sábado, 13 de junho de 2015

O pai queria que Luís fosse engenheiro. Ele cumpriu e ingressou no clube dos que vivem da terra



08.06.2015



Começaram com 11 hectares e sete funcionários. Hoje são um dos maiores produtores de dióspiros do país

Luís Sabbo gosta do que faz e não quer deixar cair o que o pai construiu. Vai a Espanha aprender com os melhores para fazer crescer uma das maiores produções de dióspiro em Portugal e inovar na diversidade com culturas ainda pouco expressivas, como é o caso da romã. É assim desde os 22 anos. Acompanhe nas próximas semanas as histórias de produtores e produtos inovadores que estão a surgir e a evolução dos distinguidos no Prémio Intermarché Produção Nacional 2014, que este ano volta a ser um projeto do Expresso e da SIC Notícias.

Raquel Pinto
RAQUEL PINTO

Pensava ir para fora, um ou dois anos, ganhar experiência para regressar mais tarde à exploração do pai, pioneira na produção de dióspiros em Tavira, Algarve, há mais de duas décadas. Só que a morte prematura do pai obrigou Luís Sabbo a trocar os planos de vida aos 22 anos. Estava a acabar o curso de Agronomia na Universidade do Algarve quando teve de assumir o comando do negócio de família.

Hoje, com 30 anos, licenciado em engenharia, olha para trás e reconhece que o percurso não foi fácil.  "Foi passar de uma responsabilidade nula que tinha na vida para, de um dia para o outro, ser total", descreve. A chegada ao mundo agrícola foi ainda mais dura. Era "descredibilizado" todos os dias pelos mais velhos: "Ninguém acredita em nós". O trabalho e o esforço resumem os resultados que obtém com o apoio fundamental da mãe, da irmã e da namorada. 

Sabia que queria trabalhar no campo. Isso era ponto assente. Mas foi "quase obrigado" pelo pai a tirar um curso superior. "Eu queria era trabalhar com o meu pai. Recordo-me de, ainda no primeiro ano da universidade, ligar-lhe a dizer que queria desistir. O meu pai saiu do trabalho e foi ter comigo para conversarmos. E disse-me: "Tem calma, tens a vida toda para trabalhar. Tens que estudar porque eu não preciso de ti para um trator. Preciso de ti como engenheiro'".

Aprender só no estrangeiro 

Com a ideia clara de que era preciso domínio de outras ferramentas, estava empenhado em prosseguir os estudos nas melhores escolas agrícolas lá fora e, eventualmente, trabalhar em empresas agrícolas, para ganhar experiência e depois trazer mais-valias. Só que a perda do pai alterou-lhe o rumo. Ainda assim, não dispensa idas ao estrangeiro quatro a cinco vezes por ano, para formar-se, em feiras, congressos e fazer contactos.

Espanha tem sido um viveiro. "Aqui pouco ou nada se aprende em termos agrícolas", diz perentório. Para quem quer trabalhar com um produto diferente do que aquele que está implementado em Portugal  a alternativa é "ou vai para fora ou vai para fora". Já o pai o fazia. Luis tentou ir de encontro a essa máxima. "Estão muito mais à frente que nós", afiança. E dá como exemplo o Instituto Valenciano de Investigação Agrária (IVIA) que possui oito departamentos a trabalhar em exclusivo no dióspiro, desde a fertilização às pragas, as podas, a pós-colheita, as variedades". Na opinião de Luís Sabbo, Portugal peca pela falta de investigação para os agricultores. O principal obstáculo enquanto jovem agricultor é a "falta de informação disponível para as culturas com que se trabalha".

A produção ocupa agora 54 hectares, 25 dos quais destinados apenas à cultura do dióspiro Roxo Brilhante
A produção ocupa agora 54 hectares, 25 dos quais destinados apenas à cultura do dióspiro Roxo Brilhante
Testam outras culturas quatro anos antes de investir

A produção da Luís Sabbo – Frutas do Algarve desenvolve-se em 54 hectares, 25 dos quais exclusivos a dióspiros. Tem 11 trabalhadores fixos. Começaram com 11 hectares e sete funcionários. São um dos maiores produtores de dióspiros mas resolveram diversificar a produção para prolongarem a sazonalidade. Romãs, abacates, figos, lima, limões e damascos. Mas não querem dar um passo maior que a perna. O investimento só se faz "depois de testes de três ou quatro anos de determinada cultura". É preciso ver se funcionam.

Plantam ainda abóboras, como cultura intermédia, para que a terra não esteja parada e possa servir de mealheiro a investimentos principais. A produção destina-se ao consumo interno, uma parte dirigida à grande distribuição, mercados abastecedores de Lisboa, Coimbra e Porto. A outra é vendida a produtores que depois a exportam. Exportação direta só é feita a um cliente francês.

Luís acredita que escolheu as pessoas certas. "Consegui formar uma equipa de trabalho competente. Rodeei-me de consultores que me apoiaram bastante e de professores da universidade. Estou a conseguir", diz o jovem agricultor que até agora não precisou de recorrer à banca, beneficiando dos apoios comunitários nos vários projetos que já apresentou. Luis Sabbo lembra: "Ser agricultor não é a imagem do velhote de boné que vai com a enxada resolver as coisas. É preciso estudar a atividade todos os dias.

A razão do seu sucesso: "Gostar muito disto e querer levar para a frente o que o meu pai fez".

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