoeste da Ásia. As descobertas mostram que os habitantes tiravam partido de cereais selvagens, mas também consumiam tubérculos", avança o artigo divulgado na publicação científica PNAS. "A confeção de alimentos representa um importante avanço na subsistência e na nutrição humana, e aqui demonstramos que os caçadores recoletores natufianos já a praticavam", conclui o relatório.

"Os caçadores-coletores natufianos são de particular interesse para nós porque viveram um período de transição quando as pessoas se tornaram mais sedentárias e sua dieta começou a mudar", esclareceu à CNN o arqueólogo Tobias Richter, da Universidade de Copenhague, que liderou as escavações.

Amaia Arranz Otaegui destacou a importância desta descoberta para o estudo da alimentação desta sociedade. "A presença de centenas de restos de comida carbonizados nas lareiras de Shubayqa 1 é uma descoberta excecional, e deu-nos a oportunidade de caracterizar as práticas alimentares de há 14 mil anos", explicou a arqueóloga da  Universidade de Copenhaga e primeira autora do relatório à CNN.

Segundo o estudo, o pão pré-histórico era produzido a partir de cereais selvagens e tubérculos e teria uma forma achatada. A equipa de investigadores tentou reproduzir o processo seguido pelos caçadores recoletores há mais de 14 mil anos. Amaia Arranz Otaegui, que provou o produto final, afirma que o pão teria um sabor "ligeiramente doce e um pouco salgado e uma textura granulada".

As amostras são semelhantes aos vestígios que já tinham sido encontrados anteriormente em escavações na Turquia e Holanda. Contudo, os vestígios da Jordânia são os únicos anteriores ao surgimento da agricultura.

A equipa constituída por investigadores das universidades de Copenhada, College of London e Cambridge afirma que que são necessários mais estudos para aprofundar as conclusões desta descoberta. O relatório especula, no entanto, que apesar da descoberta anteceder a agricultura, a confeção deste tipo de alimentos só se terá banalizado posteriormente. "As refeições à base de cereais, como o pão, tornaram-se provavelmente essenciais quando os agricultores neolíticos passaram a depender do cultivo de espécies de cereais domesticadas para a sua subsistência."