sábado, 13 de junho de 2015

Rainha Letizia: é inaceitável atirar comida fora enquanto milhões passam fome


A rainha Letizia qualificou esta sexta-feira de «inaceitável» um mundo «no qual a cada dia atiramos comida fora, enquanto 800 milhões de pessoas passam fome», no seu discurso após receber a nomeação como embaixadora da Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO) para a nutrição.
A rainha recebeu esta sexta-feira na FAO, com sede em Roma, esta nomeação e assegurou que o seu empenho será «servir os objetivos desta agência das Nações Unidas do modo mais eficaz possível».
No seu discurso, a rainha também considerou que foram feitos progressos na luta para acabar com a fome, mas pediu para continuar, pois não se trata só de «um problema de recursos, ou de distribuição».
«A esta altura do século temos a capacidade técnica para produzir alimentos saudáveis e suficientes para todos», acrescentou.
Para a rainha é preciso «continuar a avançar no desafio que representa melhorar esse número aterrorizador de pessoas que padecem de fome».
 
Letizia lembrou o seu discurso em Novembro perante este mesmo organismo quando falou «do quão importante é enfrentar o desafio da desnutrição em todas as suas formas como um investimento sempre rentável, como a melhor forma de prevenir e de melhorar, portanto, a vida das pessoas».
A rainha abordou, além disso, «o paradoxo contemporâneo» que «enquanto milhões de pessoas não têm o que comer, mais de mil milhões comem mal e em excesso, o que significa que sofrem com excesso de peso e obesidade, doenças ambas que frequentemente são vinculadas a patologias cardiovasculares e metabólicas».
Na luta contra a fome, a rainha destacou dois pontos que considerou capitais: o papel da mulher e da indústria agro-alimentar mundial.
A rainha concluiu afirmando que o dever de todos é «contribuir, cada um desde o seu âmbito de responsabilidade, para que esta realidade mude».
«Contem comigo para isso como embaixadora especial da FAO para a Nutrição», concluiu.

15-28 junho . IX Feira do Cavalo - Ponte de Lima

15-28 junho . IX Feira do Cavalo - Ponte de Lima - agroeventos
 15-28 junho . IX Feira do Cavalo - Ponte de Lima - agroeventos
No prosseguimento de uma parceria estabelecida entre o Município de Ponte de Lima e o Município da Golegã, a Feira do Cavalo de Ponte de Lima irá decorrer nos próximos dias 15 a 28 de Junho de 2015 na ExpoLima

Vinhos do Tejo: castas únicas que ganham terreno em todas as frentes



 29 Maio 2015, sexta-feira  Ana Clara Viticultura

Os vinhos do Tejo ganham cada vez mais prestígio e terreno no país. Além da produção e do crescimento internacional, as castas competem atualmente no mercado doméstico com outras regiões consideradas mais fortes, como o Alentejo e o Douro, por exemplo. No final de 2014, dados da mediadora Nielsen, a que o Agronegócios teve acesso, davam conta de que os Vinhos do Tejo, em comparação com o período homólogo, cresceram mais de 6% no mercado interno, o que corresponde a um volume de vendas superior a 4,6 milhões de litros. Fomos à procura de produtores que corroboram os números e falamos com a Casca Wines, que deu a receita do sucesso: «alargar referências de vinhos, ganhar escala e ter selo de qualidade».
vinhostejo

A procura dos vinhos desta região tem aumentado de ano para ano, sendo que os consumidores portugueses reconhecem hoje a qualidade dos vinhos. Esta é pelo menos a convicção dos produtores.
Prova disso mesmo é o investimento que a Comissão Vitivinícola Regional do Tejo (CVR Tejo) teve em 2014 em promoção dos vinhos da região nos mercados nacional e internacional, e que rondou um milhão de euros.
Mas é no exterior que o comportamento da notoriedade da marca Vinhos do Tejo mais sucesso tem revelado, não só ao nível das exportações mas também dos prémios que as castas têm conquistado.
A imagem do mercado interno também mudou, como já foi dito. O consumidor desperta para a nova realidade, sensibilizados pelas ações de promoção dos produtores e da CVRT.
Um outro efeito desta crescente notoriedade é o maior número de marcas da região disponíveis nas principais redes de retalho alimentar.
Nos últimos anos, os Vinhos do Tejo têm sido reconhecidos internacionalmente em diversos concursos. Destacamos o último, o "Concours Mondial de Bruxelles", um dos mais valorizados concursos vínicos do mundo, em que os Vinhos do Tejo receberam 32 medalhas: dez de ouro e 22 de prata. A competição ocorreu entre os dias 1 e 3 de maio de 2015 na cidade italiana de Jesolo.
Casca Wines, um exemplo de crescimento gradual

O Agronegócios falou com dois produtores que representam a região, e que pertencem à Casca Wines – Produção e Comercialização de Vinhos, um projeto de enólogos que decidiram criar uma marca de vinhos portugueses com carimbo de «grande qualidade».
«Um projeto que apenas utiliza as melhores uvas de cada região e que procura reavivar as tradições únicas de Portugal», garantem Hélder Cunha (fundador e enólogo) e Alexandre Tirano, diretor).
A Casca Wines, em atividade desde 2008, produz vinhos em várias regiões e procura «reavivar as tradições de cada uma delas».
«Produzimos desde espumante, a vinhos tranquilos e fortificados. No Tejo produzimos um vinho da casta Fernão Pires de uma vinha com 115 anos na zona da Padilha em Almeirim», explicam os produtores.
No total das regiões a Casca Wines vendeu em 2013 cerca de 150 mil garrafas e em 2014 210 mil. «O crescimento de 2013 para 2014 está a acontecer também este ano e dessa forma estimamos estar por volta das 400 mil garrafas em breve», afiançam.
vinhosdotejo
A exportação desta empresa ronda os 40 e os 50%. «E este ano deverá estar nos mesmos valores. Somos uma empresa focada na exportação e esta terá tendência a aumentar mas queremos que o mercado nacional seja sempre o maior mercado», consideram os responsáveis.
Vendem em mais de 20 países, com destaque para os Estados Unidos da América (EUA), Canadá, Angola, China e países do Benelux (Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo).
Nesta fase, afirmam, «a aposta é reforçar os países onde estamos» e «alargar vendas nesses e crescer assim».
Sobre a evolução do setor vitivinícola nos últimos anos no país, Hélder Cunha e Alexandre Tirano, consideram que a mesma «é muito positiva, mas ainda há muito caminho para fazer». «O melhor de tudo é a consistência em qualidade que nós, Portugal, estamos a criar e lá fora, no médio prazo, iremos ganhar muito com isso».
Sobre a mais-valia dos Vinhos do Tejo, os responsáveis da Casca Wines, dizem que «a vinha que produzimos no Tejo é única e isso por si só marca de forma distinta o nosso vinho».
No futuro, concluem, «estamos a alargar as referências de vinhos que produzimos para uma gama mais competitiva de forma a poder ganhar escala, aproveitando o selo de qualidade que criámos durante estes anos de vivência».
Vinhos do Tejo no coração do país

Localizada no coração do país, a região dos Vinhos do Tejo está imemorialmente ligada à produção de vinhos. É composta por um total de 17 mil hectares que produzem anualmente cerca de 650 mil hectolitros o que representa cerca de 10% do total nacional.
Destes são certificados cerca de 110 mil hectolitros dos quais 90% são vinhos com Indicação Geográfica Protegida (IGP) e 10% são vinhos com Denominação de Origem Controlada (DOC).
Das castas principais, destacam-se o Touriga Nacional, Trincadeira, Syrah, Alicante Bouschet, Cabernet-Sauvignon, Merlot, Castelão, Aragonês Fernão Pires, Arinto, Verdelho, Sauvignon Blanc e ChardonnaY.
A Comissão Vitivinícola Regional do Tejo - CVR Tejo é o organismo interprofissional responsável pela certificação, controle, promoção e divulgação do Vinhos Tintos, Brancos, Rosés, Espumantes, licorosos e vinagres com a Denominação de Origem "DOTEJO" ,e Vinhos Tintos, Brancos e Rosés com Indicação Geográfica "Tejo".
O Agronegócios tentou falar com a CVR Tejo no sentido de obter uma posição sobre a evolução da região mas aquela Comissão não se mostrou disponível para responder às nossas questões. 

Guiné e FAO assinam acordos para aumentar produção de cereais e animais

 12 Junho 2015, sexta-feira  Cerealicultura

O Governo da Guiné-Bissau assinou com o Fundo das Nações Unidas para a Agricultura (FAO) acordos para aumentar a produção cerealífera e de pecuária no país, afirmou o primeiro-ministro, Domingos Simões Pereira.
O dirigente guineense esteve esta semana na Mauritânia, onde efetuou uma visita oficial de três dias, depois de ter participado em Roma numa conferência internacional da FAO.
Foi depois destas conversações que o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola das Nações Unidas (FIDA) anunciou que vai emprestar 4,7 milhões de dólares à Guiné-Bissau e doar igual montante para financiar um projeto de desenvolvimento para o sul do país.
Em declarações aos jornalistas no aeroporto de Bissau, Domingos Simões Pereira revelou ter abordado com os responsáveis da FAO vários aspetos de cooperação, tendo assinado acordos nos domínios da produção de cereais e animais.
Os acordos terão efeito ainda na campanha agrícola deste ano, recentemente aberta pelo Governo, assinalou o primeiro-ministro guineense.
Na Mauritânia, Domingos Simões Pereira disse ter assinado acordos de cooperação também no domínio da agricultura e pescas, assim como no que respeita à abolição recíproca de vistos para os cidadãos dos dois países.
O primeiro-ministro anunciou ainda que o governo da Mauritânia vai abrir uma vaga de legalização de cidadãos guineenses.
Domingos Simões Pereira destacou que aquele país irá ajudar a Guiné-Bissau na investigação científica na área das pescas, nomeadamente para quantificação das reservas e nível de captura anual de espécies nos mares do país.
Bissau quer inspirar-se na experiência da Mauritânia para desenvolver o sector pesqueiro, assinalou Domingos Simões Pereira.
«A Mauritânia tem um protocolo de acordo com a União Europeia que é considerado dos mais evoluídos e quisemos nos inspirar também desse exemplo para no futuro podermos favorecer o surgimento de frotas pesqueiras» na Guiné-Bissau, disse Simões Pereira.
Fonte: Lusa 

Dieta mediterrânica em vias de extinção, alerta ONU

 12 Junho 2015, sexta-feira

Num relatório, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) alertou que a região do Mediterrâneo está a passar por uma "transição nutricional" que pode estar a pôr a sua dieta original em risco.
Durante a Expo Mundial em Milão, a FAO apresentou um relatório que explica que devido ao aumento de alimentos importados, a dieta mediterrânica está a sofrer mudanças e pode mesmo estar em risco.
A dieta mediterrânica tem sido celebrada pelos seus benefícios para a saúde. «A região do Mediterrâneo está a passar por uma transição nutricional, que se distancia da sua dieta original, considerada por muito tempo como modelo de uma vida saudável», afirma o relatório.
A FAO e o Centro Internacional de Estudos Avançados Agrónomos Mediterrâneos (CIHEAM) realizaram um estudo que concluiu que a alteração dos hábitos alimentares por todo o Mediterrâneo pode trazer muitos efeitos negativos como a obesidade, mas também invalidez e a morte prematura.
O relatório alerta ainda, como noticia o site Globo, que a globalização, o comércio de produtos alimentares e as mudanças no estilo de vida, incluindo a mudança do papel da mulher na sociedade, estão a alterar os hábitos de consumo no Mediterrâneo.
«A dieta mediterrânica é nutritiva, bem integrada com as culturas locais, respeitadora do ambiente e propícia para as economias locais», sublinha Alexandre Meybeck, coordenador do programa Sistemas Alimentares Sustentáveis da FAO.
Mas, com o aumento da importação de alimentos e a transformação das paisagens locais de monocultura, os sistemas alimentares tradicionais têm sofrido os efeitos das mudanças nos hábitos alimentares, adverte o relatório.
Estima-se que, atualmente só são cultivadas 10% das variedades de culturas tradicionais locais na zona do Mediterrâneo.

