domingo, 15 de novembro de 2015

Adega Cooperativa de Monção: «O nosso segredo é ter boas uvas e bons meios»

13-11-2015 
 

 
Armando Fontainhas está na adega há vários anos para onde veio como vice-presidente da direcção anterior. Tomou posse em Janeiro de 2001 e esteve até Dezembro de 2013, em entrevista ao "mundo português".

Em 2013 candidatou-se a presidente e tomou posse em 2014. O seu principal problema é a dimensão da adega que factura 13 milhões de euros, mas os sócios têm explorações de pequena dimensão. Estamos no norte de Portugal onde o minifúndio impõe a sua lei e como nos diz Armando Fontainhas: «Só para se ter uma ideia refira-se que para uma área um pouco superior a 1.200 hectares, temos 1.800 sócios a entregar uvas».

Que problemas traz à Adega a pequenez da dimensão das parcelas?

A nossa exploração é boa porque estamos aqui na zona do Alvarinho onde as uvas são muito bem remuneradas o problema maior são os custos de exploração por causa da pequenez das parcelas e dos custos mais elevados daí resultantes.

Como foi o caminho da Adega de Monção a descobrir a exportação?

Foi uma necessidade e no fundo respondendo a uma procura pelos nossos produtos por parte da diáspora portuguesa. Percebeu-se por outro lado que era a única maneira de aumentar as vendas. Só para lhe dar um exemplo refiro que no ano passado as nossas vendas aumentaram sete por cento, e na exportação aumentaram 19 por cento, ou seja neste momento a empresa está a ser alavancada pelas vendas na exportação.

Quem bebe o vinho de Monção no estrangeiro?

São os estrangeiros os portugueses, temos por isso dois tipos de clientes. Temos os mercados tradicionais como é o caso do francês onde há imensos portugueses. Mas estamos também a investir em mercados novos como na Polónia e na Rússia. Nos Estados Unidos estamos com uma aposta muito forte principalmente com os vinhos produzidos com a casta Alvarinho que são muito apreciados, e que nos estão a trazer um elevado retorno.

Qual é actualmente o grande produto da adega?

É sem dúvida o "Muralhas de Monção", pela relação preço-qualidade. Estamos a falar de um vinho que é feito com 85 por cento de casta alvarinho e 15 por cento de trajadura. É um bom vinho, com um óptimo nariz e uma boa boca, com uma grande frescura, daí a grande aceitação nas nossas comunidades emigrantes, porque nós portugueses usamos o vinho à refeição e o "Muralhas de Monção" é muito indicado para acompanhar a gastronomia portuguesa, dos peixes aos mariscos e por isso é um vinho imbatível.

Sendo o Alvarinho uma casta tão nobre, porquê 15 por cento de Trajadura?

É o que lhe confere aquela frescura ímpar, para o corpo e intensidade aromática do Alvarinho. E o mercado reconhece e gosta.

Ainda há o fenómeno dos portugueses emigrados levarem vinho da Adega quando vêm a Portugal?

Sim ainda se vê, quando vêem de férias, visitam a adega e costumam levar vinho. E curiosamente também acontece com muitos estrangeiros que passam e levam vinho aqui da adega, embora seja meramente simbólico porque neste momento já temos os nossos vinhos em quase todos os países do mundo através da nossa rede de distribuidores, não sendo portanto preciso levá-lo. É uma questão de gosto das pessoas que nos visitam, levar um vinho do local onde foi produzido.

Actualmente a Adega de Monção exporta cerca de 20 por cento de toda a produção e está a apostar muito no mercado das Américas e também no mercado inglês para aumentar a exportação..

Por outro lado, assinala Armando Fontainhas, «temos neste momento boas parcerias na Polónia, onde inclusivamente já introduzimos marcas específicas, mais adaptadas ao gosto do mercado. O mercado alemão, que muito embora ainda represente pouco nas nossas exportações tem potencial de crescimento para 2015 e 2016, e logicamente o mercado francês que é muito forte pelo peso da diáspora. Há muitos restaurantes portugueses e qualquer um deles tem sempre um "Muralhas de Monção».

 

E o mercado Chinês de que toda a gente fala?

Quanto ao mercado chinês, adianta que ainda não exportam praticamente nada para a China. Considera que é um mercado que ainda não está amadurecido no que respeita ao vinho, embora sejam grandes consumidores de vinhos franceses não o são ainda em relação aos vinhos portugueses. «Ainda estamos noutros desafios até porque segundo os números oficiais que temos, mostram que este é um mercado ainda muito embrionário. Interessa-nos mais os mercados africanos de expressão portuguesa, que embora não sejam muito grandes para no momento, têm mais expressão, o próprio mercado brasileiro que é um mercado tradicional de Alvarinho e por consequência da Adega de Monção, que exporta para o Brasil há muitas décadas. A nossa aposta é sempre em mercados maduros onde o vinho é já um produto comum e com bons níveis de consumo».

A Adega de Monção tem estado sempre presente no SISAB PORTUGAL?

Sempre, posso até dizer que a Adega de Monção é parceira do SISAB PORTUGAL desde a primeira edição, e tem-se visto uma evolução notável no SISAB PORTUGAL a todos os níveis. É um bom exemplo de empreendedorismo em Portugal.

E tem sido importante para a adega, tem concretizado negócios?

O SISAB PORTUGAL para nós tem duas vertentes, Por um lado permite-nos um grande e eficaz acompanhamento aos clientes mais distantes e que sempre encontramos no certame. E também para a aquisição de novos clientes, já que todos os anos conhecemos três ou quatro clientes novos. É uma feira de muito trabalho e é por isso que lá vamos.

Voltando ao vinho, qual é a grande razão para se preferir um verde?

Pode consumir-se verde em todas as circunstâncias mas o importante começa por ser uma prova antes da refeição, ser usado como aperitivo. Ao final da tarde pode experimentar-se um "verde rosé", recomendo aqui o Muralhas para beber entre amigos no final de tarde. Mas vai para além disso porque o Muralhas acompanha qualquer refeição de uma forma fantástica. Curiosamente os nossos emigrantes têm um certo gosto pelo verde tinto, com que nós minhotos acompanhamos a nossa comida tradicional, desde as sardinhas ao bacalhau, aos rojões, entre outros. Neste momento já produzimos também espumantes de Alvarinho, um rosé e um tinto, já temos igualmente jeropiga de Alvarinho o que permite igualmente acompanhar as sobremesas, e claro para o café temos as aguardentes Alvarinho. Toda a refeição pode ser acompanhada pela fantástica gama dos nossos vinhos verdes.

E é fácil vender tanto vinho? Não há stocks?

É uma questão de desenvolver algum trabalho, mas vai-se vendendo toda a nossa produção, e por isso as contas com os agricultores estão em dia. É uma tradição pagar uma parte antes do Natal e outra antes da Páscoa.

Qual é o segredo para tantos prémios que têm conquistado?

Recordo que a Adega de Monção é PME excelência e de facto o ano passado foi um ano de muitas medalhas de ouro em todos os concursos em que entrámos. Só o "Deuladeu" teve 13 medalhas de ouro em concursos diversos. Este ano o Muralhas também já se distinguiu por diversas vezes. E o segredo é a elevada qualidade dos nossos vinhos que é obtida por remunerar muito bem os agricultores, trabalharmos com um excelente quadro técnico, que está há muitos anos na adega. Temos boas uvas, bons meios e por isso fazemos bons vinhos a um óptimo preço e esse é o segredo do sucesso desta casa.

Fonte: jornal mundo português

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