Fonte: Reuters 

Setor florestal «esquecido no PDR 2020», acusa ANEFA



 12 Junho 2015, sexta-feira  Agroflorestal

A ANEFA - Associação Nacional de Empresas Florestais, Agrícolas e do Ambiente considera que o setor florestal é «mais uma vez esquecido no Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020).
Em comunicado enviado às redacções, a associação refere que «numa altura em que existe um déficit de matéria-prima que põe em causa milhares de postos de trabalho o Governo deixa cair mais uma vez o setor florestal».
«As medidas florestais do PDR2020, que deveriam ter tido início em março deste ano, apenas agora estão a começar e só se conhece a regulamentação de duas das nove medidas associadas ao setor», critica a direção da ANEFA.
Os responsáveis afirmam que «a chamada época de transição, iniciada no ano passado, cujo objetivo seria não fazer parar o investimento pode vir a tornar-se num pesadelo para o sector».
Um ano volvido, recorda a ANEFA, essas candidaturas «não começaram sequer a ser analisadas e o pior é que nem sabem dizer aos investidores quando irão começar a ser aprovadas».
«A ANEFA questiona então de que serviu a época de transição? E o PDR2020 onde está?», pergunta a associação.
«O único concurso florestal que abriu (abriu a 11 de junho) diz respeito à luta contra fatores bióticos (pragas e doenças) e abióticos (incêndios) e irá consumir mais de um terço destinado ao setor para o PDR2020, sendo que, apesar de encerrar o concurso já no final do mês (não dando praticamente prazo para se prepararem devidamente as candidaturas, já que não se conheciam as regras), 90 % do orçamento desse concurso já se encontra comprometido com a referida época de transição. Uma boa altura para iniciarmos operações de prevenção contra os incêndios – o verão», argumenta a associação.
A associação lembra que «não nos podemos ainda esquecer que o investimento na floresta é sazonal. Estes atrasos somam praticamente dois anos sem se investir na nossa floresta, colocando em causa a sustentabilidade dos espaços florestais e das próprias empresas, e esta é sem dúvida uma preocupação da ANEFA. Empresas que geram riqueza, que empregam milhares de pessoas e que se vêem uma vez mais à beira do abismo…».
No mesmo comunicado a ANEFA lamenta ainda que «infelizmente o atual Governo ainda não percebeu que o "superavit" do setor tem como base a própria floresta, e que se ela não existir, passaremos a ter um deficit semelhante ao que acontece com a agricultura. Com a agravante de que a floresta não se "faz" de um ano para o outro».

Em França, 5 lotes de sementes, em 86 contentores, tinham contaminações de OGM's

Junho 12
11:06
2015

As autoridades francesas realizaram um controlo sobre as sementes postas à venda no mercado, tendo controlado 86 amostras, das quais 55 de milho, 27 de colza e 4 de soja.

O resultado foi que 5 dessas amostras apresentavam resíduos de OGM's não-autorizados.

Dos 86 lotes, 78 pertenciam a sementes produzidas em França e 8 de países terceiros tradicionalmente produtores de OGM's.

O nível destas contaminações foi inferior a 0,1%, mas a França não admite qualquer tolerância para os resíduos de OGM's não-autorizados.

Os dois lotes de milho contaminados pertenciam a uma empresa, cuja principal actividade é a produção de sementes para vender em Espanha.

As contaminações devem-se ao Mon810, que é uma semente autorizada na Europa e muito cultivada em Espanha, mas que a França não aceita. Os resíduos encontrados nas sementes de colza pertenciam a uma variedade que não foi possível identificar.

Todos os lotes a que pertenciam estas amostras foram destruídos.


Em França a ameaça dos lobos relança o debate

Junho 12
11:09
2015

Em França, a ameaça crescente dos lobos está a reabrir o debate sobre a necessidade de abater estes grandes carnívoros.

A situação agravou-se quando um adolescente de 16 anos declarou ter sido rodeado por uma matilha de lobos, e só conseguiu fugir porque tinha uma arma de fogo e disparou, assustando assim os nove lobos adultos e quatro jovens lobos que o atacaram.

O jovem afirma neste momento ter medo e recear pela sua vida nas suas tarefas rotineiras, na quinta onde vive.

O seu pai confirmou esta situação, afirmando que os lobos há algum tempo que se aproximam da casa e que já perdeu um vitelo num ataque.

Entretanto, os defensores dos animais dizem-se muito surpreendidos e consideram que a história tem muitas incoerências, uma vez que nesta altura do ano não existem normalmente jovens lobos.

Devido a esta situação, foi pedida autorização para matar alguns lobos, diminuindo assim a população destes animais.

Neste momento vão ser autorizados o abate de 36 lobos, mas tem de haver uma forte justificação de perigo eminente para os rebanhos.

Em Portugal os lobos também têm feito grandes estragos nos rebanhos de montanha, pelo que, neste momento, existe um subsídio para os cães de grande porte, para protegem os rebanhos.

Novas regras para as organizações de produtores


Jun 12, 2015Destaque Home, Notícias0Like

A portaria 169/2015, que regulamenta a constituição das organizações de produtores (OP), foi publicada no início do mês de Junho. O documento reúne as condições de estabelecimento para as OP em todas as áreas de produção agrícola e estabelece a figura dos agrupamentos de produtores.

As novas regras exigem que as OP que se focam na hortofruticultura tenham no mínimo sete produtores e que o seu valor minímo de produção comercializada (VPC) corresponda a 3.000.000 euros. Ao passo que, de acordo com as regras anteriores, estas podiam ter 15 produtores e um VPC de 750.000 € ou 5 produtores e um VPC de 1.500.000 €.

Para as OP que se dedicam à produção de frutos, o novo regime indica que estas devem dispor de uma capacidade de armazenagem igual ou superior a 40% do seu volume médio de produção comercializada nos três anos anteriores.

Como estava estabelecido na portaria anterior, serão alvo de excepções as OP que produzam pelo menos metade dos seus produtos em modo de produção biológico, modo de produção integrada e as produções de qualidade (DOP, IGP, ETG).

O documento surge do reconhecimento de que a «organização da produção é benéfica, não só para os produtores, pela optimização de recursos com vista à colocação das suas produções no mercado, como também a jusante na cadeia para a comercialização, assegurando-se a regularidade e qualidade do abastecimento e, ainda, para o consumidor pela melhor adaptação da oferta às tendências de mercado», refere o Ministério da Agricultura e do Mar.

Resumo Economia agrícola - Resumo 2012 da UE

RRN

Publicado em sábado, 13 junho 2015 11:31
 

Este documento, disponibilizado em Junho de 2015, resume a evolução económica das explorações agrícolas no sector agrícola europeu com base em dados de 2012, os últimos disponíveis na Rede de Informação Contabilística Agrícola (RICA). Um relatório mais detalhado está disponível aqui. http://ec.europa.eu/agriculture/ricaprod/publications_en.cfm#EB01

Neste estudo constata-se que após a queda acentuada do rendimento agrícola em 2009, iniciou-se a recuperação em 2010, continuando em 2011 e 2012. Em geral, a rendibilidade aumentou ligeiramente devido aos maiores preços dos produtos agrícolas, levando a um aumento no valor da produção agrícola.

No entanto, houve diferenças significativas entre as diversas regiões europeias e diferentes tipos de orientação da produção. Apesar dos preços elevados de imputes, de 2011 para 2012 o rendimento per capita aumentou para explorações especializadas em grandes culturas, porcos e aves, horticultura, outras culturas permanentes e explorações mistas (devido principalmente aos maiores preços de produtores e volumes em produção animal e vegetal em 2012), enquanto diminuiu para explorações especializadas em vinho, produção animal extensiva (pastagem) e para explorações leiteiras.

O rendimento médio por trabalhador nos países que aderiram à UE em 2004 ou mais tarde permaneceu significativamente abaixo do nível da UE-15.

Finalmente, a proporção de pagamentos diretos no valor acrescentado líquido na UE-27 diminuiu de 32% em 2011 para 31% em 2012.

USDA prevê em alta colheita mundial de trigo

12-06-2015 
 

 
A informação de previsões de colheita do mês de Junho, apresentada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos esta semana, revê em alta os resultados da colheita mundial de trigo.

Esta revisão foi possível devido a uma maior colheita na Rússia, de mais 1,5 milhões de toneladas, na Ucrânia, de mais um milhão e na União Europeia, com mais 400 mil toneladas, em especial no Reino Unido e na França. Pelo contrário, registou-se valores mais baixos na Argentina, Argélia e na Tunísia.

Em relação ao milho, as previsões do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reduziram frente ao mês anterior em 500 mil toneladas até um total de 989,30 milhões, devido à menor produção na Zâmbia, Nepal, Zimbabué e na União Europeia. Esta descida foi particularmente compensada pelo aumento da colheita na Rússia, onde a superfície de cultura e os rendimentos serão mais altos. A estimativa da colheita de milho nos Estados Unidos, o maior produtor, mantém-se estável em 346,22 milhões de toneladas, cerca de quatro por cento abaixo do recorde mundial do ano passado.

As previsões para a soja mantêm-se praticamente sem variações em 317,58 milhões de toneladas na campanha de 2015/2016.

Fonte: Agrodigital

Acordado texto de compromisso sobre novos alimentos

12-06-2015 
  
O Comité e Representantes Permanentes do Conselho aprovou um texto final de compromisso sobre as novas normas da União Europeia para os novos alimentos.

O texto inclui as alterações do Parlamento Europeu aceitáveis para o Conselho, que melhoram significativamente as actuais regras sobre os novos alimentos, os quais não são consumidos na União Europeia (UE) de forma significativa antes de Maio de 1997, como por exemplo, os alimentos aos quais se aplica um novo processo de produção.

O Conselho aceitou as alterações do Parlamento que permitem a introdução de novos alimentos no mercado da UE de forma rápida e barata, enquanto se preserva o alto nível de protecção da saúde humana.  

A proposta de compromisso do Conselho ajudava a reduzir as cargas administrativas tento em conta seu se iria ao encontro de um procedimento centralizado a nível da UE que proporcionaria autorizações genéricas. Deste modo, uma vez que um produto fosse autorizado, seria adicionado à lista da UE de novos alimentos e colocado no mercado por qualquer empresa alimentar, o que evitava a apresentação de novos pedidos de outras empresas do mesmo alimento, favorecendo, em particular, as Pequenas e Médias Empresas (PME). Pela regulamentação em vigor, os novos alimentos estão autorizados a nível nacional e a mesma é válida apenas para o requerente.

As novas regras também facilitavam o aceso ao mercado da UE para os alimentos tradicionais procedentes de terceiros países que têm um historial alimentar seguro. Para estes, um requerente teria que demonstrar que os alimentos foram utilizados de forma segura num terceiro países durante, pelo menos, 25 anos.

A presidência da Letónia irá informar o Parlamento por carta propondo um acordo em primeira leitura sobre a base do texto aprovado pelo Comité de Representantes Permanentes, prevendo-se que o Parlamento Europeu vote o texto de compromisso do Conselho no início de Julho.

Fonte: Agrodigital

Limite de emissões de poluentes ainda ultrapassado na UE mas Portugal cumpre

 12-06-2015 
 

 
A União Europeia ultrapassou os limites de emissões de poluentes do ar e 10 países apresentam valores acima das metas em, pelo menos, um dos elementos, mas Portugal tem comportamento positivo em todos os poluentes, refere uma entidade europeia.

Um relatório da Agência Europeia do Ambiente (EEA na sigla em inglês), conclui que, em 2013, «as emissões de poluentes do ar continua a exceder os limites legais na União Europeia» e os dados preliminares mostram que 10 Estados-membros ultrapassam um ou mais dos tectos de emissão fixados».

Para Portugal, a informação recolhida pela entidade revela que as emissões estão abaixo dos limites fixados em todos os poluentes, ou seja, óxido de azoto (NOx), relacionado com o tráfego automóvel, NMVOCs (compostos orgânicos não voláteis), dióxido de enxofre (S02) e amoníaco (NH3), nos anos entre 2010 e 2013.

Fonte: Diáriodigiral; Lusa

Potencial de batata-doce portuguesa descoberto por alemães


02.06.2015


A Atlantic Sun Farms tem 12 trabalhadores fixos. Nos picos - plantação e colheita - são 30 a 40 pessoas. A batata-doce é colhida entre setembro e outubro
Tudo começou com a compra da quinta Montes de Cima, em São Teotónio, Odemira. Havia exploração agrícola, mas curiosamente não se produzia batata-doce. Uma empresa alemã apostou com tecnologia no potencial do produto 'tosco' e levou-o para outros mercados na Europa.  Acompanhe nas próximas semanas as histórias de produtores e produtos inovadores que estão a surgir e a evolução dos distinguidos no Prémio Intermarché Produção Nacional 2014, que este ano volta a ser um projeto do Expresso e da SIC Notícias. 

Raquel Pinto
RAQUEL PINTO
Ipomea batatas L, nome científico atribuído à planta herbácea de raízes tuberosas vulgarmente designada por batata-doce. Originária da América do Sul, conhecem-lhes muitas variedades e as polpas diferenciam-se na cor. Há brancas, amarelas, laranjas e roxas. Do valor nutricional que lhe surge associado, destaque-se o baixo índice glicémico. A grande produção em Portugal concentra-se na zona do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, graças ao clima moderado, solos arenosos, localização perto do mar, e, onde, as geadas são menos frequentes. Inserida na região, a empresa portuguesa Atlantic Sun Farms iniciou um projeto inovador em 2012 dedicando-se em exclusivo ao seu cultivo.

A Atlantic Sun Farms, maior produtora do país, com 100 hectares e 2500 toneladas por ano, é dirigida pelo parceiro alemão Fritz Marshall, depois do produto tradicional desta região ter captado a atenção para um investimento estrangeiro diferenciador. A Fritz, primeiro adquiriu a quinta Montes de Cima, em São Teotónio, Odemira, à qual se juntariam depois a Quinta da Azenha e a do Monte Paris. Depois, trouxe a modernização. 

No último ano foram produzidas nove variedades de batata-doce, cinco das quais destinadas aos mercados alemão e holandês
No último ano foram produzidas nove variedades de batata-doce, cinco das quais destinadas aos mercados alemão e holandês
"Queremos ser muito bons a produzir, a vender, a prestar o serviço completo de produção e comercialização", destaca Margarida Carvalho, gestora de vendas e marketing da Atlantic Sun Farms. Ao "saber fazer" português, juntou-se a tecnologia do parceiro alemão. A parte que facilita o trabalho e o torna mais eficiente. Com máquinas desenhadas à medida, afinam o cultivo, a produção e a colheita, sendo esta de particular relevância no manuseamento de um produto com uma casca tão sensível.

A estratégia delineada associa-se à forte procura de mercados não produtores, como a Alemanha e Holanda, onde o consumo de batata-doce está em grande crescimento, e às potencialidades de um mercado abastecedor mais perto que os EUA. "Os produtos portugueses têm uma boa imagem na Alemanha. São associados a qualidade", destaca Margarida Carvalho. A batata-doce nacional segue na sua esmagadora maioria para exportação e já é introduzida no Reino Unido e Bélgica. Captar o norte da Europa está sem dúvida no horizonte. 

Por serem membros da Associação Nacional de Produtores de Batata Doce de Aljezur têm o selo europeu IGP (Indicação Geográfica Protegida) para a Lira, certificação da variedade que é produzida apenas naquela zona. A restante produção da Atlantic Sun Farms possui certificação internacional GlobalGAP, de boas práticas agrícolas, e uma garantia adicional denominada GRASP que atesta as boas práticas sociais. Qualidade para o produto e para quem trabalha a terra.

O projeto da batata-doce foi um dos vencedores do Prémio Intermarché Produção Nacional de 2014. Apostados em "ter batata até à colheita seguinte", lançaram-se este ano num novo investimento: viveiros em estufas para produzirem plantas isentas de vírus. Alargaram os armazéns e as condições de armazenamento, introduzindo mais câmaras de ambiente controlado entre 12 e 14 graus, assegurando uma maior durabilidade e qualidade do produto. Não existe nenhuma lavagem nem embalamento antes de haver uma encomenda. Vão ainda aumentar a área de produção para assegurar o fornecimento ao mercado ao longo de todo o ano.

“A indústria do vinho é muito conservadora”

ENTREVISTA
12/6/2015, 11:44543 PARTILHAS

Há uma década que o Adegga, uma das primeiras redes sociais de vinho no mundo, tenta ser visionário. Mesmo num universo cuja linguagem é "obscura e escondida". Palavras do fundador, André Ribeirinho.


Quase dez anos depois, continua a escrever-se Adegga com dois "g". Cabe a André Ribeirinho o papel de relembrar como se soletra a empresa que fez nascer em 2006, numa altura em que o mundo vínico estava de portas fechadas (ou muito perras) para o online. Mas se esta começou por ser a primeira rede social de vinhos em contexto nacional, e pioneira além-fronteiras, atualmente é muito mais do que um site onde se comentam vinhos à la carte.

O Adegga pretende ser uma plataforma que aproxima os produtores dos consumidores, não só no universo digital mas também no offline. A culpa é dos Adegga WineMarkets, eventos com calendário próprio que ao longo do ano convidam centenas (se não milhares) de enófilos a provar néctares de 40 produtores. A inovação é ainda um trademark, com a empresa a ser responsável pelo código de identificação de vinhos AVIN e pelo SmartWineGlass, um copo inteligente que permite aos visitantes dos mercados vinícolas recordar o que provaram.


Em entrevista ao Observador, um dos fundadores do Adegga recorda como foi difícil convencer consumidores e produtores da necessidade de uma rede social num mundo tido como conservador e elitista: "As notas de prova não ajudam o consumidor a perceber porque é que ele deve beber aquele vinho ou não. Zero. Nunca ninguém disse 'Hmm, notas de violeta, é mesmo o que apetece agora!'. (…) É difícil perceber porque é que uma indústria inteira se baseia na descrição do vinho com base em notas de prova que a maior parte das pessoas não vai perceber".

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Os três sócios do Adegga: André Cid, André Ribeirinho e Daniel Matos / DR

O Adegga surge em 2006. Foi difícil encontrar o vosso espaço?
O Adegga começou como uma rede social e, nessa altura, ainda nem o Facebook era conhecido (estava apenas aberto aos universitários). Imagine chegar a um dos mercados mais conservadores do mundo, o do vinho, e ter um conjunto de jovens não conhecidos na área a fazer uma rede social de vinhos. Inicialmente, os consumidores não percebiam porque é que isto era necessário. Agora, imagine do lado do produtor… Lembro-me de termos conversas com produtores onde tentávamos explicar o que fazíamos, dizendo-lhes que, estando eles na rede social, podiam promover os seus vinhos. E eles perguntavam como. O primeiro produto que tivemos no Adegga consistia num conjunto de contas anuais que permitiam aos produtores ter acesso às estatísticas de quem gostava dos vinhos e essas coisas todas… ninguém queria aquilo. Não fazia sentido para os produtores. Curiosamente, hoje vendemos uma coisa que é muito parecida, mas num contexto completamente diferente.

Sente que o Adegga mexeu com o mercado dos vinhos?
Teve impacto em Portugal porque, de repente, o produtor ia ao Google, pesquisava o nome do seu vinho e aparecia um site chamado Adegga dentro do qual estava uma pessoa a dizer que tinha gostado muito do vinho em questão. Os consumidores gostavam disso porque tinham acesso a uma opinião que não a de um crítico, mas, por outro lado, os produtores viam que qualquer pessoa tinha um palco para falar sobre os seus vinhos.

Os produtores associados ao Adegga sentiram resultados ao longo destes anos?
No início não sentiam, daí a nossa dificuldade. Por um lado, tínhamos impacto mediático, por outro, zero impacto em termos de negócio. Ao contrário de um Booking.com, o Adegga não foi um canal de vendas nos primeiros cinco anos. Se por acaso estávamos a ter impacto ao nível de vendas, não o sabíamos. E como não o sabíamos, não podíamos prová-lo.

Foi nesse momento que sentiram a necessidade de passar para o mundo offline?
Sim, por causa das vendas e por causa de uma coisa muito importante no mundo dos vinhos, isto é, o contacto pessoal. No momento em que se conhece um produtor, transforma-se completamente a opinião que se tem de um vinho — o vinho passa de um rótulo numa prateleira, a um preço simpático, para um produto difícil de fazer e que foi feito pela pessoa que está à sua frente. Os WineMarkets permitiram isso. Quando convidámos as pessoas da rede social para o primeiro WineMarket elas perceberam que podiam conhecer os produtores dos vinhos que já comentavam na rede social. E quando fizemos o segundo apercebemo-nos de que tínhamos mais pessoas a ir aos eventos do que a usar a rede social.

O que é que vos deu a entender que o modelo ia funcionar?
O feedback que tivemos aconteceu em dois níveis: um, os produtores e os consumidores adoraram; dois, vendemos. Ou seja, as pessoas compravam os vinhos de que gostavam. Então, pela primeira vez eu podia dizer a um produtor "olhe, eu posso ajudar o seu vinho não só a ser vendido, como promovido. Quer trabalhar mais comigo?". Assim, convidei-os para o segundo evento. Aí percebemos que conseguíamos fechar um ciclo: conseguíamos convencê-los a conhecer as pessoas no online, a dar a conhecer os vinhos no offline e, depois, algumas dessas pessoas voltavam ao site. Hoje em dia, o Adegga continua a ser uma rede social de vinhos, mas a rede social é apenas uma das partes do todo.

À partida, esse parece ser um modelo de negócio óbvio. Foi difícil de implementar?
O mundo do vinho é uma das indústrias mais complicadas no que a resolver problemas que parecem óbvios diz respeito.

Como assim? 
São anos e anos de formas de funcionar que têm alguns resultados. Por exemplo, quem exporta vinho vende a um importador que vende a um distribuidor… Há uma cadeia que já está montada e essas relações têm anos. O difícil no mundo do vinho é que, mesmo quando essas ligações não estão a funcionar, os produtores têm uma resistência elevadíssima à mudança. É uma indústria muito conservadora: mesmo quando têm problemas, preferem ser conservadores a tentar resolver os problemas de uma forma que nunca foi resolvida.

Li que, no Adegga, podemos estar perante uma espécie de democratização do vinho?
Tem que ver com o acesso dos vinhos aos consumidores. No Adegga nunca nos posicionámos como alguém que comunica o vinho na linguagem das elites. Fugimos sempre às notas de provas, queremos fazer uma comunicação em que o vinho é encaixado no lifestyle das pessoas.

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O primeiro Adegga Winemarket no Algarve, no início de junho. Foto: Ricardo Bernardo

Então, como é que comunicam o vinho?
A coisa mais importante do vinho, hoje em dia, é comunicar às pessoas que este faz parte da vida delas, seja porque a pessoa chegou a casa e está cansada e quer beber um copo de vinho, seja porque está junto à piscina e quer beber um rosé… Tem tudo que ver com o momento em que a pessoa deve consumir aquele vinho. As notas de prova não ajudam o consumidor a perceber porque é que ele deve ou não beber aquele vinho. Zero. Nunca ninguém disse 'hmm, notas de violeta, é mesmo o que apetece agora!'. Acabei de dizer uma frase tão óbvia que torna difícil perceber porque é que uma indústria inteira se baseia na descrição do vinho com base em notas de prova que a maior parte das pessoas não vai perceber.

O cliente do vinho está a mudar?
O vinho é prazer. Obviamente que, para muitas pessoas, vinho é status (dependendo dos vinhos), mas há uma coisa comum a todas essas situações: o prazer. A única coisa que as pessoas querem é sentir confiança de que o vinho que escolheram as vai tornar mais felizes no momento em que o consumem. No início do Adegga tínhamos notas de vinho e percebemos que essa não era a forma de comunicar. Nós, enquanto indústria, comunicámos durante muitos anos desta forma e quase criámos um estigma nas pessoas, no sentido de que o vinho tem de ser comunicado assim.

Também a propósito disso, parece existir um certo estigma quando se escolhe um vinho…
Sim. Quando falo de uma indústria conservadora tem que ver com isso. Temos um problema enorme: as pessoas não conseguem escolher vinhos, é difícil escolher vinhos, é uma coisa complicada. Porque há oferta, porque a comunicação não é feita de forma clara e porque se tem uma garrafa à frente que não se pode provar, por isso é que as provas são tão importantes. É um medo que foi criado nas pessoas, de que há melhores vinhos do que outros. E há. Mas a questão é que não são os pontos ou as críticas de uma pessoa que nunca se viu na vida que devem determinar que aquele vinho é melhor do que o outro. A nossa opinião é mais válida do que a do crítico.

Será que isso é a componente elitista do vinho a funcionar?
É essa componente elitista que, de certa forma, deve ser removida. Quando um produtor está à frente do consumidor não existe um crítico a recomendar um vinho, não existe uma nota de prova, não existe nada. Existe, sim, um produtor a contar a história de porque é que fez o vinho. O vinho é perceção. O melhor vinho do mundo pode ser aquele de que menos se gosta. O que nós fizemos durante anos — nós sendo a indústria do vinho –, foi mostrar às pessoas que se alguém diz que aquele vinho é o melhor, toda a gente também o deve achar. É um erro. Se não se gosta, não se gosta.

Os vinhos têm modas?
Têm, completamente. Dou um exemplo muito prático: os vinhos rosé cresceram imenso nos últimos dez anos. Nos últimos dois, em França, são a única categoria de vinho que cresce uns 30% a dois dígitos, é uma coisa louca. Para tudo no vinho existem estudos. No caso dos rosés, os estudos mostram que há novos consumidores que querem consumir vinho, que o tinto e o branco são complexos demais para eles. Já o rosé encaixa-se em todas as situações, trata-se de um vinho muito flexível, que tanto vai com peixe como vai com carne. O rosé bebe-se em qualquer sítio, não é preciso pensar se poderá ter uma acidez demasiado elevada para a combinação com prato. Bullshit. Não é isso que as pessoas querem. É demasiado complexo.

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Na imagem: o Smartwineglass, criação do Adegga: um copo inteligente que permitir aos visitantes dos WineMarkets recordar os vinhos provados. Associa-se o endereço de e-mail ao chip do copo, passa-se o copo no sensor das diferentes bancas e, quando se chega a casa, há um e-mail com a lista de vinhos provados.

Como é que trabalham as instituições responsáveis por comunicar o vinho em Portugal?
Respondendo diplomaticamente, num mundo conservador, aqueles que têm a obrigação de fazer a promoção dos vinhos são ainda mais conservadores do que os conservadores. Tem que ver com a forma como as instituições funcionam e, salvo raras exceções, o trabalho é feito dentro da zona segura do conservadorismo e não da zona ligeiramente insegura, mas com melhores resultados.

Qual é a imagens dos vinhos portugueses lá fora?
99,9% do mundo não sabe que existe vinho português. Portugal está no top 10 dos produtores mundiais, mas o maior produtor faz 100 mil vezes mais vinho do que nós. Itália e França são conhecidos como países de vinho, Portugal não. Para nós é quase uma ideia estúpida pensar assim. A resposta típica da indústria a isso é: mas os nossos são melhores e ganham mais prémios. Desde quando é que ter prémios e não ter canais de distribuição resulta? Pode-se ganhar o prémio, mas se o vinho não está acessível…

O mal não está apenas na comunicação, mas também nos canais de distribuição?
Sim. É preciso ter o Turismo de Portugal a promover o vinho, os canais oficiais a fazerem-no, todos os institutos… Devia haver uma comunicação com harmonia. Nós, em Portugal, ainda estamos a precisar de fazer esse trabalho. Quando se tem um budget mais pequeno do que o de outros países e se tenta usar as mesmas armas… A melhor sala de provas para o vinho português é o país. É por isso que é um erro os produtores acharem que, quando vão para fora, têm de concorrer com o vizinho do lado. Muito antes de concorrer com o vizinho, estão a colaborar para trabalhar a imagem do vinho português.

Falta esse sentido de unidade?
Não existe essa visão.

Mas em Portugal existem os Baga Friends e os Douro Boys…
Esses são grupos privados que se uniram para fazer uma coisa. Se as regiões fizessem o mesmo trabalho enquanto região… O país tem um papel, as regiões têm outro; se estiverem coordenados funcionam bem juntos. Imagine um evento fora: se se levar as regiões todas vai ser uma confusão, se se levar as melhores estas ajudam a que as pessoas se interessem pelo vinho português — "Adoro o Alentejo e o Douro, mas se Portugal tem vinho tão bom como este, provavelmente há mais regiões assim". A questão é que as instituições nunca podem dar primazia, pelo que se comete o erro de tentar comunicar tudo.

Mas as regiões não se podiam autopromover?
Podiam e podem. Fazem iniciativas por elas, mas nenhuma pensa fora da caixa. Usam os mesmos meios, com budgets mais pequenos.

Tinha noção que este era um mundo tão complexo quando criou o Adegga?
Não. Eu era um engenheiro informático que não bebia vinho quando criei o Adegga. Vi o Adegga como uma oportunidade de resolver um problema de uma indústria. Mas não foi só uma oportunidade de negócio, houve outra coisa: percebi que quando as pessoas falavam de vinho faziam-no com paixão. Comecei a interessar-me pelo vinho. Vir de fora da indústria permitiu-me questionar coisas que quem está por dentro não questiona. O que aconteceu depois é que o vinho mudou a minha vida, porque eu não gostava de vinho, não comia bacalhau nem queijo, era bastante esquisito. O vinho fez-me descobrir prazeres que estavam associados à comida. Comecei a desenvolver os aromas, não no sentido de saber o nome deles, mas de os sentir. A comida é provavelmente a melhor coisa que aconteceu ao vinho — porque toda a gente fala a linguagem da comida e ninguém fala a linguagem do vinho. Toda a gente sabe dizer o que está ou não salgado, ninguém no vinho vai dizer "hmm… podia ter passado mais dois meses na madeira". A linguagem do vinho é obscura, é escondida.

Considera-se um embaixador do vinho português?
Claro que sim. Sou alguém que é visto no mundo do vinho como um inovador, ou seja, nos canais em que se discute a inovação no vinho sou visto como exemplo. Olhe a vantagem que isso tem para o vinho português…

Por falar em inovações: recentemente apresentaram novidades.
Basicamente temos duas coisas que estão a ser lançadas: o Adegga Selected e o Club A, que é basicamente um clube de vinhos onde se paga um valor mensal e se tem acesso aos eventos do Adegga, aos vinhos exclusivos e a uma quantidade de outras coisas sem ser preciso fazer uma filtragem [de informação]. O Club A funciona por mercados, lançámos em Portugal e vamos lançar na Alemanha e na Suécia.

E o Adegga Selected?
O Adegga Selected é uma coisa que basicamente estende os WineMarkets. O que acontece nos mercados é que as pessoas vêm aqui, conhecem o produtor, gostam dos vinhos, compram-nos e provam-nos em casa… Nos dias a seguir ao evento, as pessoas tinham por hábito comprar os vinhos nas lojas. Percebemos que havia muitos produtores que queriam vender diretamente — há uma quantidade de vantagens nisso e, obviamente, as pessoas querem ter um contacto direto com os produtores. Então, no final do ano passado pensámos em como podíamos estender o modelo dos WineMarkets, mas voltando ao online. Mas aqui com o valor acrescentado de que já tínhamos as ligações estabelecidas entre os produtores e os consumidores — só que queríamos estendê-las a 365 dias por ano.

A empresa secreta que produz quase tudo o que se come

A Cargill fabrica adoçantes para a Coca-Cola, chocolate para a Mars e hambúgueres, óleo e nuggets para a Mcdonald's

15 Fevereiro 2015 • SÁBADO

A cidade de Yefremov é tudo aquilo que se poderia esperar de uma localidade industrial soviética em decadência. Os edifícios estão a cair aos bocados e as estradas esburacadas. Matilhas de cães vadios perseguem velhos carros russos Lada. É um local inóspito e cinzento, embrenhado num odor permanente a fermento, por causa da fábrica de vodka das redondezas. A cidade nunca mais foi a mesma desde a queda da União Soviética, que arrastou consigo a principal empregadora da zona, uma fábrica estatal de borracha. "Metade da população foi-se embora quando a fábrica fechou", diz Nikolai, 70 anos, condutor de camiões reformado. Tem a boca cheia de dentes de ouro e caminha com as compras pela Rua do Exército Vermelho. "O desemprego ainda é muito elevado. E as nossas reformas são muito baixas."

Mas a cidade tem pelo menos uma coisa a seu favor: os McNuggets. No Verão de 2013 abriu em Yefremov uma fábrica que produz toda a carne de frango processada para os 300 restaurantes McDonald's na Rússia. É a mais recente novidade do complexo de produção alimentar que fica perdido entre Moscovo, a cerca de quatro horas para norte, e lado nenhum. Todos os dias, peitos de frango, importados na maioria do Brasil, são despejados para máquinas que cortam, panam, cozem a vapor, fritam, congelam, embalam a vácuo e empacotam os nuggets. A cada oito horas, esta linha produz um milhão de McNuggets. Poderíamos interrogar-nos sobre as razões que levaram a McDonald's a escolher um inferno industrial para a sua McNuggetgrado. Na verdade, não escolheu. A decisão foi da maior empresa privada da América, da qual provavelmente nunca ouviu falar, mas à qual certamente já deu dinheiro.

A Cargill é a maior produtora de ingredientes alimentares do mundo. Fabrica os adoçantes para a Coca-Cola e o malte para a cervejeira MillerCoors, frango para a Asda, chocolate para a Mars e hambúrgueres, óleo alimentar e os McNuggets para a McDonald's. É a terceira maior embaladora de carne do mundo e a maior distribuidora de cereais, que envia para qualquer ponto através de uma armada de navios cargueiros seis vezes maior que a frota da Marinha Real britânica.

Apesar do seu tamanho, este gigante, que vale 100 mil milhões de euros por ano, conseguiu manter um perfil incrivelmente discreto. A estrada que nos leva à sede global da Cargill, em Minnetonka, no estado do Minnesota, é um cenário suburbano digno de um postal. As casas são grandes e os relvados estão impecavelmente aparados, com sebes brancas à volta. O Lake Office, como é conhecido, fica numa mansão de estilo francês, no meio de uma lagoa espelhada, entre árvores verdejantes e canteiros de flores. Não é o que se esperaria do centro de um império que se estende por 67 países e emprega 142 mil pessoas. Gregory Page, alto, em forma, com ar de professor, sorri: "Chegamos a todo o mundo a partir desta planície isolada."
 
Aos 62 anos, page passou a vida inteira na Cargill – quase 40 anos –, e nos últimos seis foi presidente. A empresa não cultiva nada. Em vez disso, construiu uma vasta rede de fábricas, portos e navios, que recebe e vende cereais em estado bruto ou que os transforma em produtos que acabam nas prateleiras de supermercados e farmácias, no seu tanque de combustível ou no bar da sua cidade.

O modelo é o seguinte: se um agricultor no Brasil quer plantar soja, a Cargill faz-lhe um empréstimo, vende-lhe fertilizante e oferece-lhe um seguro para as colheitas. Depois, compra-lhe a colheita e coloca-a num navio com destino, por exemplo, à China. Aí será transformada em ração para galinhas, que vão ser mortas numa fábrica da Cargill e vendidas para saciar o apetite crescente por carne. A empresa está presente em todos os elos da cadeia.
Hoje, 90% da Cargill é detida por menos de 50 pessoas, pertencentes à sexta geração de Cargills e de MacMillans (os restantes 10% são detidos pelos empregados). São os Rockefellers da indústria alimentar e gerem este império há mais de um século. Page é o terceiro presidente que não faz parte da família e até Agosto de 2013 viu a empresa ter o seu segundo melhor ano de sempre – facturou 1,7 mil milhões de euros.

Mas isso não significa que não haja problema. Em 2011, a Cargill fez a maior recolha de carne de aves da história americana, depois de ter encontrado salmonelas em embalagens de peru picado. Foi o tipo de incidente que fez os amantes da comida orgânica e local afirmarem que a empresa representa tudo o que está errado na indústria alimentar. Page, no entanto, não tem dúvidas de como distribuir calorias aos 7,2 mil milhões de habitantes do planeta: aumentar a produção a partir das culturas existentes. "A linguagem que algumas pessoas mais cuidadosas começaram a usar menciona uma intensificação sustentável", explica. E nenhum lugar é tão intenso como o estado norte-americano do Iowa.
 
Bill Talsma, um homem corpulento com 1,92 metros de altura, abriga-se à sombra de um armazém do tamanho de um hangar de aviões, repleto de equipamento agrícola de grandes dimensões. Ainda estamos a meio da manhã em Colfax, uma cidade com 2.061 habitantes no coração da chamada Cintura do Milho do Iowa, e o calor já é suficiente para transformar o milho em pipocas.

Talsma, de 56 anos, e o seu irmão Dave, de 58, nunca fizeram outra coisa a não ser trabalhar na agricultura. "Este é o meu 34.º ano", diz Bill. "O meu pai era agricultor e o meu avô também. Não saberia fazer mais nada." Juntos, trabalham quase cinco mil hectares da terra mais produtiva do planeta – e com apenas "três pessoas a tempo inteiro". Usam todas as armas da agrícola alimentar moderna. Bill aponta para uma máquina gigante de ceifar. "Custou-me mais de 370 mil euros mas faz, num único dia, o que costumava demorar duas semanas. E tem GPS a bordo, pelo que até se guia sozinha." 
Os Talsma compram sementes modificadas geneticamente. Depois, são plantadas por semeadoras gigantes ao longo de vários quilómetros de filas direitas e espaçadas com uma precisão milimétrica. Quando o milho é colhido, a maior parte acaba a 90 quilómetros de distância, em Eddyville, onde está uma das maiores fábricas de moagem de milho da América.

A Cargill fundou esta fábrica em 1985, o ano em que a Coca-Cola resolveu substituir o açúcar por xarope de milho rico em frutose, uma alternativa mais barata. Hoje, Eddyville transforma a semente de milho em mais de uma dúzia de produtos, exportados para mais de 50 países – a fábrica vale 737 mil milhões de euros e produz quase um décimo do xarope de milho da América. É um produto potente: um único vagão consegue adoçar dois milhões de latas de Cola. Grande parte do xarope é enviada de comboio para a Califórnia, onde a Coca-Cola tem uma fábrica de engarrafamento. Muitas vezes, alguns dos vagões que carregam etanol ficam presos no fim da linha. "Chamamos-lhe o comboio do rum e cola", diz DeLange.

Os cérebros por detrás da máquina de fazer dinheiro da Cargill vivem no sonolento paraíso fiscal de Genebra. É aqui que fica a sede da sua World Trading Unit (WTU, Unidade de Comércio Mundial). As operações diárias da Cargill englobam uma extraordinária quantidade de informação – análises da produção de trigo britânico, preços de milho no Departamento de Comércio de Chicago, encomendas de ração dos criadores de porcos da China e relatórios meteorológicos do Norte do Atlântico.
 
Um grupo de 30 supertraders analisa este turbilhão de dados. São as mentes mais inteligentes da organização. O que a WTU faz, em grande parte, é gerir os riscos associados ao envio anual de 40 milhões de toneladas de cereais para todo o mundo. É a WTU que vai alugar um cargueiro de frango congelado para Yefremov e que envia tanques de xarope de milho de Eddyville para as Filipinas. E nunca perde uma viagem. Na verdade, as operações de envio transportam mais carvão e minério de ferro para outras empresas do que propriamente comida. Os mesmos navios que entregam soja brasileira transportam também carvão australiano.

Mas a WTU também recorre a um vasto e precioso arsenal de conhecimento, dados e tecnologia para fazer apostas puramente financeiras. "Genebra faz muito comércio especulativo", disse um antigo negociante da Cargill. "Nesse sentido, não há diferença nenhuma entre eles e a Glencore, ou qualquer outra corretora." A CarVal Investor, detida pela Cargill, vale 4 mil milhões de euros e especializou-se em empresas em dificuldades – já investiu no banco Lehman Brothers.

Os riscos são elevados. Em 2011, o principal negociante de açúcar da empresa saiu depois de a Cargill ter perdido 73 milhões de euros em negócios especulativos. O presidente da Cargill, David MacLennan, minimiza a ideia de que a empresa é um gigante voraz da distribuição. "Se vier até nós e quiser ficar muito, muito rico, somos a empresa errada para si. Não vai ver muitos Lamborghinis no nosso parque de estacionamento", afirma. "Há aqui uma boa herança escocesa. Não somos exibicionistas." Um antigo negociante da empresa discorda: "Isso é treta. Pode ser verdade no Minnetonka, mas não em Genebra."

Será que especular com os preços da comida combina bem com a missão de alimentar o mundo? Até a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura salienta que é "bastante claro" que a especulação exacerba os picos de preços verificados na indústria em 2008 e 2010. A Cargill argumenta que a sua operação faz mais para reduzir os custos da alimentação do que alguns dos seus negociantes fazem para os manterem elevados. Mas os críticos têm certamente alguma razão quando culpam a Cargill por nos ajudar a manter gordos, certo? A empresa também tem resposta para isso. E a resposta passa por colocar três copos de plástico, do tamanho de copos de shot, em cima da mesa. Cada um contém uma dose de chá gelado com sabor a pêssego, mas só um deles tem metade das calorias, graças a um substituto muito doce do açúcar que deriva da stevia, uma planta sul-americana. Tento adivinhar, sem sucesso, qual tem menos calorias. A minha falha é o sucesso da Cargill. A empresa conseguiu substituir 16 cubos de açúcar, a quantidade tradicional de uma lata de chá, por apenas uma pitada de pó mágico.
 
E não só a bebida sabe ao mesmo, como também se "sente" o mesmo. "Desenvolvemos uma combinação muito específica de texturizadores que recuperam a sensação na boca e a viscosidade que se esperaria [de uma bebida com açúcar]. Esta fórmula teve bastante sucesso entre dois dos nossos maiores clientes da indústria de bebidas", diz Reginald Bokkolen.

Bokkolen é um dos 150 cientistas alimentares que trabalham no laboratório europeu da Cargill, nos arredores de Bruxelas. É um dos cinco laboratórios da empresa. Chris Mallett, o químico britânico que dirige o departamento de pesquisa e desenvolvimento, é o homem a quem os gigantes da alimentação recorrem quando precisam de cortar gorduras saturadas ou encontrar uma forma de colocar a etiqueta "100% Natural" nos seus produtos. Está mais ocupado do que nunca.

Entre as fascinantes áreas em que os seus cientistas estão a trabalhar – ou entre as mais perturbadoras, consoante o ponto de vista – está uma nova classe de ingredientes que leva o corpo a pensar que está saciado. "Parece que as pessoas obesas têm micróbios diferentes dos que têm as pessoas magras nos intestinos", explica Douwina Bosscher, uma nutricionista da Cargill. "Por isso, se conseguirmos produzir alimentos que equilibrem melhor estes micróbios podemos ter uma forma eficiente de perder peso." No mundo alimentar, é o mais perto a que se chega da alquimia.

O azeite de Abrantes que ganha prémios no mundo inteiro



03.06.2015

A colheita da azeitona decorre de outubro a dezembro, mas se for um ano de boa campanha pode estender-se a janeiro
Aliam a tecnologia aos métodos tradicionais e já ensinam na Austrália, Perú e Chile.  O azeite de excelência da SAOV traduz-se nas dezenas de prémios no país e no estrangeiro. A mais recente distinção foram duas medalhas de ouro na Feira Nacional de Agricultura. Acompanhe nas próximas semanas as histórias de produtores e produtos inovadores que estão a surgir e a evolução dos distinguidos no Prémio Intermarché Produção Nacional 2014, que este ano volta a ser um projeto do Expresso e da SIC Notícias.

Raquel Pinto
RAQUEL PINTO
Esta é a história de dois homens, Alberto Serralha e Ilídio Francisco, que juntaram forças e fundaram a Sociedade Agrícola Ouro Vegetal – SAOV, em Abrantes. Começaram por comprar azeitona a produtores de diferentes zonas do país e arrendaram o lagar do avô de Alberto Serralha. A parceria resultou em 2005 na aposta do controlo da matéria-prima com um contrato de exploração olivícola na Quinta do Pouchão, da qual Ilídio Franscisco era responsável agrícola. 

Em 2009, a SAOV reuniu finalmente todas as condições para a implantação de um lagar nas suas instalações. Mas o azar bateu-lhes à porta. Um acidente de trabalho vitimou Ilídio Francisco antes de ver concretizado o sonho. Alberto Serralha, atualmente com 43 anos, prosseguiu com o projeto e um "acaso" há quatro anos levou-o além-fronteiras. É com frequência que se desloca ao estrangeiro para transmitir e aplicar os seus conhecimentos. O seu nome chegou a um produtor na Austrália sugerido por uma marca com distribuição mundial e com a qual a SAOV trabalha. Estavam interessados em alguém que pudesse ajudar no desenvolvimento do sector olivícola.

A empresa da Austrália expandiu-se para o Peru e o português rumou até à América Latina. O sucesso de um apaixonado pelo sector, abriu-lhe entretanto portas no Chile.

Distinções atrás de distinções
A SAOV  já conta com dezenas de prémios nacionais e internacionais.Para o aumento do volume de vendas do azeite português os EUA têm tido um contributo decisivo - representa este ano 20%. Na Europa exportam para a Suíça, Hungria, Holanda e Itália. Produzem as seguintes marcas de azeite virgem extra: Quinta do Pouchão e o Cabeço das Nogueiras premium, sendo que o primeiro tem certificação DOP (Denominação de Origem Protegida) do Ribatejo. Ambas distinguidas com medalha de ouro no concurso de azeites na Feira Nacional de Agricultura deste ano.  

E porque a inovação é constante, em mãos há um novo "projeto" para aumento da capacidade produtiva da extração de azeite. A transformação da azeitona em azeite será mais rápida. 

Método inovador
"A utilização de baixas temperaturas entre 17 e 18 graus (para manter os compostos voláteis responsáveis pelo aroma e sabor), a qualidade da matéria-prima (com um controlo muito apertado na produção da azeitona) e das instalações em matéria de segurança alimentar marcam a diferença nos azeites produzidos pela SAOV", sustenta Rita Marques, gestora de qualidade. Além de só trabalharem com azeites virgens, extraídos unicamente por meios mecânicos e sem qualquer envolvente química, na SAOV a qualidade é sinónimo de proatividade.

Gestora muda de vida, instala-se no Alentejo e dedica-se aos figos da índia


04.06.2015

Os frutos podem até ser utilizados como corantes naturais. As palmas são comestíveis e das flores secas faz-se chá
Teresa Laranjeiro foi à procura de um sonho e descobriu uma cultura à primeira vista sem interesse e desconhecida - já se imaginou a pedir um gaspacho de figo da índia? - mas que acredita ter "potencial". O ano passado lançou o desafio para se associarem em cooperativa: 75 produtores disseram "sim".  Nas próximas semanas acompanhe, no site e no Expresso Diário, mais histórias dos produtores de quem se fala e os produtos mais inovadores que estão a surgir. Saiba também a evolução de alguns projetos distinguidos em 2014 no Prémio Intermarché Produção Nacional.

Raquel Pinto
RAQUEL PINTO
Quantos de nós já não desejou mudar radicalmente de vida? Teresa Laranjeiro, gestora de projetos informáticos, tinha esse desejo e concretizou-o. Vivia em Lisboa mas a relação com a terra estava-lhe no sangue - os pais tinham quintas - e foi alimentando o sonho. Imaginava: um dia terei, também, um pedaço de terra. Como os filhos já não dependiam dela, o regresso às origens foi falando cada vez mais alto. Até despedir-se da empresa onde estava. Trabalhou por conta própria enquanto procurava um terreno nos arredores da capital para poder estar perto da família. Mas nada encaixava no plano e viu-se forçada a alargar o horizonte. Adquiriu 14 hectares no Vimieiro, em Arraiolos. Já lá vão quinze anos.

Demorou dois anos a mudar-se em definitivo. Tentou várias produções, nenhuma com resultados satisfatórios. A primeira, a sementeira de trigo, então, foi um desastre. Determinada, em 2010, disse para si mesma: "É agora". Não queria uma cultura tradicional. "Procurava um modo de produção biológico, inovador e sustentável, sem intervenções profundas no terreno", explica a agricultora de 55 anos. 

Teresa esbarrou com um projeto de produção de figos da índia, ainda estava ligada à informática, e estranhou o interesse nisto. "Quem é que se põe a plantar catos e acha que isso pode render alguma coisa? Foi isto que pensei naquela altura", conta. Só que aquilo não lhe saiu da cabeça. Quis saber mais, entusiasmou-se e, em 2012, acabaria por formalizar, em sociedade com a filha, três candidaturas ao PRODER:  Sobremesa da Vida (plantação de figueiras da índia), a Cactus Extractus (para transformação) e a Chá Bravo (cultivo de ervas aromáticas). Destinou seis hectares da quinta ao plantio de 6000 palmas.

Apostou na produção e transformação dos figos da índia e desde o final de 2013 voltou-se para a cosmética com a comercialização de um óleo facial – o Alchemy. Extraído das sementes, com uma técnica de pressão a frio, já é vendido em Estremoz, feiras sustentáveis e lojas de produtos naturais em Évora e Lisboa.

O óleo de figo da índia é hidratante e antioxidante
O óleo de figo da índia é hidratante e antioxidante
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"Rico em vitamina E, ácido oleico e antioxidantes, oferece uma grande capacidade hidratante e regeneradora da pele, que funciona bem para disfarçar rugas, manchas e recuperar de cicatrizes", destaca Teresa Laranjeiro, que surpreende: "Tenho amigos que o estão a utilizar como after shave, por ser um óleo seco".

A investigação aprofundada que Teresa fez sobre o produto antes de se lançar no negócio levou-a a delinear uma estratégia de reaproveitamento da fruta fresca que não estivesse em condições para comercializar. Este ano prevê a produção de apenas uma tonelada. "Ainda é pouco", diz, já que este é apenas o primeiro ano de produção, mas já sabe que uma parte vai entrar na unidade fabril para ser transformada em polpa, que depois é congelada para confeção de gelados, granizados, ou sobremesas. Uma parceria com a chef Mariana Cardoso levou-os à apresentação no Green Fest, no Estoril, em 2012, um projeto de pratos experimentais, entres eles gaspacho de figo da Índia e o cheesecake de queijo de cabra e figo da índia. 

 Um Cheesecake invulgar
Um Cheesecake invulgar
Cheesecake de queijo de cabra e figo da índia

Ingredientes 
(6 doses)

200ml de natas
200gr de mascarpone
100gr de açúcar
150gr de queijo de cabra
100gr de bolacha Maria
40gr de manteiga
Compota de figo da índia qb
Amêndoa laminada para decoração

Preparação
Bater as natas, adicionar o açúcar, o mascarpone e o queijo de cabra sem casca e desfeito com as mãos, bater até ficar homogéneo.
Triturar a bolacha e acrescentar a manteiga amolecida, misturar com as pontas dos dedos até formar uma massa esfarelada.
Montar em copos individuas, primeiro a massa da bolacha e depois o creme de queijo de cabra, por cima colocar doce de figo da índia e decorar com amêndoa laminada. 


(Chef Mariana Cardoso - Receita cedida por Cactus Extractus)

O novo kiwi?
Vista como uma planta selvagem, que servia de sebes e alimento a porcos, a figueira da índia é muito consumida na América do Sul, sobretudo no México. Gosta de terrenos áridos, necessita de pouca água e dá frutos uma vez por ano, mas só ao final do terceiro ano de produção. A fruta é colhida em Agosto. Uma tarefa "crítica e complicada". Os frutos são apanhados um a um à mão. E é sempre cortado com parte da palma. "Se o arrancarmos da planta vem aberto o pé e aprodecem", explica.

Sendo a produção ainda pouco expressiva, Teresa mobilizou-se e juntamente com outros produtores foi uma das organizadoras do primeiro encontro nacional do figo da índia em abril de 2014. O evento realizado em Évora superou as expetativas: a sala com capacidade para 350 pessoas esgotou. As manifestações de interesse surgiram e, em junho do ano passado, 75 produtores associaram-se à Exotic Fruits New Flavours. Para já, a meta passa por aumentar a capacidade produtiva e o escoamento da fruta fresca, que possa repercutir-se na descida do preço deste produto, que ronda os 10 euros por quilo.   

Teresa acredita que este poderá deixar de ser um fruto "especial" para se voltar para o consumo de massas, à semelhança do que aconteceu com o kiwi em Portugal. "Esta é uma cultura com grande potencial e acho que não estou a ser excessivamente otimista", remata.

O pai queria que Luís fosse engenheiro. Ele cumpriu e ingressou no clube dos que vivem da terra



08.06.2015



Começaram com 11 hectares e sete funcionários. Hoje são um dos maiores produtores de dióspiros do país

Luís Sabbo gosta do que faz e não quer deixar cair o que o pai construiu. Vai a Espanha aprender com os melhores para fazer crescer uma das maiores produções de dióspiro em Portugal e inovar na diversidade com culturas ainda pouco expressivas, como é o caso da romã. É assim desde os 22 anos. Acompanhe nas próximas semanas as histórias de produtores e produtos inovadores que estão a surgir e a evolução dos distinguidos no Prémio Intermarché Produção Nacional 2014, que este ano volta a ser um projeto do Expresso e da SIC Notícias.

Raquel Pinto
RAQUEL PINTO

Pensava ir para fora, um ou dois anos, ganhar experiência para regressar mais tarde à exploração do pai, pioneira na produção de dióspiros em Tavira, Algarve, há mais de duas décadas. Só que a morte prematura do pai obrigou Luís Sabbo a trocar os planos de vida aos 22 anos. Estava a acabar o curso de Agronomia na Universidade do Algarve quando teve de assumir o comando do negócio de família.

Hoje, com 30 anos, licenciado em engenharia, olha para trás e reconhece que o percurso não foi fácil.  "Foi passar de uma responsabilidade nula que tinha na vida para, de um dia para o outro, ser total", descreve. A chegada ao mundo agrícola foi ainda mais dura. Era "descredibilizado" todos os dias pelos mais velhos: "Ninguém acredita em nós". O trabalho e o esforço resumem os resultados que obtém com o apoio fundamental da mãe, da irmã e da namorada. 

Sabia que queria trabalhar no campo. Isso era ponto assente. Mas foi "quase obrigado" pelo pai a tirar um curso superior. "Eu queria era trabalhar com o meu pai. Recordo-me de, ainda no primeiro ano da universidade, ligar-lhe a dizer que queria desistir. O meu pai saiu do trabalho e foi ter comigo para conversarmos. E disse-me: "Tem calma, tens a vida toda para trabalhar. Tens que estudar porque eu não preciso de ti para um trator. Preciso de ti como engenheiro'".

Aprender só no estrangeiro 

Com a ideia clara de que era preciso domínio de outras ferramentas, estava empenhado em prosseguir os estudos nas melhores escolas agrícolas lá fora e, eventualmente, trabalhar em empresas agrícolas, para ganhar experiência e depois trazer mais-valias. Só que a perda do pai alterou-lhe o rumo. Ainda assim, não dispensa idas ao estrangeiro quatro a cinco vezes por ano, para formar-se, em feiras, congressos e fazer contactos.

Espanha tem sido um viveiro. "Aqui pouco ou nada se aprende em termos agrícolas", diz perentório. Para quem quer trabalhar com um produto diferente do que aquele que está implementado em Portugal  a alternativa é "ou vai para fora ou vai para fora". Já o pai o fazia. Luis tentou ir de encontro a essa máxima. "Estão muito mais à frente que nós", afiança. E dá como exemplo o Instituto Valenciano de Investigação Agrária (IVIA) que possui oito departamentos a trabalhar em exclusivo no dióspiro, desde a fertilização às pragas, as podas, a pós-colheita, as variedades". Na opinião de Luís Sabbo, Portugal peca pela falta de investigação para os agricultores. O principal obstáculo enquanto jovem agricultor é a "falta de informação disponível para as culturas com que se trabalha".

A produção ocupa agora 54 hectares, 25 dos quais destinados apenas à cultura do dióspiro Roxo Brilhante
A produção ocupa agora 54 hectares, 25 dos quais destinados apenas à cultura do dióspiro Roxo Brilhante
Testam outras culturas quatro anos antes de investir

A produção da Luís Sabbo – Frutas do Algarve desenvolve-se em 54 hectares, 25 dos quais exclusivos a dióspiros. Tem 11 trabalhadores fixos. Começaram com 11 hectares e sete funcionários. São um dos maiores produtores de dióspiros mas resolveram diversificar a produção para prolongarem a sazonalidade. Romãs, abacates, figos, lima, limões e damascos. Mas não querem dar um passo maior que a perna. O investimento só se faz "depois de testes de três ou quatro anos de determinada cultura". É preciso ver se funcionam.

Plantam ainda abóboras, como cultura intermédia, para que a terra não esteja parada e possa servir de mealheiro a investimentos principais. A produção destina-se ao consumo interno, uma parte dirigida à grande distribuição, mercados abastecedores de Lisboa, Coimbra e Porto. A outra é vendida a produtores que depois a exportam. Exportação direta só é feita a um cliente francês.

Luís acredita que escolheu as pessoas certas. "Consegui formar uma equipa de trabalho competente. Rodeei-me de consultores que me apoiaram bastante e de professores da universidade. Estou a conseguir", diz o jovem agricultor que até agora não precisou de recorrer à banca, beneficiando dos apoios comunitários nos vários projetos que já apresentou. Luis Sabbo lembra: "Ser agricultor não é a imagem do velhote de boné que vai com a enxada resolver as coisas. É preciso estudar a atividade todos os dias.

A razão do seu sucesso: "Gostar muito disto e querer levar para a frente o que o meu pai fez".

Os nove e a uva Frutalmente sem grainha


09.06.2015



Em Castanheira do Ribatejo alguns produtores da Frutalmente pousaram para a foto
FOTO ALEXANDRE BORDALO

Mário Rodrigues é o mentor da organização que agrega nove produtores, com idades entre os 30 e os 70 anos. Diferentes visões e formações que se traduzem em resultados. Acompanhe nas próximas semanas as histórias de produtores e produtos inovadores que estão a surgir e a evolução dos distinguidos no Prémio Intermarché Produção Nacional 2014, que este ano volta a ser um projeto do Expresso e da SIC Notícias.

Raquel Pinto
RAQUEL PINTO

Sob o lema a união faz a força, nove produtores, dos 30 aos 70 anos, uns em nome individual, outros num coletivo, uniram-se numa organização para conseguirem robustez e melhores condições negociais no mercado. Em comum, a uva de mesa, tradicional no Oeste e Ribatejo. O mentor do projeto inovador organizacional na região é Mário Rodrigues, engenheiro agrário, 38 anos. Ele e o irmão já tinham uma empresa quando lançaram o desafio a dois primos para levarem adiante esta ideia. Todos com raízes no campo, filhos e netos de agricultores.

A proximidade familiar e geográfica com produtores mais pequenos com quem iam estabelecendo parcerias, facilitou o processo. A Frutalmente, em Castanheira do Ribatejo, na prática, já funciona desde 2012. "Confesso que tive algum receio. A nível de certificações somos muito exigentes e eu julguei que formatar alguém de idade que sempre fez as coisas da mesma forma, que foi sempre ele que escolheu os clientes, estabeleceu preços, fosse uma missão impossível. Fui surpreendida pela positiva", diz Sandra Rodrigues, engenheira agrónoma, uma das primas e diretora. 

É inegável a complementaridade de experiências. Diferentes gerações com diferentes aptidões até tem dado resultados. Nem sempre é fácil a mudança de mentalidade, divergência de opinião há sempre, mas têm tido lições e surpresas dos mais velhos, garante. Tudo passou pela ligação à uva de mesa e necessidade de serem mais fortes na cultura. Estavam sozinhos, a trabalhar ao lado uns dos outros mas com preços completamente distintos.






FOTO ALEXANDRE BORDALO
Uva entra em Angola e figo segue para a Dinamarca

"O Mário acabou por ser fundamental pelo espírito de liderança muito forte e motivação. É o que avança e acha que é sempre possível dar a volta", destaca Sandra. Exploram 200 hectares de vinha e todos ficam a ganhar com uma produção anual que ronda as 3500 toneladas por ano. "A união resultou em instalações mais evoluídas, rentabilidade comercial e clientes mais satisfeitos".

Ainda que a uva seja o denominador, aproveitaram as produções paralelas já existentes, como a de figos que ocupa uma área de 15 hectares (o equivalente a 75 toneladas anuais), damascos ao longo de 16 hectares (250 toneladas) e pêssegos em 6 hectares (75 toneladas). Comercializam com duas marcas – a Dona Uva (uva) e a Adoora (figos e frutos de caroço). Exportam uva para Angola e figo para a Dinamarca. 

Como o objetivo é rentabilizar estruturas pela diversidade, a uva sem grainha é um grande passo. Iniciaram a plantação em 2014, pelo que, só daqui a três ou quatro anos atingirá o mercado. Sandra Rodrigues frisa o potencial deste produto junto das crianças. Não tem dúvidas de que será a tendência de mercado em detrimento das variedades com grainha.

Os próximos projetos passam por consolidar a empresa, aumentar produções da uva de mesa, fazer reconversões de vinhas mais antigas para variedades com mais aptidão, e talvez abrir portas a novos produtores que encaixem nos calendários definidos pela estrutura.

Depois de dois anos agrícolas complicados e da restruturação de antigas vinhas, as previsões deste ano são animadoras. "As perspetivas de produção são boas tendo em conta aquilo que se vê no campo. Se o tempo ajudar até ao final da vindima, poderemos este ano só em uva de mesa perfazer as 3500 toneladas".

Professora de educação física aposta na agricultura para ultrapassar incertezas da profissão


12.06.2015

A docente descobriu um nicho: os produtos hortícolas básicos são as necessidades locais
Aquilo que começou como rendimento complementar está a ser mais do que isso. Sílvia Silva é do Porto e mudou-se para Sousel convencida pelo marido. Este ano parou de dar aulas. Ir todos os dias para Évora era incomportável. Recebia menos do que o ordenado mínimo. Acompanhe nas próximas semanas as histórias de produtores e produtos inovadores que estão a surgir e a evolução dos distinguidos no Prémio Intermarché Produção Nacional 2014, que este ano volta a ser um projeto do Expresso e da SIC Notícias.

Raquel Pinto
RAQUEL PINTO
"Já é uma alternativa. Não podemos andar para trás". Sílvia Silva é professora de Educação Física e tem 40 anos. Concorreu ao Proder há dois. O apoio ainda não chegou só que meteu "mãos à horta" para experimentar. Os testes ganharam contornos inesperados.

Vive em Sousel. Nunca imaginou que um dia poderia trocar a cidade e a proximidade com o mar pelo campo e o interior profundo. "Diria que era impossível", conta.

Mudou-se de malas e bagagens para o Alentejo há sete anos. O marido é portuense, ela também. Conheceram-se precisamente no Porto, mas Jorge, de 42 anos, que esteve ligado à mecânica de motos, já se tinha instalado na Herdade Monte Ruivo anos antes. A propriedade era de família. Não tinha condições de habitabilidade. Nem luz havia. Reconstruiu as estuturas do monte, fez a casa, e rumou. Sozinho. Viu na criação de borrego biológico uma alternativa e procurou fundos comunitários. O namoro com Sílvia veio depois. E alguém teve que ceder. Silvia viajou para o Alentejo. Ia tendo dificuldades por causa das colocações como professora. Parte do percurso profissional passou pelo privado e não tinha tempo de serviço. 



Banca, o único apoio até agora
Instalada a sul, nunca trabalhou a menos de 60 quilómetros de casa. Este ano conseguiu Évora. Os mais de 150 quilómetros para trazer menos do ordenado mínimo levaram-na a parar de fazer o que gosta. Até porque tudo se tornou mais difícil de gerir com o nascimento da filha. "Queria ser uma mãe presente". Tentou outras opções de rendimento. Nada feito. "Diziam-me que tinha currículo a mais".

A docente não esconde que gostaria de conciliar o ensino com a agricultura. Ganhou-lhe o gosto. Ainda não sabe se o projeto de hortícolas de estufa e ar livre, com um investimento superior a 200 mil euros, irá ser viabilizado. Apresentou-o em 2013, mas em 2014, teve que ser alterado. A análise no terreno concluiu que a produção nas estufas durante os meses de julho e agosto teria de estar parada, por causa do calor. Teve que reformular o projeto. Concluiu as formações exigidas e ainda fez um curso empresarial. 



Financiamento bancário permitiu construir estufa de 2000 m2
Financiamento bancário permitiu construir estufa de 2000 m2

Demoraram dois anos a pensar num negócio. Não queriam meter-se numa situação complicada. O borrego ia sustentando a família. Ao mesmo tempo, Sílvia vivia a incerteza profissional e procurava um rendimento complementar. Pensaram nos mirtilos, caracóis, morangos... "Fizemos análises de mercado durante dois anos. Tudo tinha um problema. Estamos no fim da linha, localizados no interior do Alentejo. Seria difícil escoar aqueles produtos. Ou por sermos pequenos demais ou porque não éramos suficientemente grandes para pormos um camiãos cheio", explica.

Perceberam que havia um nicho básico. "Quando ia a qualquer supermercado daqui era um caos. Só existiam produtos frescos um dia por semana. No Porto, não estava habituada a isto".

Iniciar um projeto sem financiamento estava fora de hipótese. Só que a experiência de produtos na herdade, transformou-se num "passa palavra" e já chegam a supermercados. Trabalham com dois grossistas e vendem tudo o que produzem nos dois hectares e 2000 metros quadrados de estufa. O fiinanciamento bancário possibilitou as estruturas. Dão um passo de cada vez. Ainda não têm máquinas e esta é a maior dificuldade do momento para fazer face à procura. Socorrem-se de três colaboradores que contrataram para evitar um novo crédito à banca. Mas sentem-se sempre aquém.

E se o financiamento do PRODER não vier? Sílvia mostra-se determinada: "A esta altura do campeonato não dá para voltar atrás. Esta é nossa opção de vida.".

Sérgio Baltazar trabalha 15 horas por dia. Triplicou a produção de leite na exploração do pai


01.06.2015

Esta exploração em Sousel tem cerca de 100 hectares e 150 vacas leiteiras da mesma raça (Frisia)

Recebeu um prémio por ser jovem agricultor e dinamizou a exploração de vacas leiteiras em Sousel, num sector em que o problema não passa por escoar o produto mas a balança entre o custo de produção e o preço final. Acompanhe nas próximas semanas as histórias de produtores e produtos inovadores que estão a surgir e a evolução dos distinguidos no Prémio Intermarché Produção Nacional 2014, que este ano volta a ser um projeto do Expresso e da SIC Notícias.

Raquel Pinto
RAQUEL PINTO
"Ser agricultor não é menos que ser doutor ou outra profissão qualquer". É esta a forma categórica como Sérgio Baltazar retrata a sua escolha. Tem 30 anos e trabalhar na terra é "um gosto" para ele. Só assim se encara uma média de 15 horas diárias  na Alecrimrubro que se dedica à exploração de vacas leiteiras no Monte da Rodinha, em Sousel, Portalegre.

Em tenra idade pensou em veterinária. A ligação com os animais, e estes em específico, tem-na desde que se lembra de ser gente. Na adolescência, "já com a cabeça mais assente", percebeu que o seu modo de vida passaria por "ficar na agricultura". O "bichinho" já vinha do avô, produtor de leite. O pai herdou o negócio e Baltazar ponderou ainda outra área da agricultura. A vocação falou, no entanto, mais alto e acabaria por dar continuidade aos conhecimentos de família. Concluído o 12.º ano, ali se fixou profissionalmente e assumiu em 2013 as rédeas desta exploração pouco depois de submeter um projeto à Associação dos Jovens Agricultores de Portugal num investimento de 300 mil euros. Obteve um apoio de 60% a fundo perdido e um prémio de 30 mil euros por ser jovem agricultor. Com este dinheiro, tratou logo de investir em modernizar os cerca de 100 hectares.

"Triplicámos o volume de produção mensal. Neste momento, fazemos 80 mil litros, com tendência a subir. Vamos brevemente chegar aos 90/95 mil litros", diz. A dimensão da área é a mesma, mas antes tinham 70 vacas, hoje são mais do dobro – 150. Com ele, mantém-se o pai, a mãe também ajuda, e mais dois colaboradores.Construíram um estábulo novo, proporcionando maior conforto e qualidade de vida aos animais, e implementaram um sistema de regadio. Passaram a produzir toda a alimentação das vacas leiteiras. Queriam a autosuficiência e conseguiram-na. Fazem ainda produção de animais por inseminação artificial. 

Pai e filho canalizaram parte do prémio de 30 mil euros para assegurarem a própria alimentação dos animais
Pai e filho canalizaram parte do prémio de 30 mil euros para assegurarem a própria alimentação dos animais
Nesta exploração adquirida no final dos anos 80, uma vaca come por dia, em média, 33 quilos de silagem (erva cortada ou milho verde em silos conservados com humidade), 10 quilos de ração e 1,5 quilos de palha. Vivem entre seis a sete anos e produzem ao longo da vida 28 a 30 mil litros. A ordenha é feita duas vezes por dia, todo o ano.

Teme o que aí vem com o fim do regime de quotas leiteiras na União Europeia, sendo este sector em Portugal muito dependente das importações. Mas está determinado, para já, em manter a estratégia seguida até aqui, apesar das dificuldades. Reduzir custos e jogar com o que pode ser mais rentável, como a saúde dos animais."Uma vez que o sector do leite se encontra péssimo, já que os preços são mais baixos do que há 20 anos e continuam a baixar, tento não mexer no preço final que vendemos, mas antes no preço de custo".

Sem nenhum problema de escoamento, a situação exige, porém, ginástica financeira. "O custo de uma vaca leiteira ronda quatro a cinco euros por dia e o preço por litro pago aos produtores anda nos 29 cêntimos. No ano passado, nesta altura estava a 37 cêntimos". 

Pensou alguma vez desistir? "Quando as coisas correm mal e de cabeça quente... Mas a teimosia leva-nos longe. Gosto de ver as coisas crescerem, de ver o resultado do meu trabalho". Hoje, mais uma vez, começa cedo, às 07h00. Vai terminar provavelmente entre as 21h30 e as 22h00. É assim desde os 19 anos.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Guiné-Bissau e FAO assinam acordos para aumentar produção de cereais e animais

-- PM

LUSA11 de Junho de 2015, às 16:54

O Governo da Guiné-Bissau assinou com o Fundo das Nações Unidas para a Agricultura (FAO) acordos para aumentar a produção cerealífera e de pecuária no país, afirmou o primeiro-ministro, Domingos Simões Pereira.
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O dirigente guineense regressou quarta-feira à tarde a Bissau oriundo da Mauritânia, onde efetuou uma visita oficial de três dias, depois de ter participado em Roma numa conferência internacional da FAO.

O Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola das Nações Unidas (FIDA) anunciou na quarta-feira que vai emprestar 4,7 milhões de dólares à Guiné-Bissau e doar igual montante para financiar um projeto de desenvolvimento para o sul do país.

Em declarações aos jornalistas no aeroporto de Bissau, Domingos Simões Pereira revelou ter abordado com os responsáveis da FAO vários aspetos de cooperação, tendo assinado acordos nos domínios da produção de cereais e animais.

Os acordos terão efeito ainda na campanha agrícola deste ano, recentemente aberta pelo Governo, assinalou o primeiro-ministro guineense.

Na Mauritânia, Domingos Simões Pereira disse ter assinado acordos de cooperação também no domínio da agricultura e pescas, assim como no que respeita à abolição recíproca de vistos para os cidadãos dos dois países.

O primeiro-ministro anunciou ainda que o governo da Mauritânia vai abrir uma vaga de legalização de cidadãos guineenses.

Domingos Simões Pereira destacou que aquele país irá ajudar a Guiné-Bissau na investigação científica na área das pescas, nomeadamente para quantificação das reservas e nível de captura anual de espécies nos mares do país.

Bissau quer inspirar-se na experiência da Mauritânia para desenvolver o sector pesqueiro, assinalou Domingos Simões Pereira.

"A Mauritânia tem um protocolo de acordo com a União Europeia que é considerado dos mais evoluídos e quisemos nos inspirar também desse exemplo para no futuro podermos favorecer o surgimento de frotas pesqueiras" na Guiné-Bissau, disse Simões Pereira.

O primeiro-ministro guineense admitiu aos jornalistas ter ficado surpreendido com os avanços que viu na Mauritânia.

MB // APN

Lusa/Fim

Rebanho colectivo ganha primeiro prémio de concurso de ideias portuguesas


CATARINA GOMES 11/06/2015 - 19:22

Plataforma online para juntar empreendedores portugueses que queiram internacionalizar os seus negócios recorrendo a emigrantes portugueses no estrangeiro e rádio online para crianças ganharam o segundo e terceiro prémios.

 
O projecto que ganhou pretende pôr em prática o pastoreio em 400 hectares de terrenos baldios. PAULO RICCA
 
A criação de um rebanho colectivo na aldeia de Rio Frio (concelho de Bragança), cujas 200 cabras podem ser adoptadas por emigrantes, ganhou o primeiro prémio da quarta edição do concurso de inovação social Faz-Ideias de Origem Portuguesa, promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian.

"Lá se pensam, cá se fazem" é o mote deste concurso de empreendedorismo social, lançado em 2010, que tem de incluir candidatos a viver fora de Portugal, que tenham ideias na área do ambiente, inclusão social, envelhecimento, participação da sociedade civil na resolução dos problemas sociais. Este ano houve 54 ideias a concurso com 201 participantes portugueses de 29 países. O primeiro prémio, que recebe 25 mil euros, foi entregue pelo Presidente da República esta quinta-feira, em Lisboa.

O projecto ganhador pretende pôr em prática o pastoreio em 400 hectares de terrenos baldios, instalando um rebanho colectivo de 200 cabras autóctones da raça serrana e bravia, em que os habitantes da freguesia e a diáspora são convidados a adoptar um animal, mediante o pagamento de uma quantia anual.

Um dos seus objectivos, explica o comunicado da Gulbenkian, é "minimizar o risco de incêndio diminuindo a carga combustível no território [porque comem a vegetação que cresce em terrenos abandonados]" e "proporcionar algum conforto à população da freguesia de Rio Frio, muito envelhecida e socialmente deprimida. Espera-se ainda o reforço dos laços afectivos da comunidade emigrante às suas origens e o fomento do espírito solidário entre conterrâneos."

O segundo lugar, que receberá 15 mil euros, chama-se TEIA e pretende ser um ponto de encontro online que junte empreendedores portugueses que pretendam  internacionalizar os seus negócios, recorrendo para tal a emigrantes portugueses estabelecidos no estrangeiro.

"Através da TEIA, os empreendedores têm a possibilidade de contratar serviços de profissionais portugueses estabelecidos nos mercados-alvo dos seus negócios. Os emigrantes, por sua vez, têm a oportunidade de manter-se vinculados ao tecido empresarial português, apesar da distância do país." O projecto-piloto encontra-se a decorrer no Chile, porque dois dos promotores residem nesse país.

Uma rádio online para crianças recebeu o terceiro prémio e 10 mil euros. O projecto consiste numa web rádio para crianças falada em português. Os temas, notícias, a música e os conteúdos serão para crianças mas serão igualmente uma ferramenta para os pais, educadores e outras pessoas que trabalhem com este público. A rádio terá como público-alvo crianças e famílias portuguesas e/ou luso-descendentes, residentes em qualquer parte do mundo. Os objectivos do projecto passam por proporcionar às crianças o contacto com a língua portuguesa e acompanhar o que se passa no país.

Pelo caminho ficam os outros sete finalistas deste ano, que irão receber uma formação dada pelo Instituto de Empreendedorismo Social. Da lista faziam parte um projecto-piloto para criação de um jardim de borboletas e viveiro de plantas num centro social de Lisboa (Cidade com Asas), a comercialização de produtos da colmeia, como o mel, pólen e a cera (BEERURAL), um projecto de acesso às artes em áreas do país com pouca oferta (Manta de Retalhos) ou um projecto de reaproveitamento de cabos e carregadores, através da sua recolha, selecção e comercialização (Ligação Solidária 123).

No ano passado ganhou o projecto Sumos Portugal, que consiste na criação de pontos de venda ambulante de sumos de frutas e outros produtos hortícolas naturais, vendidos por pessoas com deficiência. Em segundo lugar ficou o Salva a lã portuguesa – a ideia é que a lã das ovelhas, que costuma ser deitada fora, seja comprada a produtores nacionais e que sejam formadas pessoas que saibam fiar. A Plantei.eu, que ficou em terceiro lugar, consiste na criação de uma plataforma online europeia de promoção e suporte da troca de sementes, contribuindo para a preservação da biodiversidade agrícola. Estes três projectos ainda estão ainda em fase de implementação, informou a fundação.

De vento em popa parecem estar dois projectos da edição de 2013. O próximo concerto da Orquestra XXI está marcado para 28 de Junho na Casa da Música. Este projecto juntou cerca de 50 músicos portugueses que tocam nas melhores orquestras de todo o mundo e que vêm de propósito a Portugal para realizar concertos, alguns dos quais gratuitos, e dinamizar academias de música nacionais. A orquestra nasceu em 2013 e fez três digressões nacionais.

Já o projecto Fruta Feia, que ganhou o segundo prémio nesse ano, informa no seu site que, no "primeiro ano de e meio de funcionamento e com os actuais 650 consumidores associados, evitou o desperdício de 98.539 quilos de frutas e hortaliças." O projecto foi criado para diminuir o desperdício de fruta que, "apesar de ser saborosa e de qualidade, não tem o aspecto 'bonitinho' que a grande distribuição procura e que os consumidores escolhem". Foi uma ideia de uma portuguesa a viver em Barcelona. O mote é "Gente bonita come fruta feia".

Já no projecto Arrebita! Porto, que venceu a primeira edição, em que um grupo de arquitectos pretendia oferecer a possibilidade de senhorios de prédios degradados reabilitarem o seu imobiliário a custo zero, chegou ao fim no final de 2014. Numa nota deixada na página do Facebook do projecto diz-se "que o desenho colaborativo do projecto contém um número de falhas que o tornam inviável." Diz-se que falharam as três premissas de base, nomeadamente que os trabalhos de obra seriam executados por jovens arquitectos e engenheiros voluntários, que os produtos e serviços seriam doados no quadro de mecenato social e que a coordenação dos trabalhos seria assegurada por universidades.